Frontispício do "Sutra Diamante", impresso em 868 DC. |
Antonio Rocha
Informa a revista O Correio da Unesco, edição brasileira de fevereiro de
1973, então publicada pela Fundação Getúlio Vargas que “o mais antigo papel
impresso” é um talismã budista, encontrado na Coréia, provavelmente datado
entre 704 e 751 depois de Cristo. E logo a seguir, em 868, na China, publicaram
O Sutra do Diamante. Os tipos móveis de impressão gráfica, no extremo Oriente,
já eram conhecidos quatrocentos anos antes de Gutenberg. Observe-se que a
famosa tinta Nankin é bem mais antiga que as datas acima e o seu nome refere-se
a uma região da China.
O leitor brasileiro dispõe de excelente tradução do Sutra do Diamante,
feita pelo professor doutor em História da USP e monge Terra Pura, Ricardo
Mário Gonçalves através da editora Cultrix, em 1967. Terra Pura é uma ordem
budista devocional.
O título do livro é Textos Budistas e Zen-Budistas, importante obra com
224 páginas.
O referido texto se encerra assim: “Aqui
termina a Sagrada e Venerável Perfeição da Sabedoria, semelhante ao Diamante
que corta todas as coisas”.
Isto é, corta a ignorância, ajuda a nos levar ao conhecimento.
Um pouco antes esclarece:
“O mundo dos fenômenos (o nosso dia a
dia) é semelhante às estrelas, a uma sombra, a uma chuva. A uma miragem, ao
orvalho, à espuma. A um sonho, ao relâmpago, a uma nuvem. Vede dessa forma
todas as coisas”.
Ou seja, vivencie tudo contemplando a Lei da Impermanência. Estudiosos
dizem que o Sutra pode ser sintetizado na seguinte frase:
“Os Buscadores do Caminho, os grandes
homens, precisam manifestar uma mente desapegada, de acordo com as condições
atuantes em cada momento”.
Quer dizer, caminho do meio aí nesse desapego. Nada de extremos. Veja o
momento. Estude, avalie...
Nem sempre é fácil esse tal de desapego, é uma compreensão na qual
devemos levar em conta a situação em que estamos inseridos e as pessoas
envolvidas no contexto. Para resolver a questão lançamos mão da Sabedoria, que
citamos acima: “Sagrada e Venerável Perfeição da Sabedoria”.
Estaremos então de posse do talismã de que falamos no início do artigo.
O diamante que corta as nossas mancadas, os nossos apegos, as nossas chaturas,
as nossas bobagens.
Prezado Autor, Prof. Dr. Antônio Rocha,
ResponderExcluirÉ interessante saber que os Chineses +- 400 anos antes do grande Gutemberg, já imprimiam em folhas de papel, via matriz com tipos móveis,(Imprensa), lindos Artigos da Sabedoria Budista, como o famoso Sutra Diamante 868 DC.
E que qualidade de papel e tinta excelentes.
Abração.
1) Pela terceira vez, vamos ver se consigo finalizar o gol irtual. A defesa da web é forte e os meus conhecimentos na área, confesso, não são lá, grande coisa...
Excluir2)Obrigado Bortolotto, a Civilização chinesa foi uma das primeiras do mundo e nos presenteou com uma série de invenções.
3)É verdade, a qualidade desse papel e tinta nos chegam até hoje. Lembrei que os extratos bancários duram, no máximo 6 anos, mas muitos comprovantes meus, apagam bem antes... aí vão dizer que é a qualidade do "toner"...
4) Abraços.
Olá Antonio do
ResponderExcluirSeu texto é ótimo. É linda a passagem dos fatos do cotidiano comparados à chuva, ao orvalho, estrela. Impermanência da vida como você sempre nos lembra.
Minha meta é o desapego, o estímulo vem de você e o exercício é o meu dia a dia.
Obrigada de verdade.
E viva o budismo na Caverna!
1)Oi Ana, pois é, o budismo tem muito de poesia. É uma filosofia de vida.
ResponderExcluir2)Tudo de bom no seu caminho para o desapego !
Reitero que aprecio muito os textos do meu amigo e professor, Rocha.
ResponderExcluirNa condição de professar o budismo, logo, a contemplação, o pensar, o meditar, indiscutivelmente que tais exercícios nos fazem bem, a ponto de nos orientar a respeito do tal desapego, ou seja, a mente livre para novos ensinamentos e experiências no desenrolar da vida.
A questão é a dificuldade que temos neste mundo de hoje, ainda mais nos grandes centros, onde a dificuldade para se projetar a existência não depende da pessoa, mas de fatores alheios à nossa vontade, na maioria das vezes.
O desemprego, as dívidas, a falta de dinheiro, a ausência de esperança que a situação mude para melhor no futuro ...
Logo, o desapego se torna difícil de ser exercido porque as mentes estão abarrotadas de problemas, na ânsia de encontrarem soluções para os problemas graves, e que impedem uma existência mais amena, no mínimo.
No entanto, essas recomendações não podem ser desconsideradas.
Qualquer momento que se esteja quieto, em casa ou no trabalho, no transporte coletivo ou até mesmo no banheiro, precisamos pensar, temos de nos desapegar daquilo que nos prende a um mundo que não queremos, e dar início a uma nova vida.
Complicado?
Muito.
Mas é somente através de um planejamento onde se saiba escolher o que é importante e urgente, que poderemos encontrar as respostas que tanto procuramos, e haver momentos de felicidade na vida cujo cotidiano nos esmaga quando diante da realidade que criamos para nós mesmos!
Ora, se somos os autores do nosso próprio sofrimento, que sejamos os responsáveis para eliminá-lo de nossas vidas!
Um forte abraço, Antônio.
Saúde e paz.
1)Certíssimo Chicão, é isso aí !
Excluir2)O desapego é difícil, mas precisamos perseverar, pois à medida que vamos nos desapegando, a felicidade vai chegando.
3) Abraços !
Antonioji,
ResponderExcluirChego atrasado para comentar o seu post porque somente hoje retornei, zen da vida, de uma viagem de uma semana.Eu já estive cara a cara com uma cópia impressa por blocos de madeira desse Sutra, na Galeria Sir John Ritblat da Biblioteca Britânica, onde ele é vizinho, entre outras preciosidades, da Magna Carta, de uma Bíblia de Gutenberg e, é claro, de uma cópia do Primeiro Fólio de Shakespeare. Acontece que sou fã de carteirinha do Bardo, sobre quem estou tentando rascunhar no momento.
Ver a efemeridade do mundo e a transitoriedade de tudo numa boa," como uma estrela ao amanhecer, uma bolha em um riacho, um relâmpago em uma nuvem de verão e ou/um sonho", ainda está muito além das minhas capacidades. Mas os anos vão nos ensinando o desapego. Quem sabe um dia , pelo caminho do meio, não chego lá?
Bom final de semana e namastê
1) Obrigado Pimentel, vc é um abençoado viajante que nos ensina ótimas coisas das artes.
ResponderExcluir2) Abraços e namastê !