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14/03/2019

Um balanço da minha vida

Arquivo pessoal

Francisco Bendl

 (Nota do editor: Eu e Ana recebemos com grande alegria esta carta do nosso amigo Chicão, a primeira comunicação que tivemos dele desde sua saída do hospital. Embora sendo uma carta pessoal, pensamos que é uma crônica que merece ser lida por todos os nossos leitores, e publico-a na íntegra com a devida permissão do autor)
Meus queridos amigos Ana e Wilson,
BOM DIA!
Muito obrigado pela troca de informações a meu respeito com o meu filho Alexandre, o do meio, enquanto eu me encontrava no hospital.
Pensei muito em vocês, confesso, saudoso de nossas trocas de ideias e interpretações sobre os temas abordados nas crônicas publicadas no Conversas do Mano. Mas estou de volta, porém sem as regalias de antes, lamentavelmente.
Apesar das dores, do sofrimento que vivi, o bom resultado dessa epopeia foi a minha perda de peso, vinte quilos!
E, de modo que eu desse alta na sexta-feira passada, primeiro de Março, tive de jurar de pés juntos que eu seguiria a dieta, sob pena de viver apenas de quatro a seis meses!!!
Desta vez, a baixa foi a mais grave de todas.
Estive em coma, rins quase foram à falência, arritmia ventricular séria, o meu quadro indicava da CTI para a última morada!
Quando consciente, pensei muito. Fiz o indefectível balanço da vida para concluir que eu não deveria ter levado a vida tão a sério. Não deveria ter levado a vida tão a sério, a verdade é esta (o problema é que a gente se dá conta nessas situações de risco)!
Eu queria ter vivido algum tempo extra, alguns anos mais.
Dar mais felicidade à minha família era o meu pensamento permanente.
Ao ver a minha mulher e filhos pelo vidro da CTI me visitando, eu acenando para meus amados, concluí que eu poderia ter feito muito melhor.
Lamento que somente de forma tardia eu soube o quanto a vida é preciosa, fugaz, porém frágil, e também insignificante.
Confesso que desisti dos meus objetivos muito facilmente, rápido demais.
Um dia, a vida vai surgir diante de nossos olhos, meus caros e amados Aninha e Mano. Precisamos saber se vale a pena assisti-la quando olharmos para trás e constatarmos se existem realizações ou fracassos, tentativas ou omissões.
Imaginei que, nos nossos últimos suspiros, deveremos nos perguntar:
Minha vida significou alguma coisa?
Minha vida significou algo para este mundo?
Eu era amado?
Causei impacto na vida de outra pessoa?
Alguma vez fui importante?
Certamente neste momento não ficaremos preocupados com as nossas dívidas, com o nosso cabelo, nossos trajes. Não nos importaremos com política e economia, e não vamos gastar um segundo pensando nas opiniões e julgamentos dos outros sobre nós (ao meu lado, na CTI, havia dois idosos, pelo menos aparentavam mais idade que a minha. Nos poucos momentos que balbuciavam algumas palavras, ambos se queixavam dolorosamente do abandono de seus filhos, que estavam sozinhos, que morreriam no hospital sem ninguém ao lado).
Nessas alturas, voltava aos meus pensamentos e me perguntava:
Fui importante?
Antes de alcançarmos a última respiração - mesmo eu deitado em uma cama de hospital, quem sabe não seria o momento adequado de se planejar uma mudança, fazer a minha vida importar, ter mais sentido?!
Um dia ela acabará, indiscutivelmente e... será como dizem os meus companheiros de Tratamento Intensivo nos seus lamentos?
Haverá duas datas em ambos os lados de um traço de nossa existência, assim como um eletrocardiograma, e foi esta a sensação que tive a cada dia imóvel no leito hospitalar.
Este espaço entre a vida e a morte não pode estar vazio, pois precisa estar cheio de vida, muita vida!
Alguém disse que, “viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe, isso é tudo...”
O autor da frase estava certo. Não se pode viver como todo mundo, somente existindo, mais nada!
Logo, devemos ser extraordinários, diferentes, únicos!
Viver cada momento com paixão e garra, denodo e vontade.
Não tomar nada ou ninguém como certo, pois esta é a maior decisão que devemos levar em conta.
O que é importante prá ti, Chicão -, eu me provocava?
Quais são os teus sonhos, mesmo esquecidos e deixados de lado?
Vá buscá-los, CORRE!
Tá esperando o quê?!
Tens apenas e tão somente um tiro. Se errares o alvo, pelo menos viverás com orgulho, sem frustrações e arrependimentos.
Tais linhas de raciocínios e questionamentos me deixavam, às vezes, angustiado.
As enfermeiras que me conheciam percebiam que a minha mente estava longe, distante do hospital, como se eu conseguisse me desligar daquele ambiente de sofrimento.
Eu seguia me indagando sobre a vida:
Quem amo?
Quem me amou?
Rápido, seu abobado, diz a eles, diz agora, Chicão!
Aprende enquanto é tempo, mesmo curto, que jamais saberás quando será a tua última chance.
Não toma esta circunstância mágica chamada vida como certa ora bolas!
Mantém tua cabeça, quando todo mundo está perdendo a deles, e confia em ti mesmo quando todo mundo duvida de ti, gaudério.
Domina teus sonhos – os que ainda te restam - quando todos os outros desistem dos deles.
Seja o capitão, enquanto outros estão satisfeitos em ser a tripulação!
Seja o leão, pois outros estão brincando de ovelhas!
Seja o líder, muitos são somente seguidores!
Vive cada dia como se fosse o teu último na terra... pode ser.
Deixa o teu legado, gaúcho!
Foram alguma semanas que, enquanto os médicos tratavam dos meus males físicos, eu esmerilhava a mente na retrospectiva da minha vida, e de mudá-la quando desse alta.
Ao sair do hospital, me voltei e olhei para o prédio onde eu ficara vinte e sete dias.
A sexta-feira estava exuberante.
Sol quente, a pino, um calor que me deixou animado e me banhou de energia.
Ainda meio tonto do movimento da rua, dos carros, do barulho, entrei na camionete do meu filho com a ajuda dele, de volta para a minha casa.
Em silêncio, agradeci as enfermeiras, os médicos, à aparelhagem do hospital, que me trouxeram de novo à vida.
Me acomodei o melhor que pude no banco dianteiro, respirei fundo, encostei a cabeça na parte superior do assento e relaxei, para aproveitar a viagem de cento e trinta quilômetros.
Eu estava entre a ansiedade de chegar ao conforto do meu lar e abraçar a Marli, a saudade do meu canto, da minha poltrona, do meu computador, e voltar a me comunicar com meus amigos, e da minha cadelinha, a Lili.
Surpreendentemente, após quase um mês entre a vida e a morte, volto a sentar em frente do micro e teclar algumas palavras, que devem ser primeiramente de mensagem ao casal que tanto gosto e admiro, Ana e Wilson.
Vivam a vida, meus queridos.
Divirtam-se cada dia o máximo que puder.
Saiam, dancem, jantem em um bom restaurante, comprem o que desejam, viagem para ver os filhos e netos, irmãos e amigos.
Curtam-se, amem-se, caminhem de mãos dadas, resgatem o velho e saudoso romantismo.
Considerem que não se trata de conselho, mas de ter sido verificado de muitas formas e sérias, que devemos ser bem mais flexíveis conosco, mais compreensivos, mais tolerantes com nossos erros e confusões.
Mas, antes de tudo, sejam FELIZES!
Muito obrigado pela solidariedade.
Grato por perguntarem sobre a minha saúde.
Reitero que este casal que tanto gosto e admiro, possui nessas terras sulinas um amigo.
Verdadeiro, leal, sincero, agradecido e reconhecido por conhecer duas pessoas além de encantadoras, exemplos de homem e mulher, marido e esposa, pai e mãe, avô e avó.
Sinto-me honrado e orgulhoso em tê-los como meus amigos.
Um abraço forte – não muito porque ainda me sinto meio fraco.
Muita SAÚDE e paz, Aninha e Mano, extensivo aos vossos amados.
Chicão


15 comentários:

  1. Lea Mello Silva14/03/2019, 10:21

    Francisco

    senti sua falta e fico feliz que está de volta ao blog e principalmente ao seu lar
    Vamos viver e amar intensamente porque a vida é curta e estamos aqui pra sermos felizes
    Desejo lhe saúde pra poder partilhar seu humor e alegria de viver com todos
    Meu abraço fraterno ( como diz vc )❤️

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    1. Francisco Bendl14/03/2019, 13:14

      Minha querida Lea,

      O tempo que passei no hospital me deixaram muito saudoso deste espaço, deste oásis cultural, pois senti em demasia a falta de não poder me comunicar com vocês.

      Mas, consegui retornar, e com outros olhos sobre mim mesmo e a minha vida (ainda bem que tive tempo para este balanço, para analisar o que fiz e deixei de fazer, aonde agi corretamente e quando fui omisso ou incompetente).

      Muito obrigado pela acolhida, pela consideração, pela amizade que me distingues, Lea.

      Um forte abraço, fraterno e apertado, respeitosamente, claro.
      Saúde, menina, muita SAÚDE!

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  2. Flávio José Bortolotto14/03/2019, 10:51

    Prezado Autor, Sr. FRANCISCO BENDL,

    Ficamos felizes em saber que o excelente Cronista Sr. FRANCISCO BENDL, depois de um mês de CTI e Hospital em Porto Alegre-RS já recuperado de grave crise, volta ao lar de Rolante-RS, extremidade da Colônia Alemã RS.

    Parabenizamos os Editores do "Conversas do Mano" Sr. WILSON BAPTISTA JUNIOR e sua senhora D. ANA NUNES, pela edição dessa crônica, filosófica e profunda, eis que foca no sentido da Vida e um pequeno balanço dela, feita por esse excelente Escritor Sr. FRANCISCO BENDL.

    Depois de quase sete anos de convívio na Internet, sabemos que o Sr. FRANCISCO BENDL nasceu e passou a infância em Porto Alegre, a juventude em Brasília-DF desde o período épico de sua construção em incríveis 3 1/2 anos pelo dinâmico Presidente JUSCELINO KUBITSCHEK, a quem perdoamos tudo, porque tinha pressa em desenvolver o Brasil, e muito fez, voltou a Porto Alegre para servir ao Exército onde permaneceu com méritos como Graduado por 4 anos, saindo para casar com a Professora D. MARLI e criar uma belíssima e unida Família de 3 Filhos, hoje todos colocados e com Filhos. Ao sair do Exército se dedicou a Venda e Assistência Técnica principalmente em Laboratórios Veterinários e da Saúde Humana, que operavam em todo o Rio Grande, SC e PR, também partes da Argentina e Uruguai.
    Aposentado trabalhou em Táxi em Porto Alegre de onde resultou o Livro "O Divã Móvel". Hoje se dedica principalmente a Crônicas e artigos na Internet, ele que escreve muito bem.

    Abração ao Sr. FRANCISCO BENDL e toda a sua querida Família.



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    1. Francisco Bendl14/03/2019, 13:30

      Mestre Bortolotto,

      Muito obrigado pelo comentário!

      Invariavelmente tens sido muito atencioso com este teu amigo, que me deixa alegre e consciente que preciso cultivar esta amizade que nos aproxima, e nos identifica em vários aspectos.

      Fui uma espécie de globetrotter da vida, sempre em busca de condições melhores para a minha família e a mim mesmo.

      Lamento que, em alguns momentos, me deixei dominar pela falta de bom senso, pois movido pela emoção, e não conforme a circunstância exigia, razão.

      Pois o tempo que permaneci baixado me ajudou a pensar no que eu me transformara:
      Realizado?
      Satisfeito com o que fiz?
      Fui um bom marido?
      Fui um bom pai?
      Fui um bom avô?
      Fui um bom amigo?

      Caso eu conseguisse voltar para casa, o meu lar, e não a derradeira morada, eu iria tentar compensar as falhas cometidas ou, pelo menos, uma parte delas, claro.

      Pois bem.
      Hoje a minha mente está mais aberta, mais em paz consigo mesma, e estabeleço objetivos alcançáveis e não imagináveis ou utópicos.

      Vivo cada dia de maneira especial, intensa, dentro das minhas condições físicas, evidente, mas com outro sentido, de valorização da existência, e daqueles que me rodeiam, que estão ao meu lado, que me apoiam, que me impulsionam para seguir em frente.

      E, encontro nos meus amigos, uma boa parte dessa necessidade de ser amparado, de ser empurrado, e de perceber que sou considerado, aceito.

      Logo, as tuas palavras são exatamente aquelas que me auxiliam sobremaneira na conclusão que devo continuar amando a vida, minha mulher, meus filhos, meu adorados netos, meus queridos amigos, pois tenho razões para me prender ainda em mais tempo neste planeta!

      Muito obrigado, mestre Bortolotto, por seres meu amigo.
      Honra-me e me dignifica eu contar contigo nas ocasiões mais variadas, desde as ruins quanto às divertidas.

      Um abração imenso, fraterno, caloroso.
      Saúde, guri, muita SAÚDE!

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  3. 1)Salve Chicão,abração.

    2)A camisa verde e branca do time de futebol de Caxias do Sul, RS, Juventude, que vc me enviou uma vez, é bem significativa.

    3) Que a saúde, a força e o vigor da Juventude, estejam sempre com o prezado e seus familiares.

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    1. Francisco Bendl15/03/2019, 08:28

      Meu prezado Rocha,

      Muito obrigado!
      Da mesma forma, te desejo paz e saúde, extensivo aos teus amados.

      Um forte abraço.

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  4. Ufa!
    Dizer o que, meu amigo?
    Seria repetir o que você disse tão bem.
    É tão bom ter você de volta!
    Até mais e mais.

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    1. Francisco Bendl15/03/2019, 09:24

      Aninha, minha amiga,

      Obrigado pela acolhida.
      Também afirmo que estar de volta é excelente, tanto para a minha saúde física quanto mental.

      Senti falta dessa troca de ideias, de ler as crônicas dos amigos, de aumentar os meus parcos conhecimentos e de externar meus palpites furados.

      Em razão da bondade, tolerância e compreensão do teu maridão, o meu amigo Mano, compartilho contigo e demais colegas este oásis cultural, este refúgio que temos para acalmar as emoções e sentimentos que têm sido postos à prova com a situação que hoje vivemos.

      Conversas do Mano nos traz a força de volta, a necessária condição de enfrentamento da situação nacional, pelo fato de aliviar essas tensões com artigos interessantes, cultos, e que nos trazem informações preciosas.

      Mas, principalmente, Aninha, o carinho mútuo e recíproco que nos concedemos, como nos tratamos, como nos animamos.

      Sim, minha cara, é muito eu estar de volta, ainda mais sendo tão bem recebido.

      Um abração, forte, fraterno, caloroso, respeitoso, evidente.
      Saúde, guria, muita SAÚDE, extensivo aos teus amados.

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  5. Moacir Pimentel15/03/2019, 08:45

    Prezado Chicão,
    A Donana disse tudo o que sentimos : "Que bom que você está de volta!" Lembre-se de que "as palavras estão muito ditas e o mundo muito pensado e que não há passado nem futuro". Só temos o aqui e agora , esse imenso presente para viver e nenhuma outra estrada. Esqueça essa história de ser "leão" e siga sem arrependimentos - para quê? - pela sombra e pelo meio, valorizando o que você é e o que conquistou, curtindo seus momentos de afeto, de alegria, de prazer e de paz, se economizando e priorizando quem está ao seu lado.

    https://www.youtube.com/watch?v=YOkLk8s_hpY

    Abração e parabéns extensivos a todos os seus

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  6. Francisco Bendl15/03/2019, 12:43

    Caro Pimentel,

    Obrigado pelo comentário.

    A vida, no entanto, é diferente para cada um de nós, tanto no que diz respeito à forma como a sua interpretação, além de circunstâncias que balizam ou mudam a existência de maneira absoluta.

    Muitos vivem à base de desafios, riscos, acreditando em si mesmo e um pouco nas situações favoráveis, de modo que seus planos se concretizem.
    Às vezes não o objetivo dá com os burros n'água mas, em outros momentos, ele se concretiza.

    Acredito que esta tua ideia, de seguir pelo meio e pela sombra, deve ser a correta, a lógica, a indiscutível.
    Entretanto, resgato a índole nossa, o que nos motiva, aquilo que nos impulsiona, que dá sentido à vida, e que é muito diferente desta tua escolha, e que não deixa de ser a opção encontrada como aquela que mais se aproxima deste temperamento irrequieto, rebelde, desobediente, que são as minhas características pessoais.

    Logo, o caminho que trilhei foi o mais difícil, mais pedregoso, mais complicado, e me cobrou o preço desse meu espírito desbravador, de vencer sob quaisquer empecilhos e dificuldades, até porque somente me restava a coragem, em face do meu despreparo intelectual e curricular.
    Sabe o antigo centroavante rompedor?
    Isso mesmo!

    Porém não fui um goleador, pelo contrário, pois eu sempre fui um "pata dura", o anti-craque, o jogador tosco, que só tinha consigo o físico avantajado e valentia em disputar as jogadas divididas.

    Foi este balanço que também fiz hospitalizado.
    Se adiantou alguma coisa eu ter arriscado, resultados não me trouxe, apesar de eu ter deixado patente que a luta sempre fez parte da minha vida, e jamais fugi das encrencas.
    Meus filhos eventualmente comentam essa minha disposição, que os deixava orgulhosos porque o pai não se dobrava, não se entregava, não se rendia.
    Como se diz na minha terra, o RS, "não tá morto quem peleia"!

    Dito isso, hoje, Pimentel, vejo-me obrigado a ser o que me sugeres.
    Não por querer corrigir os rumos que a minha vida tomou e me trouxe até o presente momento, não, mas pelo fato de que o lutador pendurou as luvas; o jogador pendurou as chuteiras; o incendiário deu lugar ao bombeiro.

    Bem que eu queria ter te conhecido no passado.
    Quem sabe eu não seguiria esta tua maneira indicada?
    Agora, no meu ocaso, se faz tarde para querer alterar as regras que me balizaram a existência, então devo aceitar as consequências, e aproveitar o tempo que me resta e lamber as feridas.

    Mas preciso incentivar os mais moços.
    Não que sejam como fui, não. Que sejam donos de suas vidas, de seus destinos, que façam o que achar correto e necessário à melhoria de suas existências.
    Logo, que sejam capitães;
    que sejam leões;
    que sejam líderes.

    Um forte e fraterno abraço, meu amigo.
    Saúde, muita SAÚDE, extensivo aos teus amados.

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  7. Wilson Baptista Junior16/03/2019, 09:44

    Amigo Chicão,
    é uma grande alegria poder de novo estampar aqui tuas palavras, acompanhadas desta vez do teu rosto sorridente. Agradeço os elogios que sempre fazes ao nosso blog, mas reitero minha convicção de que o Conversas, com o ambiente de que tanto gostas, é feito por nós todos, tu, Ana, e nossos amigos que aqui escrevem é que trazem estas belas experiências, estas idéias, enfim, estas "conversas" que tenho o enorme prazer de editar e colocar para que nossos leitores possam participar delas.
    Espero que, sem perderes o teu espírito rebelde que a todos encanta, te curves prudentemente agora à sábia condução da tua dieta pela senhora dona Marli, ajudada pelos teus filhos, para que continues a conversar conosco por muitos anos ainda.
    Um abraço do
    Mano

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    1. Francisco Bendl17/03/2019, 08:58

      Meu caro amigo Wilson,

      Obrigado pela acolhida e torcida para que eu me recuperasse.

      Pois bem, mais uma vez enganei quem esta querendo me levar embora.
      Não sei ainda quantas chances terei para fazer prevalecer a minha vontade, e continuar desfrutando da companhia dos meus familiares e amigos.

      Dito isso, agora serei obrigado a cumprir com as determinações médicas, sendo a dieta a principal delas.
      Acostumado que eu estava em driblar as nutricionistas e regimes, desta vez não poderei usar as minhas artimanhas anteriores, pois a minha vida irá ter o seu curso muito menor.

      Mas é salutar quando nos rendemos à realidade, à verdade, sem que possamos alterar o quadro, pois superior ao que desejamos.
      A minha existência, caso queira ser por mais uns dois, três anos, somente na razão direta da perda de peso, por mais que eu proteste!

      Carne vermelha, apenas uma fatia do tamanho da palma de mão, sem contar os dedos, a cada 15 dias;
      Refri, doces, sorvetes, adeus;
      Feijão, lentilha, uma vez por semana;
      Presunto, mortadela, salsicha, salsichão, os tais embutidos, nunca mais!

      No entanto, carne branca, apenas dois pedaços por dia (frango, peixe e lombinho de porco grelhado, sem qualquer gordura).
      Água mineral c/gás e sem, à vontade;
      Arroz, três colheres ao dia;
      Macarrão, no lugar do arroz, menos os dois juntos, três pegadores;
      Tomate está fora, em face do ácido úrico elevado.

      Enfim, obrigações na minha vida, que devo segui-las, obedecê-las, mesmo elas indo de encontro ao que sempre fui.

      Claro que não estou alegre com esta situação, mas é o ônus a ser pago pela falta de controle, exercícios, caminhadas, gastar a energia acumulada pela ingestão de alimentos altamente proteicos e calóricos.

      Grato, Mano, pela postagem da carta que te enviei.
      A bem da verdade, inspirou-me um cartaz no hospital, onde boa parte das questões levantadas por mim constavam no enunciado da mensagem.

      Eu a considerei oportuna e adequada à baixa hospitalar e alta em consequência, logo, adicionei palavras minhas e imagens da minha memória para torná-la mais pessoal, portanto, levei em conta o recado positivo para continuar vivendo, lutando, e não se deixar ser derrotado pelas circunstâncias mesmo adversas.

      Um grande, forte e fraterno abraço, meu amigo.
      Saúde, muita SAÚDE, extensivo aos teus amados.


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  8. Heraldo Palmeira19/03/2019, 02:38

    Bendl,
    Ir e voltar, chegar ao limite, se arrepender, repetir, refazer, fazer de novo, prometer repensar são nossos fracos, ora maiores ora menores que nós. Ora submissos ora indomáveis à nossa vontade.

    Um dia eu dei um grito de alegria: havia passado num concurso, alcançado o eldorado de um emprego cobiçado no país inteiro. Um dia eu dei um grito de liberdade: pedi demissão e dei um salto. Alguém disse que foi no escuro, eu juro que foi no azul, porque enxerguei o meu pequeno azul antes do salto e coloquei o impulso certo, o que caberia naquele azulzinho. Ele era tão pequenininho, mas não mentiu para mim, era do meu tamanho. Quem me julgou mal por jogar tudo para o alto terminou compreendendo que apenas fui ser feliz.

    Não posso ser injusto e dizer que não era feliz antes, mas não posso ser injusto e afirmar que eu seria feliz até aqui. Por isso, resolvi ser eu mesmo o arquiteto do meu futuro. Há passado e ele está lá, cheio de erros, me enchendo de orgulho; há presente, que não para de virar passado – segundo a segundo – e assim vai abrindo espaço para o futuro, que pode ser nenhum ou algum, basta a gente querer. Portanto, não pare de aprender e de transformar, de nos ensinar.

    Seu depoimento poderoso me deixou emocionado, pedindo a Deus que me dê essa força que você teve de dizer sim ao sim que o mundo vinha lhe gritando há tanto tempo.

    Talvez a gente morra antes da hora tentando ser infalíveis, buscando destinos que não são os nossos. Uma distração de quem quer esquecer o seu próprio destino.

    Aprendi a querer tão pouco, apenas o que me cabe, e agora não tenho alforje suficiente para guardar tantas bondades da vida. Eu hoje sou apenas uma criatura da noite, aprendi a ter um voo calmo e pequeno ao redor de uma luz para secar o peso do sereno. Mas, eu preciso mais do que, se a vida é apenas um sacerdócio, na tribulação ou na serenidade? Vou tomar a liberdade de usar palavras copiadas da página 26 do livro de estreia de um certo Heraldo Palmeira, talvez para tentar lhe dizer, com carinho, que você não está sozinho:

    “Carrego as marcas do sereno mas não reclamo do sol que amanhece outro pedaço do dia que terei de viver. Está no Eclesiastes: ‘O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer, de modo que nada há novo debaixo do sol’. Sou viajante que não teme as estradas, porque aprendi a respeitar as curvas incertas e as retas com neblina. Sou viajante querendo chegar apenas no tempo certo. Aceito a sina. Ainda é cedo pra ficar tarde demais.”

    Muito obrigado por tudo. Saúde e paz!

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  9. Heraldo Palmeira19/03/2019, 03:01

    Uma música para você ouvir sempre que for dar um voo calmo e sereno:

    https://www.youtube.com/watch?v=WBdyd8F5D5U

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  10. Francisco Bendl19/03/2019, 12:25

    Pô, Heraldo, assim não vale, meu!

    Lembro que o meu coração está fraco, e não pode ter essas emoções tão significativas, tão envolventes, tão pessoais.

    Agora, certamente, verificamos que temos algumas identidades no percurso de nossas existências, e uma delas é a luta, a perseverança, o objetivo a ser conquistado.

    Se não em termos profissionais, que é o meu caso, pelo menos no âmbito pessoal e familiar, logo, venço as dificuldades pelo placar de 2X1.

    E foi este teu salto em busca do que acreditavas, que escrevi que devemos ter o espaço do nosso nascimento até nos despedirmos deste mundo cheio de vida, de tentativas, e não importa a obtenção do que imaginávamos não tenha se realizado, mas tentamos, arriscamos, tivemos coragem!

    Ora, precisamos acreditar em nós mesmos, em nossa capacidade de realizações, de construções, de se conseguir um lugar na sociedade que nos deixe bem, conquistado exclusivamente porque assim foi o objetivo traçado, alinhavado.

    Desta forma, te parabenizo pela felicidade encontrada, pois foste buscá-la, correste ao encontro do que querias, de uma vida que compensasse a luta renhida do dia a dia.

    Imagino com os meus botões a tua satisfação atualmente, a ponto que escreves um comentário digno da importância do que ergueste para a tua existência, onde se percebe a tua sinceridade, o teu coração aberto, e a confirmação de que a vida pode ser efetivamente levada como queremos, baste que não esmoreçamos quando encontramos os primeiros empecilhos, que derrubam a maioria dos que tentam, haja vista não ter esse pessoal a disposição, a vontade necessárias para vencer.

    Tornam-se resignados com a própria sorte ou afirmam textualmente que, "Deus quis assim".

    Olha, Palmeira, não tenho nada. Até já escrevi neste blog extraordinário que me considero imortal, pois não tenho sequer onde cair morto.
    Mas, deixo o meu legado, justamente de ter sido um rebelde, que jamais se deixou quedar por convenções ou modismos, decisões alheias ou regras determinadas, em face de que eu precisava entrar no trem que me levaria a destinos melhores.
    Pouco importa se eu não viajasse sentado, eu precisava era chegar onde eu queria e precisava.
    Se, em termos materiais, caso eu ficar de cabeça para baixo nem moeda cai dos bolsos, a constituição de uma família, a sua manutenção, os filhos que tivemos conseguimos sustentar, educar e formar, indiscutivelmente tais realizações me deixam um marido, pai e avô feliz, igualmente a minha mulher, que sente o mesmo.

    Evidente que não me realizo no sucesso dos filhos, claro que não.
    Tenho minhas frustrações, minhas decepções, no entanto, eu poderia tê-los abandonados para buscar os meus objetivos, sonhos, porém eu seria aquele que decepcionou, que frustrou, que entristeceu quem dizia que amava!

    Não. Não me casei para deixar da mulher à primeira dificuldade, muito menos abandonar carne da minha carne e sangue do meu sangue, a prole, as crias.
    Então, alto e bom som, digo que cumpri com a minha obrigação. Nada de mérito, de colocar a coroa de louros, mas aquilo que a esposa e filhos esperavam que eu cumprisse na função de provedor, de pai, de cuidá-los, adverti-los, corrigi-los eventualmente, jamais fui omisso.

    Palmeira, muito obrigado pelo comentário tão significativo para mim, importante e motivador.
    Um grande e fraterno abraço, meu caro.
    Sucesso, saúde - muita SAÚDE- e paz.


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