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Deprimido e desanimado porque Philomena Lee decidira voltar para casa e
desistir de continuar resgatando a vida do seu filho morto por avaliar que,
para o rapaz, a mãe biológica jamais tivera a menor importância, o jornalista
Martin salva o filme e a pátria ao beber, no bar do hotel, uma cerveja
irlandesa da marca Guinness.
Enquanto a bebia ele também zapeava algumas fotos de Michael Hess
no laptop e assim pode identificar em todas as lapelas dos ternos do rapaz um
mesmo broche que era idêntico à logomarca da cerveja. Tratava-se de um dos
símbolos mais emblemáticos da Irlanda: a harpa celta.
Philomena e Martin entenderam que somente alguém que prezasse suas raízes,
que tivesse com a sua pátria um vínculo emocional profundo, carregaria a
Irlanda no peito.
E então a inocente católica e o cínico ateu, aparando-se numa amizade
incompatível, na qual ele é o sal e ela o ensopado típico, mais uma vez não
desistem e passam a tentar fazer contato com Pete Olson, o companheiro com quem
Michael encontrara alguma felicidade em um relacionamento de longo prazo.
Sucede que Pete não quer reabrir a velha ferida e se recusa a receber
Philomena.
Junto com suas questões religiosas, morais e de caráter, esse filme
também explora, mais sutilmente, questões de ética jornalística. A viagem do
casal para Washington é paga por um tablóide interessado nos aspectos trágicos
da história de Philomena. E quanto à privacidade dela? Martin está
ajudando-a, é claro, mas ele não estaria também explorando-a para obter uma boa
história?
“Martin, será possível não usar meu nome
verdadeiro quando você escrever a história? Que tal Ana? Ana Bolena? É um nome
adorável!”
A essa altura do drama os escrúpulos que Martin tem de flagelar mais
ainda Philomena publicando sua intimidade em manchete em um tablóide são
agudizados, cena após cena, pela compaixão surpreendente e inabalável da velha
senhora.
Mas, ao mesmo tempo, percebemos divertidos como Martin, desesperado para
entrevistar Pete Olson, abraça as táticas do jornalismo popular e literalmente
mete o pé na porta fechada na sua cara pelo reticente candidato a entrevistado.
Dado o seu próprio relacionamento estressado com a imprensa marrom, há uma
ironia óbvia nessa simpática interpretação de um paparazzo.
É com todas essas questões em mente que observamos o tão esperado
encontro da nossa dupla dinâmica com Pete, que lhes conta sobre a culpa que o
companheiro sentira por sua homossexualidade, de como ele vivera assombrado
pelas vagas lembranças que tinha dos seus três primeiros anos na Irlanda, do
seu desejo de encontrar sua mãe, de como ele fora atormentado pela ausência
dela e pela sensação de impotência e de incompletude do órfão: não saber de
onde viera nem quem era.
Philomena assiste então na casa de Pete um filme com imagens do seu
garoto desde os seus primeiros momentos nos EUA e descobre – absolutamente
chocada! - quando vê imagens de Michael junto com uma das freiras da Abadia do
Sagrado Coração, a Irmã Hidelgarde, que ele visitara pela primeira vez o local
onde nascera, em 1977, aos vinte e dois anos, para implorar às freiras que lhe
dessem o paradeiro da mãe. Em vão. Elas lhe juraram de pés juntos que não
tinham quaisquer informações da mulher que “o
abandonara ao nascer”.
Já muito doente e com as marcas da AIDS estampadas no rosto, em 1993
Michael e seu companheiro voltaram à Irlanda para, mais uma vez, fazer o mesmo
apelo às irmãs. Ainda assim elas se recusaram a dizer-lhe onde ele poderia
encontrar sua mãe, ou mesmo suas irmãs e irmãos, suas tias e tios e primos,
muitos dos quais moravam bem ali, apenas alguns quilômetros estrada abaixo.
Em desespero, Michael finalmente perguntara à Irmã Hildegarde se poderia
ser sepultado no cemitério do convento e ainda colocar na sua lápide
informações suficientes para que sua mãe o identificasse “se alguma vez ela vier aqui me procurar”.
É claro que, enquanto mentiam descaradamente em nome de Deus tanto para
a mãe quanto para o filho pecadores, as boas irmãs aceitaram uma doação
substancial para o enterro. Michael dormia seu sono eterno no cemitério da
Abadia há quase uma década
“Malditos católicos!”, resmunga Martin pela centésima vez ao tomar conhecimento da verdade.
Como sabemos - mas Michael desconhecia - Philomena estivera ali
procurando por ele inúmeras vezes. Separados pelo destino, a mãe e o filho
passaram suas vidas procurando um pelo outro, frustrados pela recusa das
freiras de dar-lhes informações, cada um deles ignorantes do quanto o outro
também estava ansioso por encontrá-lo.
A revelação da sórdida mentira tramada pela facção católica muito
machucou Philomena. Saber que o filho morrera acreditando que ela o rejeitara
foi um duro golpe mas ainda assim ela se recusou a ser amarga.
“Aqueles foram tempos difíceis e as
freiras foram envolvidas por eles”, diz ela.
Mais uma vez as reações contrastantes de Philomena e Martin permitem que
o filme condene a Igreja Católica por sancionar ações tão cruéis, mantendo no
entanto a importância de valores religiosos fundamentais como perdão e
compreensão.
E o foco do filme se volta para como Philomena lida com a culpa pela
morte do filho. Como se não bastasse todo o pretérito sofrimento causado a ela
pelo bando de religiosos que se dizem cristãos e tementes a Deus mas não sentem
remorso, Philomena passa a lidar com muitas novas perguntas:
“E se eu não tivesse me calado? E se
tivesse procurado por ele mais cedo?”
O filme não abraça a dinâmica e o caminho usual de culpar os outros e
nem pinta todas as freiras como malvadas com as tintas escuras de um mesmo
pincel. Há mais aspectos nessa história do que apenas heróis e vilões, mocinha
e bandidos, certo e errado. “Philomena” nos fala que uma verdadeira
reconciliação exige compreensão e aceitação além da simples aquiescência.
O filme é mais sábio do que parece, com muito a dizer sobre justiça e
perdão e a cura de feridas ao longo do tempo. Na verdade, ele quase nada diz
sobre essas coisas, apenas sugere as suas mensagens com uma mão leve embora com
uma visão meticulosa da interação humana.
A caça a Anthony e, no fim da trilha, a conclusão pungente e inesperada
da história fazem poderosas acusações a duas épocas históricas: a Irlanda dos
anos cinquenta e a América dos anos oitenta, ambas profundamente hipócritas.
Além, é claro, de nos por frente a frente com milhares de outros “órfãos”
perdidos cujas vidas foram alteradas para sempre pela ganância e hipocrisia da
Igreja e do Estado irlandeses. Como o filho de Philomena, muitos deles ainda
estão procurando por seus pais e, por meio deles, pela sua identidade.
Se os melhores roteiros se erguem sobre seus personagens poderosos, como
é o caso em toda a dramaturgia de Sófocles, então Philomena vai além de todas
as expectativas. Pois em vez de fazer uma acusação cega, geral e irrestrita à
Igreja, o filme questiona como Philomena pode, diante de tanta maldade, ter
conservado intactas a generosidade e a fé. E sobre a personalidade sarcástica
do Martin, ele pergunta se há espaço para esperança ou fé na vida do homem cético
e moderno.
O grande mérito dessa história e a alegria que nos traz vem do modo como
confunde as nossas expectativas. Philomena não é um daqueles filmes que nos
obriga a concordar com ele, transformando seus dissidentes em seres suspeitos,
moral e eticamente. O enredo não nos pressiona a avaliar as atitudes ou a visão
de mundo de Philomena como “corretas” nem o cinismo e a raiva de Martin como “errados”.
Ou vice versa.
Aos dois é permitido simplesmente ser e pensar de formas diferentes sem
sufocarem um ao outro. Nesse filme cada personagem tem seu próprio campo minado
para chamar de seu e neles não há lugar para injustiças mas nem Philomena é
beatificada nem Martin é crucificado nesse drama satisfatório, que evita os
clichês emocionais e desafia as soluções fáceis.
O que parece ser uma novela chorosa revela-se uma trama multifacetada na
qual nada tem o seu valor de face: os instruídos e privilegiados não são todos
babacas nem perversos, os crentes não são todos ignorantes nem idiotas, os
desinformados não são todos sábios, os bons nem sempre são valentes. Mas quem
se apressa a julgar é sim estreito de mente. Sempre.
E então Philomena, tal qual uma fênix, renasce das suas cinzas e embora
as freiras não esfreguem as mãos de sadismo nem babem de ganância, temos a
impressão de que personificam o mal, principalmente a tal da Irmã Hildegarde.
Apesar de ser um esnobe é Martin – aqui entre nós e baixinho – quem nos
lava a alma quando se recusa a ser ludibriado pela segunda vez com o bolo e o
chá e as desculpas esfarrapadas das freiras no parlatório e invade o claustro
do convento e diz poucos e bons palavrões à famigerada Irmã Hildegarde que sem
um pingo de vergonha na cara ao ser descoberta em flagrante delito arrebita o
queixo e trava com o furibundo jornalista uma batalha verbal defendendo o
próprio voto de castidade que guardara durante toda a sua pia vida, as suas
auto-negação e mortificação da carne e acusando as garotas caídas de “incompetência carnal”.
“O Senhor Jesus Cristo será o meu juiz e
não gentinha como você” “O que você quer que eu faça?” pergunta a anciã a Martin, que não deixa por menos:
“Eu lhe digo o que fazer. Diga que sente
muito, que tal? Peça desculpas. Pare de tentar encobrir as coisas. Saia daí e
vá lá limpar todas as ervas daninhas e porcarias de cima dos túmulos das mães e dos bebês que morreram no parto! Uma das mães tinha catorze anos de idade!”
Ao vê-lo sendo tratado pelos bandidos eclesiásticos como uma alma
perdida ou um emissário do Mal torcemos para que ele distribua alguns tapas,
para que chute alguns móveis e para que quebre em pedacinhos todos os vitrais
circundantes e nos faça lamber os beiços com as imagens de um confronto real e
nos conforte com uma tradicional e boa catarse. Mas não rola! Philomena
interrompe a ação, repreende Martin pela “cena” e a falta de boas maneiras e
declara alto e bom som:
“Irmã Hildegarde, eu quero que a senhora
saiba que eu a perdoo”.
Diante dos protestos indignados do jornalista, Philomena, sempre serena,
lhe explica que por mais difícil que lhe seja perdoar, não deseja, como Martin,
sentir raiva e odiar as pessoas. A última palavra é dela:
“Isso deve ser exaustivo...”
Pois é. A raiva pode ser insalubre e cobrar um pedágio ao corpo e à
mente quando é continuamente alimentada, revisitada e mantida como estresse
contínuo. Não, Philomena não é uma heroína, nem uma santa à beira da
canonização, mas uma sobrevivente, com uma capacidade impressionante de perdoar
até aqueles que não o merecem como a aleijada mental da Irmã Hildegarde, a quem
Philomena oferece o perdão sem que ele lhe tenha sido solicitado.
E é isso que a mantém sã e amável e calorosa e feliz apesar de tudo,
incluindo a sua profunda vergonha pela sua indiscrição juvenil que, por
incrível que possa parecer, na cabeça dela, continua justificando o seu
castigo. Philomena perdoa porque acredita que também precisa ser perdoada.
Talvez Martin, ao citar T. S.Elliot, tenha resumido o enredo:
“O fim da nossa exploração será chegar
onde começamos e conhecer o lugar pela primeira vez”.
imagem do filme |
O “lugar visto pela primeira vez”
para Philomena em vez do convento onde por fim encontrou o túmulo do filho
talvez seja a própria vida que doravante ela poderá tocar sem carregar nas
costas o peso de tantas perguntas sem respostas.
“O passado,” como escreveu William Faulkner, “não
é mesmo passado.” Às vezes passamos pelo passado sem que ele, no entanto,
passe por nós. Ironicamente, Philomena, que tem muito mais razões amargas do
que nós ou Martin, não abandonou sua fé. Ela parece ter aceitado o fato de que
o mundo da sua infância desapareceu e sabe que, se tivesse nascido cinquenta
anos depois, sua triste história já teria sido impossível. O filme nos ensina
que muitas vezes para se tocar a vida, depois da denúncia e do bom combate, há
que se deixar o passado para trás. Philomena só quer que o passado passe e leve
com ele sua amargura.
Decerto que os conventos irlandeses seguiram a lógica de um conjunto de
pressupostos sobre gênero e sexualidade que tiveram suas raízes na moral
inglesa vitoriana. Mas, apesar da atual cultura pop que celebra o sexo
desenfreado e hedonista, é triste e preocupante perceber que essas falsas noções
de respeitabilidade não desapareceram inteiramente.
O filme também é um lembrete de que sem reconhecer nossos próprios
pecados, a repressão das mulheres por fundamentalistas religiosos brancos,
cristãos e europeus, não temos o direito de condenar as burcas que cobrem as
mulheres islâmicas e acredito que mesmo o mais devoto dos católicos certamente
não pode argumentar em contrário. Pergunto: ao limitar hoje a educação sexual,
a contracepção e o direito ao aborto, não estariam a Igreja e tantos de nós garantindo
que as mulheres continuem pagando e sofrendo pelos seus “pecados da carne”?
Mas em “Philomena” não testemunhamos uma condenação da religião e sim um
diálogo sobre a forma como ela afeta a vida das pessoas, ou pelo menos de
algumas delas, com a fé e o decorrente perdão. É estranho constatar que a mesma
fé que permitiu todo esse abuso sistêmico de tantos seres humanos inocentes,
também permite que os feridos sigam em frente.
Trata-se de uma questão mais antiga do que as Cruzadas: a religião é
usada para justificar a violência e a desigualdade, mas também dá força às
Philomenas da vida para lidar com dificuldades insuportáveis.
E ao fim e ao cabo do círculo completo que esse filme faz, se entende
que mesmo a mais pessoal das histórias pode vir a ser uma experiência
intrigante e informativa – seja ela “fabulosamente
feliz ou desesperadamente triste” como dizia a chefona do Martin – e pode
nos balançar com temas que são importantes para todos nós, como o desejo
sexual, as crenças religiosas, os preconceitos sociais, os arrependimentos de
uma vida e a ética jornalística.
Faz bem à alma ouvir finalmente Martin dizendo a Philomena que não mais
irá publicar a sua história e escutá-la respondendo que, em vez, o mundo
deveria conhecê-la. Eis um retrato consumado de uma amizade transcendente.
Philomena Lee hoje vive em uma
bela casa em uma tranquila rua em cuja sala ela coleciona as fotografias de
seus filhos e netos. Em um lugar de honra lá mora um retrato de um homem jovem
e bem apessoado, vestido com terno e gravata.
Depois de localizar o túmulo do filho, no mesmo cemitério onde tantas
meninas e seus bebês sem nomes estão enterrados, ela está estranhamente em paz,
totalmente ignorante do significado da palavra amargura e sabedora de que matou
seus opressores com bondade. Como já falara Zaratustra
“Não é com a ira mas com o riso que se
mata.”
Na sua mão esquerda ela usa dois anéis: a aliança de casamento e o
antigo broche de lapela, a harpa celta, que era uma das posses mais preciosas
do seu filho perdido e encontrado.
Não sei dizer-lhe quanto a minha fé em Deus e nos homens, mas aconteça o
que acontecer jamais esquecerei Philomena porque ela mantém viva a minha fé nos
filmes.
Amei! Também queria que o Martin tivesse rodado a baiana pra valer com as irmãs kkk Mas a Philomena agiu certo cortando o nosso barato porque viver de baixo astral sentindo ódio deve ser mesmo muito estressante. Ela perdoou o imperdoável porque é uma pessoa centrada e generosa mas também porque na cabeça dela 'precisava ser perdoada' de algumas culpas pra poder se livrar do peso do passado. Perfeita a sua interpretação. Escreva mais sobre outros filmes, Moacir. Você é muito bom nisto. Obrigada!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirObrigado pelo incentivo e, sim, estou pensando em rabiscar sobre outros filmes embora seja complicado. Por exemplo, tenho certeza de que quando alguns dos meus filmes prediletos estiveram em cartaz você ainda não tinha nascido (rsrs)
Quanto à Dona Culpa não há problema nessa vida ao qual não se possa adicionar uma boa pitada disso para torná-lo pior ainda. Porque, como aconteceu com Philomena, a culpa gera uma sofrença inútil, uma vergonha que paraliza, que se fica a remoer, que em vez de provocar mudanças, vira pretexto para que as coisas permaneçam do jeito que estão. Se e quando erramos a única coisa importante é refletir, reconhecer o erro e focar em acertar da próxima vez.
Como Dona Philomena é uma mulher inteligente e lúcida e tem atitude, aposto que ela já se livrou da maior parte dessa carga de culpas católicas que recebeu durante a lavagem cerebral fracassada que as freiras tentaram lhe fazer.
Abração
1)Procurei em uma lista confiável e aprendi que o nome "Philomena" vem do grego e significa "amável, amiga constante".
ResponderExcluir2)Penso que é isso o que o filme tb transmitiu e Moacir resgatou com sabedoria em seus textos.
3)Fiquei gostando mais ainda dos personagens porque são seres humanos verdadeiros em suas contradições. Buscando melhorar-se.
4)Bom fim de semana a todos (as).
Antonioji,
ExcluirQue bom que você terminou gostando mais ainda dos personagens "tão verdadeiros em suas contradições". Você disse tudo: um filme gentil sobre uma senhora gentil em um mundo áspero que precisa de gentileza para administrar as dualidades e diferenças muito humanas rumo à evolução.
“Gratidão”
Moacir,
ResponderExcluirEstava ansiosa para ler o final que achei muito rico e equilibrado. Fiquei contente de ver a verdade cristã de Philomena confirmada por suas palavras:
‘Quem se apressa a julgar é sim estreito de mente. Sempre.'
Obrigada por estes belos artigos que passam adiante a mensagem de força e esperança de uma grande mulher. Apesar da tristeza do filme o amor entre essa mãe e o filho venceu até mesmo a morte sem deixar de sorrir. A dor de Philomena assistindo seu filho morto crescendo nas imagens pretas e brancas daquele filme caseiro e a paz encontrada por ela diante do túmulo dele vão me comover para sempre.
Um abraço para você
Flávia,
ExcluirMuito me alegrou nas caixas de comentários das várias Philomenas constatar que você, uma católica de carteirinha, não vê esse filme como um ataque raivoso à sua fé mas que, em vez, percebe que ele é justo nas críticas que faz à igreja e que o enredo dá igual peso ao ceticismo de Martin e à fé de Philomena.
De resto, o que lhe dizer sobre essas dor/paz de Philomena que a emocionarão para sempre, sobre o vínculo profundo que uniu a mãe e o filho durante a gestação e os anos de amamentação? Como sei que a orfandade não tem idade, entendo o desejo de Anthony de dormir seu sono eterno na terra natal. O poetinha Vinícius resumiu essa emoção em um poema de nome Minha Mãe que acaba nos seguintes versos:
(....)
"Dize que eu parta, ó mãe, para a saudade.
Afugenta este espaço que me prende
Afugenta o infinito que me chama
Que eu estou com muito medo, minha mãe".
Muito obrigado pela leitura e belos comentários
Outro abraço para você
Muito bom. Você pergunta se há espaço para a religião nos tempos modernos. Não na minha vida. É impossível comungar numa igreja cujo alto clero encobre os crimes de abuso sexual infantil praticados rotineiramente pelo seu baixo clero. Não posso concordar com a repressão sexual nem com a imposição de uma castidade que degenera em pedofilia. Em um mundo superpovoado e sob a ameaça da AIDS e da fome eu teria que ser irracional para compactuar com a criminosa proibição de qualquer método contraceptivo. A humanidade não precisa de igrejas mas de escolas que ensinem ciência, lógica e ética. E de mais filmes que façam a gente pensar e rir como Philomena, rs.
ResponderExcluirMárcio,
ExcluirAcabo de me lembrar do Billy cantando '"when the going gets tough, the tough get going" (rsrs) Então...concordo que alguém deveria estudar a fundo o impacto doentio da religião sobre a sexualidade humana, essa estranha necessidade que as diversas fés institucionalizadas têm de limitar e regular a mais prazerosa das nossas necessidades, menosprezando a nossa capacidade de romance, amor, sexo e intimidade e apequenando até mesmo a nossa reprodução biológica. E também condeno veementemente a proibição dos métodos contraceptivos, que chega a ser criminosa , por exemplo, na África subsaariana, onde a igreja faz campanha contra a camisinha entre dezenas de milhões de aidéticos.
Mas acredito que o problema não é a fé, tão necessária e benéfica para tantos embora não para nós, mas a incapacidade de se ver além dela. Somada ao jogo do poder e do dinheiro no qual, é claro, foram traídos faz tempo os princípios éticos originais. Porém...
O meu vasto mundo seria bem mais sem graça se feito só de coisas exatas e destituído das humanas, inclusive a imbecilidade (rsrs) E ele ficaria mais pobre sem os pensamentos e “ministérios” de Lao Tsé, Zoroastro, Buda, Confúcio, Sócrates, Jesus Cristo, Lutero e Luther King. Talvez eu milite no time dos visionários que construíram seus caminhos por diversas estradas, entre múltiplas escolas e acreditando na colaboração interdisciplinar (rsrs) De resto, como está sempre repetindo um amigo: "Logic is the beginning of wisdom, not the end."
Enfim, sigo sem certezas, duvidando, me dando um tempo de vez em quando para limpar as gavetas e arejar a casinha, respirando fundo antes de seguir em frente acreditando.... na estrada. Por causa das Philomenas (rsrs)
Keep walking!
Pimentel,
ResponderExcluirVocê descreveu o filme com segurança e os personagens como se os conhecesse desde o jardim de infância. Eu achei a série de posts excelente. Parabéns!
Sampaio
ExcluirE ao fim e ao cabo do círculo completo que esses filme e franquia fizeram, fico muito satisfeito de contar com a sua leitura. Muito obrigado.
Moacir,
ResponderExcluirUma excelente resenha e análise de um de meus filmes preferidos.
Depois de tudo o que você tão bem disse não vou falar do filme, apenas dizer que as questões seríssimas da intolerância social e religiosa, e as distorções que elas provocaram na Irlanda, chegando ao ponto de um verdadeiro tráfico de bebês e exploração de suas mães pelas instituições que deveriam protegê-los formam na realidade apenas o plano de fundo (mas um plano de fundo pintado com grande maestria) para o apaixonante jogo psicológico entre os dois personagens principais, a mulher do povo, simples e inculta, vítima involuntária (sim, porque a vida é muitas vezes mais forte do que regras e restrições impostas pelos mais poderosos) de todas estas distorções e o jornalista esnobe e sofisticado, representante das "classes superiores" da sociedade. Um jogo jogado com mãos de mestre por dois grandes atores, a protagonista sendo encarnada por uma das maiores atrizes inglesas de todos os tempos, e que envolve o espectador e o leva, entre divertido e enternecido, através de uma história aparentemente simples mas de mortal seriedade. Um filme que já assisti mais de uma vez e provavelmente ainda assistirei de novo.
Obrigado por mais esta bela "conversa".
Wilson,
ExcluirEu não poderia concordar mais com o seu comentário nem deixar de parabenizá-lo humildemente pelo seu imenso poder de síntese ao condensar em alguns magistrais parágrafos o que eu precisei de quatro posts para teclar (rsrs) Sim, o “apaixonante jogo psicológico” é o que segura o filme. É justamente a santa ira , a justa indignação e a impaciência de um verdadeiro jornalista metido à besta aquilo que joga luz sobre a grandeza dessa mulher simples chamada Philomena. Um não teria funcionado sem o outro e nos proporcionado horas tão emocionantes e alegres apesar da história ser “de mortal seriedade” e muitas vezes angustiante.
E obrigado lhe digo eu pela porta sempre aberta e a cadeira na mesa do bar virtual sempre disponível para boas “conversas”.
Um grande abraço
Olá Moacir
ResponderExcluirAqui jaz Philomena.
O que é triste porque não teremos mais. E este último capítulo, apesar de já ter assistido e assistido o filme, me fez arrepiar algumas vezes. Emocionei- me.
Você descreveu as emoções, a transformação desses sentimentos, a parte sórdida da religião de uma maneira que só você mesmo para fazê-lo.
Quero, preciso e vou reler para apreciar e repensar .
Os comentários e elogios feitos pelos seus leitores são mais do que merecidos. A sugestão de novos filmes também.
Gratíssima.
Até muitos mais.
Caríssima Donana,
ExcluirTudo aquilo que a gente sente verdadeiramente nunca passa mas se transforma, como dizem os mafiosos , em "cosa nostra". Lembro que quando revi Philomena para escrever os posts , eu deixei de assistir para observar e então ia parando o filme para anotar os diálogos (rsrs) Deu no que deu - @#$%@! - ela me pegou pelo pé!
Dia desses o Antonioji comentou que quando prestamos atenção nos detalhes de uma tela, por exemplo, buscando significado nas cores esvanecidas dos fundos, nas formas enigmáticas dos lados, no que está em segundo plano mas deveria morar no primeiro, estamos de certa forma “meditando". Penso que da mesma maneira talvez "meditemos" quando lemos e/ou escrevemos cui-da-do-sa-men-te para pensar melhor.
Seja como for, saber que a senhora leu com tanto respeito essa resenha muito me honra e motiva a prosseguir com os meus experimentos cinematográficos (rsrs) Muito obrigado e...
“Até sempre mais”
Muito grata a vc Moacir pelos três capítulos sobre Philomena
ResponderExcluirA harpa celta foi um detalhe importante e vc nos faz lembrar estes pequenos detalhes
Endosso os pedidos pra vc continuar escrevendo sobre filmes
Um abraço Lea
Léa,
ExcluirQue bom que você gostou e voltou para nos dizer. Eu também acredito nos detalhes, que muitas vezes são definitivos tanto nos livros de detetives, quanto nos filmes e na vida (rsrs) O broche de lapela com a harpa celta transformado em anel foi um presente que Philomena recebeu do Pete, o amigo do Anthony, que terminou por esclarecer a trama. Quanto a escrever sobre outros filmes é um projeto que talvez demore mas que vai terminar rolando.
Agradeço-lhe imenso pela leitura, comentários e incentivo.
Abraço
Errei nos números
ResponderExcluirLi os quatro capítulos e como prima da Ana vou participando sempre deste blog do Mano
Gosto muito de um bom filme e é um prazer ler os comentários
Vou esperar novos textos
Obrigada