Gioconda - cópia do Museu do Prado restaurada (imagem wikimedia) |
Moacir Pimentel
Apresento-lhes outra Mona Lisa, praticamente desconhecida, que mora no
Museu do Prado em Madri. Até recentemente, não se dava a menor bola para essa
cópia da Mona Lisa - uma das dezenas feitas ao longo dos séculos – até que os
técnicos do Prado fizeram sobre ela uma descoberta notável.
A primeira referência documental feita à pintura consta de um inventário
de 1666 na Galleria del Mediodia do Alcázar em Madri. Não se sabe quando o
retrato passou a fazer parte da Coleção Real Espanhola, embora ele já estivesse
na Espanha nos primeiros anos do século XVII. Desde a fundação do Prado, em
1819, a cópia faz parte do seu acervo, pendurada nas suas paredes ao lado de
obras-primas de artistas italianos como Rafael e Andrea del Sarto.
A pintura foi catalogada no acervo do museu espanhol sem muita
algazarra, como uma cópia anônima da Mona Lisa de fundo negro retinto e coberta
por uma camada de verniz escuro que lhe conferia um brilho amarelado e anulava
a sua vitalidade, datada do primeiro quarto do século XVI.
Jamais houve qualquer sugestão de que essa maravilha pudesse ter sido
pintada por Leonardo, embora dela existisse uma litografia, o que é incomum
para uma cópia anônima. A obra era atribuída aos alunos favoritos de Leonardo,
Salai ou Francesco Melzi, embora tivesse sido cogitada a hipótese da pintura
ser de autoria de um dos alunos espanhóis de Leonardo, Fernando Yáñez de la
Almedina ou Hernando de los Llanos, tanto porque afinal de contas a pintura
terminara na Espanha quanto por não ser uma cópia italiana típica devido à sua
execução cuidadosa e bem acabada, bem como ao demasiado uso de materiais como
o lápis lazuli e a laca vermelha.
Até que o Museu do Louvre, faz alguns anos, decidiu fazer uma exposição
sobre Leonardo da Vinci intitulada A Última Obra Prima de Leonardo: Santana. E
só porque os franceses não quiseram mover a sua Mona Lisa original da casinha
de vidro à prova de balas dela para um lugar menos seguro, pediram aos do Prado
para levantar a ficha da cópia, pois a queriam emprestada para usar como
chamariz na entrada da galeria da exposição. Foi só aí que os peritos espanhóis
se deram ao trabalho de estudar a sua própria Mona Lisa.
Descobriram então que o fundo original da pintura tinha sido obscurecido
por uma camada de tinta preta, uma prática muito comum no século XVII. Por
sorte, uma camada de verniz protegera o que estava por baixo. Assim, uma vez
removido o pretume, apareceu o mesmo fundo toscano da pintura de Leonardo,
oferecendo uma tentadora prévia do que poderia ser descoberto ao longo de uma
restauração de respeito.
Leonardo da Vinci - Mona Lisa / autor desconhecido - Mona Lisa do Prado (imagens wikimedia) |
Acontece que a Mona Lisa espanhola não era apenas uma cópia de
quinhentos anos da mais badalada obra de Leonardo. Os técnicos do Prado
descobriram que ela fora pintada por um dos alunos de Leonardo enquanto o seu
mestre pintava a original.
Isso mesmo. Simultaneamente!
As duas obras de arte foram minuciosamente estudadas através de técnicas
modernas - raios-X, espectroscopia de infra-vermelho e imagens digitais de alta
resolução - e foi provado que ambas compartilharam, durante seus processos
criativos, várias e idênticas correções, reforçando a conclusão de que foram
executadas simultaneamente por da Vinci e por outro alguém que tentava duplicar
todas as suas magistrais pinceladas, enquanto ele produzia sua famosa senhora
de sorriso enigmático.
Como assim?
Bem, para começo de conversa, comparações científicas das duas Monas
juntas – elas se conheceram pessoalmente quando foram exibidas lado a lado no
Museu do Louvre em 2012 - juraram de pés juntos que, por causa de suas
perspectivas ligeiramente diferentes, quando as duas Giocondas são contempladas
lado a lado criam um efeito 3-D, geram uma sensação de visão tridimensional e
formam a primeira imagem estereoscópica da história mundial, um efeito que
teria sido criado acidentalmente.
Os especialistas também passaram a acreditar que as montanhas no fundo
da pintura foram pintadas em uma terceira tela separada que foi colocada como
um pano de fundo atrás da mulher que posava. Isso não é diferente do que se
fazia, por exemplo, nos estúdios de fotografia e sets de cinemas do último
século antes que a computação mudasse tudo.
Sucede que os técnicos notaram que nessas pinturas notavelmente semelhantes,
o cenário de fundo é aproximadamente dez por cento maior na versão menos
familiar do trabalho. Essa diferença de perspectiva entre as duas pinturas – a
paisagem de fundo ligeiramente ampliada na tela do Prado - deixou os
especialistas madrilenhos de orelhas em pé e muito desconfiados de que dois
artistas diversos pintaram as duas Mona Lisas ao mesmo tempo e lado a lado e
que, ao pintar o fundo, da Vinci estava poucos passos atrás do outro pintor.
Daí o fundo ampliado da Mona Lisa do Prado.
Portanto, as conclusões científicas sobre essa cópia da senhora
florentina nos autorizam a visualizar Leonardo em seu ateliê em Florença
pintando Lisa Gherardini enquanto um aluno, junto ao cavalete do mestre,
copiava o seu processo criativo passo a passo, em todas as suas etapas, do
esboço primordial à derradeira pincelada.
A chave dessa descoberta foram os “pentimenti”,
ou seja, o desenho subjacente que era o mesmo por baixo de ambas as pinturas.
Também são idênticas as mudanças realizadas nele, embora com estilos
diferentes.
O fato é que os raios modernosos descobriram que as figuras são
praticamente iguais em dimensão, forma e pose e que ambas sofreram desvios do
desenho original no contorno da cintura, na posição dos dedos, na boca, no véu
e nos cabelos e até mesmo ajustes menores nas bochechas e no pescoço. Ambos os
pintores alteraram o tamanho da cabeça, diminuíram o peito e abaixaram os
decotes das suas respectivas Mona Lisas. E, mais importante, apesar das
alterações terem sido idênticas, as linhas não foram, o traço e a paleta eram
diversas.
A jovem senhora do Prado tem um ar de graciosa melancolia: a modelagem e
os tons de carne de seu rosto, e a mão direita em particular, são finamente
pintados, embora sem o sfumato tão
característico do trabalho de Leonardo. O termo pode ser traduzido por esfumado
- de fumaça - e define a transição gradual e quase imperceptível entre áreas de
cores diversas dispensando os contornos nítidos. A habilidade de suavizar as
bordas duras, principalmente nos retratos, era considerada como a assinatura de
Leonardo.
Já o cuidado e a clareza leonardescos com os quais a transparência do
tecido é renderizada, acentuando o vermelho vibrante das mangas e os detalhes
mínimos na parte superior do corpete, sugerem que tais detalhes estão hoje
invisíveis na Mona Lisa original. Outros elementos da pintura foram lindamente
representados, talvez não exatamente no padrão de Leonardo, mas com uma atenção
ao detalhe digna de outro mestre.
Partes da cópia do Prado, como as mãos, por exemplo, são geniais mas no
geral a Mona Lisa espanhola não é uma pintura tão fina ou esfumada quanto as de
da Vinci. O motivo pelo qual essa maravilhosa cópia foi feita continua a ser
uma interrogação.
O fato é que um mero copista não poderia ter feito tais correções porque
sem uma potente visão de raio-X nunca teria percebido as mudanças cobertas
pelas tintas definitivas da superfície da pintura.
A Mona Lisa do Prado é importante pelo que revela sobre a verdadeira
Mona Lisa, escurecida e envelhecida pelo tempo. Muitos são de opinião que a
Gioconda de Madri parece mais jovem e vibrante só porque o brilho da obra-prima
de Leonardo foi apagada por camadas de verniz lascado e pela poeira dos
séculos.
Na verdade essa cópia, ao nos revelar uma mulher muito mais jovem além
de nos oferecer detalhes que estão obscurecidos na obra de arte original, nos
faz imaginar que revelações poderia fazer ao mundo a Mona Lisa francesa se
também fosse restaurada. Não tem como não ficar curioso.
Será que como a sua irmã do Prado a Mona Lisa do Louvre já teve sombrancelhas e elas desapareceram ao longo do tempo? Afinal Vasari as descreveu:
“As sobrancelhas, não poderiam ser mais
naturais pois mostram a maneira pela qual os pelos brotam da carne, aqui mais
fechados e ali mais escassos, e curvados de acordo com os poros da pele.”
A cópia restaurada e brilhante muito nos ilumina sobre o processo
criativo do gênio do Renascimento, sobre os seus métodos e pensamentos, sobre
como rolava o trabalho no seu estúdio e nos oferece uma melhor compreensão do
trabalho original, particularmente na paisagem e detalhes do rosto e das mãos.
Tecnologias recentes têm possibilitado que muitas pinturas importantes
nos sejam mostradas assim, pelo ângulo do seu esboço primordial, das suas
primeiras tentativas - ajustadas e retrabalhadas - sob a imagem final. Às vezes
o trabalho inicial, por baixo da superfície que conhecemos, assim como acontece
com alguns esboços, é ainda mais fascinante do que a própria pintura. É como se
os raios nos revelassem algo que só os artistas visualizaram há séculos atrás.
Para mim, no entanto, uma questão importante se não foi esquecida pelo
menos foi negligenciada nessa conversa sobre as Monas: quem pintou a do Prado?
Quem foi o autor da cópia, quem foi esse artista desconhecido que ao copiar
Leonardo não usou a técnica do sfumato mas que, ao contrário da do Louvre,
dotou a sua Lisa de sobrancelhas? Seja quem foi, além de um pintor preciso e
comprometido com seu ofício era possuidor de um imenso talento. É como se da
Vinci tivesse dado a um aluno especial uma aula de pintura.
Pessoalmente estou entre os que duvidam que os mais conhecidos
assistentes de da Vinci, Giacomo Salai e Francesco Melzi, pudessem ter pintado
tal obra-prima. Segundo Vasari, Leonardo escolhia seus alunos por sua aparência
e não pelo seu talento tanto que o próprio da Vinci nos seus cadernos descreveu
sim, não as habilidades artísticas, mas os cabelos encaracolados de Salai e
também a beleza de Melzi, mesmo na velhice. Tais alunos não eram pintores
talentosos e jamais teriam sido capazes de fazer uma cópia tão fascinante
quanto a Mona Lisa do Prado.
Sucede que vários exames realizados nas Lisas do Louvre e do Prado
revelaram que por baixo das suas tintas, nos seus primórdios, nenhuma das Lisas
sorria. Acontece que uma outra imagem de uma Mona Lisa sem o indizível sorriso
mora em um esboço precoce que outro grande artista fez dela.
E quem era esse pintor?
Raffaello Sanzio da Urbino que, ao lado de Michelangelo di Lodovico
Buonarroti Simoni e de Leonardo di Ser Piero da Vinci forma a tríade de grandes
mestres do Alto Renascimento.
Dona História nos garante que - atenção! - em 1504, o jovem Rafael
estava mesmo em Florença como aprendiz de Leonardo da Vinci, a quem reverenciou
por toda a sua curta vida. Descrito pelo professor como um jovem de
extraordinária habilidade artística, sabemos que no estúdio de Leonardo Rafael
produziu um pequeno esboço de tinta marrom de uma jovem mulher, provavelmente
uma modelo usada por Leonardo para ajudar a treinar seus aprendizes.
Esse retrato é de grande importância na história da Mona Lisa e tanto os
historiadores da arte quanto os especialistas em Leonardo estão de acordo que o
desenho foi diretamente influenciado pela pintura da Mona Lisa del Giocondo
enquanto Leonardo estava realmente trabalhando nela.
Nesse esboço que se chama “Jovem em uma Varanda” Rafael copiou da Mona
Lisa a paisagem plana, a ausência de adornos, a pose então vanguardista depois
chamada “três quartos”, a cabeça inclinada ligeiramente para a frente, os olhos
direcionados para o espectador e a mão direita suavemente pousada sobre a
esquerda.
O foco do esboço de Rafael - a jovem modelo! – se parece com a Mona Lisa
do Prado. As colunas que enquadram e flanqueiam dramaticamente a jovem
desenhada são a única diferença mas não podemos esquecer que as bases das
colunas, pelo menos, aparecem tanto na Mona Lisa do Louvre quanto na do Prado e
vale salientar que as duas colunas pintadas por Rafael na sua Dama com o
Unicórnio aparecem em lugar idêntico na imagem da Mona Lisa de Isleworth. Teria
Rafael visto a primeira das Lisas antes dela ser entregue a seu dono?
Raffaello Sanzio - Retrato de uma mulher (esq.) / Retrato de uma dama com um unicórnio (dir.) (wikimedia commons) |
Rafael sem quaisquer dúvidas foi fortemente influenciado por Leonardo
tanto que usou o esboço como base para a pintura “Senhora com o Unicórnio”, à
direita na montagem. Mais uma vez, vemos a mesma composição com os pilares
laterais e paisagem plana por trás. A dama na pintura é, supostamente, a nobre
Madalena Strozzi ricamente vestida quando de seu noivado, em contraste com a
roupa relativamente sem adornos da Mona Lisa.
Em sua obra As Vidas, Giorgio Vasari é particularmente efusivo sobre a
forma como o trabalho de Rafael foi influenciado por Leonardo da Vinci. Rafael
foi a Florença na primeira década do século XVI com a intenção de estudar os
grandes artistas florentinos e aproveitou a oportunidade para observar Leonardo
trabalhando, entre outros projetos, o retrato de Lisa Gherardini, a jovem
esposa de Francesco del Giocondo.
Vasari relatou como Rafael “ficou
maravilhado e espantado” ao ver as obras de Leonardo da Vinci, que
superavam todas as suas rivais de todos os outros pintores “nas expressões de homens e mulheres e na graça e movimento de suas
figuras”.
O primeiro dos historiadores da arte e biógrafo dos artistas
renascentistas literalmente escreveu que a arte de Leonardo agradou a Rafael “mais do que qualquer outra que ele já tinha
visto” e que, portanto, “ele se
estabeleceu para estudá-lo e procurou com o melhor de seu poder e conhecimento
imitar Leonardo” e atestou ainda que, apesar da sua diligência e profundo
estudo, Rafael nunca conseguiu superar Leonardo embora “tenha chegado mais perto dele do que qualquer outro pintor, acima de
tudo na graça do colorido”.
Como se não bastassem as observações de Vasari, nos seus próprios Cadernos
Leonardo deixou registrado que:
“Rafael copiou algumas das minhas obras
durante sua permanência em Florença”.
Pergunto: não poderia ser Rafael o copista talentoso anônimo, o
verdadeiro autor da Mona Lisa do Prado?
Se Rafael esteve na cena do crime prefiro acreditar que o tenha
cometido. Quem pintou a Mona Lisa do Prado tinha talento suficiente para
capturar, acima de tudo, o poder e a força clássicos dos rostos e das formas
esculpidas pelas sombras de Leonardo. O esboço de Rafael tem as mesmas sombras
ao longo do nariz e em torno dos olhos que Leonardo pintava. Mesmo que seja um
retrato de outra pessoa e que discorde estranhamente de algumas das
características da pintura de Leonardo, o trabalho de Rafael é, estranhamente
próximo da aparência da Mona Lisa.
Por que devo imaginar como autor da Mona Lisa do Prado um aluno espanhol
desconhecido - totalmente brilhante mas que depois da senhora do Prado nunca
mais pintou nada de bom! - se Rafael esteve presente enquanto a Mona Lisa era
criada?
Para o papel de copista da Mona Lisa francesa e autor da espanhola voto
em Rafael Sanzio pedindo vênia a TODOS os especialistas em arte renascentista
(rsrs)
Moacir,
ResponderExcluirA Mona Lisa do Prado é mesmo linda, digna de Rafael, mas não é a minha Mona Lisa . Ah, muito obrigada pela sugestão para fixar o olhar nos olhos dela e verificar o que acontecia com a boca. Realmente ela muda de acordo com o ângulo do qual se olha. Gostei de compreender a importância das sombras ao redor do sorriso quase imperceptível que não é o mesmo na pintura espanhola. Também fiquei contente de poder ver na cópia restaurada alguns detalhes perdidos na original como as sobrancelhas, a delicadeza dos bordados e rendas no tecido que cobre os seios e a transparência do véu em torno da cabeça e dos ombros pintado sobre a paisagem de fundo. Mas prefiro que a eterna Mona Lisa continue misteriosa.
Um abraço para você
Flávia,
ExcluirHoje quem olha para a sua Mona Lisa predileta não faz ideia do quanto essa senhora foi revolucionária nem que ela nada mais é do que o resultado da soma de um talento colossal com o uso das técnicas de chiaroscuro e sfumato. Em nenhum outro trabalho Leonardo foi mais feliz e eficaz ao brincar com a luz e a sombra, eliminando qualquer transição visível entre elas. É quase um milagre que ele tenha cometido esses contornos inexistentes e essas cores e tons tão misturados que o todo passou a ter uma aparência enevoada, um espectro tonal gradual sem fronteiras rígidas, como se coberto por uma cortina de fumaça que suaviza as áreas brilhantes e, ao mesmo tempo, alivia as mais escuras. O que é ainda mais extraordinário nessa senhora - mesmo sem sobrancelhas e cílios! - é maneira como o pintor capturou uma personalidade complexa e ambígua e fez a moça expressar aquele não-sei-o-quê misterioso do qual as pessoas falam há séculos, uma qualidade sutil que não se encontra na pintura do Prado.
Outro abraço para você
Moacir,
ResponderExcluirquando conheci a Mona Lisa "ao vivo", tive o privilégio de passar algum tempo com ela sozinho - sim, apesar de ser de dia, naquela primeira vez o Louvre estava quase vazio, como já devo ter contado alguma vez por aqui. E o que ocupou a minha imaginação foi justamente o que deveria estar oculto por detrás da máscara com que as camadas de verniz e o tempo vestiram a pequena e bela senhora, cujo olhar misterioso parecia desafiar o contemplador a descobrir sua verdadeira natureza.
Não conhecia a sua irmã do Prado (muito obrigado por tê-la me apresentado) mas quando a vi tive a sensação de voltar a ver a do Louvre como deve ter sido quando Leonardo guardou os pincéis. E a diferença no olhar e no sorriso agora iluminados era como se me dissesse "então, velho amigo, finalmente me viu!"
Não tenho como saber quem foi realmente seu coautor, mas a imagem de Leonardo e Rafael pintando juntos a mesma modelo me encanta demais para ser desprezada, é como se eu tivesse a bênção impossível de ouvir Sarasate e Paganini tocando juntos o mesmo capriccio, Caruso e Pavarotti cantando em dueto, ou ver Nadi e Mangiarotti conversando com suas lâminas. Então, para mim também será de Rafael.
Muito obrigado pela imagem, e um abraço do Mano.
Wilson,
ExcluirÉ sempre muito bom merecer um dos seus comentário, mas esse foi especial porque teclando com um poder de síntese que me falta, você traduziu a verdadeira importância da descoberta de mais uma cópia contemporânea da Mona Lisa.Toda grande pintura é cercada por cópias e falsificações de vários períodos, possíveis protótipos, esboços, obras de outros artistas repaginando-as etc, que podem iluminar nossa compreensão da obra-prima original ou, mais frequentemente, confundir-nos. Muito raramente emerge das sombras uma cópia digna da sua irmã popstar. Sucede que a Lisa do Prado também é uma obra prima! Como não há perspectiva de restauração da Senhora do Louvre em um futuro próximo, a do Prado é mais do que bem vinda porque nos permite vislumbrar como era a Lisa no século XVI e assim ter uma noção do efeito que Leonardo pretendia que ela nos causasse.
Outra coisa que suas pretinhas esclarecem muito bem é que esse efeito não é algo avassalador. Nenhuma obra de arte - mesmo a pintura mais descrita e teorizada e badalada do mundo - é capaz de nos fazer cair de joelhos em um museu gritando “revelation!” (rsrs) A conversa com uma bela senhora de tinta é calma, rola durante uma vida, com idas e vindas, altos e baixos, estranhamento e encantamento até o dia em que ela nos pisca o olho e diz: "Então, velho amigo, finalmente me viu!"
Last but not least, a a bela Lisa do Prado nos permite ainda quase que participar da gênese de uma obra de arte que atingiu um status quase sagrado, que foi reproduzida e parodiada de forma tão extensa que nos era quase impossível imaginá-la sendo fisicamente pintada, imagine criada duplamente, mais jovem, leve e limpa , por dois dos mais talentosos pintores da humanidade. Sim, você tem razão: “a imagem de Leonardo e Rafael pintando juntos essa modelo é uma benção”.
E muito obrigado lhe digo eu.
Já que, posteriormente, as duas pinturas foram exibidas juntas no Museu do Louvre, é óbvio que os experts franceses assinaram embaixo das descobertas dos colegas espanhóis concordando que a Mona Lisa do Prado foi pintada ao mesmo tempo e no mesmo lugar que a sua famosa irmã. Suponho que diante destes novos fatos a biografia da Mona Lisa de Isleworth, que não pertence a nenhum dos dois museus, tenha ficado bastante comprometida. Com relação a Rafael a sua linha de raciocínio é bem interessante e vou acompanhar o relator, rs
ResponderExcluirMárcio,
ExcluirRealmente a Mona Lisa espanhola só dá credibilidade à francesa se bem que a única pintura de Leonardo cuja autoria jamais foi questionada é a senhora do Louvre. O problema dela não é quem a cometeu, mas quando. O busílis é que a maioria dos "sabichões" concorda que a Lisa do Louvre foi um trabalho tardio do Mestre, porque representa o ápice do sfumato, uma técnica que o pintor, supostamente, só desenvolveu depois de 1508. Ela seria contemporânea, por exemplo, do São João Batista, criado também sorridente, entre 1513/ 1516.
https://en.wikipedia.org/wiki/St._John_the_Baptist_(Leonardo)#/media/File:Leonardo_da_Vinci_
No entanto há provas históricas escritas – as anotações de Vespucci e o livro de Vasari - de que, primeiro, uma pintura da Mona Lisa foi encomendada por Francesco del Giocondo e iniciada por da Vinci em 1503. E segundo, de que uma Mona Lisa fez parte do inventário de Leonardo, morto na França em 1519, foi comprada pelo rei francês em cuja coleção permaneceu até ser transferida do quarto de Napoleão direto para o Louvre (rsrs)
Sucede que Vasari nasceu em 1511, escreveu nos anos 50 e faleceu em 1572 sem jamais ter saído da Itália fato que sugere que ele tenha descrito outra Lisa, provavelmente a rosada moça de Isleworth. Quem aposta na teoria do sfumato tardio, acredita que a versão da pintura vista inacabada por Vespucci em 1503 e usada como modelo por Rafael em 1504, não poderia ser a senhora do Louvre.Se, como o Prado jura de pés juntos, sua cópia foi pintada por alguém sentado ao lado de Leonardo da Vinci, tentando duplicar cada pincelada, só vislumbro uma explicação: as Lisas do Louvre e do Prado foram cometidas durante a estada de Leonardo em Roma, de 1513 a 1516, porque então Rafael morava por lá (rsrs)
Nunca saberemos mas obrigado por participar.
Desculpe se for sacrilégio, Moacir, mas eu acho a Mona Lisa do Prado mil vezes mais bonita do que a do Louvre, que é amarelada e 'esfumaçada' demais para o meu gosto kkk Se as cores e os detalhes maravilhosos da espanhola estão invisíveis debaixo da poeira e do verniz da francesa por que simplesmente não restauram a pintura? Obrigada!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirNão, não é sacrilégio, é sua opinião e seu privilégio e merece respeito. Quanto à sua pertinente questão – “ por que não restauram a pintura?” - a verdade é que a restauração de um dos maiores ícones da cultura ocidental seria uma aventura muito complicada.
O mais provável é que os restauradores tenham receio de mexer na marca registrada de Leonardo - o maravilhoso fumacê (rsrs) - de danificá-lo com os solventes, por mais cuidados que tomem. É que a perfeição técnica dele era impressionante: ele "vitrificava" os retratos, ou seja, chegava a usar sobrepostas mais de quarenta finíssimas camadas de esmalte transparente - misturas de pigmento e óleo muitas das quais hoje se encontram lascadas e/ou descoloridas – para obter a imperceptível gradação de tons da luz à sombra, notadamente ao pintar a carne. Acredita-se que, como o óleo secava lentamente, o pintor levava meses para obter o efeito que desejava: pintar as pessoas como as via, com um realismo total.
Os especialistas sabem que uma restauração nessas camadas rachadas descoloridas seria uma missão dificílima, que haveria sempre o perigo de remover tinta por engano junto com a sujeira e o verniz amarelado, modificando a expressão da figura e/ou o climão da cena, danificando gravemente a pintura e obliterando a mão do artista da obra de arte mais famosa da história.
Antes, durante e depois da restauração da Virgem e o Menino com Santana, por exemplo, todos os "sabichões" do Louvre se desentenderam, trocaram acusações em praça pública, alguns até pediram demissão. Muitos acham que a restauração deixou a obra limpa demais, com um brilho que o mestre da Renascença nunca pretendeu que tivesse. Então... acredito que a Mona Lisa francesa continuará sujinha por muito tempo ainda.
“Obrigado!” e abração
1)Licença Pimentelji, seu bom texto e as três primeiras fotos permitem um voo Esotérico.
ResponderExcluir2) Alguns dizem que a Mona Lisa representa o Eterno Feminino, a Deusa que se multiplica ad infinitum.
3) Nas três primeiras fotos a imagem só apresenta nove dedos, simbolizando o Arcano 9 do Tarô, os 9 céus e 9 infernos.
4)Já as duas últimas fotos são outro estudo iniciático, o unicórnio mítico é sinal de Poder feminino, da sedução com os ombros aparentemente descobertos. E a outra foto é o despojamento, o "tesão" da simplicidade.
5) Há muitas viagens entre Mona Lisa e o Esoterismo. Parabéns amigo !
Antonioji,
ExcluirSim, é antiga e longa essa viagem conjunta da arte e do esoterismo. No meu último post eu abordei, inclusive, a fascinação de Leonardo pela maternidade, ou seja, pelo mistério da criação e que há quem pense que a Mona Lisa não é o retrato de uma mulher mas uma meditação alegórica sobre a feminilidade como fonte da vida.
O seu comentário me fez refletir nos porquês do esoterismo ter uma influência tão forte nos bichos homens. Talvez algum tipo de mecanismo psicológico da mente emergente nos tenha deixado suscetíveis às crenças no divino e por isso há tantas semelhanças nas idéias religiosas de culturas que não estão geograficamente conectadas e são amplamente separadas pelo tempo. Talvez seja uma função do cérebro achar explicações para tudo e, na falta delas, gerar narrativas esotéricas tranquilizadoras. O nosso instinto mais forte é a vontade de sobreviver,certo? Então bem que poderia ser essa a razão pela qual criamos o conceito de vida após a morte que mora no coração de todas as principais fés. Ou será que a 'religião' foi desenvolvida por nós para nos ajudar a entender e organizar a complexidade do universo ao nosso redor? Teria sido Deus uma resposta "simples" para todas as perguntas sem resposta?
Eu não sei. Mas sei que o urso das cavernas , por exemplo, foi o primeiro "deus" cultuado pela então humanidade neandertal porque era capaz de hibernar. Os nossos primos nunca tinham ouvido falar em metabolismo reduzido, mas sabiam muito bem que com certeza morreriam se tentassem passar um inverno sem comer dentro de uma caverna. Em vez os ursos “ressuscitavam” a cada primavera e é claro que tendo feito o caminho do Além e voltado, os ossos dos "deuses" ursos passaram a decorar os túmulos dos humanos para mostrar –lhes o caminho. Da mesma forma antes de abstrair que era preciso um homem e uma mulher para ue houvesse reprodução, na cabeça dos nossos ancestrais as companheiras que davam frutos como as árvores só podiam ser "deusas" e as centenas de estatuetas de Vênus pré-históricas grávidas não me deixam mentir.
No meu entender, nos nossos primórdios, a religião e a arte foram estratégias para lidar com a incerteza cognitiva. Mas continuo lhe dizendo ...
Namastê!
Pimentel,
ResponderExcluirMais uma leitura gostosa e informativa. É lamentável que eu tenha passado pelo Museu do Prado sem conhecer esta bela obra de arte do Renascimento. Enquanto você ia explicando que os raios-X e infra-vermelhos revelaram que nos riscos originais nenhuma das duas Monas Lisas sorria caiu a ficha que Leonardo, Michelangelo e Rafael conviveram. Era talento demais por metro quadrado.
Sampaio,
ExcluirAcontece nas melhores famílias.Temos um amigo que, para desespero da senhora dele, cometeu a façanha de visitar o museu do Hermitage em meia hora (rsrs) Aqui entre nós e baixinho quem olhava com atenção para a Lisa do Prado mesmo antes da restauração bem sucedida ter lhe devolvido a paisagem e eliminado sua aparência monótona e monocromática, já se conseguia enxergar o parentesco.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/04/Copy_of_La_Gioconda_-_Leonardo_da_Vinci
Também eu fico meio que tonto com a pororoca de artistas geniais do Renascimento que, no meu entender, só se repetiu uma outra vez na História da Arte: em Montmartre. O que dizer das maltas formadas por Monet, Degas, van Gogh e Lautrec e/ou Cézanne, Picasso, Matisse e Braque?
Note que uma mesma rebelião contra os estilos, perspectivas, técnicas e temas vigentes foi a motivação comum dos artistas dos dois períodos.
Obrigado e abração
Pimentel,
ResponderExcluirNada sei deste tipo de arte onde és um expert.
Muito menos tive a chance de ver as Monalisas na Espanha ou França.
Não significa que deixo de admirar o talento de seus autores, pelo contrário.
Justamente por eu não saber desenhar uma árvore, reverencio o pintor de telas, seus estilos, escolas, suas influências em centenas de outros mestres da pintura.
Logo, peço permissão aos comentaristas acima, para utilizar seus elogios a ti por mais esta obra que postaste de grande mérito, muito bem escrita, explicativa, que ocasiona mesmo admiração e reverência aos teus textos porque inegavelmente comprovam também o teu talento de escritor, de professor de artes!
A mim cabe tão somente agradecer e aplaudir.
Abração.
Saúde.
Bendl,
Excluir“De boa”, como diz a juventude, nem eu preciso tocar piano e violino para apreciar ou não a Traviata, nem você tem que dominar pincéis e tintas para gostar ou não da Mona Lisa (rsrs) Mas tudo bem! Você não tem que ter uma opinião formada sobre tudo e prefiro a honestidade das suas pretinhas a um discurso desses copiados/colados na internet onde a Monalisa tornou-se uma superstar, um paradigma cultural, um provérbio tão universal que só mesmo uma criança terrorista de oito anos – minha caçula! – seria capaz de dizer sobre ela: “Que mulher feia, papai!”(rsrs)
Quanto ao meu suposto “talento de escritor” trata-se apenas de um hábito: desde moleque eu estudava escrevendo porque pensar era um negócio muito complicado. Eu bem que me esforçava para viajar pelo mundo das ideias, forjar uma mente que pudesse lidar com o abstrato mas a minha atenção desviava-se inexoravelmente de volta para o específico, para o tangível, para as imagens do mundo do lado de fora da minha janela, para o que eu podia ver, saborear e tocar(rsrs) Foi então que me deram um bom conselho: “ leia direitinho e escreva com suas próprias palavras”. FIAT LUX!
Pelo menos desenvolvi uma boa memória visual e aprendi a me divertir arranjando palavras no papel. E continuo rascunhando para pensar melhor.
Muito obrigado pela atenção e outro abraço
Olá Moacir,
ResponderExcluirEstou aqui sem whisky e sem som. Só silêncio e café na minha xicrinha branca de asas pretas moles. Minha xícara Wim Wenders. Um luxo!
Deu-se-me uma urgente vontade de conversar com você. Sem nenhuma urgência real, só a da vontade. Estou ficando temperamental! Larguei tudo que estava fazendo pelo meio. Talvez, temo, a velhice seja urgente!
Ontem, por acaso, assisti um programa no canal de artes sobre, coincidentemente, Raffaelo Sanzio. Da infância às peripécias em Florença. De suas influências e aprendizagens e maravilhamento com Leonardo da Vinci. Foi muito interessante porque tinha acabado de ler seu post.
Que saber? Acho que os produtores não sabiam tanto quanto você? Que elogio, não? Pode ficar cheio de si, sabichão!
Como fala o amigão Francisco a gente tem que colecionar. E estudar, lógico.
E aproveitar e estudar você também.
Pelo visto as Monas têm uma história farta e complexa. Talvez ainda inacabada.
Muitas idas e vindas pelos anos, um não viu a outra, ou fizeram juntos, ou foram discípulos mais belos que competentes. Não sei tanto, mas concordo com você, acho que Rafael pintou junto com da Vinci. E também tem meu voto.
Acho fascinante essa história dos raios reveladores.
Tenho um livro roubado dos meus sogros, Rembrandt et l'Evangile selon Sanint Luc.
Que livrinho bem roubado! E ele mostra esboços debaixo de esboços e debaixo de pinturas de Rembrandt. E são maravilhosos! Adoro a leveza e a busca dos esboços, a imagem que nasce do inacabado. Enfim, a presença do artista.
Obrigada por mais essa aula. Que leitura boa!
Até sempre mais.
Caríssima Donana,
ExcluirPermita que lhe diga, “respeitosamente “ que conversar com a senhora é sempre um privilégio e que bom mesmo deve ser disfarçar um cowboy nessa sua “xicrinha branca de asas pretas moles” (rsrs) Quanto à minha “sabichionice” fica por sua conta embora eu entenda que sendo exatos 29 anos mais moço que Leonardo e seu conterrâneo, estranho seria se Rafael aos vinte anos não tivesse sido influenciado pelo cinquentão Mestre dos retratos. E o resto? A culpa é, do livro do Vasari (rsrs) Entre outros!
Bem que eu queria ter roubado mas tive que comprar por um valor que fiz questão de esquecer rapidinho um livro enooooorme de nome Leonardo da Vinci - Complete Paintings, da lavra de Pietro C. Marani, com 384 páginas ilustradas por todas as pinturas e todos os maravilhosos esboços de Leonardo. "Um luxo!" (rsrs)
E sim os tais dos raios são fascinantes porque nos permitem ver por baixo das tintas e conhecer a imagem "nascendo do inacabado”, dos esboços que capturam a energia e a graça de tudo em pouquíssimas linhas. Esse nosso fascínio pela arte em estado potencial tem razão de ser: o inacabado conversa conosco sobre a história de uma obra de arte sem utilizar chatos dados biográficos. As últimas obras incompletas de grandes artistas são mais estudadas e admiradas do que aquelas que eles concluíram justamente porque nelas restaram visíveis os desenhos preliminares, as mãos tateando o caminho.
Foram muitos os projetos inacabados que os dois irrequietos gênios renascentistas, Leonardo e Michelangelo, deixaram para trás. É o caso do estupendo São Jerônimo de Leonardo que mora interrompido no Vaticano e da Madona de Manchester de Michelangelo na National Gallery de Londres revela ao mundo que o cara pintava as suas figuras com uma base VERDE escura , antes de começar a pintar a carne da galera santíssima!! E como esquecer os Escravos dele, emergindo agonizantes de blocos de mármore com as cruéis marcas de cinzel ainda visíveis por todos os lados, que inspiraram Rodin a brincar com a incompletude nos seus trabalhos fragmentados?
Mais recentemente muitos pintores passaram a optar por manter suas obras não resolvidas. É o caso de tantas coisas do Turner, do Whistler, dos impressionistas e da maioria dos nossas amigos modernistas do século XX, que traduziram muito bem o que um crítico de arte tolinho, de nome Baudelaire, já havia dito ...ó...faz é tempo: “em geral o que está completo não está acabado e que uma coisa terminada em detalhes pode muito bem carecer da unidade da coisa completa (rsrs)
Mas ontem e hoje e amanhã diante dessas maravilhas inacabadas ou reveladas pelos raios teremos a mesma sensação: é como se estivéssemos no estúdio, contemplando a pintura por cima do ombro de um artista, prestes a tomar sua próxima decisão no processo criativo. E os espaços e lacunas continuarão a nos permitir especular sobre o que ele teria feito a seguir: finalizado a pintura ou, entediado com o tema, iniciado outra tela?
“Até sempre mais”
E eu vou aprendendo com vc Moacir ! e junto com os comentários de todos que enriquecem esta aula de arte
ResponderExcluirPor isto bato palmas por todos vcs deste blog
Salve Lea!
ExcluirConcordo inteiramente: aprender é uma maravilha e o melhor do post são os comentários. Porque como dizem os do Oriente “somos a teia e somos quem a tece” e como traduz o nosso poeta Gregório de Matos “o todo sem a parte não é todo, a parte sem o todo não é parte”. Portanto também vou aplaudir de pé – clap, clap, clap! – e assoviar e pedir mais a todos os que fazem o Conversas do Mano, inclusive a senhora!
Um abraço