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04/09/2019

A viagem dos descobrimentos

Acervo pessoal. Francisco é o terceiro da esquerda para a direita.


Francisco Bendl
Viver é descobrir-se diariamente.
Cada dia traz uma lição nova, experiências diferentes, e vamos montando o nosso caleidoscópio da existência.
Mesmo as viagens de passeio ou turismo ou negócios ou por necessidade ou por serviço, a gente descobre algo inimaginável, jamais pensado, e que nos surpreende.
Ao dar baixa no Exército depois de quatro anos servindo a Pátria, na década de sessenta, decidi que viajar seria um trabalho onde eu ganharia mais, pois casado recentemente e a esposa à espera do primeiro filho, o meu soldo como Cabo da Polícia do Exército era justo, eu queria propiciar algo mais do que uma vida segura, eu queria conforto, carro, casa própria, que a minha mulher tivesse aquilo que quisesse!
Após dez anos viajando pelos estados do RS, SC, PR, SP, RJ, percorrendo mais de cem mil quilômetros por ano (!!), concluí que eu não ficaria rico ou tampouco obteria a qualidade de vida que eu imaginara para mim e família – nessas alturas tínhamos três filhos-, porém eu conseguia apenas sustentá-los condignamente.
Em contrapartida, a minha experiência como vendedor-viajante, as viagens constantes e carros sendo trocados a cada ano, me deixaram achando que eu era o tal, que eu já vira de tudo, que não precisava mais ver nada – aquelas bobagens que se abatem sobre o adulto jovem, que se julga conhecedor da vida.
Mas, enquanto a maioria dos meus amigos gostava de pescar, alegando ser uma terapia, descanso, teste de paciência, acampamentos à beira-rio ou em alguma casa na orla marítima, comendo churrasco e bebendo cerveja aos fins de semanas, eu ficava em casa, cansado das idas e vindas semanais e perto da mulher e filhos.
Na condição de gerente de uma empresa nacional poderosa, eu me defrontava com compradores que eram perdidamente apaixonados pela pesca!
Eu não poderia dizer o mesmo.
Mas, percebi que a minha função também tinha o componente “social”, de ser atencioso com um ou outro cliente além do horário de expediente em dias da semana.
Eu precisava ser mais observador quanto aos seus gostos e preferências, e tirar um certo proveito de forma positiva.
Havia um comprador que me adquiria carretas – assim mesmo, carretas de três eixos – de mercadorias a cada quinze dias, pois a indústria que eu fornecia o material era a maior da... América Latina!
Logo, eu que o atendia e não o  vendedor, sendo que eu teria de sair do meu conforto para dar-lhe uma atenção especial, tanto pela sua função quanto para manter as vendas da empresa que eu gerenciava no Sul.
O cara era “fissurado” em pescaria, repito.
A sua empresa era no interior, longe de grandes rios e mais distante ainda do mar.
Mais o comprador dava banho em minhoca, que pescar alguma espécie de peixe comível, que se pudesse fritá-lo.
Um belo dia, após uma venda espetacular, a maior que a minha indústria havia vendido na sua história (!!), resolvi atender-lhe o desejo, que seria pescar em uma praia de mar.
Não uma praia qualquer, mas em um dos santuários gaúchos de preservação ambiental e ecológica, denominado Lagoa do Peixe!
O local que eu vira nas revistas e de relatos de quem já havia pescado na lagoa era de um paraíso, a natureza ainda intacta, e longe dos curiosos.
Não havia estrada.
Só se chegava à localidade pela praia.
Se fosse pelo asfalto, teríamos de ir até Mostardas e andar de carro por dentro da Lagoa dos Patos – na verdade laguna –, com a água batendo na porta do carro e adivinhando o caminho para não afundar, de modo a se chegar ao éden após cinco horas de viagem, imaginando que o carro também poderia ser anfíbio ou, melhor, um submarino, lá pelas tantas!
Logo, a decisão do grupo de aventureiros de cinco corajosos desbravadores foi a ida pela praia, a traiçoeira costa do litoral gaúcho, conhecida como “cemitério de navios”, em razão do mar revolto e enormes tempestades, cuja maré subia até as dunas, distantes cerca de duzentos metros da beira do mar (a foto mostra nitidamente o quanto eu era senhor da natureza, um tarzã gaúcho, que se sentia poderoso, invencível)!!
Acervo pessoal

A última praia que existe no litoral gaúcho, antes de São José do Norte é Quintão.
A gente sai de Porto Alegre por Viamão, depois Pinhal, e vem Quintão, cento e quarenta quilômetros aproximadamente por asfalto.
Desta praia até a Lagoa do Peixe são MAIS DE CENTO E SESSENTA QUILÔMETROS DE AREIA E MAR!!!
Saliento vários perigos:
Os pequenos arroios que são feitos pela água da chuva escorrendo da mata, que formam degraus de até um metro. Quando se percebe pode-se estar em cima, e aí é tarde, o carro vai de bico para o valo;
Quando a onda sobe, deve-se esperá-la descer, caso contrário a correnteza quase tão forte quanto subiu, pode apagar o motor do carro, então adeus veículo;
Jamais andar pela beira da praia, apesar de ser melhor que asfalto. As ondas não são iguais, e uma delas pode avançar e bater no carro com força, apagando o motor e afundando o veículo quase que imediatamente. A revista Quatro Rodas perdeu uma Parati – reportagem com fotos – dessa maneira, percorrendo esse trajeto pela beira do mar, até vir uma onda e acabar com o passeio;
JAMAIS, em circunstância alguma, DEVE-SE VIAJAR PELA PRAIA À NOITE, ainda mais quando não se conhece o trecho!!!
Os olhos se embaralham; a paisagem é sempre a mesma, areia; menos ainda se percebe os arroios; a maré pode chegar no carro sem que se dê conta; não se sabe onde entrar quando se chega no destino programado (podem acreditar quando falo, porque eu, desde pequeno, dominava o mar)!
Acervo pessoal

A bordo de uma Kombi cabine dupla, movida a óleo diesel, porém com interruptor deixando a ventoinha que refrigerava o motor permanentemente ligada, com mais de trezentos quilos de tralha, entre câmara de gelo, barraca, alimentos, bebidas, lampiões, baterias, roupas, toalhas, chapéus, máquinas de fotografia, EU DE MOTORISTA, que vinha conduzindo o veículo emprestado de uma fábrica para esta legítima aventura desde a serra gaúcha, com saída às seis da manhã, cheguei em Quintão ao meio dia!
Calculei uma média de velocidade na praia em torno de trinta quilômetros por hora.
Se houvesse algum problema chegaríamos perto das sete da noite, onde no RS à época em que fomos o sol ainda está alto, pondo-se perto das nove da noite!
Enchi o tanque de diesel, mais um recipiente de cinquenta litros para se ter combustível ao voltar, claro, e nos pusemos a caminho para a grande aventura e rumo ao desconhecido!
Cerca de vinte, trinta km depois, o fabuloso Farol da Solidão, imponente, majestoso, iluminando os caminhos do mar para navios não se aproximarem da costa (não me peçam por fotos, explico: não se podia perder tempo, pois havia o receio de se pegar noite na praia, dificultando sobremaneira chegar na Lagoa, então tínhamos de seguir em frente).
Com a viagem avançando, vimos pela primeira vez o albatroz nacional(!). Não temos esta ave, mas existe o João Grande. Com um metro e oitenta de envergadura, mais de um metro de altura, a ave é maravilhosa, típica do RS, e que precisa tomar embalo para voar.
João Grande (imagem Wikimedia Commons)

Uma ou duas horas depois, encontramos na beira da praia duas imensas circunferências de vidro, cobertas por uma rede grossa, como se fossem uma boia. De tão grandes, não houve como trazer uma, pelo menos, pois ocuparia muito espaço no carro, e queríamos trazer PEIXES!!!
Como eu previra, muitos arroios, que me exigiam atenção permanente.
Aviso aos navegantes:
Muito andei de caminhão pela praia, nos antigos Ford F-600, a gasolina!!!
Aprendi que não se pode andar na areia com o carro com pouco giro de motor, pois se fica atolado, ou seja, muita marcha é feita, dezenas de reduzidas, e sem medo de se chegar no máximo, para depois trocar por uma mais alta, mas sempre atento às mudanças para marchas mais baixas, de mais força e menos velocidade.
Apostei, logicamente, que eu não atolaria a Kombi nenhuma vez neste longo percurso pela praia, em face da minha experiência.
Portanto, a minha primeira análise quando entrei na praia foi verificar a altura do mar:
Se estava alto, e perto das dunas ou baixo, com uma larga faixa de areia antes da água.
Porquê?
Porque com o mar baixo, eu andaria por areia solta, que segura o veículo, obrigando o motorista a andar sempre com força, isto é, lento, mas com o carro em marcha adequada,  segunda ou terceira, considerando que a Kombi tinha apenas quatro, e sem medo algum de se colocar primeira mesmo que o motor gritasse, de modo a não parar nesta ocasião, pois não se sai mais, atola-se. Mas não me preocupava, porque, como podem ver, desde a tenra idade eu era um piloto extraordinário e motorista inigualável!!
Acervo pessoal

O mar estava baixo, sinal de que eu teria de gastar mais combustível que eu imaginara, pois teria de andar em terceira e segunda na maioria do percurso.
Mas NÃO ATOLEI UMA VEZ SEQUER!!
Continuando:
Após mais de cem quilômetros rodados, a vista cansada, os braços doendo de tantas mudanças de câmbio, perna esquerda reclamando da quantidade de embreagens praticadas, o primeiro grande impacto, que nos deixou literalmente de boca aberta.
Escrevi acima, que o litoral gaúcho é denominado de “cemitério de navios”.
Pois estava à nossa frente, a cerca de cem metros da beira do mar, um esqueleto de um navio de porte!
Apareciam duas colunas que partiam do convés, como se fossem do próprio mar, uma beleza e imagem ao mesmo tempo triste, pois imaginamos o desespero dos marinheiros quando o navio encalhou, e no meio de uma tempestade!
Mais adiante, outra carcaça de um navio menor, mais perto da praia.
Mais um pouco, e nos demos de frente com enormes buracos na beira da praia!
Largos, profundos, cerca de um metro e meio, pois a água do mar invadia rápido, um pescador de... siri!!!
A carne é uma especiaria, que se faz pastel e se come rezando!
Mas, o bicho tem tão pouca “carne”, que se precisa mais de mil siris para dar meio kg desta saborosa iguaria!
Em frente ao mar, cem metros em direção às dunas, protegida por um desses morros de areia, a casa do pescador ou caçador de siri, na verdade um casebre.
Levou-nos até ela para nos vender o que havia conseguido nos últimos dois dias.
Se, por fora, o “lar” era modesto, dentro só havia uma geladeira, mesa e cama.
NO ENTANTO, o esperto caçador/pescador enquanto tentava encontrar siri, o cara achou UMA SEREIA!!!
A mulher do moço era qualquer coisa de se jogar no mar e segui-la até Netuno!
A mim pareceu que era a última sobrevivente da sonhada Atlântida, pois a mulher era mesmo um sonho, e picante!!!
Bom, compramos o que ele tinha de siri, e tratamos de continuar a nossa viagem.
Os comentários foram os mais variados e exóticos possíveis, evidente, após a visão daquela sereia e de que elas existiam, verdadeiramente!
E, chegamos a conclusão - hoje quase impossível -, de que o amor é mais importante que dinheiro, carro, posição social, nada desse mundo metido a desenvolvido.
Bastava o cara conseguir alimento, ter uma cama, geladeira e mesa, uma choupana à beira do  mar e, eis a felicidade!
Uma mulheraça ao lado para se descobrir os segredos do sexo, sem enormes espaços para trabalhar, pagar contas, pedir empréstimos, financiamentos, a natureza em contato íntimo com o casal e, ele e ela, fazendo parte deste espetáculo de amor a todo o instante e jeito!!!
O paraíso era aqui, e não mais a Lagoa do Peixe.
O cara deveria ser o Adão da Nova Era e ela a Eva, maravilhosa.
E com uma vantagem enorme sobre o casal original:
NÃO HAVIA MACIEIRAS (antes que me perguntem como que havia esta geladeira, se não tinha luz onde o esperto e felicíssimo rapaz morava, o eletrodoméstico era a querosene)!!!
No entanto, faltando uns trinta a quarenta quilômetros para se chegar à lagoa, seis horas da tarde, aproximadamente, vivemos um momento tão incrível, tão inédito, que foi como a mesma  surpresa de Charlton Heston, no primeiro filme O Planeta dos Macacos quando, no fim, ele com a moça na garupa do cavalo fugindo pela praia, dá de frente com a estátua da Liberdade enterrada até o peito, lembram?!
Foi um impacto para a plateia.
Pois bem, no local onde se colocam os guarda-sóis, perto da praia, onde a maioria das pessoas se instala quando vai tomar um banho de mar e leva os filhos, ENCALHADO NO MESMO CAMINHO POR ONDE EU TRAFEGARIA COM A KOMBI, um monumental barco-pesqueiro.
Acervo pessoal

Sou o primeiro, da direita para a esquerda ou o último da esquerda para a direita.
Imaginamos várias situações:
A tempestade enorme que este navio enfrentou para encalhar na praia;
O terror da tripulação;
A força da correnteza que jogou o barco na praia, onde as pessoas ficam, os carros trafegam...
Um espetáculo deslumbrante e ao mesmo tempo apavorante!
E se um toró desses acontece conosco na lagoa, que desemboca no mar?
E se acontecer à noite, tornando a nossa saída mais ainda problemática??!!
Afastamos nossos pensamentos ruins, e seguimos em frente depois de algumas fotos, pois vá que esse navio não esteja mais na praia no retorno???!!!
Sabe-se lá!!!!
Bom, encurtando a história:
Chegamos às sete horas da noite;
Encontramos o local da entrada facilmente;
Havia umas casas de pescadores residentes no local;
Uma delas, vazia, nos alugaram para a noite de quinta, sexta e sábado inteiros e sairíamos no domingo cedo da manhã.
Havia na casa de um deles, MAIS DE DUZENTOS QUILOS DE CAMARÃO, armazenados para vender na cidade de Rio Grande, outros cento e sessenta quilômetros adiante, rumo ao Sul.
À noite foi então coroada com um macarrão e camarão, e comemos até onde foi possível.
Na sexta e sábado se pescou peixe-rei, sardinha, corvinas, o delicioso e belo papa-terra.
No domingo compramos cem quilos de camarão, e retornamos para casa!
A viagem foi mais fácil, pois eu conhecia o caminho e as manhas do mar da região.
O feliz caçador/pescador de siri não estava na praia, e não ousamos bater na sua casa e importuná-lo indevidamente, consideramos.
Ao relatarmos a aventura, o que tínhamos visto, as emoções pelas paisagens inéditas, aves, carcaças de navios, até mesmo o exemplo da verdadeira felicidade com a situação do rapaz vivendo com uma sereia sem maiores compromissos, ouvimos de um “invejoso”, que exagerávamos, que estávamos fazendo tempestade em copo d’água!
Foi quando o comprador, que jamais tivera tantas emoções na sua vida de cinquenta anos de idade, exclamou:
- Bah, che, tempestade em copo d’água é pouco; fizemos dilúvio em tampinha de xarope!


13 comentários:

  1. 1) Parabéns Chicão pelas memórias.

    2) Uma vida vivida com intensidade e continuas vivendo-a com as bênçãos de Deus, junto aos familiares.

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  2. Francisco Bendl05/09/2019, 19:43

    Meu amigo e professor Rocha,

    A foto onde mostro o meu físico de Apolo, e os bíceps incomparavelmente enormes - hehehehehehehehehehehe -, foi tirada no Rio Descoberto, em Brasília, no ano de 1.962, onde a minha idade era de 12 anos!

    Grato pelo comentário.

    Abração.
    Saúde.

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  3. Flávio José Bortolotto05/09/2019, 22:02

    Prezado Autor Sr. FRANCISCO BENDL,

    Com arte e elegância nos relata o Escritor Sr. FEANCISCO BENDL de uma viagem para pescaria de 4 dias em um idílico local de difícil acesso Lagoa do Peixe naquela grande restinga de terra areia seca entre o Oceano Atlântico e a grande Lagoa dos Patos, +- da latitude de Porto Alegre -RS ao Norte, até o Porto de Rio Grande, ao Sul. Lagoa do Peixe deve ficar a +- 1/3 da distância próximo ao Porto de Rio Grande.
    Impressiona os navios aparentemente navegando na areia da Praia como o da foto, junto com os Excursionistas.
    O João Grande, nosso albatroz com envergadura de 1,80 m der ser fantástico, bem como os bandos de flamingos pink e patos e marrecas comedoras de arroz.
    Belíssimas todas as fotos, especialmente a do Autor em pose de Tarzan dos Apes, e dos filhos nas temporadas de praia.

    São excursões como essas em que graças a habilidade e experiência do Piloto em dirigir areia a fora (off Road) e que não apagou o motor em consequência nunca atolando na areias chegando cansado mas feliz e sem incidentes ao destino, que valem a pena recordar.

    Foi bem verdade que do relato não se fez uma tempestade em copo de água,a mas um dilúvio em tampinha de xarope.

    Parabéns e um Abração.

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    1. Francisco Bendl06/09/2019, 11:28

      Caríssimo mestre Bortolotto,

      Obrigado pelo comentário, e palavras incentivadoras,

      Creio que, na nossa idade, resta-nos a lembrança, a memória de episódios que vivemos e que precisam ser divulgados.
      Mesmo que não sirvam para outras pessoas, porém só o fato de nos recordarmos e deixar registrado uma que outra viagem, ajuda muito no balanço (TUA ÁREA, MESTRE) que fazemos da vida:
      Vivi ou não vivi?
      Aproveitei o meu tempo ou o deixei passar como se fosse desnecessário?
      Que foi que fiz para mim mesmo ou para os outros?

      Depois de ter servido ao Exército na década de sessenta, e ter sido orgulhosamente Cabo da Polícia do Exército, casei ainda no quartel, eu e a mulher tivemos três filhos, que nos deram cinco netos, e que nos encaminhamos – se Deus quiser! – para cinquenta anos de casados, a famosa Bodas de Ouro.

      Dessa forma, com um currículo pessoal repleto de sensações, emoções e sentimentos, decidi tempos atrás me envolver em escrever, opinar, postar minhas ideias, pensamentos, interpretações, conclusões, conceitos, e alguns acontecimentos que ilustraram essa existência às vésperas de completar sete décadas, inacreditavelmente!

      Essa viagem que relatei, e postei algumas fotos para ilustrá-la dentro de uma certa cronologia, evidente que menos pela sua “aventura”, trata-se de algo que jamais eu teria feito por não gostar, a pescaria.
      Mas, as obrigações vêm antes do que gostamos e queremos, e se o comprador da empresa que mais adquiria material tinha essa vontade por que não satisfazê-la?

      Todavia, a ida até a Lagoa do Peixe caracterizou-se por imagens nunca imaginadas, apesar de eu saber dos percalços perigosos de se andar de carro pela praia em tamanha distância, pois estaríamos sozinhos nesse percurso. Se o carro quebrasse – lembro que sequer se imaginava o que seria um celular -, sabe-se lá quando que passaria outro veículo?!

      No fim deu tudo certo, e essa viagem foi uma das mais espetaculares que fiz, pois se alguém me dissesse que haveria navios encalhados na praia, local de banhistas e seus guarda-sóis, eu não acreditaria!
      Assim como eu não imaginaria a beleza de uma região ainda mantida intacta pela mão do homem, que estava ali, esplendorosa, belíssima, encantadora, e que nos oferecia peixes e camarões na quantidade que quiséssemos!

      Abração, mestre Bortolotto.
      Saúde, e vida longa.

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  4. Moacir Pimentel06/09/2019, 08:55

    Prezado Bendl,
    Um post excelente no qual você nos conduz com o bom humor e a prosa fácil de sempre por entre seu álbum de retratos, areias, ondas, arroios, albatrozes e um cemitério de navios até a Lagoa do Peixe para uma pescaria - de peixe-rei, sardinha, corvinas, o delicioso e belo papa-terra - que tinha por objetivo fidelizar o seu melhor cliente. Beleza!
    Só que a cada parágrafo você vai também nos revelando que mais importante do que o propósito e o destino, foram os desafios da viagem. Eu compartilho desse seu entendimento de que o destino é apenas um ponto no mapa e que o rola enquanto tentamos chegar lá, a maneira única e distinta como cumprimos o caminho e o que aprendemos pela estrada a fora é a real, ou seja, a vida.
    Essa é a coisa mais importante que os “adultos jovens” e sabichões ignoram: que tudo isso que chamamos de sucesso, de realização e/ou de felicidade é o que está acontecendo agora, é o percurso de hoje e não a futura chegada. Graçasadeus que pelo menos ISSO as nossas rugas e cabelos brancos já nos so-le-tra-ram. Sim, “viver é descobrir-se diariamente”.
    Parabéns, boas viagens e abração

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    1. Francisco Bendl06/09/2019, 11:29

      Caríssimo Pimentel,

      Sem que eu tivesse qualquer intenção de comparar as minhas viagens com as tuas, infinitamente mais atraentes e causadoras de conhecimentos, que jamais eu teria como ofertar àquelas pessoas que nos leem, a intenção minha foi mostrar o litoral gaúcho e suas belezas únicas, exclusivas, tanto por ser a maior faixa litorânea do mundo – uma linha reta -, quanto pela sua incomparável e rica variedade de aves que a habitam.

      Ainda bem que a minha memória consegue preservar certos acontecimentos que participei com vontade, querendo mesmo realizar algo que, da minha parte, eu não sairia do conforto da minha casa.

      Se tal relato agradar, ótimo, vou me sentir alegre, pois esta é a intenção primordial desta postagem, de nos remeter ao passado quando empreendíamos viagens que hoje não mais poderíamos realizá-las, mas que foram feitas, a ponto de ocasionar a publicação delas.

      Obrigado pelo comentário.

      Um forte abraço.
      Saúde.

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  5. Ora FBendl, Chicão demais da conta,
    Começou muito bem sua viagem aqui entre nós: " Viver é descobrir-se diariamente". E algumas vezes a gente se assombra diante de algumas dessas descobertas. Depois de bastante vida, me pego pensando quais outras mudanças em mim ainda verei. Tomara tenha tempo bastante para ver muitas. Muitas não, algumas !
    Você ao volante nessa praia comprida, atento para não deixar a Kombi morrer e não sair mais da areia, me levou à minha juventude passeando pelas então desertas praias perto de Guaratuba no Paraná. Para sair da praia meu pai atravessava pequenas dunas de areia jogando para a direita e esquerda seguidamente , jogando a Rural sem medo e pudor. Meu pai era excelente motorista não importava onde, na terra, no asfalto, na lama, na chuva e na areia. Me deu uma saudade! Fui em busca das fotos e me perdi no tempo e na melancolia. Quase ficamos sem almoço.
    Suas fotos de menino alegre são ótimas e as da aventura bem aventureiras. Lindo o barco pesqueiro descansando na areia. Uma estória (ou história? Fiquei na dúvida) boa para contar para os netos!
    Uma curiosidade: seus filhos foram muito levados? Se puxaram ao pai...levados e mandões!
    Até muitas outras aventuras.

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    1. Francisco Bendl06/09/2019, 17:06

      Prezada Aninha,

      Não sei dizer até que ponto uma ou outra saída do cotidiano é válido.
      Mas, tenho para mim que, volta e meia, devemos nos conceder a oportunidade de fazer algo além do que imaginamos.

      Esta viagem de mais de 300 km ida e volta pela praia foi um desses episódios, que se faz poucas vezes na vida:
      Cansaço, perigos – não de vida, mas de ficar sem o carro ou à espera durante horas ou dias por socorro -, as armadilhas do mar, as marés que são instáveis e, definitivamente, jamais andar à noite pela beira da praia, jamais!

      O que nos surpreendeu, pois o litoral gaúcho é conhecido como “cemitérios de navios”, foi termos encontrado as confirmações desse alerta, menos que os navios estivessem na praia, local de banhistas!
      Ora, de modo a encalhar um barco enorme daquele jeito, fico imaginando com os meus botões a altura do mar, a ressaca, que trouxe o pesqueiro tão longe da parte onde deveria navegar!
      Assim como outro que está na foto comigo e colegas, atrás de nós, restando somente a carcaça mas, ali, perto da praia, onde se podia ir com água na cintura para vê-lo.

      As fotos que o Mano postou com gentileza e a sua conhecida habilidade, ilustram quando eu era pequeno e já frequentava a praia de mar. Depois numa festa do Divino Espírito Santo, em 53, comigo andando em um carrinho tipo carrossel. Mais tarde, já taludo, mostrando que eu não teria medo de enfrentar o mundo porque eu era forte, robusto, um super homem, foto tirada no Rio Descoberto em Brasília, mais especificamente em Taguatinga, em 62. Por último, com esta “bagagem” de experiências, aos 34 anos essa viagem espetacular pela praia.

      Quanto aos filhotes, Aninha, o filho do meio foi o mais levado de todos, disparado.
      O mais velho sempre se dedicou aos estudos, a ponto que é médico há 22 anos, tendo se formado aos 24 na Universidade Federal do RS.
      O caçula foi o amigo inseparável do irmão do meio.
      Festas, namoradas, viagens pelo interior para frequentarem os bailões ... uma vida feliz, alegre.

      Na razão direta que eu e a mãe deles não fumamos e bebemos, o trio nos seguiu, inacreditavelmente, e nenhum deles ainda hoje fuma e bebe, mesmo socialmente, logo, problemas maiores como drogas e filhos advindos de produção independente nunca foram as nossas preocupações.

      A bem da verdade, pelo fato de eu viajar constantemente e a comunicação com o lar e a esposa não existia, deixei duas lições, duas observações, que eu não as negociaria de forma alguma:
      Sabendo como era o pai deles, que não se drogassem. Eu sairia atrás do traficante e iria matá-lo sem problemas.
      Caso estivessem com problemas existenciais, dificuldades, eu pagaria psiquiatra, psicólogo, pai de santo, padre, o que fosse, mas que deixassem de lado sequer experimentar drogas que, à época quando eram guris e adolescentes, o uso não tinha esse consumo como agora.
      O outro alerta que deixei, e muito seriamente, dizia respeito a engravidar uma que outra namorada e dar no pé!

      Ora, Deus me havia dado três filhos; se fossem meninas, AI DAQUELE QUE A ENGRAVIDASSE E NÃO ASSUMISSE A PATERNIDADE!!!
      Primeiro, eu iria quebrar a cara do pai dele, que não lhe ensinou respeito pelas filhas alheias, e depois uma boa surra no cretino!!!
      Portanto, QUE NÃO FIZESSEM ESSA ASNEIRA.
      Namoraram, resultou em gravidez, ARQUEM COM AS CONSEQUÊNCIAS:
      Ou casem ou assumem a criança, POR BEM OU POR MAL!!!

      (Continua)

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    2. Francisco Bendl06/09/2019, 17:10

      Deu certo, pois os filhos vieram depois que casaram e se formaram!!!
      O médico foi pai aos 34 anos;
      O do meio aos 38;
      O caçula aos 32, e todos já formados!

      Os filhos caçula e primogênito adaptaram-se aos novos tempos. Ajudam suas esposas nos afazeres domésticos porque trabalham, então nada mais correto e justo que lavem uma louça ou coisa que o valha.
      Já o do meio, puxou ao pai:
      Mesmo que a mulher dele trabalhe fora, o guri não lava um prato, não varre a casa, não limpa os espetos após o churrasco, nada.
      O meu orgulho (hehehehehehehehehehe).

      Em compensação, a esposa tem uma auxiliar permanente com ela, uma funcionária contratada, conforme os ditames das leis trabalhistas.

      Por outro lado, o trio serviu ao Exército e saíram oficiais.
      O mais velho foi até 1º Tenente, quando deu baixa para atender seus interesses profissionais na Medicina;
      Os outros dois saíram Aspirante a Oficial, pois fizeram o estágio após terem concluído o CPOR e foram tratar dos seus interesses, que não passavam pela vida militar.

      O pai, um Cabo, lógico, afinal das contas alguém tinha de aplaudir tanta inteligência, haja vista que a Marli concluíra o Magistério na faculdade e tinha feito Pós-graduação em Supervisão Escolar.
      Eu remava para terminar o Segundo Grau, hoje Ensino Médio.

      Obrigado pelo comentário, Aninha.
      Um forte e fraterno abraço.
      Saúde, muita saúde, junto aos teus amados.



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  6. Chicão, seu post deve ter trazido às memórias de cada um de nós a lembrança de algum passeio de juventude que nos marcou mais profundamente, seja pela idade arrojada, pela beleza das descobertas, ou simplesmente pelo gosto de aventura. Quando a gente começa a descobrir, como o Moacir disse de maneira mais bonita, que a viagem é mais importante do que a chegada. E que a gente gosta de lembrar, mais tarde, para não se esquecer daquela chama de aventura que pode às vezes estar dormente no nosso coração mas que qualquer bom vento pode fazer renascer.
    Foi muito bom ler essa sua.

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    1. Francisco Bendl07/09/2019, 09:16

      Caríssimo Mano,

      Bom mesmo tem sido este teu extraordinário blog, Conversas do Mano.
      Legítimo oásis cultural que acendeu em nós a chama da lembrança e de publicá-las para os amigos, para que também registrassem suas viagens inesquecíveis e/ou fantásticas.

      E temos lido e nos deliciados com contos, crônicas, relatos, poesias, artes, que são inegavelmente obras de grande qualidade, de preciosas informações contidas, que têm nos enternecido e colaborado para nossos conhecimentos e cultura, em consequência.

      Claro que não estou comentando sobre as minhas peripécias, pois sem valor algum. Eu até diria que minhas postagens são como intervalos na TV dos comerciais, que geram até mesmo críticas dos espectadores porque interromperam o programa que se estava assistindo com interesse e curiosidade.

      Bom, a vida é constituída de altos e baixos, pois mesmo eu sendo um sujeito alto, meus rascunhos são de baixa qualidade, reconheço.
      Mas, a intenção é de levar um certo divertimento, ainda mais de uma pessoa que mora longe de Belo Horizonte, Rio, São Paulo, com seus modos e costumes diferentes, afora a natureza da região ser peculiar, própria do extremo Sul do País.

      Evidente, portanto, que conto com essas características para enfeitar a pobreza dos meus textos, invariavelmente gaúchos ou quando muito nacionais.

      Enfim, eis parte das minhas memórias, de uma vida intensa, que assim posso classificá-la, de setenta anos absolutamente vividos, aproveitados, motivo pelo qual agradeço a Deus, minha família, parentes e amigos – não necessariamente nesta ordem -, poder postar essas recordações que para mim são inesquecíveis, que enriqueceram uma boa parte do tempo que já carrego nas costas, apesar de não vergá-las, pelo contrário, pois mais ainda me ponho em posição de sentido, peito para fora, bunda para dentro, e declarar que estou vivendo ainda grandes “aventuras”, como por exemplo, cada ida ao banheiro tenho de me cuidar para não escorregar e cair estatelado no chão, conforme aconteceu ano passado, e que Rolante registrou o seu primeiro e único terremoto na sua história:
      A minha queda no piso da garagem, batida violenta na roda do carro com a cabeça, e uma lesão no traseiro que o moldou novamente!
      Ah, e com um bombeiro que veio me tirar do chão, teve de chamar outro, e os dois mais um colega ...
      Tive um certo receio, lá pelas tantas, deitado no piso frio da garagem, que eu ocuparia a guarnição inteira de bombeiros e seus três caminhões, para me erguerem solenemente de onde eu estava!!!

      Obrigado, meu amigo Wilson, pelo bondoso comentário.
      Certamente os esforços que fazes para postar meus relatos, colaboro para que mais ainda atinjas a santidade imediatamente!

      Um forte e fraterno abraço.
      Saúde, e vida longa, ao lado dos teus amados.


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  7. Lea Mello Silva07/09/2019, 09:15

    Uma aventura o seu passeio pela praia em tempos onde não havia o celular !!!
    Gostei muito de participar e ver suas fotos
    Lembranças deliciosas assim como os peixes e Camarões
    Fiquei a lembrar dos velhos tempos em que vivi intensamente momentos inesquecíveis
    Que vc continue a nos dar relatos de suas caminhadas pela vida
    Um grande abraço

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  8. Francisco Bendl07/09/2019, 16:53

    Minha querida Lea,

    Obrigado pela tua participação e comentário.

    Olha, na idade que me encontro, às vésperas de completar 70 anos no lombo, acredito que as nossas experiências jamais poderão ser imitadas pelos jovens, por mais que queiram.

    Apesar da canoagem, do surf em ondas grandes, do rali de motos e espetáculos de salto - algo inimaginável porque confronta as leis da Física, inclusive a principal delas, a Gravidade -, as velocidades impensáveis dos carros de corrida e de passeio, tais desempenhos são em decorrência dos desenvolvimentos tecnológicos.

    Na nossa época, não.
    Qualquer conduta que extrapolasse a normalidade era doidura, maluquice, típico de guri rebelde e desobediente.

    A prova dessas vivências inesquecíveis reside na criatividade, naquilo que inventávamos, de modo a brincar ou encontrar uma válvula de escape para a mesmice, de não se ter até TV para assistir!

    Enfim, acredito que temos muito a transmitir de valentia, determinação, coragem, esperteza, sagacidade, pois era assim o mundo, que se adiantava, se desenvolvia, e precisávamos manter a alegria e congraçamento com a "turma" de amigos que tínhamos.

    Um forte abraço, Lea.
    Saúde, muita saúde junto aos teus amados.

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