Norman Rockwell |
Ana Nunes
Meu pai
querido
Belo homem,
bravo e ético. Honesto estopim curto.
Pescador
acostumado aos Pantanais, desiludido por não ter tido um genro colega de pesca.
Um era francês de carteirinha, e o outro, intelectual de papel e traças.
Um netinho
que fosse, que pescasse nem que fosse em poço. Tentou bastante nos Pesque e
Pague da vida. Um não ligava muito e o outro, sensível demais, soltava os
peixes sem o avô ver. Pobre Pai meu!
Bravo
desbravador de caminhos enlameados ou areias sedentas de mares verdes. Se
aventurava por ambas com seu jipe e depois de Rural verde e branca em que me
levou para a Igreja no dia do casamento. Aqui mesmo na cidade, casório de
contestação, segunda de manhã só para ver quem era amigo mesmo. Até o padre deu
o cano! Belo padre amigo do noivo!
Pai querido
com gênio da mãe Frau Frandsen. Mandou, por telefone, seu chefe àquele lugar
bom de mandar gente, e desmaiou em seguida de hipoglicemia. Tudo bem que às
vezes nos tratava com remédio de bicho, mas crescemos fortes e saudáveis Não
nos deixou bens muitos mas um legado de ética, lealdade e honestidade.
Responsabilidade e coragem. Fúria! Para mim em especial deixou seu gosto pelo
desenho. Seus cavalos de veterinário estudante colocados em papéis e lápis me
deixaram para sempre maravilhada.
Tem o Pai do
Mano, sogro marcante de personalidade forte. De cultura, de desenho, de livros
e escritas. De casórios e divórcios feitos no cartório. Brigava sempre que
podia, por causa de um nome esquisito a registrar, ou um casamento tipo
testemunha e espingarda. Mas não era só nos seus domínios de cartório, brigava
também por causa de algum imbecil no trânsito, por causa de maus tratos ou mau
atendimento. Regalava-se com belas moças e estava sempre pronto a estender-lhes
seu casaco em poças d'água para elas não sujarem seus pezinhos. Ou defendê-las
com capa e espada. Era entendido em esgrimas e touchés. Lia tudo, lia em
línguas diferentes, esculpia madeiras e metais e nos meus aniversários me
presenteava com um gatinho de madeira. Fotógrafo de não ter igual abrindo
exposição aos cem anos. Patriarca de ser servido à mesa sentado à cabeceira.
Casado com a mulher mais lady de tratos e gostos que conheci, minha sogra
querida. E casado de novo aos noventa com a mulher que lhe trouxe juventude
para chegar aos cem. Atingiu seu último desejo, morrer rodeado de todos os seus
oito filhos. Deitado em sua cama de longa, longa data, com sua figura de um Dom
Quixote de nariz afilado e barba branca.
Tem o pai do
Pai, Antônio de nome, o avô fazendeiro paulista, plantador de café e amante das
plantas. Conhecia todas pelo nome e cultivo. Já bem velho cuidava delas apoiado
na bengala em uma das mãos e a outra cuidando do ancinho afofando a terra
vermelha e fértil. E só reclamava do reumatismo e do tremor porque, em visitas
aos parentes, tinha que pedir cafezinho em xícara grande para não derramar.
Amigo dos
macaquinhos da fazenda que seguiam sua caminhonete vermelha em rastro poeirento
pulando pelas árvores no maior rebuliço. Sabiam já que aquele chamado "Chiiiico" ecoando pela mata era
anúncio de bananas saborosas e , quem sabe, alguns pedaços de pão.
Grande em
suas botas de cano alto que tirava na grade perto da porta antes de entrar.
Fico pensando quanto esse hábito tinha de ordens alemãs... Nunca dispensava um
vinho português às refeições. E também o azeite que lhe manchava o queixo. Era
maçon graduado e pão duro. E assim, por isso, quando em férias, eu o atazanava
pedindo sapatos que não precisava. Até conseguir! Filho de pai português,
Nicolau e mãe espanhola, Maria Dolores.
E o pai do
outro Pai, Osias, homem magro e alto, de cabelos brancos que vejo pelas fotos.
Corretissimamente enfiado em terno escuro com gravata e colete onde colocava um
punhal de prata. E chapéu. Sempre. Severíssimo, proibiu a mulher de tocar
violão. Oficial do registro civil, de infância difícil e juventude aventureira
como mascate de diamantes pelas estradas de Minas. Uma vida rica de valores e
de estórias. Um patriarca dos velhos tempos. Status herança do único filho, meu
sogro.
E agora,
meus queridos do blog, deixo o espaço para vocês. Completem minhas mal traçadas
linhas com um pouquinho dos seus pais. E ficarei muito feliz.
Feliz Dia
dos Pais!
Só vc para descrever cada um destes país !
ResponderExcluirVi seu pai de novo e me emocionei com seus comentários
Ver as qualidades e defeitos !
A falta que senti de um pai foi compensada pelo pai que escolhi pros meus filhos
E quero dar os parabéns aos que souberam ser país no verdadeiro sentido da palavra
Oi Léa,
ExcluirE você escolheu muito bem mesmo. Gilberto sempre foi um pai presente. E agora um bisavô querido de uma turminha linda e barulhenta.
Meu carinho para você
1) Parabéns Ana. Parabéns aos pais de vcs dois editores/diretores do Blog, parabéns aos demais pais do blog.
ResponderExcluir2)Ele já bem idoso, belo dia eu agradeci meu pai porque veio morar em Brasília e eu gostava tanto da região do Planalto Central, do Cerrado, da vegetação rala, da minha querida cidade satélite do Gama, DF.
3)Agradeci tb porque qdo nasci a casa já estava cheia de livros, de tudo quanto é tipo, menos é claro os "livros de pornofonia" como ele chamava os palavrões, mas não os dizia.
4) Cresci lendo de tudo. Fiquei assim, gosto tanto de ler. Os "proibidos", eu lia escondido. Belo dia juntei uns trocados e comprei pelo reembolso postal o "Kama Sutra - a Arte do Amor Hindu", ele viu e me deu uma bronca, aquilo não era boa Literatura.
2)Adolescente perguntei: "E como é que o sr. me fez?" Ele me olhou espantado pelo atrevimento e respondeu: "Depois que vc ler, passe adiante para um colega seu, tem sua irmã pequena e eu não quero que ela veja isso".
3) O pai da Heloisa era advogado, franciscano leigo, quando eu fui falar com ele que ía casar com a Helô, ele respondeu:"Ah!isso é um assunto muito sério, depois a gente conversa". Casamos, minha filha nasceu dois anos depois, mais adiante ele faleceu e ainda não conversamos. Ou ele esqueceu ou eu e ele ficamos tímidos diante de um assunto tão sério.
4) Feliz domingo Dia dos Pais para todos (as) !
Olá Antonio,
ExcluirMuito obrigada pelo seu comentário.
"E como o senhor me fez?", atrevido como nunca imaginei. Continua?
Saber um pouco do seu pai e do Heloisa foi conhecer vocês mais um pouquinho.
E a conversa não tida não foi tida porque talvez já o houvesse sido. De outros modos.
Gratíssima. Seu comentário enriqueceu o post. E foi muito gostoso de ler.
Até mais.
Como sempre belíssima Crônica do Dia dos Pais dessa Autora excelente que é a Sra. ANA NUNES.
ResponderExcluirCom maestria esboçou as Personalidades de seu ilustre Pai, Medico-Veterinario da Empresa Mineira de Fomento e Desenvolvimento da Agro-Pecuaria, responsável pela melhoria dos Rebanhos Mineiros, coisa tão importante.
Em seguida o Pai de nosso Editor-Moderador Sr. Wilson Baptista Júnior, e seus outros 2 Avós.
Termina Sra ANA NUNES nos solicitando escrever algo sobre nossos Pais.
Meu Pai, Sr. Ernesto Amadeo Bortolotto filho de Colono Italiano Veneto que fugindo da fome e más condições Econômicas da Itália da Reunificação (1880) emigrou para as Colônias de Caxias do Sul - RS, e aqui nunca mais passamos fome.
Papai foi um Pioneiro na Indústria da Madeira (Araucária) no Centro-Oeste Catarinense, formou 6 Filhos (3 Meninas e 3 Guris), e a meu ver sua característica principal era o Trabalho. Seu Livro de cabeceira, A Bíblia. Foi um grande PAI.
Abrs.
Olá Flávio Bortolotto,
ExcluirComo já disse antes sempre é bom encontrar você aqui com suas palavras gentis.
Grata pela contribuição ao texto. Foi ótimo poder contar com você e conhecer um pouco da sua história.
Gratíssima.
Até mais.
Prezada Aninha,
ResponderExcluirMeu perdão por não ter tecido o meu comentário ontem, mas não foi possível.
Independente do teu estilo que agrada a todos nós, pois de qualidade, sensível, inteligente, criativo, que mostra a alma feminina quase que por inteiro, mais uma vez me vejo obrigado a enaltecer o teu artigo por um único detalhe:
O reconhecimento do filho ou do neto pelos seu pai ou avô - porque ontem foi o Dia dos Pais.
Logo, as palavras apesar de fluírem naturalmente, elas precisam ser montadas, terem sentido e, neste particular, a Ana, minha amiga, tem sido incomparável!
Poder escrever sobre nossos antepassados e bem, lembrá-los com saudade, recordar os momentos que convivemos por algum tempo, a admiração que obtinham de nós, a figura superior que representavam com suas maneiras de ser e de personalidade, exigem que os artigos sejam não só sinceros, mas verdadeiros, então uma articulista, uma mulher, cuja mente é infinitamente melhor que a dos homens.
Gostei em demasia das descrições das pessoas que a Ana registrou, quase como se fossem fotos, e os pormenores que as suas lembranças registraram com tanta propriedade.
Um grande abraço.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.
Olá Francisco amigo,
ExcluirNão se desculpe, você mora no meu coração.
Foi texto de um dia. E certamente estava com a casa cheia de filhos e netos.
Que inveja! Tivemos os nossos só pelo vídeo.
Obrigada pelo comentário carinhoso.
Até mais.
Caríssima Donana,
ResponderExcluirO domingo foi tão "maneiro", como diz a juventude, que nem cheguei perto do computador. Me desculpe, por favor, por passar por aqui, atrasado e apressado, só para lhe dizer o quanto é bonito o seu post. Parabéns! Quando eu crescer, quero escrever que nem a senhora e então - quem sabe? - talvez eu consiga homenagear os meus velhos queridos - bisas, avôs, pai, tios - como eles merecem. Mas acho que, se rolar, os meus gigantes não caberão em um comentário. Desconfio que serão outra "franquia" (rsrs)
"Até sempre mais"
Olá Moacir,
ResponderExcluirFoi quase um desafio pedir contribuições de vocês do blog. Imaginei que todos estariam envolvidos em amores e carinhos e folias de filhos e netos.
E enquanto você "cresce" vai escrevendo posts bonitos como sempre faz. E alegrando a gente, todos!
E se um dia "rolar" estarei pronta para seguir sua "franquia de gigantes".
Um abraço pelo dia dos pais.
Até sempre mais.