fotografia Moacir Pimentel |
Moacir Pimentel
A escritora Helene Hanff sonhava empreender uma
viagem “literária” através do Reino Unido. A pergunta é: qual seria o roteiro? Não
é fácil definir a “Inglaterra literária”
que ela tanto procurava. Provavelmente um dos lugares mais férteis da história
literária da humanidade, é quase impossível listar todos os autores e todas as
obras - de ficção ou não - nascidas nessa terra bretã de gigantes. Gente séria,
a galera do National Geographic sugere que na ilha das brumas e adjacências
existem mais de quinhentas localidades “literárias” que, ou foram a terra natal
dos escritores, ou os inspiraram ou serviram de cenário para aquilo que
escreveram.
De Beowulf às peças shakespearianas, dos poemas de
Robert Burns escritos nos primeiros anos do século XVIII às obras de Irvine
Welsh sobre o submundo de Edimburgo no emblemático livro Trainspotting – que virou o filme de nome Sem Limites - pense em
uma Inglaterra literada!
Por onde começar a peregrinação das pretinhas? Pela
cidade de Stratford-upon-Avon, que inaugura o post, onde nasceu e viveu e
morreu o grande William Shakespeare? Por Edimburgo, lá na mais pitoresca das
fronteiras do reino, o local de nascimento de Robert Louis Stevenson, Arthur
Conan Doyle e Muriel Spark? Por Birmingham em cujos arredores Tolkien, na
virada dos séculos XIX e XX, passou as infância e juventude se inspirando nos
belos campos circundantes para criar as terras idílicas habitadas pelos hobbits
da série do Senhor dos Anéis?
Ou seria melhor fazer uma imersão na costa da
Cornualha que inspirou os romances da escritora Daphne du Maurier como Rebeca e O Bode Expiatório e Jamaica
Inn e, inclusive, o conto Os Pássaros
– que muitos dizem ter ela plagiado do livro de mesmo nome do Frank Baker – mas
que seja lá como foi, tornou-se uma paisagem perfeitamente capturada na
adaptação cinematográfica do lendário diretor Alfred Hitchcock?
Quem
sabe passando por Torquay, outra localização costeira, dessa vez em Devon, que
foi uma das fontes de onde bebeu Agatha
Christie para criar as queridas Miss Marple e Tuppence? Ou seria melhor fazer
uma escala na pequenina aldeia de Haworth que só não é esquecida na
deliciosamente remota paisagem de Yorkshire porque foi ali que irmãs Brontë
rascunharam romances clássicos como o Morro
dos Ventos Uivantes da Emily, a Jane
Eyre da Charlotte e a misteriosa, jovem e bonita Inquilina de Wildfell Hall da
Anne, só que sob o pseudônimo de Acton Bell?
Visitando as terrinhas natais de poetas românticos
do século XVII, como John Ruskin, Samuel Coleridge e William Wordsworth, cuja
casa ainda se pode visitar em Cockermouth? Descobrindo as dezenas de livrarias
da pequena cidade galesa de Hay-on-Wye? Conhecendo a bela Kent, escondida no
sudeste da Inglaterra, visitada por Charles Dickens regularmente em meados do
século XIX e onde – dizem! – ele teria escrito A Casa Soturna e David
Copperfield? Homenageando Bath onde Jane Austen morou e inventou as suas Razão e Sensibilidade e os seus Orgulho e Preconceito? Ou tropeçando em
Oxford, a cada dois passos, com uma faculdade, taverna ou biblioteca assombrada
pelo fantasma de um grande escritor?
Perambular pelas salas de leitura sossegadas da
British Library, em Londres, que coleciona manuscritos que datam de quatro mil
anos e que hoje é a segunda maior do vasto mudo, só perdendo para a Biblioteca
do Congresso Americano.
Nela há que conhecer a Biblioteca do Rei e a
Galeria Sir John Ritblat: a primeira uma torre de vidro de seis andares no meio
do prédio, contendo dezenas de milhares de livros, volumes, panfletos,
manuscritos e mapas coletados pelo Rei George III e a última, à direita da
entrada principal, uma exposição gratuita e deslumbrante, que exibe os
manuscritos originais - muitos com anotações manuscritas dos autores! -
incluindo a Magna Carta, uma Bíblia de Gutenberg, as cópias originais de Beowulf,
das Lendas da Cantuária, das Aventuras de Alice no País das Maravilhas, da
Senhora Dalloway e é claro, do Primeiro Fólio de Shakespeare.
Não, eu não faria escalas turísticas nos museus de
John Keats, de Charles Dickens ou de Sherlock Holmes mas, sim, eu passaria uma
das frequentes chuvas londrinas ou fugiria da neblina, na Esquina dos Poetas, uma espécie de “Quem é Quem” da literatura inglesa, escondida bem ali na Abadia de
Westminster que, por sua vez, mora tão discretamente atrás do orgulhoso Big Ben
que muitas vezes passa batida e ignorada pelas hordas de turistas correndo para
andar na roda gigante do outro lado do rio.
fotografia Moacir Pimentel |
A Esquina dos
Poetas é um recanto sombrio da imponente construção que não foi
originalmente planejado/destinado como tumba para os grandes escritores,
dramaturgos e poetas ingleses. O primeiro poeta a ser sepultado no local foi
Geoffrey Chaucer, não por ter escrito em verso e prosa The Canterbury Tales - Os Contos da Cantuária
– mas por ter sido Secretário de
Obras do Palácio de Westminster. O fato dele ter sido autor da estupenda coleção de histórias que, inspirada no Decamerão de Boccaccio, consolidou o idioma inglês como língua
literária em substituição ao latim e ao francês, era simplesmente irrelevante à
época.
No entanto, durante o florescimento da literatura
inglesa no século XVI, mais de cento e cinquenta anos depois, um túmulo mais
elaborado foi erguido para Chaucer na Abadia e, em 1599, Edmund Spenser foi
enterrado nas proximidades. Essas duas tumbas foram os primórdios de uma
tradição que se intensificou ao longo dos séculos seguintes e resultou na atual
Esquina dos Poetas.
Além de Chaucer e Spenser, nessa encruzilhada
dormem seus sonos eternos os poetas John Dryden, Alfred Lord Tennyson, Robert
Browning e John Masefield e os escritores William Camden, Dr. Samuel Johnson,
Richard Brinsley Sheridan, Rudyard Kipling e Thomas Hardy.
Porém em Westminster outros grandes poetas e
escritores também são homenageados apenas com memoriais. É o caso dos poetas John Milton, William
Wordsworth, Thomas Gray, John Keats ao lado de Percy Bysshe Shelley, Robert
Burns, William Blake, TS Eliot e Gerard Manley Hopkins. Como também de
escritores como Samuel Butler, Jane Austen, Oliver Goldsmith, Sir Walter Scott,
John Ruskin, Charlotte, Emily e Anne Brontë, Henry James e Sir John Betjeman, o
poeta laureado.
O túmulo de Charles Dickens atrai multidões de
visitantes não apenas em reconhecimento pelo talento de suas pretinhas mas pela
defesa que ele sempre fez dos socialmente privados e excluídos e da abolição do
tráfico de escravos. E até o maior escritor inglês, William Shakespeare, que
foi sepultado em 1616 em sua cidade natal de Stratford-upon-Avon, ganhou em
Westminster um monumento para chamar de seu com uma bela estátua, em 1740.
fotografia Moacir Pimentel |
Outra adição tardia foi Lord Byron, cujo estilo de
vida causava escândalo, embora sua poesia fosse muito admirada.
Devo confessar, porém, que esse passeio literário
sepulcral, no atacado, não é a minha caminhada literária favorita e duvido que
tenha sido aquela da autora das cartas que lemos nesse livro/filme, nos quais
ela tentava explicar ao livreiro Frank Doel porque não apreciava a ficção nem
os textos e/ou poesias “selecionados”:
“Aliás e a
respeito do livro de nome A Poesia Completa e a Prosa “Selecionada” de John
Donne e a Poesia Completa de William Blake, você poderia me dizer o que esses
dois rapazes têm em comum, além do fato de ambos serem ingleses?” (rsrs)
Convenhamos que o grande William Blake foi um
ilustrador muito melhor – pelo menos para o poema Paraíso Perdido de John
Milton - do que poeta.
William Blake - Ilustração para O Paraíso Perdido de Milton / London (poema) |
Aliás, a figura misteriosa e complicada de Blake
está mais presente na história literária de Londres no Parque de Peckham Rye,
onde há cerca de dois séculos e meio o artista romântico afirmou ter tido um
dos seus primeiros encontros celestiais. Isso mesmo. Aos dez anos de idade,
enquanto fazia uma de suas caminhadas regulares pelos então campos de Peckham
Rye, a valentes quilômetros do centro da cidade, eis que de repente ele olhou
para o alto e viu um frondoso carvalho carregado de anjos de asas brilhantes.
Não, o garoto não ficou assustado com os visitantes
angélicos, nada disso. Em vez, correu para casa para compartilhar, todo
contente, a sua experiência com os pais. Como aquela não fora a primeira visão celestial
do pequeno William - ele já tinha visto o Profeta Ezequiel debaixo da cama
quando tinha quatro anos de idade - seus genitores perceberam que tinham nas
mãos um filho muito imaginativo e o mandaram para a escola de arte onde o
pirralho aprendeu a desenhar (rsrs) Hoje, na região há um enorme mural com uma árvore
de anjos azuis registrando o local do encontro sobrenatural do
poeta/ilustrador.
A escritora Helene Hannf nos conta que visitou a
Catedral, mas o encontro dessa senhora ou de quem quer que seja com a
literatura inglesa ou de qualquer outra nacionalidade, é um acontecimento lento
que rola por toda uma vida. Logo, a Abadia de Westminster pode até ser um GPS
mas não é uma tradução fiel da literatura e da história inglesas, não é o pano
de fundo ideal das Lendas Arturianas
dos séculos V e VI, das Aventuras de
Robin Hood no século XII, das Viagens
de Gulliver no XVIII.
Aqueles túmulos e placas nada nos contam sobre
tantas obras cujo cenário é Londres como é o caso de um dos meus favoritos: o
clássico e gótico romance de 1886 de nome O Estranho Caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde no qual o escocês Robert Louis Stevenson narra a história
de Utterson, um advogado que acompanha os horrores cometidos em série por um
misterioso criminoso na Londres do final do século XIX.
O clima sombrio da capital inglesa contorna a história e dá o tom de
mistério, pois mesmo durante o dia a névoa deixa a cidade escura, transformando
os transeuntes em vultos. O contexto histórico do país também é transcrito na
trama: o avanço nas pesquisas e experimentos científicos, o êxodo rural devido
à Revolução Industrial, os contrastes econômicos, o centro urbano em estado de
caos, a fumaça, a poluição e aumento dos índices de criminalidade, motivo pelo
qual foi criada a Scotland Yard.
Pode-se afirmar que, em meio a essa conjuntura, o lado tenebroso da
sociedade vitoriana e a dualidade do homem foram discutidas na obra prima de
Stevenson, que foca na personalidade
dividida do respeitável Dr. Jekyll e do seu alter ego, o violento Sr. Hyde.
Essa duplicidade é ecoada, inclusive, nos mapas
antigos da cidade. Localizada no West End, logo à saída da Oxford Street, a
Praça Cavendish era para os vitorianos uma refinada e rica cidadela da
medicina, onde moravam o Dr. Jekyll e seu amigo Dr. Lanyon. Só quem deixa para
trás a praça e, em seguida, vagueia pelo Soho que serve de cenário para o
comportamento imoral do Sr. Hyde, entende porque as duas áreas foram
deliberadamente contrastadas na história.
A Abadia não nos revela que o Drácula do irlandês Bram Stoker vem à cidade para seduzir Mina
Harker, lá não ficamos sabendo da Guerra
dos Mundos de H. G. Wells nem qual foi o Pecado de Liza de Somerset Maugham e muito menos das conversas que Arthur
Conan Doyle inventou para os seus Sherlock e Watson. Nessa esquina de
Westminster não se tem qualquer vislumbre do Napoleão de Notting Hill de G. K. Chesterton, dos Filhos e Amantes - inclusive o da Lady Chatterley! - inventados por de D. H. Lawrence nem se percebe qualquer vestígio
do 1984 de George Orwell.
Para tanto é melhor visitar o prédio da BBC. Sim, porque George Orwell, cujo nome verdadeiro era Eric Blair,
trabalhou para a BBC de 1941 a 1943 e teve um relacionamento ambivalente com a
empresa. Enquanto ele admirava sua missão e seu propósito, achava a atmosfera à
sua volta burocrática e sufocante, descrevendo seu dia a dia na BBC como "algo a meio caminho entre uma escola
de meninas e um asilo para lunáticos"!
No entanto, é claro que a BBC influenciou definitivamente
dois dos seus livros: A Revolução dos
Bichos e 1984, que ele escreveu
logo depois de deixar a gigantesca coorporação. A experiência também sublinhou
o seu compromisso com o jornalismo claro e verdadeiro como lemos já na
introdução da Revolução e em uma das paredes da BBC:
“Se a liberdade significa
qualquer coisa, significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem
ouvir”
Não, a Abadia de Westminster não nos contará que um dos primeiros arranha-céus da cidade, o
histórico prédio Art Deco de nome The
House of Senate - A Casa do Senado - que hoje é o lar da biblioteca da
Universidade de Londres, serviu de modelo para George Orwell inventasse na sua
novela distópica 1984, o Ministério
da Verdade onde o protagonista Winston Smith passa seus dias úteis como membro
do Partido, suportando uma existência sob a vigilância totalitária do Big
Brother.
Os túmulos da Esquina dos Poetas nada nos dizem do Admirável Mundo Novo
de Aldous Huxley nem ali se fica conhecendo os mercados coloridos, as galerias, restaurantes e
lojas vintage de Brick Lane, o livro da Monica Ali, que tomou emprestado o nome
dessa rua arquetípica e vibrante localizada no East End de Londres para narrar
a vida da jovem Nazneen, a indiana que chega à cidade após um casamento
arranjado.
No interior sombrio da Catedral não se tem ideia
que o cruzamento da Finchley Road com a West End Lane, em Camden, é o cenário
para um episódio crucial no romance A Mulher de Branco de Wilkie Collins.
Nem se descobre que a comida do Rules
- o restaurante mais antigo de Londres – é imperdível e que a casa tem um de
seus salões dedicado ao romancista Graham Greene, porque ele usou as cadeiras
de couro, os retratos emoldurados, os painéis de madeira e o tapete vermelho e
dourado como pano de fundo para dois encontros dramáticos do casal de adúlteros
Bendrix e Sarah em sua novela Fim de Caso.
A Abadia não nos mostra outro edifício literário, a
Estação Vitória, um local que já era para lá de movimentado em 1895 quando se
tornou o cenário para as obscuras
origens de Jack Worthing na peça "The
Importance of Being Earnest" de Oscar Wilde , cujo título em português
pode ser lido como A Importância de Ser
Honesto ou de ser Prudente ou de ser Ernesto já que o autor fez aí um
trocadilho com o nome de um personagem, o Ernest,
e o adjetivo earnest, que por
terem o mesmo som no inglês criam no original, recheado de
humor e ironia, uma série de situações cômicas e é um pecado se perder piadas
na tradução.
A estação hoje abriga a versão britânica do Orient
Express que, sem deixar de ser livro – o romance policial Assassinato no Expresso Oriente escrito por Agatha Christie e protagonizado pelo
detetive belga Hercule Poirot – é também o trem famoso que ainda faz o trajeto de Londres para Veneza.
Na realidade, se sai da Estação Vitória de manhã cedo
em outro belo comboio antigo, um Pullman britânico restaurado primorosamente. É
só em Calais que o belíssimo Orient Express dá o ar da graça dele. A bordo
come-se mais do que se deveria, dorme-se com todo o conforto e se chega a
Veneza na hora do chá do segundo dia. Sim, é um show mas e daí? É dos bons e nessa
vida, muito de quando em vez, faz bem à alma apertar o botão do dane- se (rsrs)
Bem, penso que Helene Hanff começou o seu poasseio “literário”
pelo lugar certo: A Rua Charing Cross. Mas essa será outra conversa...
1) Excelente artigo Pimentelji.
ResponderExcluir2) Digno do que as Faculdades de Letras chamam de "Sociologia da Literatura". brilhantíssimo.
3)Qdo vc falou da cidade de Shakespeare me fez lembrar de uma história, não sei se e verdade:
4) No começou do século XX, nos EUA, fundaram a Avon Books que vendia livros de porta em porta, e como prêmio, para quem comprava, recebia um vidrinho de perfume. Os perfumes fizeram tanto sucesso que abriram a perfumaria Avon que hoje vende cosméticos de porta em porta, em todo o mundo.
5) Se não é verdade, parece um conto bem arquitetado, aos moldes da Literatura Inglesa.
6) Boa semana !
Antonioji,
ExcluirObrigado pelas boas palavras. E daí se a lenda da Avon não for verdade? É uma boa estória.
Como ensinava o meu Mestre Ariano tento ser um realista esperançoso em vez de um otimista tolo e/ou um pessimista chato (rsrs) Mas confesso que ando desanimado com as notícias literárias: livrarias cerrando as portas, editoras falindo, centenas de milhares de estudantes zerando provas de redação, as trágicas colocações no PISA, assassinatos diários da nossa pobre língua mãe. Até parece que apenas os presidiários estão lendo para diminuir quatro dias das penas a cada livro consumido e resenhado. Complicado!
Porque ler e escrever, como tudo mais nessa vida, são verbos que a gente só conjuga melhor com a prática. E, claro, se não houver jovens leitores e escritores quando os mais idosos se despedirem a literatura será um monte de zzzzzzaps! Ao ler os escritos das mentes mais interessantes da história, é como se "meditássemos" o mundo com nossos próprios neurônios e os deles. Mas se passarmos a ler apenas os resumos que todos estão lendo, repercutindo, compartilhando e/ou copiando e colando sem aspas na web, só poderemos pensar o que todo mundo está pensando, certo?
Tem coisa mais assustadora do que o pensamento único? Bem que já dizia o santíssimo Aquino: “ Cuidado com o homem de um livro só”
Oremos!
Eu já era bem crescidinha quando descobri o prazer da leitura e entreguei meu coração a um certo Joaquim Maria, o neto de escravo que virou o maior dos escritores brasileiros. Depois de Dom Casmurro comecei a correr atrás e devorei todos os livros de Érico Veríssimo, Jorge Amado e Lima Barreto. Mas na literatura estrangeira ainda não mergulhei fundo e apenas curto de vez em quando os livros de ficção de Dan Brown e as histórias hilárias de Marian Keyes kkk Mas apesar de nunca ter estado lá nem lido estes livros que você mencionou sinto que conheço um pouco do Reino Unido por causa dos filmes que assisti tipo A Outra, Razão e Sensibilidade, Orgulho e Preconceito, Nunca te Vi, Sempre te Amei, Closer, O Diário de Bridget Jones e Um Lugar Chamado Notting Hill. Hoje em dia com tantas informações, filmes e séries disponíveis é difícil manter a leitura em dia. Contra tantos estímulos como um livro pode concorrer? Obrigada!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirTambém eu muito aprecio o Machado de Assis que, quando criança, era o moleque que vendia cocadas em frente das escolas das crianças ricas. Gago e epilético, cresceu frequentando o casarão de padrinhos abastados, lendo seus livros e aprendendo tudo sozinho. Adolescente, começou a trabalhar como tipógrafo e a frequentar a boemia com os " intelectuais" do pedaço. Foi aceito pela qualidade de seus poemas e crônicas, mas jamais deixou de ser um outsider. A refinada ironia com que o Bruxo do Cosme Velho retratou a hipócrita e preconceituosa sociedade carioca do século XIX só poderia brotar de um certo distanciamento. Ele não era um deles, não pertencia a tchurma, por isso podia assestar o seu bisturi sem piedade e dissecar e observar com interesse quase científico (rsrs)
Confesso que desconheço as pretinhas da Marian Keyes mas sou leitor do Dan Brown e sugiro que você inclua nessa lista dois Oscars: Shakespeare Apaixonado e o Discurso do Rei. É claro que os filmes são a forma mais fácil de consumo transcultural. Nem se discute, por exemplo, que filmes de sucesso bombam o turismo nos cenários onde foram rodados de uma forma muito mais viral do que é capaz a leitura e/ou a publicidade turística tradicional. Pudera!
Certos filmes são deslumbrantes! Diante de nossos olhos eles dão cor e movimento a muitos mundos e transformam personagens em seres vivos. Mas eles não têm o mesmo poder dos livros. Diante da telona somos observadores, ou seja, não sentimos tudo o que os personagens sentem, não lemos cada um dos seus pensamentos mais íntimos, todas as suas dúvidas e medos e esperanças. Os filmes nos permitem observar tudo. Os livros nos permitem sentir e viver tudo. Só a leitura nos faz escorregar, involuntariamente, muitas vezes impotentes, na pele de outra pessoa, na alma de outra pessoa. Por isso, para mim, os livros são sempre melhores. O problema é fazer as crianças e os jovens às voltas com torpedos, jogos e vídeos perceberem isso Mas com certeza pais leitores têm mais chances de fazer filhos leitores. Que bom que você e a Dona Leitura se encontraram!
“Obrigado!” e abração
Moacir,
ResponderExcluirAdorei conhecer a Esquina dos Poetas, a árvore angelical e a Estação Vitória e quero ter mais notícias de Helene. O tema que você escolheu é arrojado porque a maioria de nós pensa que não sabe de nada sobre a literatura inglesa. Mas não é verdade porque de um jeito ou de outro conhecemos a maioria dos personagens citados por você. Foi graças a uma novela de televisão que aos 11 anos descobri o único romance da escritora Emily Bronte, acompanhando no Morro dos Ventos Uivantes o louco amor de Catherine e Heathcliff, representados pela atriz Irina Greco e pelo ator Altair Lima. E quem não leu o livro escutou Kate Bush cantando Wuthering Heights no final da década de 70 ou assistiu a versão cinematográfica com Juliette Binoche e Ralph Fiennes nos anos 90. Interessante a confusão quanto a autoria do conto Os Pássaros, porque também já ouvi dizer que a Rebecca de Daphne du Maurier é um plágio do livro A Sucessora da escritora brasileira Carolina Nabuco.
Um abraço para você
Flávia,
ExcluirEu não li A Sucessora e portanto não posso opinar mas o seu comentário é interessante porque a tal da literatura “inglesa” tem sim influenciado o vasto mundo, não só pela leitura, mas através da cultura pop, do cinema, do teatro, da televisão, da música etc. O fato é que cada um de nós tem um “Reino Unido” diferente na cabeça. Eu fui recrutado para a confraria na Floresta de Sherwood por Robin Hood, João Pequeno, Frei Tuck e Ricardo Coração de Leão, enquanto que você se encantou pelos fantasmas e os belos olhos do Heathcliff (rsrs) Para muitos a Irlanda quer dizer a canção da banda irlandesa U2 de nome Sunday Bloody Sunday, cuja letra descreve o horror de um “domingo sangrento” em Derry para outros ela significa enredos como A Filha de Ryan e Philomena. Para muitos a Escócia é o Coração Valente, para outros significa Highlander, o imortal guerreiro das míticas Terras Altas, cuja capital Inverness antigamente tinha um habitante famoso: O Monstro do Lago Ness!
Para mim não há conflito entre nada disso e os versos do poeta irlandês William Butler Yeats, ou a prosa de James Joyce em Ulisses, um monólogo interior que, ao descrever um único dia na cidade de Dublin, conseguiu ser tanto uma versão moderna da Odisséia de Homero quanto definir o rumo para um tipo totalmente novo de escrita. Também não vejo problema no convívio dos escoceses William Wallace e Robert Louis Stevenson que cometeu um dos meus livros prediletos - O Médico e o Monstro ! – e de Arthur Conan Doyle o pai de Sherlock Holmes.
Mas note que é necessário distinguir a lenda da história e a palavra escrita da ficção no screenplay e relevar , digamos, as licenças poéticas. O prezado Sherlock , por exemplo, jamais pronunciou por escrito no texto original aquele bordão que a gente usa como sendo dele: “Elementar, meu caro Watson”. E o Imperador Júlio César, na real, nunca perguntou ao seu assassino: “Até tu, Brutus?”. Quem fez essa pergunta foi o personagem shakespeariano (rsrs)
Outro abraço para você
Muito bom. Vejo que fez um voo turístico panorâmico sobre os quatro países que formam o Reino Unido espalhando pela geografia os autores de personagens famosos como Guliver, Robin Hood, o Rei Arthur, Hercule Poirot, David Copperfield, Sherlock Holmes e Watson, Lady Chatterly etc.
ResponderExcluirÉ o mesmo truque usado e abusado nos posts do Cubismo, quando se valendo do charme de Montmartre fez todo mundo prestar atenção nas telas, rs. Keep Walking.
Márcio,
ExcluirVamos combinar? Sou de opinião que a galera gosta mais dos posts “turísticos” do que daqueles de arte. Só que é beeeem mais fácil mostrar uma tela e teorizar sobre ela, do que conversar sobre um livro (rsrs)
No meu entender, o post deixou a desejar no quesito geografia, pois conversa muito pouco sobre as paisagens físicas da Inglaterra, da Escócia, da Irlanda e do País de Gales. Um guia turístico mais competente ao sobrevoar a Cornualha, por exemplo, teria mencionado ser ela a fronteira derradeira entre a Grã-Bretanha e o restante da Europa e tecido loas às suas charnecas e às belas falésias brancas de Dover, à beira do Canal da Mancha. Ao passar pela cidade de Bath, ao sul, um bom agente de viagem teria explicado que seu nome homenageia as termas romanas locais e sobre York, ele teria informado que já foi romana e viking, que que abrigou o primeiro castelo de Guilherme o Conquistador e que foi o berço da Casa de York.
Decerto que Londres serve como pano de fundo para muita literatura bretã mas se eu tivesse que chutar qual foi e continua sendo o cenário predileto de seus autores diria que a foto que abre o post é a que mais o representa. Eu escolheria a paisagem rural das suaves colinas Cotswolds, o “centrão” do Reino, verde de relva, pomares e plantações. Apostaria na terra fértil começando a ser arada, nas gaivotas seguindo os tratores, nas ovelhas cobertas por lã suja e prenhes ao redor das gamelas cheias de feno fresco, nas chaminés das casas das fazendas, nos chalés de pedra dourada da região, nas igrejinhas medievais recuadas das ruas estreitas por trás de árvores centenárias e vetustos cemitérios. Apontaria para os rios e riachos em cujas curvas se erguem pontes romanas, para as pitorescas e pequenas aldeias medievais donas de uma loja de souvenirs, um açougue, uma feira no final de semana e vários pubs de pátios lajeados. E mais! Creio que esse afeto pelo campo, essa nostalgia celta do interior tão presentes em tantas narrativas britânicas, se encontram traduzidos na imensa quantidade de parques da cidade de Londres.
Então... se continuar sendo enrolado pelos meus “truques” será por sua própria conta e risco (rsrs) mas torço para que você aproveite algumas das dicas de leitura e de passeios das ilhas das brumas.
Obrigado por participar
Pimentel,
ResponderExcluirVisitei Londres há vinte anos atrás. Em três dias só deu para ver a troca da guarda, o Big Ben, a Torre e a Ponte de Londres, Picadilly e o Museu Britânico. Fizemos um passeio opcional para o Castelo de Windsor mas só nos aventuramos a sair do hotel sem o guia para assistir o Fantasma da Ópera e dar umas voltas no mercado das pulgas de Portobello.
O resto da cidade e toda e qualquer literatura desfilou pela janela do ônibus de turismo.
Vou acompanhar a nova minissérie com muito gosto porque tenho uma grande admiração por este povo empreendedor que já foi dono de meio mundo.
Sampaio,
ExcluirOs britânicos conquistaram um quarto do planeta e controlaram um quarto da sua população. Como resultado, o legado que imprimiram nessas terras conquistadas é tremendo em termos de reforma política, trocas culturais e modo de vida. O idioma inglês é a segunda língua mais falada no mundo atualmente, só perdendo para o chinês! Além de ser a língua mãe de 400 milhões de nativos falantes ele é a segunda língua para outro meio bilhão de pessoas. Estamos falando de “soft power”, a tal dimensão “suave” do poder, capaz de superar, em certas ocasiões, as forças militar e econômica, pois cultivada nas relações com aliados, em intercâmbios culturais que resultam em uma opinião pública mais favorável e em uma maior credibilidade externa.
Ou seja, na minha modesta opinião, Shakespeare e Charles Dickens, por exemplo, fizeram mais pelo “Império” do que todos os seus exércitos. Seja bem vindo a bordo!
Olá Moacir,
ResponderExcluirAdorei! Passeei por Londres que não conheço e encontrei velhos amigos. E muitos desconhecidos, confesso com tristeza. Não sou "rochedo, tá ligado? "como vocês.
Quando menina, no colégio, 13, 14 anos, minha mãe nos levava,meus irmãos pequenos e eu, à Biblioteca Pública e nós duas tirávamos quatro livros. Por quinze dias. Para dar tempo de ler todos eu tinha que fazê-lo no colégio, livro no colo escondido pela carteira. Que irmãs tão bobinhas...nunca me pegaram!
Só não consegui ir até o fim com o Egipcio, de Mika Waltari. Uma decepção lembrada sempre. Talvez gostasse agora. Adulta, já comecei D. Quixote umas quatro vezes. Gosto muito quando estou lendo mas não consigo terminar. Não desisto. Tornou-se meu livro eterno de cabeceira!
O primeiro romance que minha avançada mãezinha me deu foi Capitães de Areia. Achei um escândalo. E ficava pensando como ela tinha feito isso. O primeiro que ganhei do Mano foi Apanhador no Campo de Centeio, aos 16. E fiquei pensando a mesma coisa. Que ingenuidade! Ainda bem que a vida corrigiu isso.
Você faz interessante demais um texto que poderia ser árido. E li devorando com aquela vontade de ler depressa para ler tudo e vontade de ler devagar para durar bastante. Que bom que tem outros passeios literários (adorei a "nova minissérie" do Sampaio)por essa cidade. E tão conhecida sua que parece falar de uma amiga!
Até sempre mais.
Caríssima Donana,
ExcluirConcordo com a senhora: pais e mestres às vezes podem ser bem tolinhos. Na casa da minha infância a literótica era escondida debaixo da cama do casal.Resultado: aos doze anos eu já era amigo de infância da Lolita e das musas do Henry Miller (rsrs)
Sabe? Talvez os livros sejam um poucachinho como namoradas. Note como com uns a gente passa uma chuva e com outros fica para sempre, alguns a gente "lê depressa para ler tudo" e outros "devagar para durar bastante". Às vezes é amor à primeira lida - @#$%&@! – com direito a fogos de artifício e madrugadas insones, outras vezes eles nos encantam de mansinho, conquistam devagar.
Agora... quando não rola nem amor nem simpatia, quando falta a química e a conversa, quando a leitura não flui, não insisto. Guardo-os no limbo, na prateleira dos livros que lerei em um futuro indefinido quando já estarei – quem sabe? - maduro o suficiente para apreciá-los. E me garanto aquela sensação deliciosa de saber que sempre terei ao alcance dos olhos algo inédito para ler antes de pegar no sono (rsrs)
Mas quando olho para as prateleiras dos lidos, fico impressionado com a quantidade de páginas que consumi tentando achar um sentido para mim no mundo e divertido ao constatar que interiorizei de alguma forma todos os grandes livros que li e reli desde a infância. E o resto?
Bem, pedindo licença ao autor predileto da Mônica e homenageando uma menina peralta e curiosa que lia escondido, eu diria que...
“O resto é saber se a Capitu da Praia da Glória já estava dentro da de Mata-Cavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca”(rsrs)
“Até sempre mais”
Independente de os britânicos terem sido conquistadores de meio planeta – Império onde o sol nunca se punha -, e muitas de suas conquistas foram à base da violência e atuações de seus piratas, a verdade é que não existe região do mundo que seja mais tradicional e zelosa de suas construções seculares que o reino Unido!
ResponderExcluirA Abadia de Westminster foi fundada em 960 como monastério beneditino. Em 1040, o rei Eduardo decidiu ampliar o monastério, denominando-o de West Minster (Catedral do Oeste), em contraste à catedral de São Paulo (St Paul’s Cathedal) que fica no leste da cidade, e tem sido palco dos grandes acontecimentos e eventos ingleses por mais de dez séculos!
Mas, a minha intenção não é tecer um comentário/artigo, de modo a suplementar mais um trabalho de grande qualidade de Pimentel, longe disso, e até por incompetência minha em confronto à excelência de conhecimentos que possui o autor, porém para enaltecer A Igreja do Colegiado de São Pedro ou Abadia de Westminster, como se tornou conhecida mundialmente.
Pimentel enfatizou uma das partes da Igreja, denominada de Poet’s Corner, local onde são celebrados os grandes nomes da literatura britânica.
Mais de 100 poetas e escritores, Charles Dickens e Tennyson estão enterrados ou são homenageados.
Os turistas se impressionam com a arquitetura e os vitrais da igreja, além de poder conhecer o trono da coroação e apreciar os diversos memoriais e túmulos de reis, rainhas, escritores, poetas, cientistas, atores e políticos.
Cerca de 3300 pessoas estão enterradas na igreja e nos claustros, e há mais de 600 monumentos e placas comemorativas nas paredes. Entre os túmulos, um destaque para o do Soldado Desconhecido, onde o povo britânico assim como visitantes de outros países prestam homenagem a seus heróis de guerra.
A Abadia é também o lugar de descanso de trinta monarcas britânicos, sendo o primeiro deles o Rei Edward, cujos restos mortais estão dispostos em um santuário atrás do altar principal juntamente com os de 5 outros monarcas.
Novidade em 2019, depois de 700 anos, foi aberto ao público um espaço medieval chamado de Galerias do Jubileu de Diamante da Rainha. Essas galerias ficam 16 metros acima do nível térreo e exibem alguns tesouros da abadia, entre eles a efígie de alguns reis medievais, a autorização de casamento do Príncipe William e um rico manuscrito de um missal em latim.
Tomei conhecimentos desses detalhes porque um casal de amigos meus, ele comandante de avião, ela comissária de bordo, de voos internacionais, me deram de presente um audioguia, narrado em português europeu, claro.
Na razão direta que coleciono há tempos santuários, capelas, mosteiros, abadias, monastérios, igrejas, catedrais, basílicas, mesquitas, sinagogas e templos, e lá se vão mais de cinco mil imagens(!) devidamente arquivadas em pastas específicas, quanto mais eu me informar sobre essas magníficas construções, mais ainda eu fico espantado com a história que esses prédios têm guardada em seus solos, paredes, cantos, eucaristias, imagens, altares, obras de arte, abóbodas ... a maioria absoluta tendo sido erguida através do estilo gótico.
Enfim, agradeço por mais este artigo interessante e muito bem apresentado, praxe de Pimentel, sobre a Abadia de Westminster, imponente, espetacular, símbolo da realeza britânica e de seu largo tempo como conquistadora de mais da metade deste planeta!
Abração, Pimentel.
Saúde.
Prezado Bendl,
ExcluirO seu comentário é sim um baita post e por ele eu lhe agradeço imenso pois complementa o meu com louvor. Você descreveu tão bem a Abadia que vou me limitar a teclar sobre um detalhe desimportante que talvez interesse a você que sabe muito sobre as Guerras Mundiais. Trata-se de um vitral onde em vez dos tradicionais membros da galera santíssima usando mantos e halos vemos um rapaz alado usando um macacão de paraquedista.
https://dualpersonalities.files.wordpress.com/2014/07/battleofbritain-wino.jpg
Trata-se de um memorial, de uma homenagem aos 1.497 pilotos e tripulantes que tombaram durante a Batalha da Inglaterra, nos meses de julho e de agosto de 1940. Enquanto a mais poderosa Luftwaffe bombardeava incansavelmente inúmeras cidades da Inglaterra, coube aos bravos pilotos da RAF- numericamente em desvantagem - a missão de atacar o inimigo na Alemanha - com a ajuda de sistemas de radares recém inventados - e de defender o território britânico e os navios e comboios no Canal da Mancha da blitz aérea nazista que tinha por objetivo alcançar a superioridade aérea plena, para viabilizar a invasão da Grã- Bretanha pelo único possível caminho: o mar.
Dizem que foi no dia 13 de agosto de 1940 que os Spitfires e Hurricanes britânicos lutaram mais ferozmente contra os Stukas e Messerschmitts alemães. O certo é que os da RAF resistiram aos bombardeios que, apesar de terem causado muitos danos e feito muitas vítimas no ar e no solo, não conseguiram dominar o espaço aéreo britânico. Uma semana depois Winston Churchill mandou ver um dos seus mais célebres discursos:
"A gratidão de todos os lares em nossa ilha, em nosso Império e certamente no mundo inteiro, exceto nas casas dos culpados, vai para os aviadores britânicos que, sem se intimidarem com as probabilidades, incansáveis em seu desafio constante e perigo mortal, estão virando a maré da Guerra Mundial com sua bravura e devoção. Nunca antes no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos".
A gente senta em um daqueles bancos antigos, olha para o longo e estreito corredor central da igreja, para seus arcos góticos, identifica o avião no vitral, vê os heróis e os poetas esculpidos em pedra, sabe que sob as lajes do piso descansam os restos mortais dos mais notáveis cidadãos daquela pátria nos últimos mil anos, passa pelo túmulo do soldado desconhecido e nos fica tão claro quanto o sol do meio dia que tudo aquilo é mais do que uma catedral, mais do que um museu. A Abadia de Westminster dá testemunho da história e, como diz o Wilson, " do espírito de um povo". Por isso lamento que essa terra de gigantes seja descrita hoje tão somente como o berço dos bucaneiros de ontem e dos hooligans de hoje (rsrs)
Abração
Moacir,
ResponderExcluirHelene não poderia mesmo começar sua busca da "Inglaterra Literária" em outro lugar do que em Londres. Onde encontrar, tão perto um do outro, tantos tão grandes autores que povoaram a sua viagem de descoberta que você bem descreveu como "um acontecimento lento que rola por toda uma vida"?
Sim, a descoberta da literatura de uma nação é uma viagem através do tempo, dos lugares, das tradições, dos acontecimentos felizes e dos acontecimentos terríveis, do bem e do mal que formaram e formam o espírito de um povo, onde vamos guiados por aqueles que não puderam resistir ao impulso de deixar contado o mundo de cada um. E é com essa miríade de pedaços de mosaico que é o que cada um viu e sentiu que podemos construir uma imagem daquilo que está à nossa frente e que continuará se transformando a cada momento porque o espírito de um povo é uma coisa viva.
Não sei se algum escritor consegue dizer verdadeiramente porque é que escreve, além do que alguém disse que "escreve porque não consegue deixar de escrever". Mas nós podemos talvez descobrir porque lemos, e olhando para trás somos capazes de refazer o caminho que nossas almas seguiram e vêm seguindo e, enquanto Deus quiser, continuarão a seguir nessa viagem de descoberta. Porque elas foram feitas para desbravar o mundo dentro e fora de nós.
Nessa "franquia", como você gosta de dizer, que começa onde terminou a história do filme você vai nos levar num passeio onde eu mesmo, que nunca estive em Londres, a cada parágrafo reencontro um ou mais amigos ou amigas de tanto tempo e vejo, através dos seus olhos, os lugares onde viveram e contaram suas histórias e cantaram seus poemas.
Essa é a maneira boa de viajar, não numa excursão turística, mas em companhia de um amigo que conhece os lugares onde vamos mas não perdeu a inocência do olhar capaz de se maravilhar com o que vê.
Obrigado pela companhia, e tenho certeza de que nossos leitores gostarão de ir conosco.
Um abraço do
Mano
Wilson,
ExcluirMuitíssimo obrigado pelo belo comentário. É bom saber que os amigos viajam conosco.
Ralei para manter o foco da nova “minissérie” na literatura inglesa que a escritora Helene Hanff tentou encontrar em Londres mas terminei misturando-a com outras coisas escritas por mãos inglesas, escocesas, irlandesas, galesas e americanas que eu tive que estudar para passar de ano e/ou que li ao longo da vida. Foi “problemático’ elaborar o combo porque enquanto eu muito aprecio a moça abominava ficção! (rsrs)
É mais fácil tentar explicar porque lemos. Lemos para entender como era a vida no passado e como ela não deverá ser no futuro, lemos porque não conseguimos parar de ler, porque nossas mentes exigem se expandir, para descobrir que nossos anseios são universais, que outros sentem e pensam como nós, que pertencemos. Lemos porque viajar é preciso.
Acho que Marcel Proust - que será sempre associado a Shakespeare porque pegou emprestado o segundo verso do trigésimo soneto -
“remembrance of things past” - para usar como título da tradução para o inglês de La Recherché du Temps Perdu - concordava com você. Disse ele:
“A verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos”.
Abração
Prezado Autor Sr. MOACIR PIMENTEL,
ResponderExcluirSó um Autor como o senhor, com vasto conhecimento de Literatura em geral e Inglesa em particular, grande amor aos detalhes, para nos brindar com " A esquina dos Poetas", uma sugestão à Escritora Americana HELENE HANFF, de uma viagem Literária ao Reino Unido.
E nós, viajamos juntos e aprendemos de forma agradável, muito sobre os grandes Escritores do Reino Unido.
Muito Obrigado por todo o trabalho que tivestes de pesquisa para nosso proveito.
Abração.
Prezado Bortolotto
ExcluirNa verdade eu me divirto rascunhando essas "minisséries". Gosto de separar os livros e de marcar neles os capítulos que tenho que reler, de procurar nos pen-drives por pretéritos textos e pelas fotos certas para as ilustrações, de pesquisar na web, de estudar, de conversar sobre o tema da vez antes de começar a colocar as ideias na telinha. Aliás a minha mulher ao me "liberar" para o teclado costuma dizer:" Está na hora do seu recreio".
É por aí (rsrs) Muito obrigado pela boa companhia na viagem
Abração