A deusa Friga fiando as nuvens (gravura de John Charles Dollman) |
Francisco Bendl
Sexta-feira,
03 de agosto de 2.018.
O
frio continua, com 7º Celsius às 10 h.
Dizem
que à tarde a temperatura esquentará, chegando aos 15º Celsius.
Mas,
hoje é sexta-feira, dia de lobisomem, como se dizia na minha época, e como
atualmente se celebra este dia:
Dia
que antecede ao fim de semana, e é quando o pessoal se larga para a noite,
depois de uma semana de trabalho e dificuldades.
A
vibração da sexta-feira diz respeito à tranquilidade que se terá com os dois
dias próximos, sábado e domingo, ou seja,
bancos
fechados, cartórios não protestarão títulos e cheques, não se irá para o Serasa
e SPC.
Segunda-feira
Deus pensa, e a gente corre atrás para continuar na mesma situação de
carências, de salários baixos, de dívidas atrasadas, de compromissos assumidos
e não cumpridos pelos mais variados e exóticos motivos.
Mas,
a sexta-feira, ela pertence ao cidadão sufocado pelos problemas, pois é onde
ele relaxa, toma a sua cerveja, sai com amigos ou a namorada.
E
também significa muito aos casados, haja vista levar a esposa e filhos para
comerem uma pizza ou jantarem fora ou irem para uma churrascaria.
Dia
de se programar a alegria, os encontros, as festinhas, de se confirmar a
paquera da semana, de se buscar uma nova namorada, de se fazer as pazes com a
esposa e de estar com os filhos.
Dia
que os viajantes voltam para suas casas, saudosos, de se reabastecerem do amor
de casa e terem mais uma semana de ausência.
Dia
do balanço profissional, pessoal, familiar, até onde a vida está sendo levada
com decisão ou estagnada.
Dia
dos happy hour, dos colegas de serviço irem para um bar e se divertirem
criticando seus chefes, afora ter aquele que, indefectivelmente, imita o
gerente ou diretor, e as gargalhadas soam uníssonas e divertidas!
Mas,
também, sexta-feira é dia daqueles que não têm dinheiro, que não têm namorada,
que são solteiros, que estão desempregados ou, mesmo casados, não têm trabalho,
e de enfrentar mais um fim de semana sem alteração do cotidiano que o amassa,
que o esmaga.
Sexta-feira
é um dia de muito significado tanto na história quanto nas lendas:
A
crença de que o dia 13, quando cai em uma sexta-feira, é dia de azar, é a mais
popular superstição entre os cristãos. Há muitas explicações para isso.
A
mais forte delas, segundo o Guia dos Curiosos, seria o fato de Jesus Cristo ter
sido crucificado em uma sexta-feira e, na sua última ceia, haver treze pessoas
à mesa: ele e os doze apóstolos.
Porém
mais antigo que isso são as duas versões que provêm de duas lendas da mitologia
nórdica.
Na
primeira delas, conta-se que houve um banquete e doze deuses foram convidados.
Loki, espírito do mal e da discórdia, apareceu sem ser chamado e armou uma
briga que terminou com a morte de Balder, o favorito dos deuses. Daí veio a
crendice de que convidar treze pessoas para um jantar era desgraça na certa.
Segundo
outra lenda, a deusa do amor e da beleza era Friga (que deu origem à palavra
friadagr = “dia de Frida”, sexta-feira). Quando as tribos nórdicas e alemãs se
converteram ao cristianismo, a lenda transformou Friga em bruxa. Como vingança,
ela passou a se reunir todas as sextas com outras onze bruxas e o demônio. Os treze3
ficavam rogando pragas aos humanos.
A
minha sexta-feira está calma.
Não
pretendo sair de casa. Afora a cidade ser pequena, sem muitas atrações, o
conforto do lar à minha disposição é um fator importante para eu não mudar a
minha rotina.
A
Marli concorda comigo, pois ela também é caseira, e sexta-feira é o dia que ela
desacelera de suas funções, indo deitar mais cedo para ler.
No
sábado, invariavelmente, um filho vem nos visitar, quando não os três e meus
cinco netos, então a baderna, a alegria, a vibração.
Anoitece.
As
fábricas de calçados, na minha cidade, param ao meio dia e só retornam na
segunda-feira.
A
rua onde resido está calma, sendo possível ouvir o “som do silêncio”.
Clima
propício para um idoso, um velho, que não tem mais o ânimo de antes, da alegria
que o caracterizou, da vontade férrea em se divertir e, com ele, a sua família.
Tudo
tem o seu início e tudo acaba.
O
fogo da vida está fraco, não aquece mais, e escrever tem sido a ocupação, no
lugar de se esperar a morte chegar, simplesmente.
Viverei
até a próxima sexta-feira?
Sem
que eu me preocupe com esta possibilidade de continuar vivo ou não encerro esta
crônica, e me refestelo na minha poltrona pronto para assistir a Netflix e seus
seriados completos.
Encontro-me
preparado para conhecer o outro mundo, se é que ele existe ou, então, se serei
recebido pelos meus antepassados, onde a saudade é muita, afora o quanto que
teríamos para conversar.
Olá amigo Francisco,
ResponderExcluirMais uma sexta-feira na coleção de todos nós.
E muita coisa boa vem com ela: a perspectiva da visita do filho, o chope com os amigos, a poltrona do Netflix sem culpa, o whisky caseiro do entardecer, o cinema, o ventinho da noite , o perfume dos jasmins da árvore ao lado. A leitura antes do sono e os lapsos de silêncio na cidade barulhenta, o chegar em casa e libertar os pés para andar descalço. O avô do Mano tirava os sapatos, espreguiçava os dedos e falava - aproveita meninada!
É por aí. Vamos aproveitar mais uma sexta-feira sem sustos e sem medo. As outras sextas, aquelas do não estaremos, vamos deixar pra lá. Cada coisa no seu tempo!
Por falar nisso onde você está libertando seus rugidos de leão enjaulado?
Até mais amigão.
Aninha,
ExcluirCompletaste maravilhosamente a sexta-feira perfeita!
Quanto à cadeia que a Marli me submeteu depois da minha aventura na estrada, consegui me livrar.
Mas, fui mantido em prisão domiciliar.
Brincadeiras à parte, hoje relembrando o episódio do tiro que não me levou desta para uma melhor - quem sabe? -, a verdade é que escapei mesmo por pouco!
No entanto, a minha cabeça fica protegida pela coluna do carro, pois coloco o banco todo para trás, e foi o que me salvou, pois a bala passou pelo meu focinho, deixando um rastro e estilhaçando o vidro do caroneiro.
Não fiquei nervoso, pois não sou assim.
Entretanto, confesso, tratei de fazer o devido balanço da vida:
onde errei, onde posso corrigir, onde devo ser mais humilde, onde devo ser melhor, porém constatei alarmado que só essa existência não pago as dívidas!!!
Então, a prisão domiciliar vai evitar eu aumentar o meu débito.
Aliás, Aninha, preciso te contar o seguinte, haja vista tratar-se de notáveis ensinamentos:
Lembra do seriado Kung Fu, com David Carradine?
Budista, ele perambulava pelos Estados Unidos, e mostrava aos cowbois a eficiência e eficácia das artes marciais.
Um belo dia, caminhando entre as montanhas geladas do estado de Oregon, ele ouviu um piu piu nervoso, suplicante.
Aproximou-se mais, e percebeu que uma ave não podia voar porque as asas estavam geladas.
Telepaticamente entrou em contato com o Mestre, no Tibet, e disse:
- Mestre, o que faço com esta ave?
O líder espiritual respondeu:
- Gafanhoto (era o nome do Kunf Fu), pega esta ave contigo e a leva por uns metros adiante, e tu verás umas vacas pastando.
- Sim, mestre, e daí?
- Ouve, impaciente. Espera a primeira delas evacuar, e o excremento quente e natural do animal animará o pássaro, que alçará voo rumo ao seu destino!
O Gafanhoto atendeu ao mestre sem pestanejar.
Quando a primeira rês se aliviou, pegou o estrume, abriu, e colocou a ave envolta no monte de bosta.
Cinco minutos depois, o animalzinho se mexia feliz, alegre, animado, e o Gafanhoto abriu o excremento para que o pássaro voasse.
Mas, voando por perto estava um falcão, predador, louco de fome.
Ao ver que a ave se debatia e estava livre, à disposição, veio em um voo rasante, pegou com as suas garras o passarinho e deu no pé!
O Kunf Fu ficou doido!
Entra mais uma vez em contato com o mestre e, em caráter de urgência, questiona o líder:
- Mestre, quero explicações sobre o ocorrido. Fiz tudo que o senhor me pediu, para depois um falcão levar a ave para devorá-la?!
O mestre, do alto da sua paciência e sabedoria, exclamou:
- Gafanhoto, na verdade eu queria que tu aprendesses três ensinamentos prioritários à vida.
- E quais são eles, mestre?
- Primeiro - iniciou o mestre -, nem todo aquele que te põe na merda quer o teu mal. Colocaste a ave no meio de excrementos para aquecê-la; dois, nem todo aquele que te tira da merda quer o teu bem, lembro o falcão tirando o pássaro de onde estava para comê-lo; terceiro e, o mais importante deles, é que o sujeito que está na merda não pia!!!
Portanto, Aninha, eu me encontro como o pássaro:
Quieto, calado, movimentos suaves e discretos.
Abração.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.
Amigo "Blindado" :)
ResponderExcluirIa comentar teu post mas a Ana já disse tudo sobre a sexta feira.
Só acrescento que depois da tua aventura de anteontem, podes sentir que ainda devem faltar muitas sextas feiras antes do teu acerto de contas :)
Então fica tranquilo e vamos em frente!
Um abraço do Mano
Mano,
ExcluirGrato pelo comentário.
Sobre o incidente de quarta-feira à noite, lê, por favor, a resposta minha à tua esposa sobre o episódio.
Espero, mesmo, ter mais algumas semanas pela frente, de modo a iniciar rezando e pedindo perdão pelas minhas faltas.
Abração.
Saúde e paz, meu amigo.
1) Chicão, muitas sextas feiras felizes para vc e os seus.
ResponderExcluir2) Seu artigo me fez lembrar que as sextas-feiras, após a sessão de acupuntura, que me ajuda bastante, volto para casa e no sofá abro um bom livro e fico lendo.
3)Abraços de bom fim de semana.
Rocha, meu amigo e professor,
ExcluirDa mesma forma, muitos anos de vida e felicidades.
Abração.
Saúde e paz.
Prezado Bendl,
ResponderExcluirFico muito feliz que você esteja aqui inteiro nos contando algo que muitos ainda não sabem: que a violência também rola todos os dias no campo e nas antes bucólicas cidadezinhas do interior. Isso é fato, é o Brasil nosso de cada dia, mas nele ainda há - como você tão bem escreveu -a “vibração” da sexta-feira e “a perspectiva do domingo porque hoje é sábado”. Pois é. Hoje é o presente e o presente é tudo que temos.
Em casa e sem sapatos é preciso que nos desligar das tomadas, “tá ligado”? Porque basta ligar a televisão, o rádio ou navegar na internet e pronto! encontramos rapidamente zilhões de razões para nos sentir assustados, acuados, irritados, furiosos, tristes ou sem esperança. Então, aqui na minha tribo é proibido passar os finais de semana com olhos grudados nas telas e os polegares nas teclas (rsrs)
Muito já matutei por quais cargas d' água até parece que gostamos de ser massacrados por péssimas notícias desde que acordamos, até o momento em que vamos dormir, se conseguirmos dormir depois de consumir desenfreadamente o pior da humanidade em escala global. Cheguei à conclusão de que devido à revolução digital os nossos neurônios simplesmente enlouqueceram.É que os coitados evoluíram com apenas um propósito: armazenar dados para ajudar-nos a detectar ameaças.Para que diante de um perigo - como foi o caso daquela bala! - eles disparassem um comando e a adrenalina inundasse nossas veias e nos fizesse reagir: partindo para a luta e/ou para a fuga. Só que a tal da Dona Adrenalina é um negócio viciante e, portanto, passamos a ansiar por mais e mais do mesmo veneno. A ironia é que, conectados sem intervalos, somos alvos passivos de tanta informação, absorvemos tantos alertas, convivemos com tantos perigos, testemunhamos tantas desgraças e temos tantos sentimentos negativos que vamos ficando insensíveis e deprimidos e entorpecidos.
Aos sessenta e três anos e cansado de guerra aprendi que sou pequeno demais para mudar o vasto mundo e quero mais é VIVER o tempo que me resta com os pés no chão, sem sair da realidade nem a passeio, na paz abençoada do meu lar, no calor dos meus afetos, na segurança e o aconchego da minha família. Quero viajar de vez em quando, ler bons livros, estudar algo que me fascine, escrever sobre o pouco que aprendi, assistir a Netflix de mãos dadas com a minha mulher, conversar e tomar umas e outras com os meus filhos e rir da imbecilidade humana, bem comer, brincar de avião com um netinho e me divertir com o outro via Skype. Para que mais?
A minha luta é, acima de tudo, permanecer são em um mundo insano e humano em um tempo desumano e defender o meu castelo contra todos os chatos e canalhas. Aqui e agora, nesse sábado, depois de uma sexta e antes de um domingo, um dia atrás do outro com uma noite bem dormida no meio. E o resto?
"De modo algum, nós desafiamos o destino; há uma providência especial na queda de um pardal. Se tiver que ser agora, não está para vir; se não estiver para vir, será agora; e se não for agora, mesmo assim virá. O estar pronto é tudo”.
Um grande abraço e um ótimo começo de primavera e um bom final de semana para você e os seus.
Caro Pimentel,
ResponderExcluirConcordo plenamente com a tua postagem sobre a vida e como ainda aproveitá-la.
Indiscutivelmente, encontraremos naquilo que é simples, comum, o sentido que deveremos ter a respeito do que nos resta de existência, diante do irremediável tempo ainda à disposição antes de darmos adeus a esse planeta!
Logo, a participação nossa neste blog, por exemplo, preenche espaços onde se estivéssemos sozinhos, colocaríamos em nossas mentes pensamentos e imaginações negativas, enquanto elaborando um que outro texto e comentários sobre artigos alheios, usamos nosso tempo de maneira útil, prazerosa, agradável, além de estreitarmos amizades que sequer vimos o rosto das pessoas!
Desta forma, tive a ideia de escrever crônicas modestas sobre cada dia da semana, onde as nossas ocupações, distrações e trabalho, encontram identidades entre os frequentadores desse extraordinário oásis cultural, onde descansamos, nos alimentamos e bebemos informações, cultura, conhecimentos!
Obrigado pelo comentário irretocável.
Abração.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.