Georges Braque - Le Viaduc de L'Estaque (1908) |
Moacir Pimentel
A paternidade do cubismo e qual dentre tantas obras cubistas teria sido
a primogênita provocam acaloradas discussões. A escritora Gertrude Stein jurava
de pés juntos que teriam sido umas paisagens feitas por Picasso. No entanto a
primeira exposição coletiva organizada pelos cubistas - que ocorreu no Salon
des Indépendants de Paris durante a primavera de 1911 - incluiu apenas telas de
Jean Metzinger, Albert Gleizes, Fernand Léger, Robert Delaunay e Henri Le
Fauconnier. Picasso e Braque não foram à festa.
Já Matisse discordava veementemente de quem acreditava haver tinta
espanhola no parto do cubismo, sendo de opinião que o movimento não começara nem
mesmo com as proto-cubistas Demoiselles d’Avignon de Picasso mas com uma
paisagem, ou melhor com as casas acima do Viaduto do Estaque que Georges Braque
pintara em 1908, na tela que abre o post.
Eu peço vênia aos doutos para apostar minhas fichas em Cézanne e dizer que, na minha modesta opinião, os primórdios do
cubismo estão em onze telas a óleo e em dezesseis aquarelas das
pedreiras de Bibémus, cujas pedras alvas são tão características de tantos monumentos
e construções erguidos nos séculos XVII e XVIII na cidade francesa de
Aix-en-Provence.
Quando o grande Cézanne pintou as pedreiras elas já estavam praticamente
abandonadas. O pintor alugou nas proximidades uma cabana onde guardava suas
telas e tintas e até mesmo dormia, se preciso fosse, durante a empreitada.
Paul Cézanne - La carrière de Bibémus (1900) |
Uma dessas obras é a Pedreira Bibémus, aí em
cima, que hoje mora no Museu Folkwang de Essen, na Alemanha. Essa composição em
esquemas geométricos, foi pintada por Cézanne exatamente como ele recomendara
ao pintor Emile Bernard que fizesse, na famosa carta datada 15 de abril de
1904: “tratar a natureza através do
cilindro, da esfera, do cone à luz da perspectiva, a fim de que cada lado de um
objeto ou de um plano se dirija para um ponto central”.
Porém a maioria absoluta dos senhores historiadores de Arte
afirma que o cubismo nasceu em
uma linda praça que hoje se chama Emile Goudeau, em Montmartre. Enquanto não se decide quem foi o pai, pelo menos descobrimos
o berço do cubismo: o prédio conhecido como Bateau Lavoir.
Dizem que na virada dos séculos XIX e XX o predinho era um cortiço de madeira, escuro e sujo. Contam que nos dias de chuva
seus assoalhos e portas e janelas rangiam, lembrando o barulho dos pequenos
barcos-lavanderias, as barcaças de madeira divididas
em cubículos, que a Prefeitura de Paris cedia às lavadeiras para lavarem as
roupas de seus clientes à beira do rio Sena. Uma delas foi pintada por Renoir
em 1871.
Pierre Auguste Renoir - Bateau lavoir sur la Seine (1871) |
Daí o apelido de “Bateau
Lavoir”, ou Barco Lavanderia,
dado ao pardieiro pelo poeta Max Jacob, um de seus ilustres moradores. Na realidade,
o edifício era uma favela de pequenos ateliês, de cubículos de madeira, onde
tudo ficava úmido e/ou encharcado quando água se infiltrava pelas frestas das
tábuas nos dias chuvosos. Assim como as lavadeiras e suas roupas à beira do
Sena, naquela barcaça precária os pintores e suas obras também se molhavam.
Apesar das suas míseras condições - gelado no inverno e infernalmente quente no verão - no fim do século XIX vários artistas, escritores e atores, que
depois se tornariam célebres mas que então eram todos pobres de Jó, passaram a
morar e/ou instalaram os seus ateliês no Bateau Lavoir.
O prédio original foi destruído por um incêndio em
1970. Em 1978, quando o visitei pela última vez, fora recém restaurado e estava
sendo usado por artistas estrangeiros que lá trabalhavam durante o dia. Hoje,
entre as muitas coisas que mudaram em Montmartre nas últimas décadas, não se
pode mais entrar no Bateau.
Mas naquele pequeno edifício decadente nasceu a arte moderna das paletas
e das penas doidas de pedra de jovens artistas sem um tostão, muitas vezes
estrangeiros, mas com talento suficiente para reescrever a História da Arte. A leitura
das biografias de qualquer um dos artistas e poetas famosos que viveram no
Bateau Lavoir – Picasso, Modigliani, Braque, Juan Gris, Apollinaire etc - nos
dão uma boa ideia de como era a vida naquelas paragens: tanto a pobreza quanto
a criatividade eram extremas.
Em 1890 Maxime Maufra – o gravador e pintor de paisagens e marinhas por
vezes quase tão pontilhadas quanto as telas de Sisley e Pissarro - foi o
primeiro morador do predinho de apartamentos degradado.
Maxime Maufra - Soir, plage de Morgat (1902) |
Já o pintor holandês Kees van Dongen mudou-se para o precário endereço em
1900, foi contaminado pelas ideias fauvistas de Matisse, passou a trabalhar
conjuntamente com as “feras” Vlaminck e Derain mas ficou conhecido mesmo por
seus desenhos satíricos para o periódico Revue
Blanche, por suas cínicas observações a respeito do seu sucesso como pintor
das senhoras da alta sociedade...
“O essencial é alongar as mulheres e, especialmente, torná-las esbeltas.
Depois disso, só resta caprichar nas suas jóias e elas ficam arrebatadas. A
pintura é a mais bela das mentiras”.
E também por ter traído na obra comercial que desenvolveu na maturidade
- talvez sob a influência da companheira, a estilista de moda e amiga de
poderosos Lea Alvin - a promessa artística e o erotismo de seus primeiros
trabalhos.
Kees van Dongen - The torso, ou The idol (1905) |
Moraram no Bateau Lavoir os pintores Otto van Rees, Amedeo Modigliani, Juan Gris, Georges Braque e
Pablo Gargallo, os
poetas Guillaume
Apollinaire, Pierre Mac Orlan, André Salmon, Max Jacob e Pierre Reverdy.
Os artistas Henri Matisse, André Derain, Raoul Dufy, Marie Laurencin, Henri
Rousseau, Jean-Paul Laurens, Suzanne
Valadon, Maurice Utrillo, Jacques Lipchitz, María Blanchard, Jean Metzinger e Louis Marcoussis eram visitas constantes. E bem assim os
escritores e poetas Jean Cocteau, Gustave Coquiot,
Cremnitz, Paul Fort, André Warnod, Raymond Radiguet e Gertrude Stein, para não falar dos marchands Ambroise Vollard,
Clovis Sagot, Daniel-Henry
Kahnweiler e Berthe Weill.
Em 1904 o espanhol Pablo Picasso chegou ao Bateau-Lavoir de mala e
cuia e o cortiço serviu-lhe de moradia entre 1904 e 1909 e de atelier até 1912.
Foi lá que ele reagiu e criou a gravura Repasto Frugal depois de um período de
depressão pintando várias telas de mulheres azuladas, entre elas o famoso Nu
Azul, para o qual dizem que já teria posado uma bela modelo parisiense de nome Fernande
Olivier, que logo se tornaria a sua amada.
Pablo Picasso - Nu Azul (1902) |
Sobre o companheiro certa vez comentou Dora Maar, a mais perspicaz das
amantes de Picasso:
“Cinco fatores determinavam seu modo de vida e também o estilo dele: a
mulher por quem ele estava apaixonado, o poeta que no momento lhe servia de
catalisador, o lugar onde ele estava morando, o círculo de amigos que lhe fornecia
a admiração e a compreensão das quais ele nunca obtinha o suficiente e o cão
que era seu companheiro inseparável”.
Bem, no Bateau Lavoir parece que Picasso foi muito bem amado pela “bela
Fernande”, era vizinho dos mais brilhantes poetas e intelectuais do seu tempo
e, acima de tudo, em Montmartre ele era o sol ao redor do qual girava,
mediunizada, uma multidão de amigos e admiradores.
Portanto naquelas paragens uma grande energia criativa arrebatou o
artista que ali inventou e executou “em seguidinho” todas as telas do seu
Período Rosa - influenciado pelos trabalhos do seu ídolo Toulouse–Lautrec e
pela atração que o mestre Henri tivera pelo grotesco - enquanto ia com
frequência ao circo Médrano para estudar e fazer croquis das figuras dos
arlequins, saltimbancos e acrobatas e outros personagens do submundo de
Montmartre. Sob a
influência da arte ibérica e africana, bem como das ideias geométricas de Cézanne,
Picasso começou a simplificar os contornos de figuras e objetos nesse período
imediatamente pré cubista.
Mas o mundo mudava enquanto ele fazia experimentos com suas tintas no
Bateau Lavoir. Quando se estuda o clima intelectual no início do século XX, chega-se
à uma única conclusão: foi uma era de gênios só comparável com o Renascimento.
No epicentro dessas enormes transformações rolava o debate sobre
representação versus abstração. Na arte já era forte a oposição à figuração e à
perspectiva que ocupavam o centro do palco desde o Renascimento. Novos
desenvolvimentos em tecnologia como aviões, telegrafia sem fio e automóveis
estavam alterando a concepção de espaço e tempo. As imagens múltiplas na
cinematografia pioneira de Eadweard Muybridge e Étienne-Jules Marey permitiram
que o tempo fosse retratado em quadros sucessivos e, na ciência, os raios X renderizaram
o lado de dentro e o de fora, tornando o opaco transparente e a distinção entre
as dimensões borrada.
A radioatividade, com suas quantidades aparentemente ilimitadas de
energia, sugeria que o espaço estava cheio de raios alfa, beta, gama e X que
voavam em todas as direções. Ainda mais abstratamente, os matemáticos refletiam
sobre novas geometrias exóticas que poderiam ser representadas em mais de três
dimensões.
As pessoas ficaram especialmente fascinadas com a ideia de um espaço de
quatro dimensões pois tudo isso era discutido em jornais, revistas e nos cafés
de Montmartre, bem como em escritos filosóficos e matemáticos acessíveis. Esses
desenvolvimentos e o que eles significaram foram debatidos no Bateau Lavoir
entre os amigos conhecidos como “la bande
à Picasso” que se encontraram no ateliê do pintor, em cuja porta pendia um
cartaz com os dizeres “Rendezvous des
Poètes”.
Do grupo participavam poetas, escritores, pintores, escultores,
ocultistas, matemáticos e vanguardistas, como Alfred Jarry, um dos inspiradores
do surrealismo e do teatro do absurdo. As ideias estavam em ebulição e o desejo
de mudança era latente. Todas essas ideias ajudaram Picasso a libertar-se de
modos e meios e de pensamentos anteriores.
E enquanto o imigrante espanhol de vinte e cinco
anos anos criava suas cubices em um prédio caindo aos pedaços da colina
parisiense de Montmartre, o lar da anarquia e dos cabarés, os irmãos Wright
viajavam para a Europa para divulgar seus voos motorizados e Einstein espantava
o mundo com a sua Relatividade.
No outono de 1907 Picasso surpreendeu os amigos mais
próximos mostrando-lhes uma tela assombrosa, imensa e quadrada, diferente de
tudo que já fora pintado sobre a Terra, de nome “Bordel” que cometera sigilosamente e que ficaria conhecida como a maior
obra-prima da arte moderna, como a pintura que trouxe a arte para o século XX,
que inaugurou o movimento cubista, que revolucionou o mundo das artes e deu início
à modernidade nas tintas.
Considerando que à época muitos dos pintores e
intelectuais que rodeavam Picasso já tinham alcançado alguma notoriedade por
direito próprio e que todos eles, sem exceção, respeitavam a perspicácia
artística do espanhol, nenhum deles estava preparado para compreender o
conteúdo ou a experimentação formal do trabalho que emergiu do Bateau Lavoir naquele
mês de novembro.
Face ao manifesto horror expresso pelos companheiros diante do quadro
que deixou André Salmon “congelado e chocado”, o galerista
Ambroise Vollard e o crítico de arte Félix Fénélon “sem entender coisa alguma”, Matisse “ultrajado”, Braque “em choque”
e Derain convicto de que “uma bela manhã
ainda encontraremos Picasso pendurado pelo pescoço por trás de sua grande tela”, Picasso escondeu o
trabalho por quase uma década. Paris só conheceria esse Bordel em 1916.
Foi André Salmon quem rebatizou a obra como Les Demoiselles d’Avignon, ou As Senhoritas d’Avignon, numa alusão à
Calle Avignon - uma das ruas da zona de meretrício de Barcelona - supostamente
frequentada em um passado recente pelos “espanhóis” de Montmartre.
Não importa se a obra foi inspirada pelas visões
apocalípticas de São João na tela O Quinto Selo de outro Mestre – El
Greco! – se foi influenciada pelo Banho Turco de Ingres e pelas Banhistas e Dançarinas
de Derain.
El Greco - O Quinto Selo (1608-1614) / Dominique Ingres - Le Bain Turc (1862) / André Dérain - Les Danseuses (1906) / André Dérain - Les Baigneuses (1907) |
Há quem diga, inclusive, que as Senhoritas teriam
sido uma resposta anárquica ao ideal arcadiano de Henri Matisse, o principal
concorrente de Picasso, como expresso nos seus quadros A Alegria de Viver e O
Luxo.
Les Demoiselles contêm, sim, vestígios de Cézanne, El Greco, Gauguin,
Ingres, Derain e Matisse, entre outros, com a adição da pimenta de aspectos
conceituais da arte primitiva devidamente representados como geometria. A
tecnologia também desempenhou um papel no desenvolvimento da primeira cubice de
Picasso, através do uso hábil de fotografias como modelos para a pintura e do seu
interesse pela cinematografia.
O certo é que esse gênio conviveu durante quase um ano naquele estúdio
do Bateau Lavoir com a angústia do esforço criativo e escreveu, muito tempo
depois, sobre a “solidão inacreditável”
que sentiu ao pintar Les Demoiselles d'Avignon, uma obra na qual, apesar dos
avanços aparentemente revolucionários, ele realmente ampliou o trabalho dos
antigos e modernos mestres. Ah, se o Bateau Lavoir falasse! Quantas histórias
não teria para nos contar sobre essas Demoiselles d’Avignon.
Você poderia argumentar, inclusive, que As Senhoritas são, de fato, um
reload dos clichês do século XIX, das mulheres da vida, por exemplo, que se
escondiam nos interiores exóticos de Lautrec. No entanto Picasso sabia que
estava fazendo algo importante, uma obra revolucionária e que, como dizia Georges Braque...
“Não se imita aquilo que se quer
criar”.
A pergunta é: o que há de tão
novo, de tão radical sobre essa pintura?
A resposta virá em outra
conversa.
Fico frustrada porque quando estive em Montmartre ninguém me falou nada destas coisas que você conta. Gostaria de ter conhecido a Lavanderia, Moacir. Também fiquei surpresa de saber que a criatividade pode surgir assim na miséria, que os artistas pintaram molhados, com frio no inverno e no maior sufoco no verão. Pra eles a arte era como uma religião. Mas amei descobrir que quando olharam para o cubismo pela primeira vez todos esses gênios ficaram tão 'chocados' quanto eu kkk Quero muito entender deste riscado mas acho você vai ter que desenhar. Obrigada!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirNão fique injuriada com a empresa que a levou a Montmartre. Na verdade o Bateau é um predinho de nada, não mais que uma vitrine com fotos desbotadas em uma fachada modesta pintada de um verde sombrio. Você teria que descer a colina até a Rua Ravignan, para encontrá-lo em uma das laterais da pracinha, enfeitada por uma linda fonte Wallace. O Bateau não faz parte do agitado circuito turístico mas da parte residencial do bairro, onde os moradores mais idosos passam o tempo jogando conversa fora nas mesas dos cafés e as crianças brincam do lado de fora. Grande parte do fascínio da colina, na minha opinião, se esconde nessas paragens, nas escadarias estreitas, nos prédios baixos colados uns aos outros, nos lampiões, nas suas padarias e mercearias. Todos os cartões postais icônicos são ofuscados por esses recantos simpáticos e pacíficos frequentados pelos nativos.
Da próxima vez que visitar aquelas paragens recomendo que reserve um tempo para tomar um bom café expresso no terraço do bistrô Le Relais de la Butte em uma das esquinas da praça e curtir o seu ambiente tranquilo e descontraído com belas vistas.
Quanto à galera horrorizada aí diante das Senhoritas, quando o cubismo hardrock finalmente deu o ar da graça dele, já estava acostumada. Quanto a desenhar, não sou bom nisso, mas vou tentar so-le-trar, está bem?(rsrs)
“Obrigado!” e abração.
Moacir,
ResponderExcluirO que me encanta nos seus artigos é que posso ler e ver ao mesmo tempo. Assim é fácil aprender. Você escreve maravilhosamente mas é muito bom poder ir visualizando a imagem da barcaça que inspirou o apelido do cortiço pintada por Renoir, as obras de arte feitas no Bateau Lavoir e as que inspiraram as Demoiselles. Amo as fotos! Graças a você eu já sabia da admiração de Picasso por El Greco mas desconhecia a influência de Cézanne no Cubismo. Estou ansiosa para conhecer melhor as meninas que horrorizaram Montmartre.
Um abraço para você
Flávia,
ExcluirQue bom que você está olhando: em se tratando de arte ISSO é tudo!(rsrs) Sabe? Picasso certa vez declarou que Paul Cézanne fora “seu primeiro e único mestre”. O que é um evidente exagero. Mas um dos momentos definitivos para a virada e o olé do toureiro foi uma exposição retrospectiva de Cézanne realizada um ano após a morte do artista, em 1906. Foi depois de ser impactado pelo conjunto da obra do "professor", pelo modo como outro extraía o essencial da natureza, pela insistência de Cézanne em refazer o mundo de acordo com um sistema de formas básicas – que rimava com o objetivo de Picasso naquela época - que a influência do artista mais velho inundou as telas espanholas.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/df/Paul_C%C3%A9zanne_148.jpg
Como veremos mais adiante, Cézanne foi também responsável pela aproximação de Picasso e Georges Braque, fato que resultou na explosão do cubismo, em 1909.
Ao longo da evolução estilística de Picasso, nas sete décadas seguintes, ele continuou a pegar emprestado e reinterpretar a arte de Cézanne. No entanto esse gigante e, bem assim, o imenso Matisse merecerão, um dia, posts para chamar de seus fora dessa cubista “franquia”(rsrs) Então nada de spoilers. Quanto às "meninas" já estão a caminho.
Outro abraço para você
Muito bom. A mudança radical promovida na pintura em Montmartre teve a ver com a época e o ambiente e não somente com talento. Mozart só foi Mozart porque era filho de um músico e nasceu rodeado de instrumentos musicais. Acho que o pessoal intelectual do Bateau Lavoir, antenado sobre as transformações tecnológicas e culturais, funcionou tipo um think tank para Picasso.
ResponderExcluirGrande Márcio,
ExcluirNa testa! É exatamente isso que a galera do Bateau era : um “think tank” particular de Picasso sobre os mais variados temas e tendências. Nas pretinhas de Fernande Olivier isso fica claro: ali rolava uma conversa interminável, um entra e sai de cabeças pensantes invasivas, querendo discutir assuntos palpitantes e as últimas notícias e as tendências nas artes. Ela fala , inclusive, dos bilhetes que, caso o casal não estivesse em casa, eram rotineiramente deixados pregados na porta do ateliê combinando a hora da próxima discussão "para mudar o mundo" (rsrs) Você captou o espírito da confraria e disse tudo e tão bem que até fiquei com vontade de pegar emprestado o termo “think tank” para definir o Bateau em um futuro artigo. Obrigadíssimo por participar.
Prezado Autor Sr. MOACIR PIMENTEL,
ResponderExcluirAcompanho as duas Colegas acima, Sra/Srta s, MÔNICA SILVA e FLÁVIA DE BARROS, nos justos elogios a seu Artigo, e confesso como elas, que também morro de curiosidade para saber como se processou essa transição da Pintura Representativa Clássica, que vinha do Renascentismo, para a Pintura Abstrata, Surrealismo, Dadaísmo... e especialmente o Cubismo, acontecido na virada do Século XX, naquele Caldo de Cultura Artístico que foi o Bairro de Montmartre Paris-FR.
Que me lembre, nada de semelhante na Pintura aconteceu na virada do Século XXI, a não ser os boatos de que o bug do milênio, entre outras trapalhadas nas programações dos computadores, iriam zerar nossas Contas Bancárias, que horror, que horror.
Admiro muito também, a sagacidade do Marchand LÉO STEIN, irmão de GERTRUDES STEIN, dela própria que também comprou bastante, de mais alguns Investidores que antes de todo mundo souberam enxergar o futuro Valor destas Obras de Pintura Abstrata, especialmente o Cubismo, e compraram a preço de bananas aquilo que pouco depois iria valer Milhões.
Muito diferente foi o procedimento do famoso Marchand DORGUELÉS que levou a Praça Pública um burro, deu-lhe bastante ração e amarrou pincel em seu rabo para produzir Arte Abstrata, "e deu com os burros n´água". Hoje, as Pinturas Abstratas dos famosos Artistas valem Milhões, e as pinturas do burro não valem nada. E o pior é que eu a princípio, simpatizava mais com as idéias de DORGUELÉS, do que dos STEINS. O que nos ensina que não devemos a priori propor soluções simplíssimas para problemas complexos.
Abração.
Prezado Bortolloto,
ExcluirMuito obrigado por esse generoso e tão rico comentário. Espero que os próximos seis (!) artigos cubistas sejam capazes de ajudá-lo a responder alguns dos seus porquês e comos sobre a arte moderna (rsrs) Se bem que nas paragens artísticas sempre valeu e valerá o velho gosto ou não gosto. Com relação aos irmãos Stein - os mais vorazes colecionadores na Paris das primeiras décadas do século XX - dizem que Leo entendia mais de pintura que Gertrude mas o fato é que, quando os dois brigaram e dividiram a coleção, ele ficou com os Renoir e ela com os Picasso. Garota esperta!
Quanto à sua excelente menção ao asno impressionista, trata-se de uma anedota real que, no meu entender, resume o espírito irreverente de Montmartre. Dentre as suas várias versões boto mais fé naquela narrada pelo escritor André Salmon, nas suas memórias, porque ele era amigo tanto dos gregos quanto dos troianos e portanto isento. Peço sua licença para registrar a historinha na Conversa, está bem?
Ela começa com o bom Frédé, na realidade Fréderic Gérard, o proprietário do lendário cabaré e restaurante Le Lapin Agile, o point dos artistas e intelectuais do pedaço. Sem o “Père Frédé” creio que muitos pintores teriam morrido de fome antes de ficarem famosos (rsrs) Ele também era dono de um burrinho, o Lolo, muito querido no bairro.
Um belo dia de 1910, entra em cena o escritor Roland Dorgelès, um crítico ferrenho das novas formas de arte modernistas e um dos líderes da vida boêmia local na companhia de Apollinaire, Picasso, Modigliani, Mac Orlan, Carco e Max Jacob. Esse cara, que viria a ser uma figura de proa da cena literária francesa, juntamente com outros dois peraltas - o escritor André Warnod e o ilustrador Jules Depaquit – resolveu fazer Paris dar uma gargalhada geral. É que Dorgelès argumentava que, como seus amigos pintores não mais representavam a realidade, logo suas pinturas também não mais podiam ser avaliadas. Para defender tal argumento, na presença de um oficial de justiça, ele estendeu na rua defronte do Lapin uma grande lona previamente pintada de azul e verde em uma representação tosca do horizonte entre um céu e um mar. Então amarrou um pincel - mergulhado em tintas nos tons amarelo e vermelho! - no rabo do burro, passou a trotar sobre a lona subornado com suas guloseimas preferidas: cenouras e folhas de tabaco para estimular a força criativa. A cada porção ingerida o Lolo, feliz da vida, abanava o rabo e castigava a tela. Salmon descreve como Frédé gritou de entusiasmo ao descobrir que seu burro de estimação era um artista e como a cada vez que o Lolo rapidamente perdia a “inspiração” e deixava o rabo cair, ele tantalizava o bicho com novas iguarias(rsrs)
Continuo...
A obra de arte resultante da brincadeira foi devidamente creditada ao burrico pelo oficial de justiça, assinada por um certo jovem e desconhecido pintor italiano - Joachim Raphael Boronali - e exposta no Salon des Indépendants, com o título de Um Por do Sol no Adriático. Achando pouco os rapazes elaboraram um manifesto supostamente escrito por Boronali e o disponibilizaram para a imprensa especializada e para os críticos de arte – essa gente que padece de um desequilíbrio genético entre habilidades e ego! - lançando um novo “estilo”: o Excessivismo. E - pasme! - o "ismo" fez furor e o quadro conquistou sucesso de público e de crítica.
Excluirhttps://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/12/Boronali_Impression.jpg
Ninguém notou que a assinatura nada mais era do que um anagrama de Aliboron, o nome do asno de Jean Buridan, no paradoxo filosofal sobre o livre arbítrio, que nos conta como, estando o animal à mesma distância de uma pilha de feno e de um balde de água, incapaz de optar por um ou por outro, acabou por morrer de fome (rsrs) Mesmo tendo sido Aliboron , muito tempo depois, usado de empréstimo por Jean Fontaine em uma de suas fábulas.
Salmon jura de pé juntos que um colecionador comprou a obra por quatrocentos francos e que não se falava de outra coisa na cidade. E então Dorgelès foi até o jornal Le Matin munido das provas fotográficas do crime e da certidão de autoria e Lolo finalmente teve o merecido sucesso e foi publicado na primeira página!
Os cúmplices meliantes e os pintores vanguardistas comemoraram juntos bebendo no Lapin até o sol nascer. Todos concordaram que o trabalho não era tão ruim assim pois se podia distinguir aqui e ali na tela a “influência” do pintor e companheiro de copos Pierre Girieud que tinha dado suporte técnico à farsa “dirigindo” as pinceladas do rabo do bicho (rsrs)
Essa sátira ao filósofo medieval Jean Buridan e à pintura moderna faz parte do folclore do bairro e uma Praça Roland Dorgelès foi construída defronte do Lapin Agile para homenagear o mentor intelectual da presepada. A pracinha ainda está lá, na pacífica esquina das ruas Saint-Vincent e des Saules, encarando o belo vinhedo.
Abração
Pimentel,
ResponderExcluirA qualidade da sua escrita é invariável e seus textos sempre informativos. Hoje fiquei surpreendido de ver um trabalho feito por El Grego entre as obras de arte que inspiraram Picasso a pintar as famosas Demoiselles. Interessante.
Prezado Sampaio,
ExcluirMilito no time dos que acreditam que El Greco foi o primeiro dos pintores modernos. Como já escrevi sobre o tema - antes de você começar a acompanhar o Conversas – peço-lhe por favor que, quando lhe sobrar tempo, dê uma lida:
https://conversasdomano.blogspot.com/2017/02/rumo-modernidade.html
Muito obrigado e abração
Olá Moacir,
ResponderExcluirBenvindo mais uma vez com suas "pretinhas" fantásticas. Você ficará nessa eternidade finita de nós todos.
Também acho que o cubismo começou com Cézanne e suas montanhas se a gente quiser definir um início. Mas a origem mesmo do cubismo e, como você diz, todos os ismos, tem traços bem distantes nessa evolução artística. As sementinhas vão crescendo virando ramos e folhas e um dia...aparece uma bela árvore. Que também traz frutos com mais sementes. De repente, pensando não saber porque, o artista sente uma vontade estranha. E a comete!
Assim como na moda as cores do ano seguinte dependem do estoque. E com uma propaganda subliminar os industriais, comerciantes, marcas e modistas vão colocando em nós uma vontade desconhecida e irresistível de usar tal cor. E o mercado já está maduro! Aconteceu comigo. Acordei com um desejo enorme de usar amarelo a tal ponto de pegar uma camisa amarela da nora que morava na França, sem pedir. E saí cheia de mim vestida de ovo, camisa amarela e calça branca. E nem gosto tanto assim de amarelo. Só aí percebi que todo mundo estava com vontade "madura".
Uma dúvida: será que o artista sabe quando faz uma obra para ficar? Sua provável influência? Porque das influências sofridas certamente tem consciência.
Até sempre mais"
Caríssima Donana,
ExcluirÉ meio assustador imaginar que vivemos em uma caixinha de vidro à mercê de bilhões de estímulos subliminares que nos condicionam a sentir “vontades desconhecidas e irresistíveis”. Por outro lado faz bem à alma imaginar a senhora fantasiada de ovo ao lado do “Mano” com um tênis diferente em cada pé sous le ciel de Paris (rsrs)
Para a sua questão – “será que o artista sabe quando faz uma obra para ficar?” - provavelmente não há uma única resposta. Acho que para um artista de verdade a obra definitiva será sempre a seguinte. Porém , ali no Bateau, diante das Senhoritas o toureiro soube, sim, que tinha cometido o crime do século XX(rsrs)
Aliás, antes de responder sua pergunta eu teria que ser capaz de definir o que é arte, o que uma obra de arte “que fica”, ou seja, um trabalho que influencia tudo o que será feito depois e que passa a funcionar como um janela para tudo o que foi feito antes dele. Complicado! Creio que ISSO tem obrigação de possuir uma qualidade insondável, uma certa singularidade que o faça brilhar, por exemplo, entre milhares de outras peças menores em um museu. Mas na minha opinião uma obra prima não tem, necessariamente, que encapsular seu próprio tempo, transformar uma experiência pessoal em uma universal, ser tecnicamente excelente, psicologicamente envolvente ou ter sido vendida por zilhões de dólares no leilão da vez.
Para mim, obras- primas são aquelas que não se pode deixar para atrás. São as inevitáveis. A pintura de Picasso de uma dançarina anã, La Nana, é algo que jamais esquecerei, embora uma parte de mim bem que tenta (rsrs)
https://www.wikiart.org/en/pablo-picasso/nana-1901
Sim, tem a ver com a beleza e a fealdade – “the foul is fair and the fair is foul” - ambas visões profundas dos limites da vida, nos traduzindo a inconsistência entre a aparência e a realidade e que nada e ninguém é desprovido de padrões duplos.
O fato é que se um pintor ou um autor acerta na minha testa - @#$%&@!! - me sinto obrigado a procurar por outros trabalhos dele. E então é como se ficássemos amigos e conversássemos sobre a luta do espírito do homem contra os limites do mundo com imagens que têm a qualidade de sonhos culpados até que se entende que a arte não é sobre mudança, mas sobre a possibilidade de se mudar. Obra- prima é aquela que fica principalmente “na eternidade finita de nós todos” ou guardada “na caixa dos eternos” misericordiosos, como teclou a Mônica. Sabe? Melhor esquecer as obras-primas e aproveitar a arte!
“Até sempre mais”
Pimentel,
ResponderExcluirMeus parcos conhecimentos sobre pintura impedem que eu te faça qualquer pergunta a respeito deste artigo -mais uma vez - impressionante pelos teus conhecimentos a respeito.
Aliás, basta eu ler para me informar sobre as escolas existentes e quando surgiram no meio artístico, além do nome que lhes foram outorgadas em relação ao estilo do desenho.
Na verdade esses grandes mestres nos deixaram como lições a dedicação às suas obras, por mais que vivessem sem conforto, sem dinheiro, em cortiços ou pardieiros, felizes ou infelizes no amor, o grande objetivo era arte, a sua conclusão, as críticas aos trabalhos depois expostos.
Indiscutivelmente um mundo à parte de nós, os mortais, cujos nomes são esquecidos no dia seguinte à despedida deste mundo, enquanto esses notáveis pintores têm um legado deixado tão rico, tão exuberante, que seus nomes ultrapassam o tempo, cuja fama não só é justa quanto de reconhecimento à beleza dos quadros pintados, e que ninguém consegue imitar!
Inclusive, por mais habilidoso que seja o falsificador, jamais consegue imitar com perfeição o original, em face dessa qualidade e especifidade de seu toque pessoal à obra.
E quanto mais sabemos desses mestres, que tu nos apresentas com a dedicação e excelência de sempre, mais nos interessamos pelas suas vidas, pelas escolas que inauguraram, como que se projetaram, como viveram, e como foram contemplados com a técnica que os notabilizaram para a eternidade.
O meus agradecimentos pelo trabalho postado, Pimentel, que enriquece o meu arquivo específico sobre esta matéria tão importante à própria evolução do ser humano, principalmente no que tange à sua imensa e fantástica criatividade, o cerne, a meu ver, dos estilos e escolas existentes, além da qualidade e beleza de cada pintura.
Um forte abraço.
Saúde e paz.
Prezado Bendl,
ExcluirNo seu comentário me chamou atenção a menção da arte e dos pintores que moram em “ um mundo à parte de nós, os mortais”.
Se a arte fosse uma miragem distante, fora da nossa geografia cotidiana, em última análise, não teríamos nossas identidades pessoais e nacionais. Sem a influência civilizadora das artes perderíamos, é claro, todos os significados que encontramos nos grandes romances, sinfonias, óperas, peças teatrais, quadros e esculturas da humanidade mas também o que é nos é mais prazeroso na vida e muito do que é educacionalmente vital. Imagine a vida sem a memória coletiva dos nossos museus, as orquestras sinfônicas, os coros de igrejas e comunidades, as serenatas, as danças dos Bois em Paritins, passando pelo frevo pernambucano, pelo axé baiano, pelo samba carioca, até as gaúchas, aquelas da Semana Farroupilha, da qual você nunca nos teclou. A sociedade precisa da arte para se reconhecer no espelho e, portanto, ela deveria ser fomentada e garantida para todos. Há uma forte relação entre artes e engajamento cultural e resultado educacional: rolam melhorias na alfabetização quando os pirralhos participam de atividades teatrais e melhor desempenho em matemática quando participam de atividades musicais.
Finalmente as pessoas criativas não são “diferentes” e todos nós usamos nossa imaginação seja para fazer poesia com teclado e tintas, tocar um instrumento e cantar, fazer cerâmica no Vale do Jequitinhonha, inventar uma receita de se comer chorando ou escrever posts inteligentes e espirituosos. Um texto seu faz tanto bem aos meus neurônios quanto a Sétima Sinfonia de Beethoven, As Rosas Não Falam do Cartola, a trilha sonora mpb e rock’n roll da nossa juventude e/ou uma tela cubista.
O que importa não é o que é criado, mas o ato criativo. Finalmente não tem isso de duas tribos separadas: a dos criativos e a dos não-criativos. Todos nós tiramos fotos, encontramos novas abordagens para resolver problemas, fazemos piadas, sem perceber que tudo ISSO é ser criativo. E seríamos muito mais se tivéssemos uma educação pública de qualidade e deixássemos de lado a ideia de que os artistas são, de alguma forma, os “outros”. A imaginação e a inventividade são potenciais humanos inatos. Coisas nossas.
Às pretinhas!
Abração
Pimentel,
ResponderExcluirApenas para esclarecimento:
Quando escrevi que, os artistas vivem em um mundo diferente do nosso, eu quis dar a entender que a arte não estava distante de nós, mas a maioria das pessoas neste mundo jamais seria um gênio da pintura, da escultura, e das demais expressões artísticas.
No entanto, admito que nos identificamos com elas.
Tu, por exemplo, uma autoridade em pinturas, esculturas ...
Eu, gosto de óperas, música erudita, e nunca serei um compositor ou tenor ou barítono ou até mesmo fazendo parte de um coro!
E, depois, a dedicação dos mestres, dos artistas nas composições que suas imaginações projetam, a ansiedade das conclusões ... decididamente um mundo à parte, a meu ver, pois enquanto nos dedicamos ao trabalho, eles passam até fome e moram simploriamente para darem atenção total à sua criação, logo, corajosos também.
Minha intenção foi de dizer que para nós, simples mortais, a arte está distante na sua criação, por mais criatividade ou imaginação que tenhamos, porém menos habilidade e talento para realizá-las.
Outro abraço.
Prezado Bendl,
ExcluirEu tinha lhe escrito um blábláblá enooorme mas desisti de postar. Resumindo: eu lhe dizia que tudo bem, que jamais seremos Hemingways, Molières, Dickens, Hugos, Machados ou Veríssimos mas que isso não nos impede de escrever o melhor que podemos. E lhe perguntava: o há nada de errado em se estar aberto às medianas Conversas e, de quando em vez, adicionar algo "não genial" a elas?(rsrs)
Como você já respondeu fazendo barba, cabelo e bigode em “tecnicolor” lá no post da Donana, queremos mais. Por favor, volte às pretinhas!
Abração
PS- Sr. Editor: Habemus Post! (rsrs)
1) O cabedal de informações do Pimentel, no campo das artes plásticas, é impressionante, no campo das viagens, idem e em outros campos também, já observamos...
ResponderExcluir2) A cada texto uma aula, cada foto/ilustração uma reflexão, um pedaço da vida.
3)Na minha condição de aprendiz resta-me agradecer amigo Moacir. Gratidão !
Vizinho (de mundo) Antoniji,
ExcluirUma das coisas que me escapam nessa vida é não se gostar de aprender, de estudar, de ler, de escutar...
https://www.youtube.com/watch?v=tHkDVrNjbVw
Tenho tirado dos seus post felizes grandes lições de vida. Por isso , com a sua licença, vou plagiá-lo: “ GRATIDÃO!”
Namastê!