Ana Nunes
Desculpas por furar a fila. É por pouco tempo.
Mas não aguento não falar de flores. Nem da primavera. De variadas
flores de mil cores e sortidos amores. Prima vera, de vera cor, de primevo
amor. Ou é tudo a mesma coisa? Hoje!
Porque Belo Horizonte é toda cor de rosa de novo. Do mais virginal
rosa bebê ao sensual e quente fúcsia.
Tudo em festa. As folhas das flores, os manacás arrebentando em
cores. Como pode um raminho verde brotado da terra marrom abrir-se em
florezinhas coloridas? Inesperada mágica, inimaginada natureza.
Fico encantada.
A pé ou de carro o chão é um tapete. Vejo moças varrendo as
calçadas e penso: Para, para! Deixa esse caminho macio e colorido para eu
desfilar meus pensamentos!
Mas as vassouras são rápidas. São de bruxas? E não leem cabeças
tontas cheias de palavras quantas, só os pés calçados dançando seus caminhos.
Nem falei ainda dos jasmins debaixo da janela. A árvore redonda em
verde que se cobre de branco e de perfume. Primeiro sinto o cheiro delicado e
doce depois vejo as flores. Brancas, miudinhas como sopro de nuvem. Fico ali
parada. Sem pensar. Só existindo. E já é tudo.
Tem Coroa-de-Cristo mostrando as garras para proteger seus bebês
vermelhos. E os arbustos da calçada, hibiscos que de folhas verdes e brilhantes
escondem seus brotinhos cor de laranja. Que vão virar flores grandes e macias.
Disso tudo fico sabendo a caminho da piscina.
Levanto cedo para nadar. Decidida. Mas a água da piscina azul não
leu a natureza em festa. Nem liga para o sol. E desafia o céu azul de onde
roubou a cor. Ingrata! Corajosa que sou, mentira, me preparo. Aviso ao corpo e
à mente que a água é fria mas que nem vamos sentir. Mentira de novo. Não é que
estou virando uma velhinha mentirosa?
Profano o corpo e entro. E soluço. E abafo um grito de horror e
arrependimento. Esta água está boa. Boa para beber. On the rocks. Abala até o
pensamento. Que fica parado esperando respirar. E vou mexendo braços e pernas
no esforço de não sucumbir em águas claras. Até que a boca já adormecida me diz
que é tempo de sair.
E o quentinho do sol me aquece neste domingo sem nuvens. Um
bem-te-vi se desgarra das árvores e das maritacas e vem enfeitar o muro branco
que me cerca. Decerto também quer se molhar mas tem medo do frio. Olha bem para
meus olhos arrepiados e diz:
Bem te vi. “Bem te vi, andar
por um jardim em flor, bem te quis e ainda quero muito mais. Maior que a
imensidão da paz. E bem maior que o sol!”
Fico ainda mais feliz. E volto para casa sem dar acordo do
caminho. Também para quê? Se vago nas nuvens ou na insensatez, esperando um
beijo só mais uma vez.
E, assim, volto pra lá...
Primavera me encanta também
ResponderExcluirVer a beleza por toda parte em forma de flores e seus perfumes
Os ipês amarelos atrasaram este ano mas estão florindo de novo
Gostei das suas árvores coloridas
E lembrando Tim Maia é primavera ...
Vamos florescer também
Olá Primaléa,
ResponderExcluirInaugurei minha primavera com você.
Os ipês florescem, nossos corações enternecem...e de quebra o Tim Maia.
Boa semana florida entre as suas plantas na varanda que devem estar esbanjando cores.
Beijo
Ana, ao ler seu post me lembrei de ontem: as formiguinhas varreram toda a frente de minha casa! Estava coberta de flores dos meus ipês . Meu jardim explode em verde, flores e frutos! E pássaros, dos mais variados : do tucano ao beija-flor, do carcará ao bem-te-vi e sabiá...Voce precisa passear por aqui. Beijo carinhoso para esta poetisa deliciosa que sabe tocar o coração da gente!
ResponderExcluirOi Laura,
ResponderExcluirPreciso mesmo passear por aí para ver e sentir esse canto tão belamente decantado! E fora com as formigas faxineiras. Isso não se faz!
Corações tocados no vice versa. E é por isso que sempre cantarolo " gracias a la vida..."
Beijo carinhoso.
1) Feliz Primavera para todos (as).
ResponderExcluir2) Obrigado Ana, bela ilustração, belas cores, belas palavras, belos sentimentos.
3) Bom domingo, boa semana !
Olá Antonio,
ResponderExcluirEu que agradeço tão boas palavras!
Até mais.
Caríssima Donana,
ResponderExcluirO Brasil é imenso e diverso e rebelde e não obedece aos calendários: lá em cima a primavera sutil chega semanas antes da do sul maravilha sem mudança de temperatura. Sabemos que chegou quando a paisagem de antúrios, alpínias e helicônias passa a ser pintada pelo branco das flores "miudinhas e brancas" dos cajueiros e jasmins e do amarelo, vermelho, laranja e rosa dos bouganvilles e flamboyants. Antes que o colorido dos ipês, das figueiras e das orquídeas cariocas resolvam enfeitar nossos bairros, as árvores nordestinas já jogaram suas flores fora. Para que perder tempo? Que venham os cajus! E depois as suas passas.
Escravizados por telas iluminadas, em mundos que não são os nossos, perdemos o show da vida, as nuances das estações, os últimos beija-flores e bem te vis das nossas selvas de pedra, o afeto, a troca de olhares e o calor humano. E distraídos do timing imparável quando nos tocamos o verão sumiu e o outono já era e o inverno já nos embranqueceu.
Porém desconfio que o seu belíssimo post seria menos primaveril se a senhora não se mexesse, se não nadasse. Depois do exercício físico nosso de cada dia e de um mergulho na água fria as tais das endorfinas inundam nossos neurônios, nos causam um “barato” - @#$%&@!!! - nos fazem sentir vivos e pensar, como o Coldplay, que “ It is all yellow”(rsrs)
E recoloridos voltamos para casa cantando como a Mercedes: “Gracias a la vida que me ha dado la marcha de mis pies cansados”.
Obrigado e “até sempre mais”
Olá Moacir,
ResponderExcluirFico pensando se os comentários não são melhores do que o post...Aí fico pensando que não vale a pena escrever. Aí fico pensando que se não escrever não vou ter os comentários. E aí...bem, aí não acaba nunca! Nem só o processo criativo é angustiante.
Não, não perdemos nós abençoados o show da vida. É que esse show, depois de muitas primaveras , começa a passar depressa, muito depressa. E fica a impressão de que não aproveitamos tudo. E embranquecidos pelos invernos mas vivendo cada qual o seu outono de vida vamos voltando " recoloridos para o calor dos nossos afetos", reabastecidos das preciosas endorfinas.
E gracias à Mercedes e ao Coldplay e a quem mais vier.
Até sempre mais.
Aninha,
ResponderExcluirSimplesmente eu pediria ao Mano que a tua presença no blog não pode ser mediante permanência na fila dos articulistas, mas tu deves ter sempre a primazia, a preferência, e por motivos óbvios.
Nasci entre o fim do inverno com o início da primavera, logo, sou composto por imagens que causam frio só em vê-las e as cores oferecidas pela beleza das flores que desabrocham nesta estação.
Mas, eu jamais conseguiria me expressar com este colorido das tuas palavras, que emprestam um sentido especial à Primavera, que seria de beleza, de enternecimento pela vida!
Sabe, esse teu texto mostra como és, uma mulher que se encanta com o que vê, e encanta quando relata o que viu!
E passamos a sentir esta estação conforme tu a interpretas, sente, a maneira como ficas inebriada pelas flores, pelo cheiro, pelos caminhos macios que deixam para transitarmos em cima.
E, ao ler o que registras sobre a Primavera, vais contagiando teus leitores pela admiração por esta época do ano, algo mágico, um caleidoscópio de cores e imagens inéditas.
Mais:
Ainda comentas o banho na piscina, cujas águas azuis imitam o céu, ou seja, viva o colorido, pois a vida deve ser igual, e não cinza ou gris ou em cores pastéis, não!
A vida deve ser em tons vibrantes, fortes, que não deixem margem que não seja a cor que se queria mostrar ou pintar a existência.
Mesmo que a água ocasione o choque térmico, do corpo quente à temperatura menor, fazer parte dessa aquarela, de se estar no meio das cores da água com o sol, com o céu, com as flores, e voltar para casa pelo mesmo trajeto e repetir a emoção sentida anteriormente - Ana, a vida prá ti é mesmo estupenda, maravilhosa, e deves ter a obrigação de enaltecê-la e, assim, nos motivares para que sintamos esse mesmo deslumbramento pela mais bela estação do ano, a ponto que devemos nos manter vivos e animados para repetir essa sensação indescritível na próxima vez, na outra Primavera.
Um forte e fraterno abraço.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.
Olá Francisco dos Pampas,
ResponderExcluirVocê fez de novo! Elogiou, elogiou e fiquei inchada como salsicha aferventada! (rsrs)
Mas fico feliz em saber que sentiu as cores e os cheiros de felicidade primaveril!
Assim é que se faz, se fazer feliz junto com o outro. Que no caso sou eu!
Mas não tenho privilégios, tenho mesmo que ficar na fila. Barganhei um dia na semana para sair no domingo. Deu certo!
Obrigada por tudo. E fico esperando o seu Sábado.
E ficamos todos esperando por outras primaveras.
Até muito mais.