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28/07/2018

Segunda feira

imagem CBS



Francisco Bendl
Segunda-feira, 23 de julho de 2018, o tempo está frio e nublado no RS.
Na minha cidade, 8 Graus Celsius, às 14:20h!
Ouço o conjunto nacional que arrebatou vários músicos de outros agrupamentos, The Originals, que me fizeram mergulhar no passado, e profundamente!
O rock brasileiro dos anos sessenta, cujas versões dos Beatles com Renato e Seus Blue Caps, The Fevers, Os Incríveis, me transportam para uma época verdadeiramente feliz, alegre, onde a sensação que se havia era a de ser dono do mundo, que o futuro para cada um de nós estava assegurado brilhantemente, ainda mais se levássemos em conta a alegria que nos contaminava, embalados pelas canções inesquecíveis!
Hoje, na velha guarda, me recordo da Jovem Guarda, que passava na TV aos domingos à tarde mais de cinquenta anos atrás!
Mas, as músicas, continuam a me fazer dançar, cantar, e colocar o som mais alto do que o costume após tantas décadas!
A tarde cinzenta, feia, fria, pouco me importa, pois estou aquecido pela música alegre, pelas recordações, e sacolejando em frente ao micro dedilhando as memórias que vão se dissipando com o tempo, que as resgato mediante o impulso de canções que jamais serão compostas com o embalo e letras daquele período, que se vai longe, de um passado distante, porém memorável.
Voltou a chover.
Os pingos, fortes e frios, parecem que trazem dentro de si a lembrança congelada de um tempo que somente os setentões viveram:
Romântico, agradável, melodioso, letras ingênuas, porém com essência, com recado a ser dado, muitíssimo diferente do “bunda para cima, bunda para baixo”!
As versões de Neil Sedaka, Beatles, Paul Anka, Rolling Stones, mais as badaladas de Roberto Carlos, caracterizaram as décadas de sessenta e setenta como as mais prodigiosas em músicas de embalo de todos os tempos.
E havia espaço para todos os ritmos, cantores, orquestras, diga-se de passagem:
Elvis Presley, The Platters, Ray Coniff, Tangos, Boleros, Rock, Salsa, Polkas, Valsas, a fantástica música italiana, igualmente a interessante e forte música francesa... ouvia-se de tudo, dançava-se quase tudo, comprava-se discos semanalmente!
A chuva continua cada vez mais forte, e desceu uma neblina que não enxergo o outro lado da rua.
Na razão inversamente proporcional dessa tarde sem ânimo, sem brilho, sem cor, estou animado, me movimentando na poltrona onde escrevo, e balbuciando as letras das canções que marcaram época na minha vida, assim como de muitos leitores e colegas desse blog extraordinário, Conversas do Mano.
O poder da música, do som, do ritmo, de se viajar no tempo, dos amigos que se foram, das meninas que casaram e desapareceram, das namoradinhas, das festinhas aos fins de semanas...
“O meu primeiro amor, o meu primeiro amor ... bateu forte como nunca o meu coração ...”
Tenho que cuidar da poltrona não se quebrar e me atirar ao chão, me acordando desse sonho estupendo, que não quero acordar tão logo, pois estou me sacudindo vigorosamente (a Marli pergunta se estou com coceira no corpo)!
Ainda vou organizar um baile com as músicas de sessenta e setenta, só, sem qualquer outra canção no meio e, claro, convidar uma turma daquele período que tenha a minha idade, de modo a revivermos o embalo maravilhoso daqueles momentos excepcionais.
O problema será encontrar um conjunto (nossa, hoje é banda), que saiba tocar as canções que são inesquecíveis e de tanto tempo atrás, pois mecanicamente não teria muito sentido, apesar da qualidade das caixas de som de hoje.
Enfim, a tarde fria, chuvosa, cinzenta, transformou-se em divertida, colorida, com aquele sentimento nostálgico que, ao mesmo tempo, nos traz tristeza e uma gostosa sensação de se ter vivido um tempo incomparável, de se estar presente quando o mundo recebia mudanças importantes, que alterariam a vida de todos!
Enquanto a geração de paz e amor queria uma existência mais amena a outra parte queria guerras:
Havia terminado a da Coréia; a França perdera a Indochina; os americanos foram para o Vietnã; os franceses perderam a Argélia; Biafra consegue a independência; o homem chega à lua...
Queríamos apenas espaço para uma rebeldia contra os mais velhos que apenas e tão somente não dialogavam, lutavam, se enfrentavam, morriam, e causavam dores e prejuízos.
Se empunhavam metralhadoras, fuzis, pistolas, usávamos a guitarra, a bateria, o saxofone, o baixo, e nossos combates era decididos em quem cansaria mais rápido durante uma noite de rock e baladas, hoje em dia místicas!
A nossa paz não era apenas um gesto, mas atitude, comportamento, vida em comum, sem preconceito, livre.
Restou o quê?!
A lembrança, mais nada.
No entanto, tão poderosamente importante, que após tantos anos estou me sacolejando na poltrona com as músicas que moldaram a minha juventude, que me fizeram feliz durante um bom tempo, que havia a alegria despreocupada do jovem, que procurava a diversão, dançar, cantar, e abastecer-se com ânimo para uma semana de retorno à escola e trabalho.
Salve o refrão conhecido e roto:
“A gente era feliz e não sabia”!


13 comentários:

  1. 1) Bom artigo Bendl, era o tempo em que eu ouvia estas canções maravilhosas no meu saudoso Gama, DF. e tinha o bailezinho arrasta pé, na casa dos amigos, aos sábados, às 14 horas. Isso mesmo, 14 horas, terminava às 19 horas. Depois, cada um ia para as suas casas e a cidade satélite dormia silenciosamente.

    2)Mas, a impermanência é uma Lei inexorável, para pior ou para melhor, tudo muda.

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    1. Francisco Bendl28/07/2018, 12:41

      Rocha, meu caro,

      Diz a frase que, "recordar é viver".

      Certamente a tarde chuvosa e fria me trouxe um pouco de nostalgia, e para espantar a possibilidade de eu ficar triste, casualmente aparece no Youtube esse conjunto que mencionei, The Originals.

      Pois foi eu abri-lo e ouvir as canções de meio século atrás, que me vi embalado pela música gostosa.

      Grato por teres lido o artigo, e teres gostado dessa croniqueta, digamos assim.

      Um forte abraço.
      Saúde e paz.

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  2. Numa tarde de inverno, temperatura de sub-congelamento e chuva, em Rolante-RS, esse bom Escritor Sr. FRANCISCO BENDL, ao som da boa música dos anos 60' e 70', escreve excelente crônica relembrando aqueles tempos passados.
    É bom relembrar a nossa juventude
    e escrever nossas impressões daquela época, para que as Gerações futuras
    saibam como pensávamos.
    E os anos 60' e início dos 70' foram clássicos de mudança radical, quando passamos de um Conservadorismo já exagerado, para um Libertacionismo de muito poucos limites, que necessita ser corrigido.
    Talvez o Sr. FRANCISCO BENDL exagere um pouco em sua conclusão de que naquela época, final dos anos 60' éramos Felizes e não sabíamos, mas não erra de muito.
    Aparentemente as Sociedades Humanas vivem em ciclos como funcionam os pêndulos, ou muito para um lado ou muito para o outro, sendo a Sabedoria evitarmos os extremos.

    Parabéns e Abração.

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    1. Francisco Bendl28/07/2018, 12:51

      Mestre Bortolotto,

      Muito obrigado pelo comentário.

      Gostei do final do teu texto, onde mencionas que a sabedoria evita que pendamos muito ora para um lado ora para o outro, de modo que haja equilíbrio em nossas vidas.

      No entanto, importante eu salientar que fomos testemunhas oculares da história quando tivemos a revolução cultural naquele período, quando barreiras foram quebradas, quando a indumentária se tornou mais simples, e as músicas muito mais cantadas e dançadas do que antes!

      Dizer que participamos efetivamente daquela época, que foi um divisor de águas - ou se continuava vivendo com os métodos de um passado que apenas nos ofereceu guerras e instabilidades ou se tentava encontrar um meio onde pudéssemos viver em paz, com mais tolerância e compreensão!

      E, a música, inegavelmente foi a mola mestra desse impulso em busca de novos conceitos, de novas expectativas, de letras que falavam em amor ou diversão.

      Se tivemos também o incremento das drogas, lamentavelmente, LSD e Heroína, a contrapartida foi o despojamento, a vida simples, uma nova visão do mundo.

      Um forte abraço, mestre Bortolotto.
      Saúde e paz, meu caro amigo.

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  3. Olá querido Gaúcho,
    Seu texto foi para mim um mimo. Me coloquei no seu grupo dos setentões porque lembrei de tudo, cantarolei todas.
    "Saudade palavra triste quando se perde um grande amor", " porque ninguém vai dormir nossos sonhos, cuida bem de mim", "O trem que chega é o mesmo trem da partida"...
    E fez parte do meu momento egoísta solitário do dia, quando acordo bem cedo e fico na cozinha, eu, meu café e meu Ipad. E não deu outra, comecei a ouvir as músicas citadas por você e foi um tal de uma puxar a outra até ficar sem carga eu, meu café e meu Ipad. Nem o acordar do Mano me tirou do devaneio, palavrinha antiga né mesmo? Setentona!
    Só fiquei na falta de uma chuva colocando pingos grossos na minha janela e um cinza fechado no céu ao redor.
    Obrigadíssima pelo belo café da manhã.
    Até mais e mais.

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  4. FBendl, sou eu de novo.
    Só para dizer que as músicas que citei são de de depois. Ē que me empolguei, sabes?!!
    Até mais.

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    1. Francisco Bendl29/07/2018, 14:24

      Aninha,

      Muito obrigado por teres lido a crônica, e o comentário que fizeste a respeito.

      Gostei que as músicas te animaram a manhã, abrindo as portas para mais um dia que teria o seu início alegre, com boas lembranças.

      A idade nos oferece momentos indescritíveis e muito gostosos.

      Inegavelmente, as canções da época em comparação com as de hoje são diferentes. A meu ver, as "nossas" eram bem melhores, a ponto que delas não nos esquecemos.

      E que bom que nos transportam para um período onde deixamos a felicidade da juventude para nos depararmos com as responsabilidades de adulto, e que esta transição tenha acontecido sem traumas, sem maiores problemas.

      A lembrança daqueles momentos após tanto tempo, e de tantos parentes e amigos terem ido embora em definitivo, se por um lado nos sacode, por outro aumentam a nossa saudade.

      Enfim, a vida é assim, de recordações, e enfrentarmos o cotidiano com bases em uma existência pregressa alegre, animada, de ter sido vivida plenamente.

      Um forte abraço.
      Saúde e paz, Aninha.


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  5. Moacir Pimentel29/07/2018, 11:01

    Bendl,
    Parabéns por um post musical que conversa com todos nós. Quem já não escutou um trecho de uma música e não foi, imediatamente, transportado para o passado? A música tem o poder de causar isso em um piscar de olhos e de repente revisitamos a infância, a adolescência e os vinte anos, talvez porque então o futuro ainda estava por vir e, com certeza, seria luminoso e em technicolor. Só mais tarde a vida se tornaria um pouco borrada com nuances de cinza (rsrs)
    Concordo que tais viagens são provocadas, mais facilmente, pela música pop, pela trilha sonora da nossa juventude, aquela que rolava no rádio, na tv, em bares, clubes e salas e quartos, quer a escolhêssemos ou não.
    Eu lembro perfeitamente do primeiro do primeiro compacto da Odeon que economizei para comprar há cinquenta anos: Strawberry Fields Forever/Penny Lane, dos Beatles! Mas sinceramente? Sucede que naqueles anos dourados éramos tão duros que para comprar um vinil tinha que ter – no mínimo - cinco cotistas! Creio que o que ficou para trás nos seduz tanto porque muito pouco dele permanece gravado pois se registrássemos tudo o que nos acontece nossos HDs explodiriam! Então vamos editando o passado a cada vez que nos lembramos de alguma coisa, alterando sutilmente toda a paisagem para que ela vá ficando do jeito e com as cores que gostaríamos que tivesse sido/tido .
    Porém o fato é que, é bom demais, vez por outra, voltar ao passado e nos enrolarmos nele como um cobertor quente, que cobre todas as segundas feiras frias do agora e todas as incógnitas do amanhã. Visitamos o ontem para nos assegurar que tivemos sim vidas significativas, que sobrevivemos às nossas perdas, que transformamos rugas e cicatrizes em mapas, que os momentos bons foram em maior número que os maus. Sem esquecer, no entanto, que o presente será lembrado pelas gerações futuras e que temos que tentar fazer dele um passado que elas possam curtir. É mais fácil fazer de uma segunda feira cinzenta um sábado de sol quando se tem, como nós, netos. Como duvidar que valeu a pena quando vejo o caçula da tribo dançando eito um maluquinho e imitando um guitarrista hardrock ao som da canção Eye of the Tiger, do Survivor, que o pai dele cresceu escutando?
    Abraço

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    1. Francisco Bendl29/07/2018, 14:31

      Pimentel,

      Obrigado pelo comentário e pelo conteúdo do texto.

      A vida é um acumulado de experiências e de situações que nos moldam o futuro, pois será da lembrança desses momentos significativos que nos impulsionará para a frente, quando nos abatermos pela realidade do momento.

      E, a música, tem essa importância, que transcende a nossa compreensão, de nos fazer viajar no tempo, de resgatar a memória, de nos embalar com o ritmo que tanto nos proporcionou dançar e nos divertir.

      E nada como um dia cinzento, chuvoso, frio, ouvindo as canções tão agradáveis quanto imorredouras, para registrar o pensamento sobre aquele período, que tanto significou para todos nós.

      Um grande abraço.
      Saúde e paz.

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  6. Lea Mello Silva30/07/2018, 10:22

    Apesar do dia chuvoso e frio estas lembranças traz encantamento
    A música destes velhos tempos são cheias de melodia !! lembranças !!
    Gostei muito de sua crônica e espero mais
    Vivemos um tempo romântico !!!
    Obrigada ❤️

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    1. Francisco Bendl30/07/2018, 14:21

      Prezada Lea,

      Muito obrigado por teres lido e gostado dessa pequena crônica sobre um dia chuvoso, frio, feio, porém dentro de mim estava a alegria porque a música me transportava para uma época maravilhosa, estupenda, romântica e inesquecível!

      A mim, pelo menos, as canções têm esse poder, de me trazerem lembranças poderosas, significantes. Para outras pessoas talvez a indumentária, a literatura, modelos de carros, o jornalismo, enfim,
      aquilo que hoje não existe mais, com exceção das calças jeans, pois se ontem era moda e ousadia vestir uma Lee, tal uso se tornou comum com o passar dos anos.

      Fiquei alegre com o teu comentário, Lea, e a identidade que temos com relação às músicas dessas décadas de sessenta e setenta, verdadeiramente inesquecíveis e indeléveis.

      Um forte e caloroso abraço.
      Saúde e paz, extensivo aos teus amados.

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  7. Chicão, lindas lembranças! Quem da nossa idade não ouviu as primeiras músicas de Chubby Checker e de Elvis Presley, não dançou ao som de Ray Connif ou de The Platters, não se encantou com os Beatles, não cantarolou as músicas de Charles Aznavour ou assobiou as trilhas sonoras de Enio Morricone?
    Sim, éramos felizes, ou pelo menos nossas lembranças o são, como disse o Moacir. E ainda que, em algum momento de desânimo, não nos lembremos de que somos felizes agora também, apenas por motivos diferentes, ouvir essas músicas nos traz de novo um sorriso ao rosto. Obrigado.

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  8. Francisco Bendl30/07/2018, 19:18

    Wilson, meu caro amigo,

    Obrigado pelo comentário.

    Alegro-me que tenhas gostado, que as músicas que mencionei tenham sido agradáveis à tua memória.

    Podemos não ser movidos à saudade, mas certas passagens de nossas vidas nos impulsionam em dias meio desanimados a continuar em frente.

    E é bom recordar tanto tempo atrás, tantas décadas já ultrapassadas, e que ainda nos lembramos de forma alegre daqueles momentos.

    Indiscutivelmente essas viagens para o passado na imaginação nos adicionam forças para um futuro, que não sabemos por quanto tempo ainda, mas que poderemos enfrentá-lo bem posicionados, estáveis emocionalmente, sólidos em nossas existências porque felizes em tempos de antanho!

    Abraço, forte e fraterno.
    Saúde e paz, extensivo aos teus amados.


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