Georges Braque - Nature morte avec un "metronome"(1909) |
Moacir Pimentel
“Fomos guiados pela mesma ideia. Nós
éramos como dois montanhistas amarrados juntos pela mesma corda”, disse Braque décadas depois sobre o trabalho que ele e Picasso
realizaram.
Só que Fernande Olivier, a companheira do toureiro, implicou de saída
com essa troca de figurinhas entre o “namorido” e Braque que, inclusive, foi esnobado
pela moça no seu livro de memórias. Ela costumava resmungar que os rapazes
trabalhavam quase em “coabitação” e
que viviam um relacionamento artístico no modo “conjugal”. De certa forma era
verdade e, pelo término da amizade, eles passaram o resto de suas vidas em
remissão (rsrs)
Mas a sinfonia masculina desde os seus primeiros acordes muito
desagradou Fernande que, ciumenta e possessiva que era, antipatizava
profundamente com o colega de tintas do seu amado. Aliás, compreensivelmente, uma
vez que, em muitos aspectos, o “inimigo” começou a substituí-la. Picasso às
vezes se referia a Braque como “ma femme”
– minha mulher! (rsrs) – muito à vontade com o apelido e a brincadeira, porque,
como ele, o companheiro de tintas e copos também era “espada” e amava as
mulheres e ninguém disso duvidava.
Braque vivera um tórrido amor com uma mulher de beleza lendária, Paulette Phillipi, vulgo Manon
e/ou Opia, a mensageira da alegria, a musa dos dependentes, a fonte de
ópio e de prazeres para os artistas de Montmartre nas “fumeries” vespertinas que organizava. André Salmon, nos seus escritos, nos narra como Picasso - com alguma
ajuda de Fernande - conspirou para separar o amigo dessa perigosa namorada. Tem
mais. Diz Dona Lenda que foi Picasso quem escolheu a esposa
de Braque (rsrs)
Marcelle Vorvanne era uma das mais requisitadas modelos da colina, uma
moça bonita e simpática, mignon e alegre que adorava pregar peças nos artistas
desavisados e era perita em apelidá-los. Embora Braque fosse um tipo dominador,
não se importava com o fato da esposa pensar com a própria mente em parte
porque a principal arma de manipulação da mulher de sua vida era a gastronomia
(rsrs) Mas, estranhamente, Madame Braque continuou chamando o marido pelo
sobrenome pelo resto de suas vidas.
Georges Braque - Femme tenant une Mandoline (1910) |
Georges Braque era um sujeito calmo, relaxado, de bem com a vida, e
talvez por isso mesmo tornou-se o companheiro indispensável de Picasso. De
temperamento eles eram bem diferentes mas foi dessas diversidades que nasceu o
cubismo: o espanhol era volátil e expressivo e o francês simpático, mas
inescrutável. Com quase a mesma idade - Pablo e Georges nasceram com sete meses
de intervalo em 1881 e 1882 respectivamente – se tornaram aliados desde que Apollinaire
levou o francês ao estúdio do espanhol no Bateau-Lavoir pela primeira vez.
Pudera! Esses dois eram um time e juntos não perdoaram nem mesmo a Basílica de
Sacré-Coeur de Montmartre (rsrs)
Georges Braque - Le Sacré Coeur (1910) |
Ambos eram brilhantes, talentosos e antenados, apreciavam a vida ao ar
livre e a boemia nas ruas, bares e cafés, a cultura e a literatura populares e
o cinema. Eles adoravam histórias de cowboy, colecionavam aventuras em
brochuras baratas, arte africana e cartazes de filmes. Mas a principal obsessão
da dupla dinâmica eram os jornais. Picasso e Braque eram viciados na “mídia” da
época, empolgados com a rápida circulação de informações e a cacofonia da
publicidade. Um do mais geniais desenhos de Picasso foi desenhado em uma página
que elencava os preços de ações:
Pablo Picasso - Tête d'homme avec moustache (1913) |
Tudo bem que, em revolta contra os impressionistas - que abandonaram a
forma por causa da luz e da cor! - e contra os “feras” - que amplificaram a cor a uma intensidade sem precedentes!
- Braque e Picasso promoveram uma carnificina da forma, quebrando-a em inúmeras
facetas, e reduziram suas paletas a tons de cinza e bege para dar cor aos
restos mortais de tudo.
Mas quem pensa que essa modernidade foi filha do sofrimento e nasceu
angustiada jamais ouviu falar das presepadas dessa dupla, das artes e das
gargalhadas que aprontaram e deram durante o período de criatividade efuziante
e fecunda que compartilharam. Eles se divertiram!
A camaradagem lúdica e a competição artística e intelectual foi a base
da aliança de Picasso e Braque. Os historiadores da arte acham que o cubismo
foi uma coisa séria, uma romaria sisuda por uma série de experimentos
conceituais. Fala sério! Que bobice! O cubismo foi um jogo divertido. O caos
ordeiro das telas nas quais os dois amigos trabalharam durante esses primeiros
anos foi produto de suas peraltices.
Dizem que, quando jovem, o francês era uma máquina:
alto, grandalhão, um excelente pugilista e ciclista, famoso por sua força
física. E que os rapazes gostavam de se passar por pugilistas
profissionais, um peso leve e o outro pesado: era a estratégia deles para
conseguir descontos nas corridas de táxi (rsrs)
Eles se apresentavam como “os irmãos Wright” – o apelido de Braque
era Wilbur! - e iam até o aeródromo na periferia de Paris para observar os
filhotes de Ícaro desafiando o céu dentro de engenhocas de madeira e tela que
desafiavam a lei da gravidade graças às cordas e à cola. E então voltavam para
o Bateau Lavoir para fazer suas próprias esculturas como andaimes de papel,
igualmente coladas e instáveis. Essas brincadeiras eram percursos mentais! Os
cubistas gostavam de cometer referências à aviação porque viam sua arte como
sendo inovadora como ela.
Pablo Picasso - La coquille Saint Jacques - Notre avenir est dans l'air (19120 |
Em parte como resposta às telas de tons
brilhantes dos futuristas italianos, Picasso usou tinta industrial na tela
acima de nome Concha de Vieira - Nosso
Futuro Está no Ar, na qual reproduziu a capa de um panfleto impresso pela
empresa de pneus Michelin para turbinar o apoio popular ao programa de aviação
militar do governo. As listras azuis, brancas e vermelhas, é claro, referem-se
à bandeira francesa.
Picasso também chamava Braque de “o
conferidor” e dizia que ele verificava tudo e que fundamentara todas as
novidades da arte moderna nas leis da óptica e da física. Braque se orgulhava
do trabalho deles que habilmente demolira a “ilusão
enganadora da perspectiva renascentista”, demostrando que não havia o tal
do obsoleto ponto de fuga.
Eles usaram os instrumentos da arte para seus jogos de aprendizagem e de
linguagem, misturando as tintas às pretinhas e aos números que o francês – isso
mesmo, foi ele! - teve a ideia de incluir em suas pinturas. Eles torceram as
imagens de suas mulheres e amigos em trocadilhos, assim como desmontaram as
identidades únicas e frontais de suas figuras humanas.
Dos dois era Braque quem amava a música, e portanto muitas das pinturas
cubistas têm uma vibração que sugere o vibrato do violino e o dobrar e
desdobrar do acordeão, que ele tocava. É um equívoco se pensar que foi o
espanhol quem introduziu elementos da música nas cubices – todas aquelas notas
e instrumentos musicais.
Georges Braque - Violon et cruche (1910) |
O autor do crime foi Braque e o efeito abrangente foi o do romance e da
boemia da vida em um café parisiense mais de cem anos atrás.
Nessa busca por um novo tipo de linguagem e de arquitetura pictórica, o
tempo todo se sente a necessidade de reconstrução. Juntos Pablo e Georges se esforçaram
para avançar em direção a um cubismo mais desenvolvido. Em 1909 os objetos
ainda eram
reconhecíveis nas pinturas desses dois, mas já apareciam fraturados em
múltiplas facetas, assim como o espaço circundante com o qual eles passaram a
se fundir. Depois as composições entraram não em parafuso mas em movimento à
medida que os olhos observadores tiveram que se mover de um plano facetado para
o seguinte, procurando diferenciar formas e acomodar fontes de luz e localizar
as cada vez mais raras placas de sinalização da tridimensionalidade.
Surgiram as partes segmentadas de jarros, violinos, violões, clarinetes,
partituras, maçãs, peras, uvas, garrafas e copos, cartas de baralho e das
paletas dos artistas. Na tela de Braque batizada de Piano e Viola, formas
cristalinas explodiram: as teclas negras e brancas do piano quase todas
desincorporadas, as partituras virtualmente se desintegrando, a viola
decomposta.
Georges Braque - Piano et Mandore (1909) |
Fragmentar foi o jeito que Braque e Picasso encontraram de chegar o mais
perto possível dos objetos que a pintura lhes permitia. Por isso, pelas
qualidades tácteis implícitas, o apelo das naturezas mortas os tantalizava mas
os instrumentos musicais tinham ainda mais significado, na medida em que são
animados pelo toque. Da mesma forma que os ritmos e harmonias são a vida dos
instrumentos musicais, o movimento espacial dinâmico é a essência das mais
líricas pinturas cubistas.
E assim, nesse pingue-pongue, brincando
irreverentemente, os dois grandes mestres foram inventando o novo estilo
que mudou os fundamentos da arte tradicional européia: a modelagem em luz e
sombra para sugerir arredondamento e volume, as linhas da perspectiva para
sugerir espaço, a própria ideia de se fazer uma descrição reconhecível do mundo
real. Quando as novas imagens começaram a querer fugir das paredes, aí os
rapazes inventaram o cubismo hardrock, se uniram e
mergulharam no cubismo analítico, como é o caso da Garota com uma Cruz.
Georges Braque - Fille avec une croix (1911) |
As obras de arte feitas nessa folia eram quebra-cabeças intrigantes e
divertidos, eram como conversas sem pressa no estúdio ou no café favorito dos
artistas. Seguindo pistas que encontraram no trabalho de Paul Cézanne e cheios
de bravatas juvenis, Picasso e Braque criaram enigmas pictóricos, aparentemente
incompreensíveis porque são cheios de truques e contradições. Os observadores
captam algumas pistas - um perfil, um seio, um cachimbo, uma garrafa, um
chapéu, um jornal - e elas começam a sugerir uma realidade em três dimensões.
A impressão é a de um mundo moderno e rápido, com vislumbres de modelos,
amigos e da parafernália de beber e fumar. Deliberadamente essas coisas nunca
se somam totalmente, jamais formam um todo. Provocantes e indizíveis, as
imagens criadas por esses dois são construções de formas e sinais reunidos com
espírito. Para quem as olha o jeito é deixar de lado todas as expectativas
normais e o prazer é entrar na brincadeira dos pintores, principalmente, quando
eles co-inventaram, mais tarde, a primeira fase do movimento, que foi dominada
pela análise da forma e apelidada de “cubismo
analítico”.
Muitíssimos trabalhos dos dois amigos foram feitos ao mesmo tempo e há
telas tão semelhantes que observá-las é quase um jogo de
adivinhação. É que assinavam o verso das obras de propósito e às vezes nem eles
mesmos sabiam quem pintara o quê (rsrs) Várias obras dos dois podem ser
percebidas como de um mesmo pintor e de uma única série, e não se sabe quem
pensou e/ou pintou o quê primeiro.
Que Braque pudesse fazer o que ele não podia era uma dor de cabeça e uma
provocação para o toureiro. Que Braque pudesse ser o que ele não podia era um
tormento regular. Mesmo depois que seguiram seus próprios caminhos e,
ocasionalmente, fizeram comentários ácidos um sobre o outro, ambos permaneceram
fiéis ao que haviam compartilhado durante aqueles anos. Eles nunca traíram o
momento criativo que compartilharam. A declaração mais crítica que já li foi
articulada por Braque e muito ambiguamente:
“Picasso costumava ser um pintor
formidável. Hoje, é só um gênio.”
A impregnabilidade do silêncio deles sobre a amizade e o posterior
afastamento diz muito. Há uma forte dimensão filosofal, transcendental – quase
religiosa! - no cubismo e isso deve ser creditado a Braque cujo panteísmo
encorajava o respeito por objetos humildes e um sentimento por cada centímetro
da superfície pictórica. Com o nariz sempre mergulhado na filosofia oriental e
nos romances sobre a quarta dimensão ele era zen e acreditava que “menos era
mais”:
“Você tira algo e tudo fica mais
bonito, mais verdadeiro. Você adiciona algo e está arruinado.”
Tudo bem que talvez tenha sido a curiosidade de Picasso que os encorajou
a pegar objetos, revirá-los e explorá-los de todos os lados, esgotando-lhes
qualquer possibilidade estética. Para os dois artistas, os objetos tinham que
ser conhecidos, tocados e revelados. Uma pintura cubista está constantemente se
revelando de novas maneiras, continuamente mudando e surpreendendo. Pintar
nunca tinha sido assim antes.
Face ao significado do cubismo, ao seu sucesso inquestionável, realmente
importa saber quem fez o quê e quando? Será que realmente é pertinente saber se
Braque foi apenas um craque e Picasso a estrela do time? Com certeza que sim.
Em um mundo de arte contemporânea fascinado pela mudança, produção e novidade,
Picasso - constantemente se reinventando, testando limites, indo além de
qualquer jeito e com qualquer meio - é o rei. Mas a poesia quieta de Braque não
pode ser tratada como pequena e inconsequente. Nem sua sensibilidade deve ser
percebida como previsível e incapaz de alterar a maneira como vemos e sentimos
as coisas.
Entender e observar como Braque era capaz de notáveis flexibilidade e
invenção, apreciar sua contribuição, faz a gente abstrair que o movimento
artístico mais notável do século XX teria sido impensável sem ele. E – quem
sabe? - a obra de Braque nos ajude a compreender um dos motivos que faziam
Picasso retornar periodicamente ao classicismo: a busca de algo que só
vislumbrara na presença de Braque: o equilíbrio.
Moral e metafisicamente, Braque tinha uma estatura inacessível que
estava além da rivalidade. Dizem os biógrafos que ele investiu pesadamente em
ser.
“Poucas pessoas podem dizer: eu estou
aqui. Eles só olham para si mesmos no passado e só se veem no futuro”.
O fato é que sem Georges Braque, o menos delirante dos homens, Picasso não teria sido o mais
delirante deles.
muito bom o texto. façamos justiça ao velho Braque!
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, que assino embaixo
ExcluirO artigo é ótimo, Moacir. É a velha história do segundo lugar eternamente injustiçado. A convivência de Picasso e Braque me fez lembrar do meu filho e dos amigos dele juntos desde o jardim de infância. Os mais tímidos são sempre ofuscados pelas personalidades mais expansivas kkk Gostei de saber que Braque era um amante da música e que esta é a razão dos instrumentos musicais nas obras mais bonitas. Acho que estou me acostumando com os quadros cubistas mas quero ver mais antes de formar uma opinião. Obrigada!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirPois é. Os netos curaram, em parte, essa saudade que tínhamos dos bons tempos quando os nossos curumins enchiam o apartamento com a alegria dos amigos pirralhos. E você tem razão: nem sempre o mentor intelectual era o autor dos crimes (rsrs) Mas em se tratando do toureiro e de Braque, não havia um líder carismático e um seguidor fiel : como parceiros na construção do cubismo, eles tiveram o mesmo peso, se consideravam absolutamente iguais e foram colaboradores alegres e motivados, devotos apenas da pintura que queriam revolucionar.
É verdade que Braque era reservado e que Picasso era carismático. Mas não pintava para agradar. Apesar de todo o seu magnetismo ele se importava menos com a opinião alheia sobre a sua arte e mais com a realização eficaz dos seus objetivos pictóricos. De certa forma , ambos os artistas eram bem pragmáticos (rsrs)
Quanto aos instrumentos musicais eles são um tema onipresente em todas as fases do Cubismo. Como já lhe disse, vai piorar antes de melhorar para sempre. “Obrigado!” e abração
1) "A arte é uma mentira, que revela a verdade" = Picasso (1883-1973) citado em Correspondência de Monteiro Lobato, de Cassiano Nunes.
ResponderExcluir2)fonte: pág. 71, Dicionário Universal de Citações, Paulo Ronai,editora Nova Fronteira, 1985.
3)Eu não diria que é uma mentira, mas uma ficção...
4)Obrigado Pimentel e boa semana à sua caudalosidade no ato de escrever sobre arte. Dessa colina flui um riacho caudaloso nos contemplando com textos primorosos.
Antonioji,
ExcluirEu aprecio tanto essa frase de Picasso "A arte é a mentira que diz a verdade" que – juro de pés juntos! - foi com ela que encerrei essa looooonga franquia. Não sei se você conhece uma pintura de René Magritte intitulada “A Traição das Imagens”:
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Treachery_of_Images#/media/File:MagrittePipe.jpg
Note, por favor, que embaixo dela o artista cravou as palavras "Isto não é um cachimbo". Claro que não é e até os nossos netinhos sabem disso. Por mais realista que fosse a pintura, nunca seria um cachimbo, certo? É aqui que entra a verdade: toda arte é uma mentira porque não pode representar a realidade e sim refletir a percepção da realidade do artista, a verdade do artista. E nisso, ela é verdade. Não, acredito que todos nós tenhamos a nossa própria verdade, ao contrário, creio que todos nós temos nossa própria perspectiva da verdade. Eu também acredito que, enquanto eu estiver vendo através dos meus olhos e processando informações com meu cérebro, ambos mortais, eu não posso esperar compreender plenamente a verdade do universo (rsrs) Mas eu posso sim conseguir alguns vislumbres dela em muitos lugares e, entre eles, na arte feita por artistas que, ao colocar o lápis no papel ou o pincel na tela ou o cinzel na pedra ou as pontas dos dedos no teclado, nos abrem janelas para suas visões da vida, incapazes de mentir sem reflexos da verdade. Ou seja, se Magritte tivesse escrito que seu cachimbo era real ele estaria mentindo mas, da mesma forma, nos daria um flash da verdade que, caudalosa, está aqui e aí e lá fora e é por isso que lhe digo:
Namastê!
Pimentel,
ResponderExcluirNo meu dicionário cubismo era um sinônimo de Picasso e na minha enciclopédia Georges Braque era apenas um verbete e só entrava de leve na história por ter sido um dos seguidores do rei . Você demonstra cabalmente que a pintura moderna não teria sido a mesma sem o trabalho conjunto dos dois, me fazendo sentir primeiro ignorante e depois agradecido pela leitura a um só tempo tão agradável e informativa. Parabéns!
Sampaio,
ExcluirGeorges Braque foi um dos maiores pintores do século XX e, fique frio, por aqui veremos sua arte original e impressionante através de todas as fases do cubismo (rsrs)
Obrigado e abração
Moacir ,
ResponderExcluirEstou encantada com a amizade e as brincadeiras dos pintores e espantada com a grandeza da arte de Braque. Acompanhar a evolução do cubismo através destas obras de arte fabulosas com você de guia é um presente. Só não sei se entendo a natureza filosofal quase 'religiosa' do cubismo. Mas concordo que é preciso investir ‘em ser’ e destaco do seu artigo esta pérola:
"Poucas pessoas podem dizer: eu estou aqui. Eles só olham para si mesmos no passado e só se vêem no futuro”.
Um abraço para você
Flávia,
ExcluirSe concordamos com os gregos que filosofia é qualquer investigação da dimensão essencial da realidade para além da opinião do senso comum prisioneiro das aparências então é claro que os cubistas filosofaram, se bem que Braque bem mais do que Picasso.
O toureiro em vez de filosofias era um homem de sentidos.Ele dizia que se quisesse “explicar” seus quadros os teria escrito e não pintado, que era apenas um pintor pintando e estamos conversados. Já Braque escreveu e muito e se tornou “zen”, mas essa já é outra conversa. Sou de opinião que não se pode transformar a arte em algo tão intrigante e inovador como os cubistas fizeram – tanto que a fragmentação tomou de assalto outras artes! - e evitar as tentativas de relacionar esse trabalho com idéias filosóficas e/ou mudanças culturais. Então a leitura que faço da ascensão da arte como uma força na modernidade é que foi uma coisa muito boa: um lugar onde se passou a quebrar o cotidiano, a poder liberar algumas das pressões da existência diária, a ter momentos de meditação, a ver coisas inteligentes e belas que forçam o reexame da vida. Finalmente entendo que o ato de pintar, para ambos os amigos na colina, tinha algo de transcendental. Eles pensavam e faziam de suas ideias tintas e das tintas imagens até que a ideia tivesse se esgotado completamente metamorfoseada em pintura.
Outro abraço para você
Prezado Autor, Sr. Moacir Pimentel,
ResponderExcluirTudo o que esse Escritor excelente, Viajante do Mundo desde a juventude com mochila, e estudioso e conhecedor das Artes, especialmente a Pintura, tudo o que o Sr. Moacir Pimentel escreve é prazeroso de se ler.
Assim também esse Artigo sobre o Cubismo, mais focado em Georges Braque que Picasso, não foge a regra e é muito compreensivo, coisa muito difícil de se explicar em se tratando de Pintura Abstrata.
Aparentemente o Cubismo de Georges Braque tem um estilo mais puro, seguindo mais a Geometria dos Hiper-Poliedros, do que o de Picasso.
O Sr. Moacir Pimentel observa que o Cubismo sendo contemporâneo da nascente aviação mais pesada que o ar, levava os Artistas ao Aero-Clube de Paris para observar os primeiros protótipos em tentativas ou vôos.
Ali estava se destacando o Maior dos Pais da Aviação, o Brasileiro Alberto Santos-Dumont. A nosso ver, Santos-Dumont é o MAIOR dos Pais da Aviação, porque os Pais foram muitos, porque só ele projetou, resolveu o problema da navegabilidade dos Balões, ganhando prêmios, etc, no Campo do Mais leve que o ar, e em seguida reagindo ao desafio do Aero-Clube de Paris que oferecia prêmio a quem decolasse com os próprios meios e voasse pelo menos 180m. Em 1906, Santos-Dumont venceu esse prêmio com o 14 -Bis, tendo pleno sucesso também no Campo do Mais pesado que o ar.
Os Irmãos Wright, foram grandes mas por so atuarem no Campo do Mais pesado que o ar, não foram completos como Santos-Dumont.
Depois quando comparamos o bi-plano Flier dos Wrights, (1903) ele tinha elevador a vante, como o 14-Bis, e para curvar, o grande problema da época, usava um rudimentar sistema de cabos que engortava as pontas das asas, uma para cima, outra ponta para baixo, já a grande invenção de Santos-Dumont, a Demoiselle, (1908) também conhecido como Grasshopper no mundo Anglo-Saxao, foi o primeiro a resolver plenamente a rotação sobre os 3 Eixos, tendo Empenagem a ré, grupo motor-propulsor a vante e ailerons nas asas, sendo a Demoiselle a mais avançada das aeronaves, tendo hoje o mais aperfeiçoado Ultra-leve a mesma configuração dela.
Ocorre que os Irmãos Wright, Americanos práticos e Classe Média, Patentearam tudo, enquanto o milhonário genial Inventor e Piloto de Testes Santos-Dumont não se preocupou com essas chateações, o que dificultou muito a defesa da sua Obra posteriormente.
Desculpe-me Sr. Moacir sair um pouco fora do tema, mas seguramente Georges Braque e Picasso devem ter visto com admiração pelos céus de Paris-FR Santos-Dumont com seus Dirigíveis (mais leve que o ar), e em sua Demoiselle ( mais pesado que o ar), e alguma influência isso também teve no Cubismo.
E a
Abração.
Prezado Bortolotto,
ExcluirEu agradeço-lhe imenso pela leitura sempre atenta e por complementar o post de forma tão rica e interessante. Quero acreditar que as aventuras do grande Alberto nos céus de Paris tenham sim ajudado o Cubismo a decolar. Afinal Santos Dumont tornara-se uma celebridade mundial depois do zênite de sua carreira “mais leve que o ar”, em outubro de 1901, quando ele ganhou o prêmio Deutsch de la Meurthe por voado do Parque Saint Cloud para a Torre Eiffel e voltado em menos de trinta minutos. Foi então que os parisienses passaram a carinhosamente chamá-lo de “Le Petit Santos” e até imitaram seu estilo de vestir: o chapéu de panamá virou moda. Tudo bem que essa parte da história não tenha sido testemunhada e curtida por Picasso e Braque - já que ainda não tinham se radicado em Montmartre e/ou nem se conheciam - mas realmente causa estranheza que nenhum do biógrafos dos pintores - nem mesmo o historiador de arte britânico John Richardson nos seus três volumes da Vida de Picasso - mencionem o nosso Pai da Aviação, apesar de descreverem fartamente a fascinação dos rapazes pelos aviões, as esculturas que faziam das máquinas de voar e a sua admiração pelos irmãos Wright. É impossível , por exemplo, que Picasso e Braque não tenham vibrado em outubro de 1906 com o 14-Bis nem acompanhado de perto os voos das populares Demoiselles sobre os bulevares de Paris em 1909.
Mas o fato é que, infelizmente, não há qualquer registro ou literatura a respeito. Finalizo portanto homenageando a genialidade de Santos Dumont e totalmente solidário a você nesses nossos mais do que justos ”achismos”.
Abração
Pimentel,
ResponderExcluirNa razão inversamente proporcional à qualidade dos teus artigos sobre pinturas, e especificamente sobre o famoso bairro de Montmartre, em Paris, os meus comentários perderam completamente espaços neste blog, pois não tenho mais como postar qualquer detalhe sobre a beleza e importância das obras que exigem esta precisão, da mesma forma sobre a excelência do teu trabalho, Pimentel.
O que eu poderia escrever já foi registrado, que considero os teus textos no mesmo nível dos artistas mencionados, haja vista a necessidade de se encontrar um expert que saiba não só interpretar os desejos do artista, mas que saiba também transmiti-los e, tu, tens sido inigualável!
Logo, só me resta ser repetitivo:
Mais um artigo que tiro cópia e o arquivo na pasta especial dos anteriores, diante do texto elucidativo, brilhante e didático, e que está no mesmo nível das telas e pintores mencionados, enaltecendo sobremaneira Conversas do Mano como um espaço extraordinário à disposição da cultura, objetivo de um dos grandes incentivadores neste particular, o nosso amigo Wilson, pelo qual também lhe envio o meu reconhecimento e gratidão pelo blog existente!
Um abraço, Pimentel.
Saúde e paz.
Chicão,
ExcluirAqui entre nós e baixinho, confesso que não sei se entendi bem o seu comentário. De saída pensei que, com toda razão, você estivesse cansado do tema que dado à complexidade talvez esteja sendo mastigado por demais. Nesse caso, peço-lhe desculpas pela quilometragem da franquia e adianto-lhe que já estamos na sua reta de chegada. Fique à vontade para não comentar até eu virar o disco (rsrs)
Mas em seguida pensei cá comigo que comentar é o mesmo que nossos pais faziam antigamente lendo com um lápis à mão. Ou seja, ler algo jamais é uma atividade passiva. Nas leituras, como nas conversas, a gente concorda, discorda, é lembrado de pretéritas experiências, faz analogias, estabelece links, cai em brainstormings, enriquece com novas ideias, combina diferentes visões em um horizonte mais largo da vida. As cubices têm provocado os mais variados e enriquecedores comentários sobre o Gama, filhos e netos, aviões e filosofia oriental e por aí vai que, inclusive, determinaram mudanças nos posts seguintes.Muito mais importante de como eu escrevo e/ou da própria “beleza e importância” dessas pinturas todas, é saber o que vocês pensam delas e dos temas, o que eles evocam e sugerem a cada um de vocês e, é claro, o que tudo isso acrescenta à minha abordagem inicial. O diálogo, hoje em pauta, entre os dois pintores dão um testemunho importante do valor da colaboração. Não há melhor forma de você “enaltecer” as Conversas do que participando delas. Quem respeita, conversa.
De resto muito obrigado pelos elogios retumbantes e muita saúde e paz.
Abração
Bom, tentarei explicar o que não entendeste do meu comentário na sua "saída", conforme escreveste, Pimentel:
ExcluirEu quis dizer que, quanto mais postas os teus artigos neste blog extraordinário, menos tenho vontade de registrar os meus, em face da flagrante diferença de qualidade entre a tua obra e os meus rabiscos!
Como está sendo difícil eu comentar a respeito de pinturas porque nada entendo, e acredito que eu tenha te elogiado de todas as formas e maneiras possíveis, então a desproporção com relação à profusão de temas que abordas com a qualidade de sempre, enquanto os meus são simplórios, que não mereciam fazer parte deste oásis cultural!
Outro abraço.
Mais saúde e paz.
Um post notável não só pela lição de arte mas pelas contidas nas entrelinhas.Para alguém tão ególatra quanto o “gênio” deve ter sido uma barra segurar o temperamento competitivo e conviver com humildemente com um parceiro que podia ser e fazer o que ele não era capaz,rs. Mas ambos sabiam que o mais importante era matar no peito o desafio do Cubismo e que só conseguiriam se formassem um time e colocassem suas diferenças a serviço do propósito comum.
ResponderExcluirMárcio,
ExcluirConcordo com você tanto sobre as sempre bem vindas lições de humildade quanto sobre a sabedoria de usar as diferenças eficazmente para se atingir objetivos maiores. No caso de Picasso e Braque, o fato de dissecarem as mentes um do outro permitiu-lhes elevar sua consciência artística, revolucionar a forma como nos relacionamos e criar a ideologia cubista que estabeleceu o curso da arte no século XX. A “sinergia” tornou-se uma dessas palavras novas que às vezes significam muito pouco mas penso que esses dois poderiam exemplificar a tal da sinergia da colaboração: um compartilhamento de ideias, um diálogo quase inconsciente, uma consciência de que o outro estava presente na conversa como se os dois estivessem surfando a mesma onda em pranchas paralelas (rsrs) Braque e Picasso têm muito a ensinar sobre liderança e trabalho de equipe. Só que a colaboração entre os contrários desafia os sangrentos genes primordiais que fizeram do bicho homem uma espécie de esquerda evolutiva treinada para a procurar pelas diferenças, para separar os "nós" dos "eles" e para combatê-los. ISSO é instinto e de sê-lo, jamais seremos capazes de deletar a tendência limitativa. O que podemos fazer é gerenciar essa característica separatista e belicosa e trabalhar para que o nervo emergente da mente possa nos guiar pelo caminho evolutivo da razão, que passa pelo conhecimento, pela curiosidade, pela tolerância para com a diversidade e pela competição colaborativa e civilizada. Obrigado por participar.
Olá Moacir,
ResponderExcluirQue bom que temos você! E suas aulas e suas estórias e história!
Sabichão!
Quando ensinava xilogravura na para crianças da periferia uma delas me surpreendeu por escolher imprimir seu trabalho numa folha de catálogo de telefone, usada para separar as matrizes. Ficou lindo e virou moda. Depois imprimimos em pedaços de americano cru e fizemos um belo e enorme patchwork com as gravuras de todos.
Continuo em luta com o analítico e agora o hardrock.
Obrigada. Obrigada. Obrigada.
Atë sempre mais.
Caríssima Donana,
ExcluirA essa altura da conversa já percebi que a senhora é perita em tirar qualquer sabichão de letra!(rsrs) Que bom que a senhora ainda não cansou e que essa garotinha não teve aquele texano metido à besta como professor de artes! O hardrock e o analítico são a mesma cubice mas antes de traduzi-la Picasso ainda nos obrigará a fazer uma escala em um vilarejo espanhol (rsrs) Faz alguns dias eu cravei um ponto final na franquia mas quem disse que me libertei dos fantasmas da colina? Agora estou rascunhando sobre Braque ... depois de Picasso (rsrs) Tri-obrigado digo-lhe eu além de - nunca é demais! - mais um “até sempre mais”