fotografia Moacir Pimentel |
Moacir Pimentel
A
bandeira de Sri Lanka reflete, como não poderia deixar de ser, a sua maioria
cingalesa e budista. “Sinhala”
significa "sangue de leão"
e, como você pode ver, o leão é a imagem central na bandeira nacional. Também
estão retratadas no pavilhão as folhas da árvore sagrada sob qual o Senhor Buda
encontrou a iluminação. As diferentes cores da bandeira representam cada um dos
três principais grupos étnicos de Sri Lanka: o cingalês/budista, o tamil/hindu
e o muçulmano.
Também
o elefante é o símbolo venerado da prosperidade tanto pela sua longa associação
com as riqueza e realeza como pela sua associação com Ganesh, o deus-elefante
hindu. A folha de betel é mascada por todos os lados e tudo parece ser
enfeitado por guirlandas e bandeirinhas para afastar os maus espíritos e, em
vez de velas, a galera prefere as belas lâmpadas de óleo.Todos oram e meditam
diariamente.
A essa altura do post abro um parêntese para
explicar que fui parar em Sri Lanka mais ou menos por acaso. Em 1980 depois de
meses atravessando a Índia do norte ao sul e fazendo turismo a sério - templos
e museus e cidades santas e tal – eu estava na cidade de Bangalor quando
conheci um animado grupo de italianos de Milão, com quem fiz amizade. Juntos
percorremos os estados do sul: Andhra
Pradesh, Telangana, Karnataka, Kerala e Tamil Nadu.
Dali eu planejava me aventurar pela costa oeste
indiana acima até Goa e, sem seguida, subir na direção de Nova Deli, com
escalas pelo belo estado do Rajastão e a cidade de Agra. Só que, em vez, os
meus novos amigos estavam indo para Sri Lanka. Pronto! Aderi ao projeto deles e
adiei os meus planos e fiquei freguês da bela ilha onde tiramos férias da Índia
e dormimos e comemos - sem chilli! - como reis durante dois meses por menos de quatro
dólares/dia passeando pelas costas oeste e sul e leste do recém descoberto
paraíso, com destaque para as praias de Kalkudah ao leste e de Mirissa ao sul.
Voltei ao país em 1982 para conhecer o norte e as
suas terras altas centrais dessa vez perambulando de trens e ônibus e,
finalmente em 2009, acompanhado por minha mulher, quando viajar por lá voltou a
ser um verbo conjugado com segurança, depois do tsunami de 2004 e de quase três
décadas de guerra. Porém, nessa derradeira oportunidade, fugimos do norte e das
grandes cidades para rever com calma o tranquilo e remoto e mais atrasado sul e
o agradabilíssimo centro do país.
No
começo dos anos oitenta já se percebia as diferenças profundas entre as
diversas etnias. Para começo de conversa Sri Lanka têm três línguas: o cingalês
falado pela maioria budista, o tamil falado pelos hinduistas e muitos
mulçumanos, bem como o inglês introduzido durante o domínio britânico e que
continua a ser a língua do comércio e dos níveis mais elevados da
administração, nos setores público e privado.
A
língua já era então uma questão azeda naquelas paragens, devido a uma polêmica
campanha do governo para que se falasse apenas sinhala, que agudizou a
rivalidade étnica, a revolta e a resistência dos tamils a um nível sem
precedentes pavimentando o caminho rumo à erupção da guerra civil em 1983.
Como
os mochileiros de outrora se hospedavam em quartos alugados em casas de
famílias e se alimentavam no seio delas eu tinha contato tanto com cingaleses
quanto com tamils e, é claro, conhecia o pensamento de ambos os lados e posso
dizer que a pretendida “identidade nacional” cingalesa, então defendida pela
maioria cingalesa-budista era abominada pelos grupos étnicos minoritários
tamils.
No
entanto e apesar da politização dessas identidades étnicas, havia e há um
núcleo de crenças, costumes, práticas e valores culturais que eram e continuam
sendo amplamente compartilhados pelo povo de Sri Lanka como um todo,
particularmente nos domínios do social, nas questões de gênero e na vida
familiar.
Devido
à fluidez histórica dos padrões migratórios e dos casamentos, os atributos
físicos dos principais grupos étnicos pelo menos para mim não são nada
evidentes. Não é possível distinguir singaleses e tamils, pelas feições ou pela
cor. Eles são um só povo na aparência, cujas crianças são lindas e amigáveis e
sorridentes principalmente quando presenteadas com pirulitos.
fotografias Moacir Pimentel |
Um
traço em comum, não importando a etnia, de norte ao sul e do leste ao oeste, é
o gestual, a linguagem corporal que os nativos usam para expressar discordância
e concordância, ou seja, para dizer sim ou não. Quando a resposta é afirmativa
eles mexem a cabeça de um lado para o outro, exatamente como fazemos nós ao
dizer não. Se, em vez, eles negam alguma coisa movem a cabeça de cima para baixo
e vice versa, do jeito que fazemos para enfatizar o nosso sim. Complicado!
E
deveras problemático quando a galera não falava inglês - o que era frequente, principalmente no
interior. Já me aconteceu de ficar praí umas doze horas tentando me comunicar em
vão com os “mecânicos” nativos de um vilarejo esquecido no meio da selva - de
peito nú e enrolados em sarongues da cintura para baixo – enquanto alegremente
desmontavam a minha moto.
Virou
festa e terminei sendo homenageado por um banquete sobre uma esteira de palha
do qual participou aquilo que me pareceu ser toda a população local. O fato é
que esse estranho gesto com a cabeça é contagiante pois eu terminei movendo
minha da mesma maneira no final das minhas “peregrinações” pela ilha (rsrs)
Sri
Lanka tem cerca de sessenta mil quilômetros quadrados, dos quais eu fiz mais de
oito mil em 1980 em cima de uma Honda 125 que aluguei por dois meses do
“cunhado” do meu hospedeiro em troca de uma nota de cem doláres e uma cópia
xerox do meu passaporte. É que eu tinha cara de bom rapaz, o Pelé ainda era “o
cara” e minha nacionalidade fazia sucesso. (rsrs)
A ilha
é dividida, digamos que ecologicamente, em uma zona seca que se estende do
norte para o sudeste e uma zona úmida que, das regiões sul e oeste, avança pelo
centro do país. Tais contrastes no tanto de chuva combinado com as diferenças
topográficas determinaram profundas diferenças regionais na economia e na
cultura.
As
planícies do norte e do centro são pontilhadas pelas ruínas de reinos antigos construídos
em torno de uma miríade de lagos artificiais. O norte da ilha é o lar do povo
tamil que consideram Jaffna sua cidade principal, seu centro cultural e
político.
As
terras baixas e secas da costa oriental são territórios de pesca dominados pelo
cultivo de arroz e particularmente diversas tanto étnica como culturalmente,
com muçulmanos, tamils e sinhalas compondo a paisagem populacional. Na parte
sudoeste moram as minas de pedras preciosas e as montanhas famosas pelas
plantações de chá são donas da região central do país.
fotografias Moacir Pimentel |
Nas
planícies costeiras do sul se encontram os coqueirais, as plantações de
borracha e canela, uma forte indústria de pesca e talvez as melhores praias da
ilha. Mas a costa leste também possui praias deslumbrantes onde, na minha
juventude, a balada e a azaração já rolavam soltas na night entre copos de cerveja
e arak e ao som do Bob
Marley.
A
maioria das ruínas arqueológicas representam a herança da cultura da realeza,
os reinos e templos antigos, muitos dos quais ainda estão em uso hoje. A
paisagem arquitetônica é muito diversificada nas áreas urbanas mas continua a
ser dedicada a propósitos religiosos, desde as imponentes cúpulas das
mesquitas, passando pelas graciosas torres das igrejas cristãs e pelas figuras
ornamentadas e coloridas que cobrem os templos hindus até os templos brancos em
formato de sino dos santuários budistas.
fotografias Moacir Pimenel |
Em
2009 o país me pareceu estar se afastando de sua base agrícola tradicional e
dando duro para tornar-se uma economia de mercado liderada pelo setor privado
com a produção voltada para o mercado internacional. Até lá será um longo
caminho porque as principais indústrias de Sri Lanka ainda estão diretamente envolvidas
com a produção agrícola, principalmente a do chá cultivado lindamente nos
socalcos das montanhas centrais. De resto a borracha e seus derivados, os
têxteis e vestuário, o tabaco e produtos de madeira representam grande parte de
toda a fabricação local.
A
indústria pesada ainda está confinada à fabricação de aço, de pneus, ao refino
de petróleo, à mineração e à indústria de cimento controlada pelo governo. A
ilha não é, com certeza, uma tigresa asiática mas. nos vinte e seis anos entre
uma visita e outra, muito se desenvolveu.
São
lendários os produtos artesanais tradicionais da ilha como as máscaras, os
objetos de metal e cerâmica, as cestas, em grande parte produzidos por castas
hereditárias. Mas a construção civil em 2009 ia bem, obrigado, e o turismo
estava indo de vento em popa.
Quando
eu cheguei a Sri Lanka pela primeira vez, depois de seis meses percorrendo a
Índia, estava um pouco dessensibilizado para a imundície cobrindo as ruas mas Sri
Lanka certamente me lembrou o quanto o mundo pode ser bonito.
Mesmo
extremamente pobre seu povo parecia ter um padrão de vida muito melhor do que o
indiano. De alguma forma, a ilha era limpa e o ar fresco! E aí comecei a notar
que tanto homens quanto mulheres estavam sempre de vassouras em punho varrendo
as calçadas defronte tanto das suas casas quanto de seus negócios. Não havia
lixo espalhando nas ruas e praias, ninguém se aliviando a céu aberto e deixei
de ter medo que a água estivesse contaminada com sabe-se lá o quê. No quesito
meio ambiente Sri
Lanka realmente ganha da Índia disparado.
Outra
enorme diferença entre os dois países separados por apenas trinta quilômetros
de mar é que eram raríssimos os mendigos em Lanka e mesmo os seus mais pobres
camponeses e pescadores viviam com dignidade. Se é que existe dignidade na
pobreza ela mora em Sri Lanka. No campo e no litoral a vida era mais amena do
que nas grandes cidades talvez porque a terra é fértil e o mar farto. Pelas
praias a pesca garantia o pão de cada dia. No interior o povo sobrevivia
laboriosamente plantando e colhendo e estocando os produtos que consumiam e
vendendo o excedente nos mercados vizinhos.
fotografias Moacir Pimentel |
Quando penso em Sri Lanka, penso em barulho. O povo
é tagarela. E, na minha opinião, parece que no país todas as cenas diárias têm
seu próprio som característico. Pode ser divertido, irritante ou pode mesmo
abrir seu apetite.
No começo da manhã, por exemplo, fosse no norte,
oeste, sul ou leste da ilha, enquanto eu ainda estava na cama, costumava
escutar a música anunciando a presença do vendedor de pão. Lembro que um dos
carrinhos-padaria anunciava seus quitutes com uma versão tropical da Sonata ao
Luar de Beethoven.
Outro som inconfundível é o dos tuk tuks, o pequeno
táxi de três rodas. Eles têm um som sujo como se algo estivesse errado com os
motores. Um dos costumes nacionais é buzinar alegremente quando se ultrapassa outro
veículo. Pense em um caos sonoro. Conduzir em Sri Lanka não é para amadores. É
uma coisa rápida, doida de pedra e ninguém dá o menor valor às regras e sinais.
fotografia Moacir Pimentel |
A maioria dos motoristas de tuk-tuks dirige com os
pés descalços deslizando nos pedais e todos sem exceção são fãs das conversas
através do espelho retrovisor. Nas grandes cidades poluídas o tráfego é denso,
as distâncias são longas, faz calor... mas com um bom motorista de tuk tuk que
sabe para onde ir, pode ser uma aventura divertida.
Mas os ônibus são definitivamente os donos das ruas
e os reis das estrada. Lembro dos terminais de ônibus nos anos oitenta, onde em
meio a dezenas de antiguidades estacionadas, se podia ouvir homens de sarongue
berrando para anunciar as rotas:
“Colombo-Necombo!”
Uma vez a bordo, a balbúrdia continuava ao som da
pesada música sinhala tocando no rádio e o motorista businando furiosamente. As
portas e janelas permaneciam sempre abertas – graçasadeus! – pois fazia
realmente muito calor e as pessoas subiam e desciam tanto pela porta traseira
quanto pela dianteira sem que os superlotados “coletivos” realmente parassem.
Os motoristas dirigiam cercados por guirlandas de
flores coloridas e ícones religiosos e, do jeito que guiavam, precisavam mesmo
de toda a proteção divina. Às vezes em determinadas paradas os caras que tinham
gritado na estação para anunciar os destinos passavam a brigar uns com os
outros disputando passageiros para, em seguida, andar pelo mar humano nos
corredores coletando o dinheiro dos usuários arregimentados.
Para os turistas os preços sempre padeciam de uma
inflação crônica de alguns centavos que eu pagava alegremente até porque os
indivíduos me mereciam grande admiração pois eu realmente não percebia como
eles eram capazes de atravessar aqueles corredores apinhados nem de lembrar
quem acabara de entrar e precisava pagar.
Agora... os trens de Sri Lanka tocaram uma corda
qualquer do meu coração e foram, sem dúvida, a minha maneira preferida de por
lá viajar.
fotografia Moacir Pimentel |
O som dos vagões antigos nos trilhos me fazia
viajar no tempo até eras coloniais e a paisagem é realmente linda e mutante
revelando ora uma plantação de chá ora as rochas à beira do mar assim como
famílias sentadas nas portas de suas casas assistindo o trem passar e roupas
multicores penduradas nos varais ou estendidas sobre os gramados ou mesmo nas
vias férreas para secar. O céu é azul, a vegetação é luxuriante e há muito o
que se olhar e é tão fácil perder-se em pensamentos.
E o tempo todo os vendedores caminham para cima e
para baixo pelos corredores vendendo samosas, garrafas de água ou abacaxi
cortado em fatias. As pessoas cochilam ou falam alto nos celulares mas a
maioria quer mesmo é conversar com os estrangeiros para “praticar o inglês” o
que é muito bom porque o nome das estações não é anunciado no trem e então ou
você se liga nas placas com os nomes de cada estação em garranchos inelegíveis
ou pede aos novos conhecidos para lhe avisar quando o trem chegar ao seu
destino.
Não há
assentos reservados exceto na primeira classe que tem ar condicionado. Só que a
tal da primeira classe só está disponível em alguns trens de Colombo para a
costa leste ou para as montanhas e vice versa. Dureza! A primeira, a segunda e
a terceira classes - essa superlotada! - são todas baratíssimas e os trens de
Sri Lanka são usados tanto para viagens longas quanto para as curtas.
Dizer
mais o quê?
Eu fervorosamente acredito que expor- nos a novos
cenários e experiências, a diferentes sistemas de crenças e inéditas culturas, a
estranhos modos de pensar - mesmo aqueles que inerentemente desafiam as nossas
próprias crenças - é uma das maravilhas de viajar. E o novo e inesperado é
exatamente o que acontece a cada curva da estrada quando se viaja por Sri
Lanka.
Foi fácil no terceiro milênio e aos cinquenta anos,
me apaixonar de novo por aquela verde ilha : pelo seu povo, por suas vistas,
seus sons e cheiros, sua comida.
Mas...
Como
descrever em um só post tantas paisagens deslumbrantes brilhando à luz do sol e
desaparecendo sob a névoa crescente, as montanhas fabulosas, as cachoeiras que
se misturam com as nuvens, as montanhas cobertas de florestas tropicais dando
lugar a milhares de hectares verdes claros de arroz pontilhados de branco por
templos budistas ou por estátuas gigantescas do Senhor Buda se erguendo acima
das árvores e protegendo palácios antigos abandonados à floresta?
Como
explicar que as maravilhas da ilha acontecem fora das cidades e que por lá a
gente pode experimentar colher chá, fazer canela, virar rato de praia desde bem
cedinho quando os pescadores começam a aparecer na areia dourada até a
serenidade de um por do sol escarlate?
Como
escalar com apenas quatro mil pretinhas a Rocha do Leão e ver os afrescos
eróticos de Sigiriya antes de chegar às antigas ruínas da fortaleza no topo da
pedra e depois de presenciar uma pequena reunião de praí uns trezentos
elefantes no Parque Nacional de Yala?
Como
falar dos mercados vibrantes, do norte da ilha que é um mundo para além do
resto do país, dos templos hindus, das lindas garotas que andam de bicicleta de
sári, das praias interminááááveis, da flora, da arquitetura colonial contando
as páginas e as fotos?
Essas serão outras looongas conversas
pelas quais peço desculpas torcendo para que ninguém se canse.
Amei! Eu não sabia que ainda existem lugares perfeitos como este, Moacir. As lindas imagens do vídeo confirmam cada palavra sua sobre os trens, macaquinhos, montanhas, cachoeiras e a floresta tropical onde eu daria uma de Jane sem me fazer de rogada kkk. Você não tem que se preocupar se os artigos são longos. Eles são bons! Quem não quiser ler, não precisa. E quanto mais fotos tiver, melhor. Obrigada!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirDevo confessar que, às vezes, do topo de uma dessas rochas e olhando para todo esse verde circundante era como estar sozinho na aurora do planeta, não exatamente como um Tarzan mas como um Adão só que sem uma Eva para chamar de minha (rsrs)
Quanto a quiloméééétragem dos artigos, muito obrigado pela força, mas tenho a impressão que escrever bem é principalmente saber quando parar e como cortar, sem piedade, tudo aquilo que não é essencial à compreensão do tema. Para mim, no entanto, essa carnificina é uma tarefa complicada e então eu simplesmente pego um atalho: divido os posts e estão explicadas as “franquias”(rsrs)
Quanto às fotos também me amarro nelas mas desconfio que devam pontuar e enriquecer o texto e não o contrário. Senão não seria post e sim filme (rsrs)
Abração
Concordo com a Mônica
ResponderExcluirLi com prazer seus comentários e admirei sua memória que ainda lembra de tantos detalhes
Pode continuar escrevendo que nós agradecemos
Estou cobrando os comentários sobre os filmes que prometeu
Gostei muito quando escreveu sobre Philomena
Um abraço
Prezada Lea,
ExcluirEu tenho sim uma memória visual privilegiada que talvez tenha sido desenvolvida porque, quando pirralho, eu estudava escrevendo. O certo é que o que me é dito entra por um ouvido e sai pelo outro sem deixar vestígios enquanto que o que leio permanece. Durante os meus caminhos como mochileiro preenchi alguns cadernos com anotações taquigráficas diárias e eles ainda moram comigo, legíveis e muuuuito úteis (rsrs)
Quanto às resenhas cinematográficas pós Philomena - aqui entre nós e baixinho! – já tem uma pronta na Redação. Agora... quando ela será publicada aí é com o nosso Sr. Editor (rsrs)
Muito obrigado pela leitura e incentivo.
Abraço
1) Parabéns Pimentel, belo texto, viajei alegremente pelo Sri Lanka. Gratidão !
ResponderExcluir2)Bom fim de semana a todos (as).
Antonioji,
ExcluirÉ isso aí. Viajar é um verbo que a gente conjuga alegremente. Sabe? O tempo todo, no decorrer das minhas andanças por essa ilha, eu tinha uma sensação de “antigamente”, a mesma que experimento lendo as suas crônicas sobre os seus tempos do Gama. Mais do que os carros velhos nas ruas, os cortinados nos quartos e os ventiladores de teto nas varandas, essa impressão era acentuada pelo povo de Sri Lanka - as garotas de tranças, os meninos de uniforme, as senhoras de véu - que me recordava da minha infância quando ainda se respeitava os mais velhos, se ia à igreja e se fazia fila para cantar hino e hastear bandeira. Essa ilha tem um quê da nossa inocência perdida.
“Gratidão”!
Prezado Autor Sr. MOACIR PIMENTEL,
ResponderExcluirMe associo as sábias palavras da Sra. MÔNICA SILVA, acima. Os seus maravilhosos relatos de viagens, como esse sobre Sri Lanka ,( Ilha abençoada), a velha Taprobana da Antiguidade e Idade Média, a Ceylon do Império Britânico, nunca são longos demais.
Inteligente, corajoso e observador sutil da Cultura, melhor das Culturas dessa Cosmopolita Ilha, a sua Descrição Mágica nos fascina a ponto de imaginar que somos companheiro de viagem do senhor, de viajar juntos como já disse anteriormente nosso Companheiro Sr. FRANCISCO BENDL.
E fazendo um contraste com a gigantesca Índia, ali pertinho, o senhor observa que os Sinhaleses, mesmo tão pobres como os Indianos, sabem ter um Padrão de Vida mėdio muito mais alto do que os Indianos, graças a Higiene, Limpeza, grande cuidado com a Natureza, e sem dúvida uma maior disseminação da pequena Propriedade, pois que observas em mais de 9.000 Km só de moto, sem contar trens e ônibus, caronas, etc, que os Pobres em Sri Lanka, principalmente no Interior e Praias, vivem com a maior Dignidade, não lhes faltando o Básico e quase não existindo Mendigos.
Parabéns, e muito obrigado por mais esta jóia de Relato de Viagem.
Abração.
Prezado Bortolotto,
ExcluirQue bom que o artigo não lhe pareceu comprido demais... depois de ter sido cortado ao meio (rsrs)
Sri Lanka e Índia têm uma história compartilhada e portanto possuem mais semelhanças do que diferenças. Mas o observador atento logo identifica a variação de tons e sabores no cenário. Assim que desembarquei do barco que me levou do porto de Tuticorin, em Tamil Nadu, até o de Colombo percebi que, de alguma forma, o pequeno país encontrara uma maneira de proporcionar um padrão de vida razoável ao seu povo. De saída perdi a sensação incômoda experimentada na Índia de que estava sempre acontecendo alguma coisa muito errada ao meu redor, tipo um acidente de trânsito que, quando rola nas nossas praias, junta uma multidão. A única novidade era que eu estava entre um bilhão de criaturas! Outra diferença era que os ilhéus comiam o tempo todo, estavam sempre beliscando, enquanto que os indianos eram extremamente frugais. Se fossem gulosos, cruzcredo!, creio que o mundo passaria fome (rsrs)
As diferenças são visíveis principalmente na melhor infra-estrutura, nas estradas excelentes, no ambiente mais verde e na natureza mais atraente. Na verdade acho que não se deve comparar a Índia com nenhum outro país porque a Índia é um outro mundo que possui, por exemplo, quase mil e setecentas línguas vivas, das quais vinte e duas são oficiais e cento e cinquenta têm uma população nativa falante considerável. Ou seja, é comum que um indiano só possa se comunicar com outro indiano - caprichando nos Rs! - em um inglês incompreensível para britânicos e/ou ianques. Imagine para mim! Talvez fosse mais apropriado comparar Sri Lanka com Kerala que, entre os estados e territórios indianos, é o que tira melhor nota na prova de IDH. Ainda assim há dez anos atrás me pareceu que Sri Lanka estava ganhando disparado, com um PIB per capita bem mais alto e melhores educação e saúde, uma classe média mais larga, um povo mais próspero, relaxado e hospitaleiro. Mas quando se trata de potencial econômico, é claro que a minúscula ilha não é páreo para a imensa Índia.
Muito obrigado e abração
Moacir,
ResponderExcluirEstou adorando as suas 'peregrinações' pela ilha. O conjunto de fotos que mostra a diversidade da arquitetura dos templos é fantástico, as crianças são fofas e o filme encantador. A maioria pessoas que conheço passaria por Sri Lanka sem nem imaginar que o povo faz que sim com a cabeça do jeito como a gente faz que não e jamais almoçaria sentada numa esteira no chão com os 'mecânicos nativos de um vilarejo esquecido no meio da selva'. É por isso que o seu artigo é delicioso.
Um abraço para você
Flávia,
ExcluirVocê não deixa de ter razão. A galera via de regra se sente insegura diante do desconhecido e portanto prefere encontrar o guia/tradutor à espera no aeroporto, o ônibus na porta, o roteiro todo combinado antes, tirar fotos nos pontos turísticos e fazer compras em shopping centers. Mas aos vinte anos a plasticidade dos cérebros permite adaptações e a desconfiança ainda não fez morada nos corações: naquele tempo perambular pelo vasto mundo antes de criar raízes era o sonho de milhões de jovens (rsrs)
Quando me decidi a botar a vida em modo de espera e o pé na estrada foi um deusnosacuda - o quê? onde? como? - e eu não entendia o porquê o espanto afinal não tinham me dado o Marco Polo para ler quando eu tinha sete anos? (rsrs) Medo do vasto mundo jamais experimentei e acredite, não há maior escola do que a Terra: cada dia era um desafio em ambientes absolutamente novos e diversos e o tempo todo, como uma sombra, estava lá presente o elemento do desconforto. E é quando nos sentimos desconfortáveis, fora do nosso elemento, que mais crescemos aprendendo a driblar o inesperado e a aceitar a imperfeição das coisas sem deixar de ser capaz de encontrar beleza nelas.
Outro abraço para você
Excelente post. Mas se nas próprias cores da bandeira de Sri Lanka as diferenças dos grupos étnicos e religiosos estão à mostra por mais zen que a ilha fosse você deu sorte do terrorismo não ter começado enquanto estava por lá. Corro às léguas de quem não usa Deus com moderação, rs.
ResponderExcluirMárcio,
ExcluirConcordo com você que o divino é uma maravilha até que os humanos começam a a matar por causa dele mas eu jamais presenciei qualquer ato de hostilidade religiosa em Sri Lanka e não creio que a guerra deles tenha sido só santa. Tudo bem que as conversas que tive à mesa em casas de famílias budistas/singalesas e hindus/tamils não me credenciam como historiador de guerra mas tudo que ouvi e li me permite afirmar que as causas do conflito são mais complicadas e antigas.
A história de Sri Lanka foi escrita por monges budistas em regime de licença poética ou seja, através de uma sequência de guerras nas quais “os mauzinhos” eram sempre os tamils. Já a política britânica discriminou a maioria singalesa, dando mais representação aos tamils tanto na educação quanto no funcionalismo público. O protecionismo dos colonizadores resultou em um número desproporcional de tamils em certas profissões e/ou na coisa pública em comparação à maior população cingalesa.
Só que depois da independência da Grã-Bretanha, em 1948, os cingaleses reagiram e quando do advento da democracia parlamentar a situação se inverteu pois os tamils eram minoria. Porém a coisa complicou mesmo quando a língua tamil começou a ser marginalizada até que, em 1956, a cingalesa tornou-se a única oficial. Como se não bastasse, na década de 70, foram criadas cotas nos vestibulares, baseadas nos idiomas, obrigando os estudantes de língua tamil a pontuar muito mais alto que os colegas cingaleses. É claro que tais maluquices criaram um sistema educacional etnicamente segregado e, no meu entender - já que para todos os ilhéus, de todas as cores, a educação sempre foi um valor cultural elevado - foi isso que agudizou a tensão entre os dois grupos.
Eu só percebi o acirramento dos ânimos depois que, entre minhas duas primeiras visitas, milicianos patrocinados pelo governo incendiaram a biblioteca pública de Jaffna – a capital do Norte – destruindo quase cem mil livros e manuscritos e pergaminhos insubstituíveis para a cultura tamil. O incêndio foi o estopim do terrorismo.
Obrigado por participar!
Pimentel,
ResponderExcluirÉ preciso ter talento para transformar o calor, o barulho e o caos nos transportes do Sri Lanka em uma aventura hilária a partir da descrição de motoristas descalços e cobradores incansáveis, todos precisados de proteção divina. Nota dez!
Sampaio,
ExcluirÉ preciso também dar uma espiada no avesso do avesso: as bizarrices também rolam nas nossas praias. Há que prestar atenção nas caras dos visitantes diante de nossos sem tetos, das crianças vendendo balas nos semáforos, da imundície das calçadas, dos cães baldios comendo lixo etc. Certa vez, faz valentes anos, meus cunhados portugueses passaram um carnaval hospedados conosco. Praia, Pão de Açúcar, birita, feijoada e tal, tudo correndo às mil maravilhas até que as visitas decidiram que queriam ver a vera folia: o Cordão do Bola Preta. Beleza! Fomos de metrô, descemos na Carioca e subimos pela saída da Avenida Rio Branco. Na calçada não foram o calor e/ou o barulho da multidão que paralisaram os tugas mas o cheiro de urina que, de tão forte, mais parecia uma parede. Pensei que a senhora fosse desmaiar (rsrs) Aí batemos em retirada e terminamos passando a tarde pelas bucólicas ladeiras de Santa Teresa, beeem mais parecida com a zona de conforto deles.
Ou seja, para fazer a festa há que relaxar, tomar umas e outras e lembrar do velho ditado:
“Em Roma faça como os romanos!”
Abração
Olá Moacir,
ResponderExcluirSabichão, mestre das pretinhas, sabedor de Artes e Ofícios ( só não gosta da minha favelinha, buá, prefere o Brennand, por que, por que?rs), Mochileiro das galáxias, Turista (não) Acidental!
Que leva a gente por esses lugares incríveis nunca dantes visitados por nós. Nunca dantes mas agora sim.
E ficamos aqui de mochilas prontas, sentados na calçada do nosso pequeno mundo esperando pela próxima carona.
Não demore muito, a enxurrada pode nos levar!
Até sempre mais.
Caríssima Donana,
ExcluirEspero que nas Conversas todos nós possamos continuar sendo turistas acidentais, tropeçando e encontrando nas pretinhas uns dos outros, como tão bem diz o poeta, “algo distinto de nossa sombra a caminhar atrás de nós quando amanhece ou da nossa sombra vespertina ao nosso encontro se elevando.”
Agora... a senhora até parece que é feiticeira pois previu o dilúvio de ontem e ainda definiu à perfeição o meu estado de espírito atual: “cinzento como o tempo, de mochila pronta, sentado na calçada só esperando pela próxima carona” para Pasárgada (rsrs)
Com relação à sua favelinha e como dizem as criancinhas lusitanas a partir dos quatro anos: “a senhora está equivocada” (rsrs) Do ofício da cerâmica pouco sei mas o meu gosto foi influenciado pelos únicos DOIS oleiros cujo trabalho conheço: Brennand e uma delirante mulher que recomeçou a mexer com o barro aos setenta anos.
Pronta para fazer outro passeio enquanto a chuva não passa? Apresento-lhe Rosa Ramalho e o “figurado” de Barcelos:
https://www.youtube.com/watch?v=UHjwg1Rli7U
“Até sempre mais”
Pimentel,
ResponderExcluirQuando nos perguntas lá pelas tantas, no teu texto brilhante, como explicar as belezas vistas em outras terras, das duas uma:
Ou viajando como tens feito ou, então, lendo os teus artigos que têm o dom de nos transportar para esses lugares indescritíveis!
Mais ainda aprecio as tuas andanças mundo afora, pelo fato de que não nos submetes ao teu conhecimento sobre as grandes cidades, capitais, mas a locais que jamais pensaríamos em visitar, então o grande significado do que escreves para nosso deleite e conhecimentos.
A bela ilha, antes denominada de Ceilão, foi mostrada por ti de forma absoluta, grandiosa, e que somente pessoas destituídas de vaidade, prepotência e arrogância, postariam o Sri Lanka como visitado e apreciado sobremaneira!
Antes, Paris, Roma, Madri, Budapeste, Praga, Berlim, Amsterdã, mas o Sri Lanka??!!
Sim, por que não??!!
Que tal um contraste entre o concreto e a Natureza?
Que tal uma comparação das vestimentas usadas pelas pessoas em países altamente desenvolvidos, e aqueles que usam roupas comuns?
Que tal andar em trens-balas, mas viajar nos antigos e lentos comboios indianos??!!
Gostei desta viagem, apesar de eu chegar cansado em casa, mas aproveitei em demasia passear pela ilha, e ter contato íntimo com a Natureza.
Obrigado, Pimentel, pelo convite.
Abraços.
Grande Bendl,
ExcluirVocê é sempre bem vindo a bordo mas o meu texto não é brilhante. O que acontece é que todos nós apreciamos histórias de viagem. Só que mesmo recapitulando os caminhos e os cadernos sempre que tento descrever as diferentes paisagens por onde passei me faltam as palavras certas talvez porque mochilar para mim foi um rito de passagem para a maturidade, um curso intensivo de humanidade. Por isso é bom ler você perguntando: “Sim, por que não Sri Lanka??!!”
Na testa!
Quem viaja com uma mochila nas costas não quer apenas ver as maravilhas todas, tipo os “1000 lugares para se conhecer antes de morrer”, da Patricia Schultz, e ficar bem nas fotos icônicas. A arrogância nada tem a ver com a estrada, onde logo cai a ficha de se ser apenas um dos sete bilhões de passageiros da nave Terra e mais: sozinho e dependendo da generosidade e honestidade de estranhos em terras alheias. Depois basta olhar para um painel de chegadas/partidas de voos de um grande aeroporto da vida para sacar humildemente o muito que desconhecemos e quão pouco podemos experimentar do vasto mundo. Por fim e com um pouco de sorte se aprende que o único jeito de conhecer um país é através do olhar do seu próprio povo, se desenvolve a habilidade de conversar e então se passa a desfrutar da sensação de cordialidade e amizade que surge da partilha com “os outros” de prazeres simples e universais da vida, como um copo d’água fresca ao meio dia, uma gargalhada, um almoço que de tão delicioso se come gemendo, a alegria de mais um dia nascendo e o desejo geral, irrestrito e inconsolável de... não se sabe bem o quê (rsrs)
Então.... “por que não em Sri Lanka??!!”
Muito obrigado e um abração