-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

07/05/2018

Olhem bem as montanhas (sobre A nossa Cantareira)

Vista do alto da Serra do Gandarela na direção do Pico de Itabira (fotografia WBJ)


Moacir Pimentel
O nome já diz tudo: minas gerais. Pois é. Quem defende o sistema capitalista - e, por favor, me inclua na turma - argumenta que as liberdades, o individualismo, a democracia, os livres mercado e iniciativa, a criatividade, a produtividade, o crescimento econômico e a riqueza podem ser mais facilmente alcançados através dele. Por outro lado, mesmo os seus mais ferrenhos defensores, não negam que num sistema voltado para a competição e o lucro, há SIM alguns problemas éticos, como a desigualdade entre ricos e pobres, os monopólios, a exploração desvairada etc. O problema é que mesmo com os mais suaves tons de cinza, no nosso mundinho preto e branco, qualquer questão que não ecoe os slogans dos pensamentos únicos dos dois lados do faroeste - como seria o caso de uma discussão sobre um capitalismo mais ético! - em vez de morrer no tiroteio, nasce morta. E é aí que mora o perigo.
Pois se não formos capazes dessa conversa vamos continuar extraindo valor de nossas terras sem agregar mais nada, em vez de construir uma economia sustentável na qual as pessoas e a natureza sejam prioridades. Se o melhor sistema econômico da história deste mundo, construído sobre o lucro e a concorrência, não puder ser melhor utilizado para o bem das pessoas, se continuarmos consumindo cada vez mais produtos do que a nossa consciência moral deveria permitir, a consequência de nossas transações, em um processo de produção interminável que sempre resulta em excesso, será, é claro, o esgotamento de recursos. Pegando uma carona no comentário do Flávio Bortolotto no post anterior que serviu de trampolim para este, os princípios éticos que enfatizam os nossos direitos e responsabilidades recíprocas há muito tempo caracterizam as sociedades humanas: não deveríamos roubar o futuro, matar o futuro nem fazer às futuras gerações o que não gostaríamos que fizessem conosco.
Então, focando no excelente post sobre o Gandarela, tem razão o Paulo André Barros Mendes: “São todos uns farsantes”. Eu tinha um amigo, mineiro por opção, que há décadas atrás já falava de uma campanha aí nas Gerais de nome “Olhe bem as montanhas!” porque elas estavam desaparecendo. Ele dizia que mesmo a Serra do Curral – a moldura de Belo Horizonte – que parecia inteira quando vista da cidade, do outro lado, na face invisível das montanhas, tinha seus vales e campos tragados por imensas crateras. Ele era jipeiro, trilheiro, praticava enduro, ‘sestrem', conhecia Bento Rodrigues e dividia o medo com a gente do vilarejo. Quando da ruptura da barragem de Mariana ele esteve lá, viu a tragédia de perto e desesperou-se porque aquilo não foi fatalidade mas crime: vidas, histórias, lembranças, vivências, tudo ainda jaz sob um mar de lama. Nem o sino da igrejinha dobrou por eles. Ler que o que aconteceu com o Rio Doce pode se repetir com o Rio das Velhas me dá uma imensa tristeza e a certeza de que estamos paralisados e tramados e de que os nossos netos jamais vivenciarão a paz dos povoados onde se planta pimenta cabinho para fazer geleia e onde se come carne assada nas calçadas...


19 comentários:

  1. Mônica Silva07/05/2018, 11:16

    Não dá mais pra conversar ‘sestrem', Moacir. Só dá briga. No trabalho, no social, até em família cansei de perder amigos. Estamos num buraco negro da racionalidade onde a atmosfera é irrespirável. Não tenho vergonha de dizer que meio que me alienei do lamaçal. Tenho evitado as redes e além do blog Conversas só acompanho um outro sobre Direito. Descer até a esgotosfera pra ler realidades paralelas, ofensas e os palavrões de todos os lados? Fala sério! Melhor é ligar o modo rivotril, assistir a programação irreal da Globo e reciclar o lixo antes de dormir o meu sono da beleza.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moacir Pimentel09/05/2018, 10:06

      Mônica,
      Você me lembrou da minha saudosa mãe dizendo: “Quero lá ter razão! Prefiro ser feliz!” (rsrs) Como você penso que as “narrativas” e as redações não podem mudar a realidade. Cancelei recentemente assinaturas de revistas porque o conteúdo interno não endossava o tabloidismo externo mas não abro mão de um jornalzinho online (rsrs) Nada a ver subir em banquinho, dar murro em mesa e levantar bandeira virtuais em caixa de comentário. Concordo que a falta de respeito - e de auto respeito! - é generalizada e que nesse nosso mundinho patrulhado, qualquer questão aparentemente desafiadora – mesmo sobre a arte! - conduz inexoravelmente à conclusão de que quem questiona pertence à facção inimiga, ao outro lado e , em si , funciona como uma espécie de gatilho orientando quem responde a atacar soltando o grito tribal:
      FORA ******* ! (rsrs)
      Mas ainda assim acredito em conversa e milito no time dos que insistem que a cognição, a análise dos fatos, o livre pensamento e a sua expressão, a crítica, a LEI, os limites e as correções de rumo NÃO são crimes de lesa pátria e/ou contra a humanidade.
      Portanto e apesar de tudo isso "Olhe Bem Para as Montanhas" nessa belíssima foto do Wilson! Não dá para ficar calado e/ou deixar o teclado sossegado sabendo que estão sendo destruídas e que , à beira delas, tem gente engolindo lama e lama engolindo gente.
      E last but not least: senti falta dos “kkks”
      Obrigado!” e abração

      Excluir
  2. Flávia de Barros07/05/2018, 11:23


    Moacir,

    É muito triste. O Papa Francisco sempre pede aos líderes e empresários para garantir que a humanidade seja ‘servida pela riqueza e não governada por ela’. Mas tem sido em vão porque o que vemos nos noticiários não é o combate a pobreza nem a conservação do meio ambiente mas um descaso criminoso. São pessoas longe de suas terras, de cidadezinhas como Bento Rodrigues, privadas de seu sustento e da dignidade humana. Gente fugindo da fome e da guerra, indo para países estranhos e cidades grandes viver em acampamentos dependendo da distribuição de bondades oficiais de quinta e da solidariedade humana. Mas eu acredito que há salvação mesmo nos momento em que os sinos não dobram.

    Receba um abraço carinhoso e minhas orações

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moacir Pimentel09/05/2018, 10:15

      Flávia,
      Muito antes de Francisco e nas escrituras hebraicas - a fonte da qual beberam todos os povos do Livro - o papel da nossa espécie, no convívio com a natureza, não é a dominação mas o equilíbrio. Sim, vivemos tempos complicados, tudo isso é trágico mas ainda há beleza em nossas tragédias. Estamos, pelo menos, livres de algumas das nossas ilusões: hoje sabemos que é difícil ter paz pessoal à custa da miséria e/ ou rodeados por injustiça social e que não é possível erguer uma escadinha particular para o céu deixando o projeto humano no inferno. Vamos em frente tentando não desacreditar que, sabe-se lá quando e a que preço, um dia teremos um mundo melhor para chamar de todos. Além do abraço, hoje mando-lhe uma prece nos versos de um poema do Drummond - Confidência do Itabirano - uma foto de um lugar onde costumava ir nos tempos de eu menino...
      “Alguns anos vivi em Itabira.
      Principalmente nasci em Itabira.
      Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
      (....)
      De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
      esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
      este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
      este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
      este orgulho, esta cabeça baixa...
      (....)
      Itabira é apenas uma fotografia na parede.
      Mas como dói!”

      Excluir
  3. Wilson Baptista Junior07/05/2018, 17:29

    Obrigado pelo complemento tão importante ao post anterior. Me lembro bem do "Olhe bem as montanhas"; quando nos casamos, já lá vão quarenta e sete anos, das janelas do nosso apartamento da rua Pium-i se viam, de perto e lindas, o paredão verde e a crista de pedras intocadas da Serra do Curral desde o alto do Pico de Belo Horizonte (que todo o mundo chamava mesmo de Pico do Curral) até o seu ponto mais alto na direção da saída da estrada para o Rio de Janeiro, que na época era a BR-3 imortalizada pela voz do Toni Tornado. Depois fomos vendo a mineração rebaixando metade de serra à direita do pico; e depois ainda foi que vi, voando por cima, o estrago enorme da encosta oposta, do lado de Nova Lima, que destruiu o caminho lindo de mata e ribeirão que ia da descida do pico até dentro da cidadezinha onde havia a mina de ouro do Morro Velho e deixou no lugar dele um buraco de quase duzentos metros de profundidade.
    Muitas décadas antes, já o velho presidente Artur Bernardes tinha dado o alerta hoje
    Ainda mais atual dizendo que "minério não dá duas safras", e que infelizmente nunca penetra a obtusidade e a sofreguidão dos prefeitos que veem apenas a prosperidade momentânea e os (magros) impostos arrecadados pelos municípios onde as mineradoras se estabelecem, e deixam para vinte ou trinta anos depois o futuro sob a forma dos enormes buracos, o solo destruído e o desemprego que inevitavelmente sucedem aos sonhos dourados que vendem aos seus eleitores e ao minério vendido lá fora a preço de banana para ser depois recomprado a peso de ouro sob a forma de aço e produtos industrializados que poderiam ter sido feitos aqui mesmo. Pudessem eles todos ter sempre frente aos olhos a imagem da voragem deixada detrás da minha serra querida...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moacir Pimentel09/05/2018, 10:29

      Wilson,
      Quem agradece sou eu, primeiro por você ter colocado na roda um assunto tão importante e segundo por ter transformado em post um comentário que teclei sobre as suas lindas serras. Que conheço desde muito criança quando visitava amigos mineirins ou atravessava as Gerais, de ônibus, Kombi, Rural e depois Caravan à caminho ou de retorno das férias nordestinas, vendo as belas paisagens emolduradas pelas montanhas. É assim ondulada e montanhosa como você a clicou que lembro de Minas e que desejo, com vontade absoluta, poder continuar a vê-la : uma terra que não tem fim nas montanhas, que ama Portugal sem saber sequer que ele existe, que enche meu velho coração capiau de nostalgia.
      Portanto ler que das muitíssimas barragens de rejeitos de mineração - cada uma mais precária do que a outra - a montante de pequenos povoados no centro de Minas pode escorrer, dessa feita para o Rio das Velhas, a mesma imundície tóxica que acabou com Bento Rodrigues e o Rio Doce é chocante pois sabemos que aqueles resíduos poderiam ter sofrido um processamento qualquer, que havia alternativas menos arriscadas do que a estocagem mas que é simplesmente mais barato aproveitar um vale natural, construir um paredão, e jogar a porcaria lá dentro e dane-se o resto!
      Não tive tempo para me aprofundar na matéria - por exemplo , não li nada ainda sobre o Marco Regulatório - porém no seu belo comentário me chamaram atenção colocações que apontam o dedo para a reprimarização das exportações e para a dependência do minério quando você cita o “ desemprego quando finda o sonho dourado”. Apesar de leigo tanto certeza de que a tranquerada não precisa causar destruição, que devem existir melhores práticas ambientais como o reaproveitamento dos rejeitos e a criação de indústrias não poluentes para emprego da mão de obra local. Eu gostaria de continuar lendo, nas Conversas, sobre o que se pode efetivamente fazer para se não solucionar, minimizar o problema.
      Abraço

      Excluir
  4. Francisco Bendl07/05/2018, 18:44

    Fugindo um pouco de suas características, Pimentel nos brinda hoje com um artigo de cunho político, logo, a conclusão que todos nós chegaremos será unânime:
    Repúdio absoluto pelo que os parlamentares fazem contra o país e povo!

    O episódio que devastou o rio Doce e matou quase trinta pessoas na localidade de Bento Rodrigues, Mariana, MG, em 2015, simplesmente foi a demonstração cabal do descaso dos governos com o cidadão e o meio ambiente.

    Não existem os punidos, as responsabilidades apuradas devidamente, nenhuma obra de recomposição do solo e do rio.
    A situação está ao abandono total, e circunstâncias muito semelhantes em outras contenções do Estado mineiro encontram-se na iminência de rompimento!

    Por essas e outras que os artigos sobre arte, narrativas, crônicas, os textos da Ana, causam nos leitores e articulistas deste blog extraordinário, admiração e respeito.
    E não poderia ser diferente, haja vista que os assuntos são agradáveis, informativos, culturais, e expandem nossos conhecimentos sobremaneira.

    Agora, paradoxalmente, apesar de a política nos trazer desconforto quando abordada, ela se faz necessária – ainda mais quando não for partidária, como neste caso – para que nos atualizemos como povo e cidadãos a respeito do quanto somos desprezados pelas autoridades, e como desconsideram a natureza, o planeta, a água, que simplesmente é vida!

    Enfim, a devastação do solo brasileiro é incontestável, pois além desses crimes ambientais, temos também as queimadas de florestas no Pará e Amazonas, a derrubada de árvores de madeira nobre, afora o garimpo, que serve para envenenar os arroios e córregos onde estão localizados.

    Providências?
    Nenhuma.

    Interessante e contundente artigo, Pimentel, que me incluo nesse protesto veemente contra os atentados à natureza, ao solo nacional e à vida do brasileiro, em consequência.

    Um forte abraço.
    Saúde e paz.


    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moacir Pimentel09/05/2018, 10:39

      Chicão,
      Muito obrigado pelo comentário. Assino embaixo da sua tradução da lama que cobre Bento Rodrigues e mata o Rio Doce como uma, digamos, consubstanciação do país e/ ou do porquê chegamos aonde chegamos. Mas pessoas como você, o Wilson, a caríssima Donana, o Bertolotto, o Antonio, o Mestre Heraldo, o Domingos, o Paulo, os nossos comentaristas também são um Brasil que investe tempo lendo, energia escrevendo e esperança participando como cidadãos, profissionais e/ou com trabalho voluntário na construção do futuro. Estamos fazendo o nosso melhor e o que mais se pode pedir a homens e mulheres de boa vontade? A solução para o caos brasileiro está em nós, no povo, nos empreendedores e trabalhadores de todas as classes e cores, nos filhos que educamos, nos netos que eles estão educando para acreditar em competência e vergonha na cara e exigir resultados, em vez de eleger “promessas”.
      Abração, saúde e paz

      Excluir
  5. Márcio P. Rocha07/05/2018, 21:12

    Muito bom. Há mais de 40 anos caiu a minha ficha que a contraposição à presença do estado babá e provedor, este monstro devorador de riquezas que é pai da preguiça e da corrupção, é a economia de mercado. O que não inibe a lei nem prescinde de uma regulação das atividades econômicas. Ao contrário. Ao se ter regras claras, definidas e estáveis, um vigoroso combate à corrupção e uma fiscalização não aparelhada se alcança o progresso e o bem geral.
    Criticar empresas privadas que têm responsabilidade social, ou deveriam ter, não é dar razão à estatização. Criticar os poderosos corrompidos não é assinar embaixo do capitalismo famélico, predatório e monopolista. É obrigação da cidadania tanto combater as desigualdades quanto defender um capitalismo mais ético e um desenvolvimento mais sustentável.O problema é que sempre metem o louco no meio do debate e muita água contaminada ainda vai correr por debaixo das pontes e muitas serras ainda serão desfiguradas até que se entenda que é preciso ter o bom senso de ajustar o foco da economia não só para o crescimento mas para a inclusão e o sustento.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moacir Pimentel09/05/2018, 10:43

      Márcio,
      Beleza de comentário! Confesso que tive de googlar para entender o significado de "meter o louco no meio" : fazer de conta que não se entende nada a não ser os próprios interesses (rsrs) É isso mesmo e, se é que traduzi corretamente, sem qualquer reparo. Obrigadíssimo por participar.

      Excluir
  6. Flávio José Bortolotto07/05/2018, 22:07

    Prezado Autor Sr. MOACIR PIMENTEL,

    Sou também defensor do Capitalismo Bem Regulado sem excesso de Regulações, por ser de longe o mais Produtivo. Lhe Parabenizo por chamar atenção das Empresas, principalmente Mineradoras, para que cumpram ao pé da letra nossa boa Legislação Ambiental.

    Admiro esse Escritor excelente e corajoso, Sr. MOACIR PIMENTEL, que ainda muito Jovem pegou a mochila e conheceu boa parte da Índia, Sudeste Asiático, África e logicamente a Europa, especialmente a Itália (Toscana) e Portugal, etc.
    Em muitas dessas partes a Natureza foi bastante 'desgastada" como nas "Gerais", mas em muitas partes também foi reconstruída até mais linda do que era originalmente. É o que devemos fazer.

    Temos que legar a nossos Filhos um Mundo mais Capitalizado, e uma Natureza mais bem cuidada do que recebemos. É possível.

    Abração.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moacir Pimentel09/05/2018, 10:49

      Prezado Flávio Bertolotto,
      O equilíbrio confuciano já dialogava com os modernos conceitos de vida sustentável e velho Aristóteles já acreditava na máxima do " nada em excesso". A civilização humana tem todas as ferramentas morais de que necessita para fazer este debate sobre direito/responsabilidade, os princípios éticos básicos que exigem que as pessoas considerem as consequências de suas ações tanto para seus semelhantes quanto para o ambiente. Sim, é possível deixar um país melhor para os nossos descendentes mas para tanto é mister se ter urgentemente alfabetização política, sensibilidade social, capacidade de questionamento e de crítica. Enfim: educação. Quem como nós almeja liberdade e bem-estar para todos sabe que o passaporte para esse país desconhecido é a eficiência/produtividade. Como nada disso se consegue de repente o caminho será longo e sem asfalto e nele teremos que, como no filme, encolher o Estado! (rsrs) Tomara que nossos netinhos façam a festa por nós!
      Obrigado e abração

      Excluir
  7. Alexandre Sampaio08/05/2018, 08:41

    Você tem razão. A anestesia toma conta de nós. A vida passou a ser irrelevante. Estamos nos acostumando com o pior em qualquer tema. Mata-se um ser humano por um celular? Todos os dias. Agride-se uma mulher, moral e fisicamente? Traço cultural. Crianças morrem de balas perdidas? Faz parte da vida. Uma cidade pode ser totalmente tragada por um mar de lama? Impunemente. A corrupção sempre existirá ? Normal. É da natureza humana querer levar vantagem. Digo isto não para menosprezar o artigo que é excelente, ou detonar o sistema que é o menos pior, mas para demonstrar o quanto tudo isso passou a ser considerado natural e inevitável. Se o mundo, o sistema, o país e o povo são assim mesmo e não tem solução, vale tudo e salve-se quem puder. Há momentos em que eu odeio ser brasileiro. Já vi este filme. Morremos no final.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moacir Pimentel09/05/2018, 11:04

      Sampaio,
      Aqui entre nós e baixinho só consigo ficar deprê e paralisado praí umas quarenta e oito horas. Depois me dá um tédio imeeeenso e o jeito é sacudir a poeira (...) Já não me lembro que sábio homem dizia que: “Se você está passando pelo inferno, pelamordedeus, não pare! Pois é, pode até piorar antes de melhorar mas vai passar. Já foram superadas catástrofes, misérias e sacanagens maiores. Além disso já somos bem crescidinhos para acreditar no “inevitável”, com exceção da Velha Senhora. So sorry mas recuso-me a ter uma visão de uma humanidade estática, já exaurida da capacidade de inovar e criar. Isso é, na minha opinião, esquecer que nós, os bichos homem, ficamos de pé, saímos das cavernas, inventamos as linguagens, a religião, a medicina, a lógica , a filosofia, a sociedade , o Estado, o governo, a economia, a ciência, a democracia e todo o resto. Se as nossas invenções deixam de servir-nos a contento, em seguida, os nossos melhores esforços devem ser no sentido de aprimorá-las em vez de jogar a toalha e desistir das nossas raízes e sementes.
      Obrigado e abração

      Excluir
  8. Olá Moacir,
    Belo post comentário!
    E como o Mano disse é desolador da janela olhar as montanhas cortadas, descascadas, feridas de morte. Nem consigo imaginar o que não vejo mas já sinto os resultados. Deve ser muito maior do que ouvimos na mídia. Ainda bem que a temos!
    Resignação é uma palavra terrível. Melhor mesmo é indignação maciça numa época sem heróis.
    Até sempre mais.

    ResponderExcluir
  9. Em tempo?
    Fantásticos os comentário que seu post despertou.
    Parabéns a voce e aos seus leitores, Mônica, Flávia, meu querido Francisco Bendl, Flávio Bertolotto, Mãrcio e lógico, Mano querido.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moacir Pimentel09/05/2018, 11:12

      Caríssima Donana,
      Resignação jamais e indignação sempre mas , por favor, sem perder a graça, o espírito e a arte (rsrs) Escreva, pinte, desenhe, use as fotos do Sr Editor mas nos mostre Minas. Porque só avalia a extensão desse crime quem conhece o interior das Gerais, quem já escutou o povo “conversano”, “falano” que vai ali no “passeio” mas “vorta correno”. Quem entende o jeito mineiro de ser, quem saca que “trem” é tudo e mais, que as montanhas não impedem a visão mas aguçam a necessidade de saber-se do outro lado. Sem notícias de lá, sem o Manuel Audaz, quem vai se alevantar nesses tempos sem heróis?
      Quero ler da sua lavra sobre esse lugar perfeito para a gente ser o que é, com simplicidade, em paz, sem pressa, “escolheno” a linguiça defumada em cima do fogão à lenha, “comeno” em pratos de beiradas lascadas muito torresmo, mexidão e leitãozinho a pururuca e depois “ducindileite”. Enquanto se vai “tomano” com os companheiros de “golo”, cachaça da boa ou “traçado” – qualquer uma misturada com Martini ou conhaque - nas madrugadas frias. E na manhã seguinte embarcar ressacado em busca da próxima parada, que certamente será desviada do roteiro original. Pois sobra poeira e falta cerveja e sem ela não há caminho para se ir "aprendendo ou mais , tentando". Dia desses me apareceu o Gullar:
      "Uma parte de mim
      é só vertigem:
      outra parte,
      linguagem.
      Traduzir uma parte
      na outra parte
      – que é uma questão
      de vida ou morte –
      será arte? "
      Até sempre mais “reinações"

      Excluir
  10. 1) Um belo artigo sobre um quadro tétrico que vai devastando ecologicamente o nosso querido Brasil.

    2)Infelizmente a curto e médio prazo não vejo solução. O País está esvaindo-se em corrupção.

    3)Os próximos eleitos não poderão fazer milagres.

    4)Pimentel escreveu um artigo de grande importância.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moacir Pimentel09/05/2018, 11:22

      Antonioji,
      A coisa está mesmo preta. “É pau, é pedra, é o fim da picada, é a lama, é a lama”. Mas acontece que Dona História nos ensina que o novo também rola em meio às crises mais sombrias e que a luz se dá da forma mais inesperada e inexplicável. Nasce da vontade ancestral da sociedade de se reerguer da lama e resgatar a dignidade na política. O que me faz lembrar das manifestações de 2013: milhões de brasileiros saídos de repente da web gritando que queriam transporte, segurança, escolas e hospitais padrão FIFA e abaixo a corrupção! Ou seja, o mal também pode gerar o bem já que só se almeja o que não se tem. Muito do que já foi impensável e impossível, tornou-se realidade. Se nos dissessem há cinco anos os nomes dos caciques ladravazes que hoje estão atrás das grades, quem acreditaria? Como canta, outra vez, o grande Tom, às vezes “fica tão frio que amanhece”.
      Namastê!

      Excluir

Para comentar, por favor escolha a opção "Nome / URL" e entre com seu nome.
A URL pode ser deixada em branco.
Comentários anônimos não serão exibidos.