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| Vista de Zagreb (fotografia Alps Adria Acoustics Association) |
Antonio Rocha
Em 1980 conhecemos em Lisboa, eu e minha esposa, a portuguesa Maria,
casada com um Iugoslavo. Estavam de férias no verão, tinham dois filhos.
Maria nascera em Portugal, veio nova para o Rio de Janeiro com os pais,
que se dedicavam a um pequeno comércio na zona norte carioca. Ela estudou
geografia na UFRJ. Formada, a família voltou para Portugal.
Eles tinham um mini-restaurante nos Anjos, o bairro lisboeta onde
morávamos, inicialmente, ficamos muito amigos.
Com a gravidez minha esposa enjoava muito e dona Luiza, mãe de Maria,
permitia que Heloisa usasse a cozinha da “tasquinha” para fazer o tipo de
comida que bem quisesse.
Maria fez pós-graduação nos EUA e lá conheceu o futuro marido
iugoslavo, também geógrafo. Após os estudos, casaram e foram morar em Zagreb,
hoje capital da Croácia, naquela época, uma próspera cidade da Iugoslávia, um
conglomerado de etnias, mini-repúblicas.
Conversando com Maria, naquele verão português, eu questionava?
- E o Marechal Tito, quando ele morrer, como
será?
Ela respondia:
- Não sabemos, mas acreditamos que tudo vai
continuar igual, o partido controla tudo.
E eu parecia entrevistar Maria:
- Oi Maria, como é viver em um país da Cortina
de Ferro, uma nação socialista?
- Eu acho que é mais ou menos igual aqui. De
manhã vamos ao trabalho, o bonde está cheio, o pessoal reclama da condução e
tocamos a vida para a frente. Meus dois filhos colocamos na escola de manhã e
pegamos a tarde, na saída do trabalho.
- E a vida em Zagreb?
- Nós moramos em um apartamento de um só
quarto, sala, cozinha, banheiro e área
de serviço.
- As instalações são boas para vocês?
- Quando nasceu o segundo filho, nós nos
inscrevemos no governo para ganhar um apartamento de dois quartos, ainda não
conseguimos.
- Tem fila?
- Sim a fila é grande e eles vão liberando aos
poucos. Nós sabemos que, às vezes, o pessoal do partido fura a fila, entra na
nossa frente e ganha o imóvel, mas não tem problema, a gente se acostuma a
viver com simplicidade. Nós não somos do partido. Mas não reclamamos de nada.
Temos trabalho, casa, escola para as crianças, lazer, está tudo bem.
Um jovem casal, bem alegre, dois filhos. Prósperos, como toda boa
família que se preza.
A morte do presidente veio, a impermanência idem e a nação entrou em
uma guerra violentíssima que esfacelou o país. Cada etnia hoje constitui uma
terra a parte.
A mão de ferro do Marechal Tito e o partido não foram suficientes para
enfrentar os ventos da mudança que sopraram forte na região.
Mas os nossos queridos amigos respiram atualmente os ventos da Democracia,
imperfeita, mas vai-se aos poucos melhorando.
Em Zagreb, hoje, quando escrevo esta crônica, 16/07/2018, 15:27 horas,
a alegria deve ser grande... Croácia, vice-campeã de Futebol do Mundo.
Parabéns, eles merecem !
E a presidenta deles, como disse meu sobrinho: “Uma fofa!*”
(*) Respeitosamente, é claro, e sem quebrar o
protocolo e o cerimonial!
Prezado Autor Prof. Antônio Rocha,
ResponderExcluirMuito interessante seus diálogos com o casal de Iugoslavos em Lisboa no ano 1980.
Apesar que o Presidente TITO inovou na Iugoslávia, criando o Socialismo de Mercados e ter ficado independente não pertencendo ao Tratado de Varsóvia, o País era Socialista uma vez que todos os Meios de Produção eram Cooperativas, não havia portanto Iniciativa Privada, e o Regime era de Partido Único.
O casal estimou que para a Classe Média a diferença de Padrão de Vida, entre Portugal e a Iugoslávia era pequena.
A vantagem do Socialismo, mesmo o de Mercados, ė que não tem Desemprego, mas em termos de eficiência Econômica e Liberdades Individuais, é muito ineficiente.
Por isso a Iugoslávia se desintegrou depois de TITO.
Já a Federação Suíça, Capitalista, e composta também de várias Etnias ( Alemã, Francesa .Italiana, alguns Judeus, etc), ė cada vez mais unida.
Agora, o Capitalismo Liberal deve cuidar com a estratégica variável Desemprego, por que senão....
Certo estava Lorde KEYNES quando disse que o desafio do Futuro seria criarmos um Sistema que tivesse Eficiência Econômica, gerasse Justiça Social e preservasse as tão importantes Liberdades Individuais.
Abração.
1) Prezado Mestre Bortolloto.
Excluir2) Gosto muito de suas dicas econômicas, verdadeiras aulas.
3)Conversando com amigos, uma vez, concordamos, o ideal seria construirmos um sistema com o melhor do capitalismo e do socialismo.
4) Deve demorar um pouco...
Rocha, meu amigo e professor,
ResponderExcluirQuando foi derrubado o Muro de Berlim, e a União Soviética deixou de existir, suas Repúblicas voltaram a ser independentes.
Imaginava-se que o mercado do Leste Europeu seria promissor, que abriria uma possibilidade excelente para a Europa como um todo, em face de o consumo ter sido estrangulado durante décadas.
Não foi o que aconteceu.
O ódio, as etnias, a religião, exacerbaram suas intolerâncias, e tivemos várias guerras nesta região, a ponto de ficar conhecida como o Vietnã Europeu, incluindo verdadeiras bestas humanas depois julgadas como criminosos de guerra!
Os países pertencentes ao Leste Europeu possuem uma economia pautada no extrativismo e nas atividades agrícolas, sendo que boa parte dessas nações encontra-se em um estágio atrasado de desenvolvimento, com altos índices de pobreza, comparando-se com os países da Europa Ocidental.
O Leste praticamente vive do turismo, pois não há industrialização, e o nível de vida é modesto.
No entanto, a cidadezinha de Medjugorje (pronuncia-se Mediugórie), da então Iugoslávia, onde hoje é a Bósnia-Herzegovina, fica no meio de montanhas rochosas. A população é constituída por famílias de camponeses de tradição católica e muito humildes, cuja vida social se resume às atividades paroquiais. O lugar ficou conhecido por todo o mundo a partir de 1981, quando começaram as mais longas aparições de Nossa Senhora na história da Igreja Católica.
Abração.
Saúde e paz.
1) Salve Chicão, obrigado pelo comentário. Concordo plenamente com a sua visão do Leste Europeu,que hoje vive e incentiva o Turismo.
Excluir2) Em especial, acompanhei as aparições de Nossa Senhora Rainha da Paz...e gosto muito dela.
3)Sou um budista que estuda de forma autônoma a Marialogia, que todos escrevem Mariologia, mas como eu sou atrevido, disse no último artigo,chamo respeitosamente de Marialogia.
4) Aliás, hoje, 15/09/18 é Dia de Nossa Senhora da Assunção, então, que ela nos abençoe a proteja a todos nós e nossos familiares.
Antonioji,
ResponderExcluirPrimeiro senti saudades das tasquinhas: é nelas que se come bem a t'rrinha ! Em seguida pensei que nenhuma mão e/ou muro e/ou cortina de ferro conseguiu deter por muito tempo, em quaisquer paragens do vasto mundo, à direita ou à esquerda, “os ventos da mudança". Como sou roqueiro de carteirinha, lembrei que, em julho de 1988, Bruce Springsteen tocou para uma multidão que mais parecia ser toda a população de Berlim Oriental. Na oportunidade o cantor desafiou as autoridades lendo um pequeno discurso em alemão para os trezentos mil jovens que estavam lá. Disse-lhes que estava ali para tocar rock and roll, na esperança de que um dia todas as barreiras seriam derrubadas. E atacou de Chimes of Freedom, do Bob Dylan.
https://www.youtube.com/watch?v=WBIcfPBVxxQ
Um ano depois, correram o mundo aquelas poderosas imagens de pessoas empunhando martelos e marretas e picaretas, abrindo buracos no notório muro e berrando que queriam passar. E a Alemanha foi unificada. Houve algum link entre os dois eventos? Talvez sim, talvez não, mas gosto de pensar que o rock de protesto da nossa geração fez a sua parte. O fato é que o bicho homem prefere viver na pior das democracias a ser tutelado na melhor das ditaduras. Fazer o quê?
Finalmente o seu post me fez pensar que a sua amiga Maria, fosse ela portuguesa, espanhola, francesa, inglesa, alemã ou croata, viveria sim de forma muito parecida. E aí reside uma das grandes diferenças entre o Brasil e a Europa: a classe média. Por lá as Marias e os Josés medianos cuidam dos filhos, cozinham, lavam, passam, limpam o próprio banheiro, usam o transporte público e as próprias pernas, caminham até a padaria e o mercado para comprar o que comem diariamente, enchem o tanque de gasolina com as próprias mãos. É o preço que se paga para não conviver com algo que faz parte das nossas vidas: o cruel abismo social e, portanto, a mão de obra barata e disponível para qualquer necessidade do dia a dia. Existe diferença social no velho mundo? Infelizmente existe, mas é muito, muito menor do que se vê nas nossas praias porque rola uma maior maturidade de valores, há mais respeito e, é claro, todos têm acesso à educação de qualidade. Sei que chegaremos lá - afinal só se pode desejar o que não se tem - o problema é quando (rsrs)
Namastê!
1)É isso aí Pimentel, como dizia a gíria da nossa geração:é preferível viver em uma democracia ruim, do que em uma perfeita ditadura, onde não se tem liberdade.
Excluir2)A queda do muro de Berlin foi algo marcante no milênio.
3)Vamos torcer para que o nosso Brasil, breve, não tenha tantas diferenças sociais, a educação melhor e a saúde idem.
Olã Antonio,
ResponderExcluirDemorei para comentar seu post, de que gostei muito, e aí intimidei-me. Os outros comentaristas disseram tudo, foram fundo nas considerações sociais. Sobrou para mim só dizer que a Maria é universal, não poderia ter outro nome. E que você deve ter conhecido muita gente interessante pelas suas andanças.
Muito bom te ler.
Até mais.
1) Vc tem toda razão Ana, a vivência de Maria e sua família, torna-a universal.
Excluir2)De fato, em Portugal conheci gente muito bacana, desde as pessoas mais simples, até as chamadas importantes.
3) O Condado Porto Calense como era chamado na Idade Média, se não me falha a memória, tem ótimas vibrações.
Mestre Antonio,
ResponderExcluirA Iugoslávia foi um país, digamos, "artificial" enquanto existiu. Foi formada depois da Primeira Guerra Mundial quando, com a derrota da Alemanha, alguns territórios do antigo Império Austro-Húngaro foram desmembrados e reunidos com o reino da Sérvia. Na Segunda Guerra Mundial a Alemanha tentou retomar as terras perdidas e invadiu a Iugoslávia, provocando um movimento de resistência que acabou sendo capitaneado pelo general (depois marechal) Tito. Mas após a morte dele, juntamente com a crise econômica de que falaram o Flávio e o Chicão houve o ressurgimento do nacionalismo, que sem o seu férreo comando central levou a guerras intestinas de extrema violência, e o país se fragmentou mais ainda do que a divisão anterior dos seus territórios originais. É um triste exemplo de como é perigoso mexer com antigas fronteiras geopolíticas, outro destes exemplos, embora o inverso, foi a divisão forçada da antiga Índia em Índia e Paquistão.
Seus queridos amigos tiveram a sorte de sobreviver ao caos e à destruição que imperaram tão recentemente na região, e esperemos que agora possam testemunhar uma recuperação e um tempo de paz.
1) Salve Mano, é isso mesmo, foi uma fragmentação violenta.
Excluir2) Lamentável tb a separação da Índia com o Paquistão, hoje os dois tem bombas atômicas, vivem em constante estado de atenção.
3) Os meus amigos seguem criando os filhos e vendo, aos poucos, o desenvolvimento da região.