Arquivo pessoal |
Francisco Bendl
Antes que eu
saia desta vida - sequer sei para onde vou -, entendo valer a pena deixar
alguns registros nesta existência terrena.
Escrevi
minhas indignações e revoltas com os rumos que alguns seres humanos tomaram por
culpa de outros, desde que vim para este mundo há setenta anos, pois a vida da
maioria das pessoas continua sempre em compasso de espera, estagnada,
abandonada, desprezada, sem qualquer consideração por parte daqueles que poderiam
proporcionar uma existência no mínimo razoável para o próximo.
Sou filho do
Rio Grande do Sul e do Brasil,
Mas não
tenho recebido flores e tampouco felicidades;
Sou filho de
um homem e de uma mulher, ambos brasileiros,
No entanto,
eles jamais receberam qualquer reconhecimento por suas nacionalidades;
Sou filho da
terra, da cidade, do campo, do litoral,
Mas tais
adaptações não me fizeram mais feliz, pois compartilhei tristezas e
padecimentos;
Sou filho de
um período que mais desenvolveu a humanidade, as últimas sete décadas,
Todavia, o
homem não avançou na mesma proporção, criando as maiores guerras registradas
pela História, aumentando a incompreensão e a intolerância;
Sou filho da
esperança, de anseios por uma vida melhor,
Mas os
responsáveis pelos caminhos deste mundo, decretaram que deveríamos viver
desesperados e abandonados;
Sou filho do
bem comum, onde todos vivem bem, com qualidade em suas vidas,
Entretanto,
tendências de várias ordens nos roubaram essas condições, e nos obrigaram a
verter sangue, suor e lágrimas;
Sou filho do
entendimento, da compreensão entre as pessoas, de amizades,
Porém,
interesses e conveniências poderosas exigiram que devemos nutrir ódio por
aqueles que pensam diferente, que não comungam das nossas ideias, erguendo,
desta forma, barreiras intransponíveis para todos;
Sou filho da
justiça, daqueles que sabem as leis existirem para quem errou,
Todavia,
institui-se a injustiça, que celebra, mantém e protege a impunidade para quem
dela é íntimo;
Sou filho de
condições que me foram oferecidas na forma de alimentos, remédios, moradia,
escolas, e futuro,
Lamentavelmente,
circunstâncias contrárias à felicidade da humanidade querem e se esforçam no
sentido de que o povo seja condenado à miséria, à pobreza, à falta de comida,
medicamentos, um teto para se abrigar, e que permaneça à mercê da maldade e
desprezo por parte daqueles a quem outorgou poderes;
Sou filho da
igualdade, das mesmas oportunidades para todos, de uma educação de qualidade,
possibilidades de desenvolvimento pessoal e coletivo,
Embora
jamais fossem os desejos dos poderes constituídos que tais chances fossem para
todos, senão apenas e tão somente para seus escolhidos e apaniguados;
Sou filho de
ensinos que me proporcionaram ler, conhecer, interpretar, discernir, ter consciência
e senso crítico,
Enquanto a
intenção dos poderes nacionais sempre foi nos relegar à ignorância, ao
analfabetismo, ao desconhecimento, à disposição de más intenções e
manipulações;
Sou filho da
paciência, da espera por um mundo melhor, menos injusto e cruel,
Contudo, as
lideranças internacionais e nacionais adiam indefinidamente trabalhar em prol
dos que precisam de ajuda, dos carentes, dos doentes, das crianças e dos
idosos;
Sou filho do
emprego, de cada ser humano poder construir a sua vida e ter o seu próprio
destino,
Lamentavelmente,
desvios políticos e repulsa pelos desvalidos incentivam mais ainda a escassez
de trabalho, o endividamento do cidadão e do povo, obrigando-nos a seguir o
caminho que devemos percorrer em nome do lucro, da ganância, e de explorar mais
facilmente incultos e incautos;
Sou filho do
carinho, do afeto e do amor,
Mas, a má
fé, o egoísmo, a sede pelo poder, destinaram-nos a violência, desprezo, dor,
sofrimento e desafeto!
Resta-nos,
ao fim e ao cabo, o quê?!
Preservar,
proteger, manter unida a família; preservar as amizades verdadeiras, e cultuar
as relações salutares para uma existência menos atribulada, porém um pouco
alegre e mais leve, possibilitando que a nossa carga não seja insuportavelmente
carregada sem qualquer descanso!
Conversas do
Mano é este oásis, onde tiramos de nossas costas o fardo de dias difíceis,
sentamo-nos embaixo de árvores frondosas que nos dão sombras agradáveis,
bebemos água pura, e tomamos fôlego para os demais dias de caminhadas por
trilhas irregulares, cheias de pedras, tortuosas, e sem nos sinalizar se é o
caminho que queremos ou porque escolhido por quem nos deseja o mal!
1) Salve Bendl. parabéns pelas reflexões biográficas.
ResponderExcluir2) De fato, o "Blog do Mano é um oásis".
3) Eu aproveito sempre para pegar um sombrinha. Descansar o "camelo" do corpo, beber água e seguir em frente tentando utopicamente transformar os desertos em terra fértil. Meu lado sonhador.
4) Abração a todos (as).
Rocha, meu amigo e professor,
ResponderExcluirGrato pela participação e comentário.
Convenhamos, sentados embaixo de uma frondosa palmeira, tomando uma água fresca, beliscando tâmaras, volta e meia, este oásis do Conversas do Mano está famoso.
Quanto às minhas reflexões bibliográficas, sinto-me atrelado a tudo e todos, pois entendo que não sou uma ilha, que não é possível viver isolado, haja vista que nascemos de duas pessoas, pai e mãe, logo, ter uma existência à lá eremita é muito difícil.
Claro, às vezes ficarmos longe dos acontecimentos e ambientes que nos perturbam é salutar, de modo a dar uma ordem nos pensamentos, tomar fôlego e voltar à batalha.
Todavia, o nosso cotidiano é estar ao lado das pessoas, nossos familiares, amigos, até mesmo de estranhos, diante da necessidade que temos de nos comunicar e de sentir que estamos vivos!
Um forte abraço.
Saúde, meu caro.
O ilustre Autor Sr. FRANCISCO BENDL ao se aproximar dos 70 anos, se pergunta: Quem sou?
ResponderExcluirPara responder começa em princípio se perguntado: De quem sou Filho? e vai desenvolvendo seu raciocínio, ágil, abrangente e profundo.
Ele, que junto com sua Esposa Profª D. MARLI, praticamente 50 anos de casados, criaram 3 Filhos, todos casados, com Filhos e bem colocados na vida, via Trabalho/Esforço e Poupança, queria que todas as Famílias fossem mais ou menos como a dele, e vê muita coisa triste.
Muitos Brasileiros(as) passando necessidades, a começar pelo Desemprego/Sub-Emprego, Pobreza e até Miséria.
Pelo nível de Produção que nossa Sociedade Industrial já alcançou, não era para ser assim.
Porém, o Autor Sr. FRANCISCO BENDL, a nosso juízo é um tanto impetuoso em querer melhora rápida do Padrão de Vida de nosso Povo.
Ou talvez eu que seja um tanto comodista social. Mas temos que levar em conta que partimos de uma Sociedade Escravocrata, ( Analfabetismo absoluto), que perdurou até ontem, e que no passado quase recente nosso Padrão de Vida era bem mais baixo ainda.
Mas só um excelente Pensador como o Sr. FRANCISCO BENDL, um bom Escritor, para tratar com elegância de tão profundo assunto. Quem Somos?
Concordamos que só no "Conversas do Mano", um "oásis fresco e verdejante", podemos em excelente nível "conversar".
Abração.
Mestre Bortolotto,
ResponderExcluirSinto-me honrado sempre com teus comentários, ainda mais quando se referem aos meus rabiscos, aos meus textos simplórios.
Olha, na idade que me encontro, a minha maior função é pensar, refletir, meditar, ordenar as ideias e sincronizar pensamentos.
Ao mesmo tempo, cuido para não atazanar em demasia a vida da Marli, pois a minha inatividade para possibilitar minhas reflexões, a cônjuge fica uma arara porque alega que não faço nada, e que está cansada de me servir!
Como podes constatar, se o marido não incomoda, permanece em casa, fica quieto no seu canto, elas reclamam; se o cara sai, joga bola com os amigos, destina um tempo para se distrair com eles em um boteco qualquer tomando uma gelada, assiste TV somente quando seus programas favoritos são mostrados, elas também botam a boca no trombone, alto e desafinado.
Em outras palavras:
Morto por ter cão, morto por não tê-lo!
De certa forma, gosto de fazer meus retrospectos, haja vista o passado me trazer alegrias e uma disposição para lutar incomum, que me impulsionam registrar essas lembranças indeléveis, principalmente no que diz respeito às conexões de nossas existências com as de outras pessoas, ambiente, local, cidade, país .... enfim, esta nossa participação voluntária e involuntária com a humanidade e a natureza, que dela fazemos parte e o seu lado mais frágil, ainda por cima.
Por isso os parágrafos que iniciam com ... sou filho disto e filho daquilo.
Evidente que, na razão direta que o meu fim se aproxima faço um balanço, uma espécie de contabilidade da minha vida, tema que tu dominas amplamente.
Tanto para constatar se o débito é maior do que o crédito ou se ambos estão zerados, ou seja, nada devo, e nada tenho a cobrar.
E, nossos livros, nossos apontamentos, encontram-se à nossa disposição na família que fomos seus criadores, nos filhos que tivemos, na manutenção da sociedade com a mulher que escolhemos para que este empreendimento sentimental tivesse progredido, tivesse alcançado sucesso, e ter gerado lucro na forma de netos, e o amor como fundamental à preservação da união deste clã.
Logo, percebo que o balanço da minha vida se encontra no azul, no saldo positivo, e não negativo.
Se deixei a desejar a mim mesmo sobre uma existência mais fecunda em termos acadêmicos, de cultura, de conhecimentos, a bem da verdade eu soube compensar com a família que eu e a Marli construímos, justamente essas brechas que poderiam ocasionar instabilidades ou divisões.
Não é por nada, mestre Bortolotto, que serei sempre um animador do casamento, um homem que afirma ser a união de um homem e mulher a base para uma existência feliz, pródiga, útil, e decisiva para nossa autoafirmação como ser humano.
Um grande abraço, mestre Bortolotto.
Saúde, e vida longa para este cavalheiro e pessoa que tanto admiro e reverencio.
Querido Francisco Bendl,
ResponderExcluirAdorei seu post.
Somos das mesmas circunstâncias e temos os mesmos sentimentos. Sem flores, sem justiça, quase sem esperança. Ficou só um restinho dela porque também somos teimosos. Não é mesmo, sr. dissidente?
Somos do bem comum que não é comum. É só de alguns.
Desde menina criança ouço falar do país do futuro. Lembra da vassourinha do bigodudo de merda? Código, código! Porque só você distrai o sr. Redator com política entre linhas bem miúdas. Cuidado! Ele é bem esperto !
Entre as amizades deste oásis variado de palmeiras e fonte de água pura a gente vai levando, os menos mutilados ajudando os outros mais mutilados (ouvi ou li em algum lugar do passado). Pode ser cervejinha em vez de água pura?
Até muitos mais.
Bendl,
ResponderExcluirO seu artigo me fez recordar o famoso bordão do filósofo espanhol José Ortega y Gasset: “Eu sou eu e as minhas circunstâncias”. E, bem assim, de já ter lido por aqui você defendendo que mais importantes do que o cenário são as personagens. E tanto que não deveríamos inverter a ordem dos fatores tipo "Eu sou as minhas circunstâncias e eu" (rsrs)
Fico feliz ao constatar as suas mudanças, digamos, filosofais, porque seja lá o que formos, enquanto vida tivermos, penso que não deveríamos escolher ser fotos estáticas, fixas e acabadas, mas textos em criação contínua, em estado potencial, dando testemunho dos nossos pensamentos e sentimentos mutantes, nos reeditando, reorganizando e reconsiderando, abrindo espaço para a conversa, o aprendizado e a evolução.
Tudo bem que o homem e a sua moldura são indissociáveis: não se pode traduzir ninguém solto no tempo e no espaço, sem conexão com o seu habitat e sem relação com seus semelhantes. Mas se as circunstâncias são partes do todo, se elas somam-se como pedras de quebra-cabeças para compor o contraditório "eu", também o são as decisões que tomamos para lidar com as limitações que nos enquadram na foto. As nossas escolhas nos definem tanto quanto as nossas imperfeitas circunstâncias e gosto de pensar que também somos os donos dos nossos acertos e erros.
Abração
Pimentel,
ExcluirGrato pelo comentário e participação.
Conforme reza a filosofia que precisamos nos renovar constantemente, e tal tarefa é diária ou em períodos do dia, constato que preciso ampliar a mente, absorver mais ideias e pensamentos que me ocorrem e me assaltam à noite ou enquanto escrevo.
Gosto dessa frase de Gasset, "o homem e suas circunstâncias", pois na maioria das vezes somos conduzidos por situações que não dominamos ou que nos fogem ao controle ou porque foram surpresas, que tanto podem ser agradáveis quanto desagradáveis.
Eis um tipo de assunto que, a meu ver, rende, oferece debate, nos aperfeiçoa, nos faz crescer, ainda mais quando abordado por pessoas inteligentes, cultas, de grandes conhecimentos, como é o teu caso.
Um forte abraço.
Saúde.
Aninha, minha querida amiga e também sutil dissidente,
ResponderExcluirNeste oásis Conversas do Mano, podemos imaginá-lo conforme nossos gostos e desejos.
Se preferes uma cervejinha gelada com os famosos petiscos mineiros, fica à vontade, eu compartilho contigo tais quitutes saborosos.
Olha, minha amiga inteligente, perspicaz, observadora, capaz, sensível, esposa, mãe e avó, escritora e poetisa de qualidades indescritíveis, temos de agradecer a fase que nos propicia entender que devemos lutar pelo bem-comum, que devemos tomar posições nesta vida, que temos de ser sinceros e honestos tanto pessoalmente quanto com as demais pessoas.
Tal estágio uma vez atingido, amplia a nossa mente, faz com que pensemos na vida, nos nossos amados, ao mesmo tempo que não podemos deixar de lado a existência da maioria de homens e mulheres, idosos e crianças, sãos e doentes, que estão em permanente dificuldades, que vivem cercado de obstáculos, privações, carências.
Logo, somos filhos do que é bom, mas também somos gerados pelo que é ruim, pois jamais poderemos viver isolados, sem que tenhamos vínculos com a humanidade e com a realidade cruel que os limita e baliza, pois sofremos também as suas consequências.
E, o segredo de uma vida feliz é exatamente o que disseste com tanta propriedade:
" ... os menos mutilados ajudando os outros mais mutilados ... "
Eis a síntese que somente a experiência, a dedicação, consideração, o amor pelo ser humano consegue identificar e descobrir, então atinge o patamar tão almejado, porém poucos o conseguem.
E, minha cara amiga, nossos filhos e netos são exatamente este aprendizado que temos de absorver, quando já adultos os nossos rebentos e ainda crianças os seus filhos, ainda nos amam, respeitam, gostam de nossas presenças e sentem saudades!
Transbordamos de alegrias e felicidades, logo, queremos que todos sintam essas sensações inexplicáveis de satisfação, do dever cumprido, de termos sido úteis àquelas pessoas que trouxemos para este mundo complicado.
Muito obrigado pelo comentário e tua participação imprescindível, que abrilhanta este espaço extraordinário.
Um grande e fraterno abraço.
Saúde, muita SAÚDE, extensivo aos teus amados.
Muito boa foto ... amigo Bendl!
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