Pablo Picasso - Arlequin (1909) |
Moacir Pimentel
Maurice
Princet, o matemático do cubismo, também apresentou ao círculo de artistas e
intelectuais de Montmartre o trabalho de outro matemático, de nome Esprit
Jouffret. Nos cadernos de esboços de Picasso, ao lado dos desenhos
preparatórios para a sua mais revolucionária tela, ilustrações e anotações
atestam a influência do “Tratado
Elementar Sobre a Geometria de Quatro Dimensões”, de autoria de Jouffret,
que simplificara os estudos anteriores de Henri Poincaré, descrevendo os
hipercubos e outros poliedros complexos de quatro dimensões e projetando-os na
página bidimensional.
Nas páginas
picassianas a oscilação dos planos sugere, mas ainda não representa, a
transcendência do tridimensional, em outras palavras, as formas parecem
símbolos de espaço-tempo e uma possível ligação entre a nova pintura e os
desenvolvimentos científicos enfatizados por Princet. Mas, ao lado dos estudos
das Demoiselles, encontram-se inúmeros desenhos da lavra do espanhol, um deles
surpreendente por ser a projeção de um “sólido” em quatro dimensões.
Através das
anotações do próprio pintor e de vários outros testemunhos, sabe-se que o
artista meditou longamente sobre a quarta dimensão - durante muitos anos! - e,
de forma especial, quando dos estudos de preparação para o imenso quadro das
Senhoritas d’Avignon, que foi uma reviravolta nas mentiras civilizadas, uma das
quais a ilusão da perspectiva.
É claro que
em todos os esboços de Picasso é revelada uma busca contínua da simplificação
de elementos do corpo humano, que se aproximavam cada vez mais de figuras
geométricas simples, mas lá também podem ser encontrados estudos de
perspectivas diferentes e foi esse o elemento mais marcante do cubismo de Pablo
Picasso e Georges Braque que se tornaria tão claro nas suas obras subsequentes:
a justaposição de diferentes perspectivas sobre a mesma tela, revelando pontos
de vista distintos de um mesmo objeto.
Quando
finalmente Picasso terminou suas cinco Senhoritas, pintou todas elas chapadas,
angularizadas, delineadas por traços geométricos, com linhas retas e ângulos e
vértices, soltas em um espaço raso e ambíguo destituído de primeiro plano ou
fundo discernível, cujas superfícies se cruzam e interpenetram em ângulos
aparentemente aleatórios.
Ele criou
quatro delas de pé, uma delas com um rosto egípcio, duas com traços ibéricos,
outra mascarada e representou a quinta de uma forma muito mais geométrica e
distorcida que as demais, agachada no canto inferior direito do quadro.
Essa
criatura representa melhor o ideal cubista e nos causa uma impressão mais
profunda de desconforto pois sua posição é impossível: a parte direita do seu
corpo está de costas, paralelo à superfície da tela - podemos ver suas nádegas!
- mas ela nos olha de frente. Não é uma, mas duas mulheres.
Pablo Picasso - Les demoiselles d'Avignon (1907) |
Como se não
bastasse a figura tem a perna dobrada, o braço apoiado na perna e o rosto
apoiado no braço. No entanto, ao contrário do esperado, o rosto da mulher
também está virado para o observador, como se sua a cabeça tivesse sido
radicalmente dividida em duas, uma que nos olha de frente enquanto que a outra,
de perfil, mira a cena. É como se um plano frontal e outro dorsal estivessem
ocupando o mesmo espaço na tela, como se a cabeça tivesse realizado um giro de
cento e oitenta graus ou como se mais duas figuras diversas tivessem novamente
sido fundidas.
Dessa forma,
a figura em questão está representada segundo três pontos de vista diferentes.
A isso se dá o nome de simultaneidade, a possibilidade de percepção e de
representação de várias ocorrências ao mesmo tempo.
Sim porque
para que essa Senhorita agachada possa ser vista de costas e de frente e de
perfil só há uma explicação: ela se moveu entre pontos do espaço e tais
movimentos levaram algum tempo (rsrs)
Essa foi a
primeira imagem quadrimensional na arte da pintura.
Ao entender
o tempo como apenas uma variação similar ao espaço e ao introduzir na arte o
espaço-tempo Picasso revolucionou a pintura e garantiu o seu lugar na história.
O fato é que
os artistas de Montmartre foram sim conduzidos ao cubismo por inspiração direta
da matemática. A semelhança entre as preocupações geométricas de Picasso e as
preocupações sobre o espaço-tempo de Poincaré e Einstein são demasiado
evidentes para serem apenas uma coincidência.
Dizem que a
reação de Henri Matisse ao ver as Senhoritas pela primeira vez foi de revolta e
que, então, ele teria declarado que daquele jeito Picasso iria abortar a arte
moderna “tentando criar uma quarta
dimensão”. As ideias de Poincaré, aperfeiçoadas e mil vezes ampliadas por
Einstein se transformaram em sua famosa Teoria da Relatividade. Diferentemente
o pintor utilizou a ideia da visualização da quarta dimensão para representar a
junção espaço-tempo num único quadro, com o objetivo de romper com a visão
primitiva de espaço e tempo como coisas diferentes.
Ou seja, é
certo que fugido da matemática, onde os espaços com mais de três dimensões são
rotineiramente abordados, o caráter insondável e metafísico das dimensões não
percebidas encontrou caminho para a expressão artística e de lá atraiu uma
imensa atenção.
Pudera! A
pintura sempre fora uma arte difícil, e não meramente pelas dificuldades de
nela se ter que administrar uma composição e cores e perspectiva, mas porque,
de fato, ela caminha entre as dimensões. Há milênios os pintores vinham
tentando acomodar convincentemente – se bem que apertado! - o mundo
tridimensional percebido pelos seres humanos em uma superfície bidimensional.
Pintar, até
o advento do cubismo, significava colocar um mundo em três dimensões em uma
tela com apenas duas, ou seja, uma quarta dimensão na pintura só podia mesmo
parecer muito paradoxal e dar um nó cego nas cabeças dos sabichões: afinal a
pintura sempre fora uma redução de dimensões em vez de uma expansão. Mas Picasso
deu de ombros, continuou a fazer referências à quarta dimensão “colando” vários
espaços tridimensionais em sequência e avançando para criar uma nova estética
através da redução de seus temas a formas geométricas.
Um outro
detalhe determinou que Maurice Princet fosse agraciado com o título de
“matemático do cubismo”: muitos especialistas nos círculos artísticos acreditam
que, antes de 1907, Picasso já era fluente no francês mas que ainda mal
conseguia ler um jornal, quanto mais estudar as obras de Poincaré e Jouffret.
Acredita-se
que realmente ele precisou de um “tradutor” e que seus debates com Maurice
Princet tiveram uma influência imensa na sua reflexão sobre o mundo físico e
sobre o espaço-tempo quadridimensional. Com o afastamento do guru daquelas paragens,
o poeta Apollinaire tornou-se o líder indiscutível do movimento cubista, em
cuja filosofia a relatividade desempenhou um papel relevante.
Como os
cientistas, os moradores do Bateau Lavoir reconheceram que as concepções
clássicas de espaço e volume são limitadas e unilaterais e passaram à
representação de objetos a partir de vários pontos de vista, introduzindo nas
telas um princípio que está intimamente ligado à vida moderna: a
simultaneidade.
Pensar no
tempo como nova dimensão a ser adicionada ao nosso mundo físico e imaginar o
universo como uma estrutura de quatro dimensões teve um impacto imediato e
gigantesco nas artes, pois os artistas plásticos compreenderam imediatamente o
conceito e a importância do tempo como uma nova oportunidade para suas
pinturas.
Porém os
cubistas não fizeram sua revolução intelectual contra este sistema secular em
um clima relaxado, mas com turbulência e fúria, gritando que muitas verdades
absolutas eram caricaturas convenientes de um universo que poderia ser muito mais
estranho do que qualquer um pensava. Houve uma violência no ataque cubista à
perspectiva.
A idéia de
que na quarta dimensão um corpo poderia teoricamente ser visto de vários pontos
de vista ao mesmo tempo, foi uma rajada de relâmpagos – Fiat Lux!!! – para quem
estava à espera de um novo caminho para por em marcha a revolução contrária à
visualização plana tradicional do meio ambiente.
As telas nos
mostram como os cubistas acharam a solução para o problema da representação
quadridimensional: inventaram a pintura simultânea em vez de sequencial como as
representações de que falava Poincaré no seu livro ao se referir às diferentes
perspectivas de um mesmo objeto. As telas cubistas são constelações dos
fragmentos amalgamados dos seus temas e vistos ao mesmo tempo de vários pontos
de vista diferentes.
Isso é
particularmente evidente na Monalisa Cubista de Jean Metzinger, onde uma xícara
de chá é fragmentada pela metade por uma visão frontal e outra oblíqua.
Jean Metzinger - Le Gôuter (1911) |
Tais imagens
incomuns, típicas das pinturas cubistas, podem ser interpretadas como
tentativas de obter pontos de vista sobre os objetos em um espaço em quatro
dimensões inimaginável e, em seguida, projetando essa nova percepção de volta
para a tela bidimensional.
Se olharmos
atentamente para os rostos e corpos das figuras e para os objetos representados
simultaneamente de vários ângulos nas telas cubistas - de baixo para cima, de
perfil e de frente e vice versa - mas ocupando um mesmo espaço na tela, entendemos
que seus pintores, rejeitando a perspectiva única, retrataram os seus temas em
perspectivas e tempos diversos.
Os cubistas
dividiam em facetas os temas que pintavam, mostrando simultaneamente e de todos
os ângulos os diversos aspectos de um mesmo objeto na rede do seu contexto
real. Exatamente como Cézanne indicara, não havia linhas delimitativas para a
verdade e sim uma forma que surgia de todos os diferentes aspectos intuídos em
conjunto.
Isso também
fica claro numa das primeiras telas cubistas de Picasso datada de 1910 e
chamada a Garota do Bandolim e, década depois, nos vários retratos de Dora Maar e Marie
Thérèse Walter pintados por ele com rostos duplos. Todas essas
senhoras foram observadas de diferentes espaços e capturadas em diversos tempos,
olhando para frente e para o lado, sentadas e de pé, ao mesmo tempo.
Pablo Picasso - Jeune fille au mandoline (Fanny Tellier) (1910) / Portrait de Dora Maar ( 1937) Portrait de Marie Thérèse Walter (1937) / Salvador Dali - Christus Hypercubus (1953) |
Já no seu
estupendo Christus Hypercubus, Salvador Dali, outro morador de Montmarte,
inovou em 1953 sobre o mesmo tema da quarta dimensão, ao usar o tesseract de
Hinton para pintar um Cristo segundo as suas palavras “explosivo, nuclear e metafísico e hipercúbico” numa “cruz” que é
um poliedro tridimensional obtido pelo desdobramento de um hipercubo de quatro
dimensões espaciais em oito cubos, análogo ao desdobramento dos lados de um
cubo em seis quadrados.
Foi ao saber
da presença constante, depois dos jantares nos bistrôs da butte, do matemático Maurice Princet no Bateau Lavoir dando
palestras improvisadas sobre os últimos desenvolvimentos em ciência e
tecnologia, filosofia e matemática avançada para o "think tank" do toureiro, para os literatos e pintores
vanguardistas da “bande à Picasso”, que abstraímos a possibilidade dessa quarta
dimensão, na pintura cubista, também significar o tempo, como na Teoria Geral
da Relatividade de Einstein
Recentemente
li da lavra de Arthur Miller, um físico norte-americano radicado em Londres e
professor emérito de história e filosofia da ciência no University College of London,
um livro chamado Einstein, Picasso –
Space, Time and the Beauty that Causes Havoc - Einstein, Picasso – Espaço,
Tempo e a Beleza que Causa Destruição. Formado em física pelo City College de
Nova York, Miller obteve seu PhD pelo Massachusetts Institute of Technology.
Depois mudou-se para Harvard, onde trocou de disciplinas para estudar a
história e a filosofia da ciência.
Ele faz um
paralelo interessante entre esses dois construtores do conhecimento e da
cultura no século XX que aparentemente só tinham em comum a idade, serem
perfeitos desconhecidos, pobres de Jó e prontos para se meter em encrencas.
Miller, no entanto, argumenta que alguém linka esse dois gênios: o matemático
francês Henri Poincaré cujas idéias sobre o tempo teriam sido inspiradoras para
as descobertas tanto da relatividade de Einstein quanto da geometria de Picasso
como a linguagem da nova arte.
Miller
detalha como os dois gênios vivenciaram seus momentos de maior criatividade e
produziram seus trabalhos mais importantes entre 1902 e 1915, na mesma Europa
fervilhante e em um tempo nos quais as discussões sobre tempo e espaço
esquentavam as rodas de intelectuais, acadêmicos e/ou boêmios. E como não se
satisfizeram com as explicações teóricas e, audaciosos, decidiram experimentar
caminhos novos – um na ciência e outro na arte - questionando profundamente as
noções vigentes, trabalhando duro e acumulando tentativas e erros até
vislumbrarem conceitos totalmente originais.
Ele situa os
dois homens no ambiente intelectual do princípio do século XX que os abrigou,
onde viveram intensamente o mesmo momento e tiveram a intuição de estarem
prestes a mudar o mundo. O primeiro, em 1905 e com vinte e seis anos publicou o
artigo em que expôs pela primeira vez a Teoria da Relatividade que substituía
os conceitos independentes de espaço e tempo, consolidados pelas teorias do
cientista inglês Isaac Newton.
O segundo
cometeu os primeiros desenhos para uma tela revolucionária no inverno de 1906,
desenvolveu suas idéias intensamente, com o mesmo detalhado e consciente
planejamento dos grandes projetos acadêmicos de Leonardo da Vinci, antes de
finalmente pintar sua tela quadrada de quase dois metros e meio que alteraria
tão profundamente a natureza da realidade quanto ela já fora pela física de
Albert Einstein. Dois anos mais novo que o físico, Pablo Picasso também aos
vinte seis anos pintou Les Demoiselles d’Avignon em 1907.
Tal leitura
é muito interessante no que se refere ao potencial criativo inerente ao ser
humano e de como isso varia de pessoa para pessoa, de como as ideias, para
serem consideradas geniais, passam pelo crivo da sociedade e de como são raros
os indivíduos que apresentam uma criatividade capaz de provocar um impacto
duradouro ou profundo nos outros.
A
criatividade, segundo o autor, seria a combinação de trabalho, traços de
personalidade, domínio da técnica e meio favorável. O indivíduo criativo pode
somente trabalhar com os materiais que estão disponíveis num dado tempo e
lugar. Ou seja, as condições sociais, culturais, econômicas e políticas
determinam a magnitude da criatividade. Algumas circunstâncias encorajam o
desenvolvimento de humanos criativo e apoiam a expressão desse potencial.
Outras agem negativamente – como a guerra e a instabilidade política.
Essencial
para o progresso da humanidade, a criatividade tem cometido rupturas e
transformações em série nas mais variadas áreas do conhecimento pois desde a
antiguidade mexe com as benditas curiosidades de filósofos, pensadores,
cientistas e artistas. Platão defendia que o ato de criar era uma força
superior fora do controle do indivíduo.
Já Sigmund
Freud via o trabalho criativo como uma sublimação dos impulsos reprimidos. O
matemático Henri Poincaré, por exemplo, fez sobre a criatividade uma observação
muito válida ao ponderar que ela revela “parentescos inesperados entre fatos
bem conhecidos”, só que geral e equivocadamente entendidos como estranhos uns
aos outros.
Miller
aponta em Einstein e Picasso, como características comuns, a independência de
pensamento, a persistência, a curiosidade, a ousadia e o inconformismo. Além
disso, esmiuça-lhes as motivações intrínsecas, o prazer imenso em fazer o que
faziam e as habilidades cognitivas: fluência de ideias, flexibilidade, capacidade
de aceitar conceitos novos, originalidade e atenção aos detalhes.
Foi
interessante descobrir através de Miller que, no encontro dos séculos XIX e XX,
a quarta dimensão já não era só um conceito inerente à matemática, mas que
também pertencia aos campos da epistemologia e das artes.
Apesar de
não ter sido surpreendido ao ler que Einstein e Picasso começaram a explorar
novas noções de espaço e tempo quase coincidentemente e que Henri Poincaré
teria sido o denominador comum nessas duas biografias, fiquei sabendo que, em
1904, Einstein leu a tradução alemã de La
Science et L'Hypothèse fazendo uma varredura das matemática, filosofia e
ciência de Poincaré. Na verdade, em 1921, Einstein confirmou sua dívida para
com o matemático francês, mas apenas sobre a relatividade geral e a geometria
não-euclidiana.
Mesmo que
não haja prova histórica de que o espanhol tenha lido os parágrafos do físico
francês sobre as dimensões e a simultaneidade, o autor nos mostra como o físico
e o pintor tinham seus próprios grupos de amigos com os quais debatiam sobre
tudo, questionavam as posições acadêmicas, as convenções burguesas, as formas
de arte – pintura, música, arquitetura, literatura – e os conhecimentos
científicos, especialmente em relação ao modo como eram vistos o espaço e o
tempo, valendo-se simultaneamente da geometria, da tecnologia, da ciência e da
estética para realizar seu poderoso trabalho criativo e com ele produzir
inflexões definitivas nos rumos da ciência e da arte contemporâneas.
Ele nos
fala, por exemplo, que enquanto todos os cientistas estavam confusos a respeito
do modo como a luz se propaga no espaço e de como se percebe seus efeitos,
Einstein deixou a percepção de lado e partiu para a concepção, afirmando que a
luz se propaga no espaço em uma velocidade constante, ponto de vista que trouxe
consequências enormes. E que enquanto isso Picasso trabalhava com os mesmos
problemas de Einstein, o da natureza do espaço e do tempo e o da representação
da simultaneidade – temporal, para o primeiro, espacial, para o segundo – que
resultaram na descoberta de uma nova estética minimalista e na geometrização do
desenho e da pintura para o artista.
E conclui,
primeiro, que os resultados brilhantes obtidos tanto por Einstein quanto por
Picasso, cada um em seu campo, foram devidos, em grande parte, à ênfase que
ambos deram à concepção daquilo que queriam fazer e/ou desvendar, em lugar de
privilegiar a observação. E, segundo, que todos os grandes trabalhos artísticos
e científicos sempre convocam o conhecimento de disciplinas díspares e, mais
ainda, permitem esfumar nos momentos mais intensamente criativos as fronteiras
entre ciência e arte.
Os
historiadores da arte sempre julgaram que a Relatividade influenciou o cubismo,
mas jamais ventilaram uma ligação mais direta entre os dois homens. A teoria
cubista mais aceita tem raízes em Paul Cézanne e na arte primitiva. Só que faz
tempo que sabe que as raízes da ciência nunca estiveram totalmente dentro da
própria ciência. “Por que então as raízes
do cubismo estariam apenas dentro da arte?”, pergunta Arthur Miller.
Ao ampliar
nosso ponto de vista sobre as origens das Senhoritas de Picasso para incluir
ciência, matemática e tecnologia na conversa, Miller nos oferece um panorama
mais largo das lutas monumentais de Picasso e está certo pois ao fim e ao cabo,
Poincaré, Einstein e ele, e também Princet, foram simplesmente filhos do seu
tempo.
Einstein
achou a resposta para o seu descontentamento com a sua Teoria da Relatividade
Geral publicada em 1915. A essa altura Picasso já superara o seu conflito entre
representação e a abstração, já atravessara as fases analítica e sintética do
cubismo hardrock e avançava sempre à
procura de inéditas respostas multidimensionais para suas representações do
espaço.
Os dois, sem
nunca terem se conhecido e relacionado as suas produções, concordaram que a
concepção deveria prevalecer sobre a percepção e conceberam duas obras que
marcaram uma ruptura na ciência e na arte. O pintor e o físico não foram apenas
gênios que ficaram reconhecidos pela inovação. Mais do que isso, eles foram
capazes de sintetizar o contexto histórico e científico de sua época, ampliando
os limites da realidade. No campo da arte, rompeu-se a visão clássica de
representação da natureza. E, no campo da ciência, transcendeu-se as limitações
da física newtoniana.
Hoje os
quânticos já duvidam se o espaço e o tempo são um continuum e as teorias não se
entendem. Sabemos que a hora do relógio é uma convenção, mas isso não ajuda
quando você está atrasado para uma reunião. Do mesmo modo, as ideias da pintura
cubista não nos ajudam a saber que a forma que chamamos de garrafa é realmente
um pequeno universo de dureza, transparência, geometria tubular, contendo
gosto, memória e todas as outras coisas que um pintor cubista encontra em uma
garrafa em uma mesa de café.
Estudando e
escrevendo sobre a matemática cubista o que me ficou, profundamente, foi que em
vez de falar de uma interação entre arte e ciência, devemos começar a falar de
ideias desenvolvidas em comum por artistas e cientistas.
Todos os
marcos artísticos que temos, do machado da idade da pedra, primorosamente
talhado, e dos perfis de ursos e mamutes e bisões, poderosamente desenhados,
que algum Leonardo pré-histórico arranhou nos ossos ou pintou nas paredes das
cavernas ancestrais até as telas impressionistas, expressionistas, cubistas,
surrealistas e abstratas todas essas artes nos fornecem um vislumbre de todas
as eras através das quais nossa espécie passou.
Nós sabemos
que o que primeiro chamou a atenção dos nossos antepassados pintores foi a vida
em movimento. As compreensões da luz, do espaço e do tempo não foram mostradas
em obras de arte até se tornarem um assunto de pesquisa científica. A pintura,
como qualquer outra variedade de expressão humana, teve que refletir a descoberta
laboriosa do eu e do mundo, que é a própria essência da condição humana. A
missão mais antiga da arte e da ciência tem sido buscar novas representações de
fenômenos além das aparências. Este esforço se concentra no momento incipiente
da criatividade, quando as fronteiras se dissolvem entre as disciplinas e as
noções de estética tornam-se primordiais. Diante desse fenômeno há que estudar
a natureza do pensamento criativo.
Como disse
Gertrude Stein:
“As coisas que Picasso podia ver eram as coisas que tinham a sua
própria realidade, a realidade não das coisas vistas, mas das coisas que
existem”.
Quem gosta
de arte praticada no seu nível mais fundamental e emocionante - o drama da alta
criatividade! - não tem como não se perguntar sobre o momento em que tudo se
junta para produzir insights incríveis. Como isso acontece? Como emergem os
pensamentos que vão além da informação direto para mãos criadoras? Responder a
estas questões requer um modo de pensamento e análise multidisciplinar que se
torna progressivamente mais importante à medida que as linhas entre disciplinas
se tornam borradas.
O que é
inspirador nas histórias de Einstein e de Picasso são as determinação e
perseverança até que alcançaram resultados intelectuais notáveis. O indivíduo
criativo tem, diante de si, duas opções: seguir a multidão – e repetir
conceitos – ou trilhar um rumo completamente diferente, muitas vezes na direção
oposta. Relatos de artistas e cientistas revelam que os criadores sentem que
possuem uma missão a cumprir. Dizia Picasso: “A coisa mais importante é criar. Nada mais importa, a criação é tudo.”
Como veremos
nos derradeiros posts dessa “franquia” – “ufa”! - inspiração não lhe faltou
(rsrs)
Fonte de pesquisa:
Einstein, Picasso - Space, Time, And the
Beauty That Causes Havoc,
Arthur Miller, 2001
Olá Moacir,
ResponderExcluirUfa! digo eu depois de um texto desses. Aprendi com ele muito do que não nos foi falado nas aula teóricas da Belas Artes. Era um professor "carente" com complexo de cowboy, formado no Texas. Ia todo parafernado de gravatinha de chapéu e cordões, botas de canos, bicos e bordados. E tinha medo das nossas dúvidas e perguntas. E era tirano! Provocava em mim dores de estômago me fazendo sair da aula e ir para a cantina.
Obrigadíssima pela fantástica aula que certamente continuará nos comentários.
Até sempre mais.
Caríssima Donana,
ExcluirAqui entre nós e baixinho, em vez das teorias, sou mais a intimidade e a prática (rsrs) A arte deveria ser uma função da educação. Dá gosto de ver as criancinhas construindo as suas próprias - e novas! - noções de estética. Tem coisa melhor do que aquela fase na qual filhos e netos começam a nos perguntar “o que é isso?” e “por que?” Me diga, não é uma beleza entender? Inclusive que a falta de beleza pode ser a beleza de uma obra de arte?
Portanto, escapa-me como é que pode um professor , seja lá do que for, "ter medo das dúvidas e perguntas" de seus alunos. A missão dos que educam é ensinar a aprender, a pensar livre e criativamente. E é ao responder aos questionamentos das futuras gerações que quem ensina percebe o significado da continuidade, das geniais frases feitas das quais nos apropriamos, de vez em quando, do tipo " há um passado no meu presente" ou "o futuro terá um coração antigo". Sem novas perguntas as soluções ficam obsoletas e em um mundo que muda na brutal velocidade atual não gosto nem de imaginar as consequências da ausência de mentes criativas. As nações educacionalmente mais bem sucedidas estão, inclusive, mudando seus sistemas de ensino para formar futuros cidadãos treinados para gerar, administrar e implantar mudanças e a questionar contínua e objetivamente o sistema. Agora...
Que um professor de Belas Arte cometa esse crime contra o futuro é o fim do mundo. Porque Dona Arte faz a mediação entre o indivíduo e a totalidade, o geral e o particular, a individualidade e a alteridade, o subjetivo e o objetivo, o presente e o ausente, o real e o imaginado e por aí vai. Nesse caminho inexistem coisas estáticas e respostas prontas e quaisquer certezas. A arte é o playground seguro das crianças curiosas que deveríamos continuar a ser, de “perguntador ligado”, como diz o Sr Editor, sempre brincando de aprender.
“Até muito mais”
Pra mim a Arte e a Física são universos quase desconhecidos porque a minha área de formação e atuação é outra. Mas você conta bem qualquer história e acertou! Eu gosto mesmo de quadros geométricos e talvez esteja implicando com as mulheres deformadas de Picasso porque ele tem fama de machão e de péssimo marido kkk Depois que você soletrou eu entendi o significado da mulher que chora e o objetivo da senhorita bizarra. Mas fica mais fácil de captar a mensagem da quarta dimensão vendo a xícara da Monalisa, com quem eu já simpatizava antes kkk Adorei o Cristo de Salvador Dali! Obrigada pelos artigos e a paciência!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirPara começo de conversa, quem agradece pela paciência sou eu: que bom que você continua lendo! Em segundo lugar Dona Arte alcança a todos igual e independentemente de nossas formações e/ou atividades profissionais. Em seguida e por favor dê uma segunda chance às pobres moças picassianas. A beleza pode não ser atraente e a feiura pode não ser repulsiva e, principalmente, inexistem as certezas estéticas. Tem mais. As percepções mudam e o que era belo, se for um milímetro além de misteriosos limites, pode se tornar “bizarro” e até mesmo inaceitável. Além disso, quando algo feio se torna familiar, a tolerância pode amadurecer em afeto (rsrs) Vale ponderar ainda que, embora a feiura inicialmente nos perturbe, ela nos surpreende mais do que a beleza. Ou seja, a beleza pode funcionar como um sedativo, previsível e suave, em vez de um desafio. E quem poderá dizer que ser sedado e acalmado é melhor do que ser estimulado e fascinado intelectualmente? O certo é que, como dizia Thomas Hardy, "achar beleza na feiura é a província do artista". E por gentileza aperte o cinto porque ainda não começamos a VER as cubices e, acredite, essa “franquia” vai piorar antes de melhorar (rsrs) Mas tenho certeza de que, ao fim e ao cabo, depois de entender o modus operandi e mesmo sem querer “levá-lo para casa”, você irá apreciar o cubismo.
“Obrigado!” e abração
Moacir,
ResponderExcluirEu estou encantada com a viagem que você está me proporcionando desde as cavernas pré-históricas até a senhorita de Picasso. Amei compreender como os pintores por muitos milênios tentaram espremer a realidade 3D em obras de arte 2D e ler como Picasso descobriu um jeito de colocar na pintura o tempo e o movimento com a ajuda da ciência. Respondendo a sua pergunta sobre a inteligência e o poder criativo, eu creio que fomos feitos à imagem e semelhança de um Criador.
Um abraço para você
Flávia,
ExcluirObrigado pela companhia agradável pela estrada artística afora (rsrs) Dia desses li um artigo da lavra de antropólogos empenhados em compreender a lógica própria de mentalidades primitivas e, a partir daí, tentar esboçar um esquema comum a qualquer pensamento humano. Complicado! Platão explicou a realidade com a sua Alegoria da Caverna, na qual a escuridão significa ignorância. Descartes resumiu a ópera com o seu Cogito, ergo sum e Locke teorizou demais (rsrs) Muitos de nós acreditam em Deus, enquanto outros dizem que tratar-se de uma outra e prática invenção humana e que a vida em si é desprovida de sentido e significado além, é claro, daqueles com os quais a dotamos. Tem gente que diz que nada realmente existe, que vivemos em uma Matrix e que a vida é uma ilusão. Algumas teorias sustentam que a realidade e a consciência são uma e a mesma coisa etc,etc,etc. O certo é que nossa espécie tem se esforçado, em vão, para encontrar respostas racionais e científicas para algumas questões, como é o caso da consciência e vai continuar tentando. O que tudo isso significa é que tanto o nervo emergente da mente quanto aquilo que chamamos de alma fazem o bicho homem se questionar sobre o que significa viver, sobre o que faz a vida valer a pena. Nesse contexto penso que as obras de artes provocam experiências estéticas e perceptivas inéditas treinando nossos os cérebros de maneiras novas para encarar melhor tantos e tão insondáveis mistérios (rsrs) A arte inspira pois representa o esforço da mente ilimitada para se comunicar, para evoluir e tudo isso nos faz, apesar de tudo, sentir orgulho do nosso destino humano.
Outro abraço para você
Pimentel,
ResponderExcluirVerdadeiramente impressionante, majestosa, a obra que nos apresentas e da tua autoria sobre Paris e o seu bairro mais atraente, mais charmoso, mais artístico e divertido!
Aplaudo este teu trabalho de fôlego, de pesquisa, mas, principalmente, pelos notáveis conhecimentos sobre pinturas e esculturas.
Claro que esta postagem se soma àquelas que já tenho arquivadas, a ponto que posso afirmar não haver nada parecido a respeito, razão pela qual vejo-me obrigado a te sugerir que a publicação de um livro sobre o que já publicaste neste blog extraordinário seria lógico e fenomenal e consequente!
A lamentar que não conheço nenhum editor ou gráfica para sugerir que te procurassem para esta publicação, que seria um verdadeiro sucesso para os amantes de artes como estas, que tens registrado ao longo do tempo no Conversas do Mano.
Imagino uma rica encadernação, fotos espetaculares, os textos claros e didáticos que são também tuas características, o sucesso que teria nas livrarias, além da quantidade de pessoas que estaria no lançamento desta obra magnífica!
Pensa nisso, pois o teu trabalho merece que tenha a sua homenagem devida, e nada melhor do que um livro para colocá-la no lugar de projeção e admiração das pessoas que têm gostos refinados, sofisticados, e que se ressentem da falta de uma obra como esta, que tu nos brindas eventualmente.
Um grande abraço, tanto de amizade quanto de agradecimento pelas informações e conhecimentos que tens me dado ultimamente.
Saúde e paz.
Chicão,
ExcluirAgradeço-lhe de coração pelas costumeiras hipérboles que hoje me fizeram rir. Porque se eu for colocar no tal livro de
“rica encadernação", todas fotos espetaculares” de todas as pinturas que aprecio em papel de qualidade o Editor iria à falência. Por aqui, o nosso prezado Wilson faz as contas e marca cerrado as ilustrações, embora a benevolência seja uma das marcas registradas da Redação (rsrs) Agora falando sério...
Não poderia haver maior homenagem aos meus escritos do que a leitura e os comentários constantes de um cara que, mesmo sendo muito inteligente e sensível, entre as artes prefere o bel canto e que, antes dos meus "posts pictóricos", jamais pensara duas vezes em uma mesma pintura. Por favor, continue me honrando com a sua leitura. Sim, porque até agora, apenas a senhorita no canto inferior direito da tela Demoiselles d’Avignon é protocubista (rsrs) Aguarde o resto do pacote.
Valeu!
Saúde e Paz e um grande abraço
Excelente a continuação do artigo. A quarta dimensão de Picasso é diferente da de Einstein, mas elas tinham “um parentesco inesperado”, rs. E o mundo foi mudado pelos dois gênios para quem a função da ciência e da arte era uma só: revelar a essência da realidade que se esconde por trás da percepção limitada dos sentidos.
ResponderExcluirMárcio,
ExcluirBola dentro! Se bem que a tal essência é "relativa" (rsrs) O senso comum jura de pés juntos que a realidade é o lugar onde se pode comer um bom bife com fritas daqueles que nossos olhos, ouvidos, narizes e línguas e mãos possam olhar, pegar, cheirar , degustar e devorar (rsrs) Os filósofos beleza, em vez , garantem que isso não poderia estar mais longe da verdade e que a realidade objetiva é a existência crua, inobservada, não filtrada e imperturbável ao nosso redor, sem ser alterada pela passagem dos seus puros dados através dos filtros que são nossos órgãos sensoriais, nossos nervos e nossos computadores cor de rosa que não têm acesso direto ao mundo exterior pois moram em silêncio e na escuridão de nossos crânios. Porém, os do caminho do meio defendem que Dona Realidade é universal e consistente e, de sê-lo, nossos cérebros a aprendem e processam e rotulam e sempre que observamos algo que se choca com esses modelos e previsões e expectativas, os delatamos como irreais. Então, sim, voltamos à afirmação clichê de que a realidade é essencialmente subjetiva (rsrs) Não, não tem como não filosofar sobre o que a percepção significa para a realidade e vice versa e essa conversa é interminááável. Mas matutar sobre o tema ajuda a perceber que há mais no mundo do que podemos ver. E essa é mais uma razão para se gostar do cubismo (rsrs) Obrigado por participar.
Pimentel,
ResponderExcluirParabéns pelo interessante artigo mostrando como as geometrias não euclidianas de Poincaré influenciaram Einstein e Picasso. O físico na primeira parte da Teoria da Relatividade destruiu a rigidez da concepção absoluta de espaço de Newton. O artista usou os conceitos do matemático para desafiar a perspectiva tradicional e destruir a rigidez na pintura.
Sampaio,
ExcluirQue inveja boa do seu poder de síntese (rsrs) É isso aí. Porém...Einstein com a sua relatividade restrita de 1905 - que ainda não dava conta dos fenômenos gravitacionais, mas já revolucionava os conceitos de espaço e de tempo, tornando-os flexíveis – só entrou nessa conversa graças ao físico e historiador e filósofo da ciência Arthur Miller.
Confesso que resenhei mal esse túnel quântico unindo as histórias da arte e da ciência: o livro Einstein, Picasso – Espaço, Tempo e a Beleza que Causa Destruição. A gente espera que uma leitura da lavra de um físico sobre a gravidade, o espaço, o tempo e o cosmos seja algo exato e rigoroso, mas o autor fala de beleza já no título e com um vocabulário acessível aos leitorados de Einstein e Picasso em capítulos alternados nos quais sugere - e convence! - que ambos trabalharam não apenas a partir do conhecimento mas também da intuição, de insights, das suas férteis e poderosas imaginações científica e artística.
É claro que a quarta dimensão já passeava pela Literatura - no ensaio de nome Eureka de Edgar Allan Poe - desde meados do século XIX e que o físico de nome John Wheeler já fez uma formulação não matemática da alma da Relatividade que, descreve a força gravitacional no tecido do espaço e do tempo como ondulações poéticas: “A matéria diz ao espaço como curvar-se, o espaço diz à matéria como mover-se” (rsrs) Mas é surpreendente ler tão próximas as artes e a ciência e flagrar Picasso, oscilando nessa fronteira, intuindo o primeiro realmente revolucionário sistema de representação da realidade em uma superfície plana desde a perspectiva linear de Brunelleschi só porque ouvira dizer que Poincaré estava dizendo que a geometria do prezado Euclides não era única disponível. A partir daí o cara fez para a pintura exatamente o que Einstein fizera para ciência : nela nada nunca mais foi o mesmo. Para Miller, a criatividade humana é a beleza milagrosa da coisa, aquilo que provoca o caos e reorganiza e molda e move mundos novos. E embora ele se distraia e pise na bola e narre o toureiro bebericando e trocando figurinhas não euclidianas no Chat Noir - anos depois do cabaré ter cerrado as portas!(rsrs) - concordo com ele. Obrigado e abração
Prezado Autor Sr. Moacir Pimentel,
ResponderExcluirParabens pelo belo e compreensivo Artigo, nos mostrando a representação em 2 Dimensões de figuras em 4 Dimensões, ( largura, altura,profundidade e tempo), via Cubismo, especialmente sob a percepção de Picasso.
A representação em 4 Dimensões, numa tela de 2 Dimensoens resulta nos hiper-poliedros, inspiração de Picasso na invenção do Cubismo.
Temos que tirar o chapéu para a
Herculia tarefa que se propôs Picasso e também ao Sr. Moacir Pimentel de nos explicar o Cubismo de forma tão compreensível.
Abração.
Prezado Bortollotto,
ExcluirParabéns pela leitura atenta. Picasso não era um homem de filosofias mas de sentidos. Dizem que depois de mamãe e papai o piralho falou piz, uma proto tradução para "lápis" (rsrs) O seu ofício era desenhar e a sua matéria as imagens. Então penso que mais do que as palestras de Princet e/ou as equações de Poincaré, aquilo que mexeu com a cabeça dele e o empurrou levou para o cubismo foram as figurinhas não euclidianas que ele viu no livro “Tratado Elementar Sobre a Geometria de Quatro Dimensões”, uma tradução mais popular das teorias de Poincaré de autoria de Esprit Jouffret, repleta de desenhos de hipercubos e outros poliedros complexos de quatro dimensões. Aliás, as únicas digitais de Picasso nessa conversa toda, moram, primeiro, nos estudos e esboços preliminares das Demoiselles d’Avignon sob a forma de uma projeção de um sólido em quatro dimensões. E, é claro, no canto inferior direito da tela onde, alienígena para o resto da pintura, mora a figura agachada, a senhorita desagradável mas intransigente, uma estrutura articulada organicamente de uma quarta dimensão que é a amálgama do pensamento e das tintas cubistas. Muito obrigado pela leitura atenta e pelo incentivo os quais espero continuar merecendo.
Abração
1) A constante inspiração de Pimentel, que nos ensina tão bem sobre a História da Arte, me fez encontrar na web, a seguinte frase do Picasso:
ResponderExcluir2)"Que a inspiração chegue não depende de mim. A única coisa que posso fazer é garantir que ela me encontre trabalhando"
3) Bom domingo para todos (as).