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07/12/2017

A Transformação de Hariti

Escultura de Hariti - Butkara, Paquistão, século I A.C.

Antonio Rocha
É um Espírito antiquíssimo, que se manifesta femininamente. Podemos dizer uma Demônia. Gostava de fazer o mal por vários motivos, até por brincadeira. Uma Energia que prejudicava muitas famílias.
Lá na antiguidade do século VI antes de Cristo, quando o Senhor Buddha andava por este mundo, as pessoas diziam que Hariti se alimentava de crianças e assim os pais que perdiam os recém nascidos ou ainda bebês já crescidinhos ou mesmo crianças, afirmavam que era coisa da Deusa Negativa Hariti.
Belo dia o Senhor Buddha Sidarta Gautama estava sentado à beira do rio Neranjara e viu que se aproximava uma falange de Demônias.
Sorriu e deu bom dia. Elas estranharam o sorriso e a alegria de Buddha ao encontrá-las, até porque ninguém gostava delas.
- Salve queridas irmãs, sentem aqui ao meu lado.
Desconfiadas sentaram-se em torno do Mestre Buddha e a chefe disse:
- Eu sou Hariti, mãe de quinhentos demônios, primeiro chegamos nós as mulheres, agora os homens já estão se aproximando, ouvimos falar do Senhor e só por curiosidade resolvemos nos certificar se o Bendito tem mesmo todos esses poderes que falam.
- Ois Hariti e todos vocês, sejam bem-vindos(as), vocês são famosas e famosos e eu preciso de vocês para que me ajudem na divulgação e proteção do Darma, a minha Doutrina que, na verdade, não é minha, sempre existiu no Cosmos, agora redescobri e a estou semeando em todos os quadrantes.
- Mas o Senhor sabe que nós somos Demônios e Demônias, somos muito maus e más?
- Amigos e Amigas eu vejo a aura de vocês no passado, no presente e no futuro, por isso sou o Buddha Onisciente, Onipresente. Vejo em vocês cansaço de tanto fazer o mal. Vejo em vocês um potencial de Luz muito grande, de amor e compaixão ao próximo. Quero que você seja, daqui para frente, Hariti – a Deusa Positiva do Darma!
Enquanto Sidarta falava, de todos os poros de seus corpos visíveis e invisíveis começaram a surgir aromas sagrados que aquela Falange nunca tinha sentido, cores as mais diversas também e muitos Espíritos do Bem começaram a chegar aplicando passes de Luz, Harmonia e Felicidade na citada Falange. Emocionadas começaram a chorar de emoção, arrependimento, sinceridade.
- Ninguém nunca nos tratou assim. O Senhor está brincando com a gente.
- É claro que não, Hariti. Ao longo de muitas vidas você teve esses quinhentos filhos que estão todos aqui, os maridos também. Você é muito forte, você é uma importante matriarca do seu clã e eu quero que daqui para frente, com esta Força e Fé bonitas, todos vocês protejam os meus discípulos, clérigos e leigos.
- Então o Senhor nos aceita como discípulos e discípulas de sua Ordem?
- Sim Hariti, a partir de hoje você faz parte da Sanga, de nossa congregação e protegerá o Darma.
Todos os Demônios se ajoelharam, em torno deles o Senhor Buddha e os Espíritos de Luz de pé aplicavam passes curadores, curativos, transformadores para o completo Bem. Então Hariti disse:
- Mestre, a partir de hoje, até o final de toda a Eternidade e mesmo mais além, nossa Falange estará a postos para proteger os budistas: monges e monjas, leigos e leigas. Nossa finalidade será a Proteção daqueles (as) que nos chamarem, mesmo que seja com um simples pensamento. Pode acreditar, pode confiar.
- Estou feliz Hariti – respondeu o Bendito – eu acredito em vocês, eu confio em vocês, gratidão sempre!
E assim o culto e a devoção de Hariti se espalhou por toda a Ásia, através do Budismo Popular, o Darma que é reverenciado pelo povão, pela massa.
Deixaram de ser Demônios e Demônias, tornaram-se Espíritos no aprendizado infinito da Luz.

Fonte: Léxico de Filosofia Hindu – Sânscrito, Páli, Tamil: Francisco Kastberger, editorial Kier, Buenos Aires, 1954.

6 comentários:

  1. Moacir Pimentel07/12/2017, 10:56

    Antonioji,
    Confesso que fiquei muito satisfeito com o final feliz da Hariti - hoje os happy ends estão fora de moda na pessimista cultura pop - e de saber que o universo budista não é dividido no meio por fronteiras rígidas e sem pontes, com os maus morando de um lado e os bons do outro. Ou seja, a danada da diaba evoluiu talvez exatamente por ter experimentado os contrapontos.
    A questão aqui é simplesmente que depois que a Hariti e a sua turma foram recrutadas para as falanges do Bem , o Mal continuou rolando. E o problema é que quando se concebe deus como ilimitado no que diz respeito ao poder, ao conhecimento e à bondade moral, a existência do Mal rapidamente dá lugar a argumentos potencialmente graves contra a existência de deus. Não dá para esquecer a lógica epicuriana:

    “Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode.
    Se pode e quer, que é a única coisa compatível com Deus, donde provém, então, a existência dos males?”

    A resposta para essas questões é pouco considerada pelos que acreditam em deus e no diabo - jamais encontrei um crente que não acreditasse nos dois! - ou por aqueles que entendem a religião como uma filosofia leve, ou pelos que necessitam de uma vida espiritual e acham que , embora a humanidade seja possível sem deus , ela não é possível sem os valores éticos da religião transmitidos através dos tempos. E o que não é respondido? Permanece divinamente misterioso. E o que não faz sentido? Torna-se dogma infalível . O nome disso é FÉ.
    Respeitosamente, eu sou daqueles que acreditam que o homem inventou deus , o Além, a arte e a mentira, quando percebeu a própria finitude. Então , é claro , também inventamos o diabo. Afinal o Mal precisava ser terceirizado.
    Finalmente me foi impossível não linkar a Hariti budista resgatada com a Eva católica condenada, aquela que desde que comeu o fruto proibido, da tal da Árvore do Conhecimento, e o ofereceu ao companheiro passou a ser a culpada e a ralar. Veja que contradição: o casal perdeu o Paraíso porque perdeu a guerra entre a inocência versus o conhecimento. Só que a tal da inocência é um substantivo que é definido pelo que não é, não existe, não se sabe. Ou seja, Eva e Adão não sabiam que eram inocentes e só experimentaram a inocência através da sua perda. Complicado!
    Talvez seja bom refletir que somos seres em construção e que não chegamos ainda ao ápice do conhecimento, da racionalidade, da capacidade empática e do nosso processo evolutivo e apostar no nervo emergente da mente nos termos do grande John Milton no seu diabólico poema Paraíso Perdido:
    “A mente é seu próprio lugar, e em si mesma
    Pode fazer um céu do inferno, e um inferno do céu.
    (Livro I, 254-255)
    Abração

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    1. 1) Obrigado Moacir, uma das coisas que eu gosto muito no Budismo é que o inferno é temporário, pois tudo é impermanente.

      2)Deste modo, até prova em contrário, o Budismo é a única religião e filosofia que tem ex-demônios e ex-demônias. A meu ver, são espíritos, como trata o Espiritismo.

      3) Então, a dica é, transformarmos as nossoas dificuldades em coisas boas, as negatividades em positividades.

      4)E se consegue isso com a força do amor, da compaixão.

      5)Nós temos, segundo o Buda, as duas possibilidades dentro de nós, o mal e o bem. Escolhamos então o Bem... e vai ser ótimo.

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  2. Francisco Bendl07/12/2017, 18:02

    Rocha,

    Os contos budistas que nos apresentas sempre trazem as suas mensagens positivas, animadoras, onde o bem jamais pode ser suplantado pelo mal.

    Curiosamente, a maioria das pessoas atribui o mal a Deus, ou seja, ter permitido que o demônio tivesse tantos poderes.

    No entanto, sabemos que é lenda, pois este símbolo do mal, o capeta, definitivamente não existe mas, o homem mau, sim.

    E paga o pato o diabo, pois a reação de se eximir de suas responsabilidades é inata no ser humano, de não enfrentar as suas falhas e erros, logo, a culpa é do chifrudo.

    Escrevi naquele artigo sobre o Livre Arbítrio, que Deus não pode se intrometer nas questões humanas, pois seria um de nós, haja vista que iria preferir este ou aquele, que simpatizaria mais com um do que o outro.

    Portanto, os demônios somos nós, que nos amedrontamos diante de desafios e compromissos que não podem ser transferidos e postergados, mas, em face de uma mão estendida, como fez Buda, afirmando que precisaria da ajuda daqueles que eram rotulados como malignos, o Mestre desfez como por encanto a magia do mal, e aumentou seus seguidores.

    Conosco acontece o mesmo.
    Ao sermos flagrados em crimes, precisamos muito de apoio, de solidariedade, de carinho, de um ombro amigo.
    A negação por parte dos familiares desse que caiu em desgraça, de um gesto de perdão e compreensão negado, gerará mais ódio naquela pessoa, transformando-a mesmo numa espécie de demônio, diante do seu comportamento absolutamente contrário aos seus semelhantes, cujo intuito é somente prejudicar, lesar, levar infelicidade.

    Não cabe sob hipótese alguma questionar Deus sobre o mal, pois somos nós que o originamos.
    Da mesma forma, a simbologia quanto à Eva e Adão. Ela porque a serpente lhe tentou para que comesse do fruto proibido, existente na Árvore do Conhecimento, então expulsa junto com o seu companheiro por desobediência.
    Ora, quantas vezes que fomos alijados de empregos, da sociedade, de relacionamentos por que desobedecemos o combinado?!

    Deus não foi cruel com o casal, mas eles é que foram maus consigo mesmos.

    Agora, confundir um livro religioso e eivado de simbolismos (a Bíblia) como se fosse científico ou um código ainda a ser descoberto, vai uma grande distância, a começar com as mentes daquela época que, se as instruções não fosse dadas em forma de histórias, jamais compreenderiam a mensagem transmitida, razão pela qual Cristo somente falava a seus seguidores e apóstolos por intermédio de parábolas, como esta que relataste, Antônio, onde Buda sentado numa beira de rio conversa consigo mesmo, mudando sua conduta a partir do momento que se entendeu, que dominou o seu espírito voltado para outros afazeres, os demônios ou as distrações ou tentações.

    Deus tem tanto com o que se preocupar, que a gente imaginar que Ele nos dá atenção é muita pretensão e água benta, como se dizia na minha época.

    O negócio é paz interior, Rocha.

    Um abraço.
    Saúde e paz.

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    1. 1)Oi Bendl, o capeta ou similar, de acordo com o Espiritismo, que parece muito com o Budismo, é um espírito negativo, por uma série de fatores.

      2)De acordo com o texto, Buda conversava com os Espíritos, seres de outras dimensões, além da nossa dimensão física.

      3)Da forma que eu pratico, é só conectar com Deus/Buda/etc através da oração que ele nos responde e também envia os anjos, Espíritos de luz etc.

      4)Exato, não é Deus quem nos pune, mas o nosso Carma que age em função das negatividades que cometemos.

      5) Abração.

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  3. Olá Antonio, caro budista,
    Ufa para os comentârios! Pesados. Reflexivos. Ou reflexíveis... um bom texto faz isso.
    Restou para mim falar como feminista meio fora de moda. Mas você deve saber, uma vez feminista, para sempre feminista. Por que uma demônia? E ainda mais com características de mulher...(rsrs) Infelizmente.
    Gostaria de acreditar que alguém ou algo pudesse transformar radicalmente uma índole.
    Acredito que o bem possa gerar o bem. Assim como o mal gera o mal. Até aí.
    Escreva um dia sobre a infância desse interessante, bom e paciente Buddha Sidarta Gautama.
    Como seus ensinamentos, até sempre.

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  4. 1)Oi Ana, de acordo com o Budismo, Espiritismo e correntes afins os Espíritos tem a identificação com os sexos. Até namoram...

    2)Tanto no Budismo quanto no Hinduísmo, os deuses e deusas, que são Espíritos, são Energias, tem os seus respectivos cônjuges..., cada um ou uma tem a sua contraparte...

    3)Penso que a finalidade da história acima foi mostrar que no Budismo, por mais mal que seja uma pessoa, um Espírito ou uma Energia, ela pode mudar para melhor.

    4) E o Buda, através do Amor e da Compaixão tinha a facilidade de converter as pessoas/Espíritos/deuses... a Energia cai em si e verifica que o melhor para si mesma e se tornar adepta do Bem.

    5)Obrigado, tudo de bom !

    6)Buda ajuda, mas cada um (a) é que "transforma radicalmente a índole". Se não for em uma vida, será em outra, na vindoura.

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