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01/12/2017

O filho de Philomena

Cartaz do filme

 Moacir Pimentel
E aqui estamos nós, de novo e de volta ao filme “Philomena”, dessa feita na América, acompanhando, passo a passo, a devota Philomena e o ateu Martin em busca de respostas.
Embora o seu título nada nos comunique e o seu cartaz seja tão sem vida e sem graça, o filme “Philomena” é apenas uma conversa entre os dois que tenta conseguir um equilíbrio dramático para os eternos conflitos entre fé e ceticismo, riqueza e pobreza, educação e ignorância, bem como muitos outros pares de antônimos improváveis e excludentes.
Nesse pequeno grande filme nos deparamos a um só tempo com um drama anticlerical, uma história de detetive com coração e humor, uma investigação sobre a fé e as limitações da razão, um divisor entre a crença e a piedade institucionalizada, uma análise da velha punição da sexualidade feminina, um entrelaçamento doentio e criminoso entre o mercado negro de bebês e a expiação do pecado da carne, um ensaio cinematográfico sobre a tolerância, a compaixão, o perdão e a forma como julgamentos injustificadamente severos podem ecoar durante toda a vida mesmo depois do fim da crueldade.
Mas não perceberíamos nada disso se as performances de ambos os atores fossem fracas e destituídas de dignidade principalmente quando seus personagens seguem para Washington e fazem uma descoberta surpreendente após a outra.
E não há como não enxergar na velha senhora muito daquela jovem e rosada Philomena dos flashbacks de quem, apesar de ter sido exilada, encarcerada e usada como escrava na lavanderia de um convento, envenenada e envergonhada por uma overdose de culpa católica e persuadida a assinar os papéis que permitiram a adoção do filhinho, nada conseguiu roubar o gosto pela vida.
É no convívio diário dos dois durante a viagem pelos Estados Unidos, nas conversas ociosas de Philomena e nos momentos mal humorados de Martin, que as diferenças entre o experiente e sofisticado jornalista e a ingênua e sentimental senhorinha se tornam mais evidentes e que eles realmente conhecem um ao outro. E é um enorme prazer assistir dois grandes atores interpretando essa inusitada combinação de arsênico com alfazema (rsrs).
imagem do filme

Aqui entre nós e baixinho a gente bem que entende porque Martin se irrita com os entusiasmo e ingenuidade da parceira de aventura. Mas isso é justamente a força e o sucesso de “Philomena”: a relação entre os dois, o dar e receber, a consciência e o perdão, o carinho mútuo vagarosamente construído são mais do que suficiente para se gostar desse screenplay, no qual há sempre espaço de sobra para os personagens crescerem.
O enredo americano nos escancara em Philomena recursos emocionais até então desconchecidos, como sua capacidade surpreendente de empatia e de admiração por coisas que a maioria das pessoas ou nem sequer percebem ou dão como certas.
Um chocolate, um drinque, um livro, uma panqueca, um sorriso e um simples bom dia enchem o coração de Philomena de surpresa e prazer pois, ao que parece, ele ainda está aberto e disponível, apesar de todo o sofrimento que já suportara e que ainda terá de suportar no decorrer dessa aventura.
Philomena teria todo o direito de posar como uma grande vítima, considerando as circunstâncias traumáticas que a separaram de seu filho. No entanto, a personagem revela, lenta mas certamente, sua fortaleza em face a verdades horríveis que, como veremos, ainda não terminaram.
Nada consegue afetar em Philomena a imensa capacidade de empatia e a visão clara sobre o comportamento humano, ou turvar a sua franqueza saudável sobre a sexualidade, apesar dos dedicados esforços das freiras que tentaram fazer nela uma completa lavagem cerebral.
Nos Estados Unidos, depois de levar o companheiro de viagem quase à loucura mansa com a melosa resenha do romance que acabara de ler e de se deleitar com o cocktail de champagne gratuito à bordo do voo transatlântico, Philomena chega à profunda conclusão que viajar na primeira classe não faz uma pessoa ser de primeira mas bem que se maravilha com o hotel, as longas vistas, os felpudos roupões de banho, o frigobar e os buffets do café da manhã.
Com suas baterias recarregadas e Washington à sua porta, a despretensiosa irlandesa, no entanto, em vez de passear e conhecer, como desejava, o Memorial de Lincoln, está mais interessada em ficar no hotel para assistir no pay per view uma comédia “hilária na qual um homenzinho negro finge ser uma mulherzona gorda”.
Mas termina de olhos arregalados de prazer diante da estátua do presidente ou de qualquer coisa simples e pequena e bonita da vida que cruze o seu caminho. Os olhos de Philomena brilham com bom humor e doce inocência, mas por trás deles paira o buraco negro da perda.
Onde estará o seu filho Anthony?
Pressentindo que está se aproximando da verdade sobre o filho Philomena se questiona ansiosa sobre o estilo de vida e a saúde dele. Depois de assistir, por exemplo, um documentário sobre os hábitos alimentares dos americanos, particularmente preocupada, ela manda ver:
“Aqui as porções de comida são enomes. E se ele for obeso, Martin?” (rsrs)
A simplória Philomena rouba de novo e de novo o show enquanto o seu cavaleiro andante na real corre diariamente para se livrar da depressão e para manter em alta as suas indignações gêmeas - hipocrisia sexual e jornalismo desonesto - e afiar a sua gelada ironia praticando-a com as garçonetes solícitas:
“Dá licença? É que nós estamos tentando ter aqui uma conversa p-a-r-t-i-c-u-l-a-r...”
O mal humor de Martin é crônico. Como, por exemplo, quando após uma longa e risonha conversa sobre nachos com o cozinheiro mexicano no restaurante do hotel, Philomena comenta com ele que o rapaz é “um em um milhão” para ouvir do jornalista que a matemática dela está errada. Segundo ele, como o mexicano fora o décimo empregado do hotel para quem ela afirmara o mesmo nas últimas vinte quatros horas, seria mais correto dizer “um em cem mil” (rsrs)
É justamente durante esse primeiro café da manhã em Washington que Martin recebe de um dos seus contatos profissionais alguns arquivos capazes de preencher todos os espaços em branco do quebra-cabeças de Anthony. E Philomena descobre na tela do laptop do jornalista que o filho fora adotado pelo casal Doc e Marge Hess, de St. Louis, juntamente com outra menininha irlandesa e que tinham crescido juntos como irmãos. Tem mais.
Ela soube ainda que Anthony Lee fora rebatizado com o nome de Michael Hess e que morrera em 1995, com apenas quarenta e três anos. E o olhar dela é arrepiante.
Desolada ao tomar conhecimento do falecimento do filho, Philomena quase retorna para o Reino Unido mas resolve obter mais informações sobre Michael, explicando a Martin que,
“Eu gostaria de saber o que ele pensava de mim porque pensei nele todos os dias.”
Mesmo com os sentimentos sob rígido controle, como sempre, Martin termina nos presenteando com momentos inesquecíveis de sangue nas veias, quando preocupado com a dor de Philomena que trancada no quarto não atende seus telefonemas, ele mente para o concierge do hotel que é filho dela, consegue que lhe abram a porta do quarto da senhora e quando a descobre chorando na varanda é forçado a tratá-la de “mamãe” diante do funcionário da recepção (rsrs)
Não foi difícil descobrir que Michael Hess crescera bem apessoado, fora um estudante brilhante e que se tornara, além de um advogado de sucesso, uma estrela em ascensão do Comitê Nacional do Partido Republicano, onde planejara a estratégia eleitoral que elegeu o primeiro dos Bush que, ao se tornar presidente, fizera dele seu principal assessor jurídico.
É particularmente interessante a conversa entre Philomena e Marcia, uma amiga de Michael que aproveita para mostrar à senhora várias fotografias do rapaz “encantador e carismático”, a quem ela costumava acompanhar às festas e cerimônias oficiais do governo, não porque fosse a namorada dele mas porque Michael era gay, algo certamente desaprovado pelo Partido Republicano.
É também nas fotos de Marcia que Philomena descobre que Michael tivera um amigo de nome Pete. Diante das novidades a velha senhora não esboça qualquer reação e muito docemente pergunta a Marcia se Michael tivera filhos. Julgando que ela não captara a mensagem, Martin resolve interferir na conversa:
“Philomena, Marcia acaba de nos dizer que Anthony era gay”.
E então em uma das mais surpreendentes das suas declarações Philomena responde que ela sempre “soubera” que o filho era gay mas que imaginara que ele bem poderia ter sido “bi-curioso”.
Em meio a todo esse sofrimento a gente realmente se espanta quando a velhinha nem pisca ao descobrir que o filho era homossexual e fica grato ao jornalista quando, após a visita, ele pergunta à querida senhora como é que ela “sabia” que Michael era gay. E ficamos surpresos ao escutar que, como Anthony fora um garotinho “muito amoroso e sensível”, ela beeem que desconfiara daquela possibilidade.
Na verdade para uma mãe que durante cinquenta anos sofrera imaginando se o filho era um viciado em drogas, um sem teto, um mafioso, se por acaso não estaria na prisão, se morrera no Vienam ou se voltara amputado, paralítico ou neurótico de guerra etc, etc, etc, a opção sexual dele e o fato de não ter lhe providenciado mais alguns netinhos não tinham qualquer importância.
Mesmo diante de tão trágicas notícias ela expressa acima de qualquer outro sentimento sua tristeza pela forma como Anthony fora forçado a ocultar sua sexualidade, a viver uma vida dupla trabalhando para um governo conservador e homofóbico que, inclusive, cortara as verbas para a pesquisa e tratamento da AIDS, justamente a doença que o vitimara. Philomena simplesmente empatiza: como ela o filho também tivera um segredo que não podia ser dito por medo de condenação.
Vale frisar que o filme vai pela mesma trilha e nos surpreende com um subtexto político ao linkar a opressão sexual e o castigo pelo pecado de “incontinência carnal” na Irlanda na década de 1950 com a homofobia e a relutância do governo dos Estados Unidos em lidar com a ameaça da AIDS na década de 1980. É como se o filme pretendesse mostrar nas entrelinhas que a retórica conservadora e repressora e homofóbica dos republicanos americanos não era tão diferente assim daquela dos católicos irlandeses que apontavam o dedo e condenavam as mães solteiras por causa de seus “pecados da carne”.
Que Philomena tenha aceitado tão tranquilamente às novidades sobre a opção sexual do filho e a sua morte em consequência dela, demonstra que a sua devoção feroz a Deus não é meramente formal nem vinculada às instituições de culto, elas próprias corruptas, mas que ela é literal e verdadeiramente uma cristã.
Embora a gente fique com a impressão que a Igreja Católica parece ter que aprender suas amargas lições repetindo de ano. Afinal os escândalos de pedofilia da última década foram apenas uma reedição da escravidão e do mercado negro de bebês e de tantos outros abusos cometidos na Irlanda.
E então os nossos dois detetives viajam para conversar com Mary, a garotinha irlandesa que se tornara a irmã de Anthony e sua amiga ao longo da vida. Dela ouvem que Michael jamais se sentira confortável com os irmãos adotivos e tivera um relacionamento difícil com o pai médico, mas que fora muito amado por Marge Hess.
Quando adotaram os miúdos irlandeses os Hesses já tinham três filhos homens, mas queriam uma menina. Então através de um irmão de Marge, que era bispo, a Madre Superiora do convento de Roscrea ofereceu-lhes a pequena e tímida Mary que, por acaso, era a melhor amiguinha de Anthony. Quando Marge fora buscar Mary ficou encantada ao receber do garotinho um beijo babado. E pronto! Ela se apaixonara perdidamente por ele e também o levara para casa. Foi a demonstração espontânea de carinho de Anthony por Marge que mudou sua vida.
Sucede que Mary garante a Philomena que ela e o irmão jamais haviam conversado sobre a Irlanda e nem sobre a mãe biológica dele. Ao saber disso Philomena desmorona acreditando que o filho perdido não se importara com ela, que perdera todos os bytes da memória dela, que a conexão mãe-filho não sobrevivera à sua adoção.
E o resto?
Isso só no próximo capítulo...


15 comentários:

  1. Léa Mello Silva01/12/2017, 08:43

    Adorei e já estou esperando o próximo capítulo
    Este filme é inesquecível

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    1. Moacir Pimentel02/12/2017, 09:51

      Léa,
      Tanto eu quanto a Redação do blog, tínhamos sérias dúvidas se funcionaria falar sobre um filme dessa maneira, em capítulos. Vou esperar pela sua opinião depois da próxima e derradeira – “ufa!”– página da resenha. Obrigado.

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    2. Léa Mello Silva02/12/2017, 17:58

      Moacir
      Olha como já estou íntima !
      Por causa do segundo capitulo eu resolvi assistir de novo Philomena
      E assisti com lágrimas nos olhos, muito emocionada
      Vi detalhes que não tinha visto e gostei mais desta segunda vez
      Como disse já estou esperando o próximo capítulo
      Eu que agradeço

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  2. Mônica Silva01/12/2017, 09:39

    Eu assisti este filme fantástico pra poder acompanhar os seus artigos, Moacir. Mas eles é que estão me ajudando a entender o filme que tem coisas que só entendo quando você s-o-l-e-t-r-a kkk. Adorei! Gosto demais do seu jeito de escrever. A mistura de 'arsênico com alfazema' foi genial kkk Vou lendo os detalhes, entendendo as piadas, revendo as cenas engraçadas e o filme passa de novo na minha cabeça melhor ainda. Você não brinca em serviço, hein? Mas imagino o trabalho que dá e o tempo que leva para escrever assim. Eu não seria capaz 'nem em um milhão de anos', como vive repetindo a fofa da Philomena. Muito obrigada por compartilhar de graça tantas palavras lindas. Bom final de semana!

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    1. Moacir Pimentel02/12/2017, 09:56

      Mônica,
      Folgo em saber que você se diverte com as minhas pretinhas. Quanto a “não brincar em serviço” vou discordar, porque para mim escrever é como estar no recreio. Depois, é claro, de fazer a lição de casa. Para escrever o jornal em pauta, infelizmente, eu não li o livro O Filho Perdido de Philomena Lee de autoria do jornalista de Martin Sixsmith mas assisti de novo tanto Philomena quanto o filme Em Nome de Deus e depois ainda rebobinei Philomena uma terceira vez para ir anotando os diálogos (rsrs) Li artigos sobre as lavanderias e o mercado de bebês católicos, os relatórios oficiais sobre tais crimes, as entrevistas do autor, diretor e atores quando do lançamento do filme. Descobri alguns detalhes interessantes, como por exemplo o fato de que Philomena Lee, na real, se encontrou e conversou sim com todos os personagens americanos exatamente como nos mostra o filme. Só que ....em Londres! A viagem para os Estados Unidos foi uma licença dramática (rsrs) Depois de superadas as leituras e pesquisas aí eu escrevi e então rolou a parte difícil! Tive que cortar porque como diz um amigo meu, grande jornalista: “escrever é cortar”. E eu não sou nada bom nisso. Às vezes a Redação bem que precisa me fornecer uma boa dose de noção (rsrs)
      “Obrigado”! e aproveite o sábado!

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  3. Flávia de Barros01/12/2017, 11:40

    Moacir,

    Me comove muito no filme e nos seus artigos a dor dessa mulher afastada do filho. Já descreveram esta perda antinatural como o 'revés do parto', como 'um pedaço arrancado mim'. Sou mãe e sei que a minha fé me sustentaria através deste Calvário, mas também sei que jamais seria a mesma mulher. Como não se solidarizar com a agonia de uma mãe que se perguntou todos os dias durante cinquenta anos onde estaria e o que aconteceu com sua criança? Depois desta privação e da morte do rapaz nada mais teve qualquer importância e claro que Philomena aceitou com serenidade a verdade sobre a homossexualidade do rapaz. Se não aceitamos e amamos nossos filhos como são, quem mais vai? Concordo com você quando fala que ‘Philomena simplesmente empatiza: como ela o filho também tivera um segredo que não podia ser dito por medo de condenação’. Mas não foi só por isso que ela perdoou. Perdoou porque foi criada na fé e era cristã no seu coração. Ela não podia atirar a primeira pedra.

    'Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês'.

    Mateus 7: 1- 2
    Um abraço para você

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    1. Moacir Pimentel02/12/2017, 10:01

      Flávia,
      Você muito me alegrou com esse seu comentário. Parodiando o poetinha: se todos acreditassem igual a você, que maravilha viver! Philomena não queria caçar as suas bruxas nem
      lançá-las na fogueira: queria a verdade.
      Não vou me alongar na resposta para evitar mais spoilers mas também acredito que não basta prover e educar. Precisamos, acima de tudo, respeitar nossos filhos. Há que aprender com os que vieram antes e com os que continuarão depois de nós, nessa corrente inquebrantável cujo nome é vida. Por isso, porque não é a ordem natural das coisas, para tantos é insuportável “arrumar o quarto do filho que já morreu”. Felizes os que tiveram bisas, avós e tios e pais presentes e amorosos – biológicos ou adotivos - árvores frondosas sob cujas copas ouviram as histórias de como viver melhor e sob cuja sombra puderam caminhar.
      De alguma forma para Anthony Lee o sangue falou mais alto e ele manteve um vínculo com a terra natal, com a jovem mãe que o amamentara e amara por três anos e de quem fora brutalmente afastado. Mas essa será a próxima conversa.
      Outro abraço para você

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  4. Márcio P. Rocha01/12/2017, 18:44

    Muito bom. A associação que você estabelece entre a repressão sexual feminina na Irlanda na década 50 com a homofobia nos Estados Unidos nos anos 80 é pertinente. Como é improvável que a expansão dos direitos das mulheres e dos gays conquistados nas últimas décadas seja revertida. Pelo contrário, a tendência é que a luta pela igualdade dos sexos e uma maior tolerância para a diversidade sexual continue. As religiões que se recusarem a caminhar para frente nos novos tempos só perderão com sua obstinação. Isto significa que o fim delas será lento mas inexorável e a continuar como temos tido notícias, 'que a terra lhes seja leve'.

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    1. Moacir Pimentel02/12/2017, 10:04

      Márcio,
      No fundo talvez eu seja um agnóstico doido para que me provem que Deus existe (rsrs) Diante da doença, das perdas, das injustiças, quando nada faz sentido, a fé é capaz sim de ajudar na cicatrização das feridas. Deve ser muito bom saber e ter para quem rezar.
      Philomena ilustra essa minha tradução: aos oitenta e dois anos está lúcida e sã, uma cidadã irrepreensível, mulher, mãe e profissional realizada, prestando serviços comunitários com o coração disponível para a vida, perdoando, mantendo a sua fé. Não creio que essa senhora teria superado tão valentemente suas tragédias se não tivesse, pela estrada afora, acendido aquelas velas. Obrigado por participar.

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  5. 1) Como se dizia antigamente lá no meu querido Gama, DF:

    2)Philomena é um filmaço !

    3)E hoje eu digo, a apreciação de Moacir sobre o citado filme é um fenômeno de bom !

    4)Bom fim de semana para todos (as).

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    1. Moacir Pimentel02/12/2017, 10:11

      Antonioji,
      Que Philomena é um filmaço eu não discuto! Mas o “fenômeno” aí é controverso. Porque todas as coisas que descrevemos por aqui – e inclua as matemáticas budista e cubista nessa! – nada tem de fenomenais são apenas passos das nossas andanças, esquinas das nossas estradas, depoimentos do que somos, retalhos da nossa visão do mundo, dos homens e dos deuses e graçasadeus que enxergamos as coisas diferentemente desse e daquele jeito. Senão essa conversa ia ser uma chatice.
      “Gratidão” e namastê!

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  6. Alexandre Sampaio02/12/2017, 00:35

    Pimentel,
    O filme é mesmo muito mais do que só um drama anticlerical, mas para quem como eu ainda é católico, Philomena oferece a oportunidade de refletir sobre como fica cada vez mais difícil acreditar e explicar porque precisamos do cristianismo para nos lembrar que existe uma alternativa espiritual numa sociedade onde a gratificação instantânea, a ganância e o sucesso material se tornaram a medida do valor de uma pessoa. Infelizmente as lideranças da Igreja vem perdendo a autoridade moral para opinar sobre as grandes questões. Foram se tornando irrelevantes como força cultural e social porque priorizam doutrinas ultrapassadas em vez das pessoas e suas necessidades, como é o caso da condenação do divórcio, dos gays, do uso de preservativos e do controle da natalidade. Não é fácil para mim reconhecer que milhares de mulheres e bebês irlandeses e crianças de todo o mundo sofreram abusos nas mãos da Igreja Católica. Mas não sou cego nem surdo e sei que ela tem falhado nos testes mais básicos de decência e de humanidade e se tornado especialista em ilusionismo, negação e hipocrisia. É triste acompanhar os Papas pedindo desculpas nas catedrais sem resolver nada na prática e os fieis em debandada. Até o Papa Bento desceu da Cruz!
    Os seus artigos têm muito mérito porque fazem pensar. Obrigado.

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    1. Moacir Pimentel02/12/2017, 12:06

      Sampaio,
      Muito obrigado por esse importante e belo comentário que resume a angústia do homem moderno para quem contaram e continuam contando muitas mentiras. Só que a mente humana inventou a ciência e ela reescreveu a história que diferiu e muito da poesia bíblica, do bom senso e da informação hoje disponível.
      No entanto ele não consegue se livrar do cérebro programado para procurar e achar significado e sentido, daquilo que, na falta de melhores palavras, defino como fome de espiritualidade. Não importa que ele durma com a mulher da vida dele na cama que escolheu, que sua semente tenha gerado belos frutos cujas sementes também já germinaram, que as contas estejam pagas e o último check-up tenha sido beleza. Como dizem os franceses "il y a quelque chose qui manque".
      O que a nossa espécie tem feito desde que ficou de pé, passou a abstrair e a enterrar os seus mortos é cogitar se ISSO que falta, que angustia, que impulsiona, que pinta o sete, que deseja sempre mais não se sabe o quê, essa força estranha que empurra para frente, para além de tão evidentes limites ...não seria deus?
      Agora eu não entendo porque se perde tanto tempo batizando deus, discutindo qual deus é mais deus, se o meu ou se o seu, entre outras bobices. Como Pessoa eu imagino um deus sem teto, sem saco para conversar sobre pecado, dogmas e darmas, sem poesia institucionalizada.
      “Um dia que Deus estava a dormir / E o Espírito Santo andava a voar, /Ele foi à caixa dos milagres e roubou três. / Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido. /Com o segundo criou-se eternamente humano e menino./ Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz/ E deixou-o pregado na cruz que há no céu E serve de modelo às outras. / Depois fugiu para o sol / E desceu pelo primeiro raio que apanhou.”
      Alberto Caeiro
      Um grande abraço

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  7. Olá Moacir,
    Adoro conhecer você e sua urticária literária crônica!
    Até o próximo.

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    1. Moacir Pimentel02/12/2017, 12:09

      Caríssima Donana
      A recípocra é verdadeira e, portanto, se eu soubesse rezar, rezaria todo dia para que essa erupção cutânea que só se cura no teclado, acometesse uma vez por semana uma certa artista e que , de quebra, um certo Editorialista fosse também por ela contagiado (rsrs)
      “Até mais”

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