Ana Nunes
Eu não sei nada
nada nada dessa estrada.
Não reconheço essa terra batida
vermelha de confundir os olhos
nem essas margens barranqueiras
de capim protegidas
de flores azuis miudas
escapadas do seu verde cinza.
Não sei nada dessa estrada
nem para onde vai
e nem de onde me trouxe.
Se vim andando nos passos trôpegos
ou em carroça atrelada
ou em rangido de carro de boi
de chifres estranhos e rabo comprido.
Diga para mim menina linda
de cabelos e olhos pretos
que não sei nada dessa estrada
nada, nada
se ela sobe ou desce
ou se vira para um lado
ou se vira para o outro.
Conte-me com seu olhar triste
para onde ela vai
se tem destino
ou se se perdeu no seu caminho.
Se tem um rio de percalço
ou sombra de árvore amiga
se contorna pedras grandes e antigas
se se perde longe no horizonte.
Não sei nada dessa estrada
nada, nada
quem por aqui passou
se sou a última caminhante
ou se no aguardo de outras gentes.
Se atravessa estreita pelo vale
ou se alarga na campina
se encontra bichos calmos
em pastos verdejantes
ou se continua deserta
no tracejado meio torto.
Não sei nada, nada
dessa estrada.
Se tem vento sorrateiro
que pinta de marrom sua paisagem
e se espera a chuva
para lavar tudo de verde
e se faz lama na terra batida
para guardar imagens de pés calcados.
Vou ficar por aqui um pouco
emprestando pedacinhos da sua solidão
menina linda de cabelos e olhos pretos
para você me falar dessa estrada
de que não sei nada
nada, nada dessa estrada
Poeta sem dúvida !! Tira poesia de qualquer estrada ! E nós lucramos com uma poeta na família !
ResponderExcluirLindo seu poema !
Esqueci da ilustração
ResponderExcluirUma artista mostrando suas faces
Linda !
Querida prima Léa,
ExcluirDoce leitora que me deixa constrangida por tantos elogios e ainda incentivando outos mais.
Obrigada pela lealdade de muitos tempos.
Beijo.
1) Parabéns Ana, bela poesia.
ResponderExcluir2) Importante reflexão: a Estrada é a Vida e todos somos caminhantes, caminheiros.
3) Eu também não sei nada, não sei de nada, sou eterno aprendiz.
Olá Antonio,
ExcluirSeu comentário é conciso e cheio de valores.
Nessa estrada também sou aprendiz de sempre. Há tempos um homeopata me disse que até no momento da morte estamos aprendendo.
Obrigada por ser um dos meus doces leitores.
Estava com saudade.
Até mais.
Aninha sempre nos surpreendendo com seus textos admiráveis e, agora, como poetisa!
ResponderExcluirGostei muito do que li acima, tanto pelas várias interpretações que se pode dar à essência da poesia, quanto à sua beleza, no relato de uma estrada que não sabemos sequer a sua origem, mas temos que trilhá-la.
Pois de acordo com a minha mente obtusa e limitada, entendo que essa estrada é a nossa vida.
Caminho que, muitas vezes, não foram escolhidos por nós, pelos peregrinos, porém pelas circunstâncias, pelos nossos pais, pelo ambiente onde nascemos e residimos.
Não se pode viver o passado de outra pessoa, logo, a estrada é desconhecida porque não se sabe onde e como iniciou.
Muito menos sabemos o seu final e quais serão as surpresas, as dificuldades, os obstáculos, as crises que iremos nos defrontar enquanto seguimos em frente, única opção que se tem.
A Ana foi magistral nessa forma de expressar a indefinição que nos assalta com relação à nossa existência.
Quando sentimos que estamos sem chão, sem base, quando somos inseguros, em dúvidas, quando confusos, a nossa admirável escritora e poetisa teve o dom de nos lembrar de situações como registra a sua indefectível qualidade, sensibilidade, inteligência, e poder de captar os momentos que mais exigem a nossa atenção e cuidados, ou seja, por onde andamos e para onde vamos!
E não existem certezas, apenas questionamentos, ponderações, ser obediente ou desobediente, seguir as regras ou desmerecê-las, cumprir com as obrigações ou renunciá-las.
E a nossa estrada pode se apresentar asfaltada, pavimentada ou esburacada e de chão batido.
Curiosamente não temos escolhas, e explico:
O ser humano está sujeito à carga genética de seus pais, avós ... que podem tê-lo deixado em condições de lutar e de enfrentar uma existência difícil ou não.
Pode ser feio ou bonito; alto ou baixo; gordo ou magro; inteligente e nem tanto; corajoso ou omisso; boa ou má pessoa, ter uma índole correta ou do mal.
Portanto, somos apresentados ao mundo mediante a forma que nos deram, que poderão facilitar a nossa existência ou dificultá-la mais ainda.
Cabe-nos tão somente, e se quisermos, claro, aperfeiçoar alguns aspectos de nosso caráter e personalidade, de realizações profissionais e crescimento pessoal, de se constituir uma família ou não ...
Pois é esta a estrada que deveremos percorrer, incerta, instável, escorregadia, tomada pela neblina, e que impede de vermos pouco adiante de nossos narizes.
Belo e interessante tema abordado pela Ana.
Aprecio assuntos que me fazem pensar, fazer uma projeção da existência, pois o passado é lembrança e não pode ser alterado, mas, o futuro, requer um planejamento, uma previsão, independente de conhecermos o trecho que se percorre ou é absolutamente desconhecido, não importa.
Cuidados temos que ter sempre, até para não perdermos a direção em uma curva perigosa ou descida íngreme, cujos freios não conseguirão evitar a batida inexorável em outro veículo ou barranco.
Parabéns, Aninha.
Aplaudo este teu trabalho, e o reverencio como deve ser, em face de ter sido escrito por uma mulher moderna, atual, inteligente, sensível, de grandes conhecimentos sobre quem somos e do somos capazes, e que tem várias funções ao longo do dia e as cumpre com eficiência e eficácia.
Um grande e caloroso abraço, sempre respeitoso, naturalmente.
Saúde, muita SAÚDE, extensivo aos teus amados.
(Uma sugestão ao Moderador, meu amigo Mano: a Ana deveria ter, a meu ver, um dia fixo na semana para postar seus artigos, crônicas ou poesias. Suas obras são importantes para que meditemos, imaginemos onde estamos com nossas existências, e se existem ainda variantes neste trecho para se tomar o caminho certo).
Francisco
ResponderExcluirVc falou tudo que eu gostaria de ter dito
Que facilidade vc tem pra expressar o que sente
Concordo com a sugestão da Ana escrever uma vez por semana
E vamos percorrendo esta estrada sem saber o nosso destino
Um abraço desejando muita saúde, muita saúde !!
Minha querida Lea,
ExcluirA bem da verdade, os excelentes textos escritos pela Aninha é que possuem este condão, de nos fazer escrever muitas palavras que pensamos juntos.
Basta colocá-las no papel, que serão facilmente compreendidas, apesar dos notáveis esforços que faço neste sentido.
Não tens ideia, Lea, a dificuldade que tenho para deixar claro o registro de minhas emoções, sensações, e elas não são assim tão fáceis de eu mencioná-las, não.
Considerando minhas limitações sobre o vocábulo, de eu não saber escrever frases de efeito, não ter estilo próprio, sem cultura, preciso me concentrar e muito quando desejo dar o meu recado, transmitir a minha mensagem, como que interpretei os artigos lidos.
Logo, o meu trabalho se torna mais aplainado quando me deparo com esta poesia maravilhosa da Aninha, então consigo me expressar de acordo com as impressões que este trabalho magnífico me ocasionou.
Agora, muitíssimo obrigado pela tua gentileza.
Lembra que muitas vezes quantidade não quer dizer qualidade, exatamente o que tem teus comentários, mesmo sendo alguns lacônicos, porém de grande conteúdo e verdade!
Sem precisar jogar confetes, eu te considero muito inteligente, perspicaz, que sabe poupar as palavras porque sábia, e tens um poder de síntese que invejo, sinceramente.
Abração, minha cara.
Saúde, muita SAÚDE, extensivo aos teus amados.
Olá amigão dos Pampas,
ExcluirCom disse para sua amiga Léa, vocês me deixam constrangida com tantos elogios.
Vocês são doces leitores que me leem com carinho, me interpretam assim tão gentilmente.
Certamente uma estrada. Vida. Mas uma estrada diferente para cada um de nós. Esse é o grande barato de um desenho, de uma escrita: os olhos que os veêm. Mas certamente a estrada de cada um construída com o mundo ao redor. Uma estrada até com projeto mas feita a cada passo, cada pedra com seu suspiro, cada curva com seu sorriso. Ou lágrima.
Não dê idéias ao sr. Editor. Você acha mesmo que tenho criatividade para um texto a cada semana? Ô louco! Sempre me superestimando.
Obrigada amigão por me ter em tão alto conceito.
Até outros caminhos e caminhadas.
Como sempre, a grande Poetisa e Artista Plástica Sra. ANA NUNES, criou uma Poesia e Pintura de altíssima qualidade, entitulada "Essa estrada".
ResponderExcluirOs Colegas acima, Sra. LEA MELLO SILVA, Prof. Dr. ANTONIO ROCHA e Sr.FRANCISCO BENDL que discorreu mais sobre a Poesia, e eu também, achamos que "Essa estrada" se refere a nossa Vida.
A "Menina linda de cabelos e olhos pretos" seria nosso Anjo da Guarda que nos Guarda e Ilumina.
Toda estrada tem bifurcações e para escolher o rumo certo "a Menina linda de cabelos e olhos pretos" sempre nos orienta conforme os 10 Mandamentos:
1- Amar a D'US sobre todas as coisas; 2- Guardar o Dia do Senhor; 3 Honrar Pai e Mãe; e Não Praticar 4- Idolatria; 5- Perjúrio; 6- Assassinato; 7- Adultério; 8- Furto; 9- Falso Testemunho; 10- Cobiça.
Parabéns a Autora Sra. ANA NUNES.
Olá Flávio Bortolotto,
ExcluirRepetindo, vocês são doces leitores. Gentis e delicados. Lendo com seus olhos e ven do anjos da guarda em cada bifurcação. Lindo!
Gosto demais de ler essas interpretações pessoais e intransferíveis. É como se, nos comentários, vocês se mostrassem do avesso como eu me mostro nos meus escritos.
Muito obrigada.
Até mais.
Caríssima Donana,
ResponderExcluirEu que nunca escrevi nem um verso de pé quebrado nessa vida, estava lendo e relendo os seus, sem saber direito o que lhe teclar quando, de repente, se meteu na conversa para me acudir, o seu "Seu Manoel de Barros":
"Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem." (rsrs)
É isso aí. Suas belas poesias são como telas nas quais a senhora usa as pretinhas em vez das tintas. Só que tem um detalhe importante: os poemas/telas também somos todos nós pois como já dizia o grande Pessoa: "Sentir, sente quem lê!"
Por isso tenho a impressão de conhecer a sua Estrada que me lembra, assim vermelha de terra batida e verde cinza de capim, do velho Gonzagão da minha infância poetando outra menina de tranças negras: "Oh, que estrada mais comprida/ Oh, que légua tão tirana/ Ai, se eu tivesse asa/ Inda hoje eu via Ana".
Essa Estrada pode ser bonita ou feia, fácil ou difícil, alegre ou triste, suave ou áspera, pode subir ou descer, virar pra lá ou pra cá, ter rio cantador ou sombra amena, contornar pedras frias ou desertos áridos, margear praias brancas ou montanhas escuras. Não importa. Como cada um de nós ela é incompleta e feita de escolhas e ninguém a conhece de ouvir dizer mas de caminhá-la até o fim.
https://www.youtube.com/watch?v=2DA3pRht2MA
Que as conversas e as estradas sejam longas e "até sempre mais"
Olá Moacir,
ExcluirObrigada.
Por ser mais um doce e gentil leitor. E por trazer nas suas ricas palavras meu querido Manoel de Barros gorgeando desenhos, o Velho Gonzagão da NOSSA infância (não pegue o homem todo para si!) e o grande Pessoa, "Sentir, sente quem lê".
Por isso revelo "baixinho só entre nós", em letras pequenas de pé de página (que ninguém nos ouça, por favor) que essa minha estrada é sim vida, mas num breve momento de lapso de velhice, num olhar rápido no abismo do Alzheimer. No medo e no desamparo de se sentir perdida e no receio do que a velhice será. Perto de fazer setenta esses fantasmas me assustam nas insônias e, então, recorro à menina de cabelos e olhos pretos num pedido de ajuda.
E me vejo tão acolhida nos comentários que começo a achar graça nesses momentos assombrados.
No aguardo de outras conversas,
até sempre mais.
Tanto do modo em que foi lida por nossos amigos, quanto no que você contou baixinho para o Moacir, essa é uma estrada em que cada um de nós deve andar por si e onde ninguém pode dar por nós os nossos passos. Mas nessa estrada, que espero ainda seja longa, nós podemos sempre fazer companhia um ao outro. E espero que nela sempre caminhemos juntos.
ResponderExcluirMeu mais doce leitor!
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