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Antonio
Rocha
Começo hoje citando a música da então Jovem Guarda que tocavam lá no
serviço de alto-falante da amada Cidade Satélite do Gama, com o conjunto “Os
Incríveis”, depois passaram a chamar grupo ou banda. Era sucesso absoluto nos
bailes de fins de semana. O mais interessante, acho que já falei aqui uma vez,
era nas tardes de sábado, iniciava às 14 horas e terminava às 18 horas, sempre
realizados na casa dos amigos que tinham toca-discos, radio-vitrolas e outras
mais. Eu não tinha nada disso. Mas aprendi a dançar, como se dizia na época,
aprendi a arrastar o pé.
Após a introdução começa a nossa história verdadeira, não vou citar
nomes pois não é conveniente.
Eu estudava no Ginásio do Gama, antigo 3º Ano Ginasial e na mesma sala,
um dos meus colegas era meio calado, ficava lá num canto, bem simples, humilde
e tal. O pai dele era um dos zeladores do colégio, mas nunca houve discriminação,
atribuíamos o fato de não ser bagunceiro como nós, por ser membro de uma igreja
evangélica.
Mas ele também já trabalhava em uma pequena relojoaria e aprendia a
profissão com um patrão que, soubemos depois, era ótima pessoa e chefe.
Nesta época, a Loteria Esportiva estava nos primeiros jogos. Ainda eram
os famosos 13 pontos, não sei como é hoje, pois nunca mais joguei esta
modalidade.
Então, bela segunda-feira, explodiu uma bomba de surpresa geral e
alegria na cidadezinha.
Meu citado vizinho, morávamos na mesma rua e estudávamos na mesma sala
de aula, ganhou na Loteria Esportiva quase 1 milhão de cruzeiros. Uma fortuna !
Ele era menor de idade e fez com o patrão dois jogos. Cada um prometeu:
“Quem ganhar vai dar 10% para o outro”. O patrão era amigo da família, uma
espécie de tutor do jovem. O felizardo era um pouco mais velho do que eu, não
lembro a idade precisa. Tanto assim que ele, o chefe dele, juntamente com o pai
do menino, acompanhou-o ao Rio de Janeiro para vir buscar o prêmio. Na ocasião,
os premiados tinham que vir à sede da Caixa Econômica Federal buscar a “grana”
e só então transferiram para a agência de Brasília, que ficava no Plano Piloto,
o Gama ainda não tinha nenhuma agência bancária.
Nós, os colegas de turma e vizinhos continuamos do mesmo jeito com o
Quase Milionário, que através dos juros, aplicações e rendimentos outros deve
ter ultrapassado a marca de 1 milhão.
O interessante é que, com o passar do tempo, naturalmente ele foi se
afastando da turma... foi estudar em colégio de rico no Plano Piloto, aprendeu
a dirigir e comprou um carrão Dodge vermelho. Imagino que deve ter sido em nome
do pai ou do amigo ex-chefe.
O bonito é que cumpriu o prometido, deu quase 100 mil cruzeiros para o
dono da relojoaria onde ele aprendia o mister. Soube depois que ele abriu uma
joalheria e relojoaria em Anápolis, GO, para onde se mudou, visto que a família
era de lá.
O pastor da Igreja exigiu os 10%, mas eles não deram e foram expulsos.
A família toda, que incluía irmãos menores e os pais. Foram rezar/orar em
outros lugares que não sabiam da sua sorte.
Curioso também é que, dito e feito, tão logo souberam da notícia choveu
– literalmente – mulher na vida dele. De todos os tipos, lindas, maravilhosas,
loiras, morenas, assim, assado e os antigos amigos comentavam: “comprou carrão só
tem mulherão”.
Estudando à noite, cuidando das finanças durante o dia, certa feita,
ele deve ter bebido mais do que o necessário e quando voltava do Plano Piloto
para a sua nova casa, o veículo desgovernou-se, por excesso de velocidade e,
talvez tonteira, ou quem sabe a “mulherona” que estava do seu lado o distraiu e
o veículo saiu da pista e embrenhou-se em um pequeno bosque de eucaliptos, que
antigamente existia, margeando as estradas do DF, para melhorar o oxigênio,
pois o Planalto Central está 1200m acima do nível do mar.
Não morreram, mas uma ponta de um caule de eucalipto quebrou o
parabrisa, e entrou no pescoço do amigo. Ficou em estado grave, mas curou-se. A
“namoradona” teve mais sorte, apenas “escoriações generalizadas”.
Quando se recuperou ele “sentou o facho” como se dizia antigamente.
Mudou-se de vez para Anápolis e perdemos o contato.
E foram felizes para sempre.
E se eu comecei com uma “orquestração”, como dizíamos, da Jovem Guarda,
termino com outra canção, de 1967. Note o carro vermelho, as muitas garotas
etc.
Antonioji,
ResponderExcluirÉ inevitável voltar ao passado quando ouvimos a sua trilha sonora.
Obrigado. Na minha praia o "arrasta-pé" acontecia nas festinhas de quinze anos, também aos sábados, mas que não podiam começar às duas horas nem terminar às seis horas. Explico: tinha que ter luz negra! Lembro das minhas calças “boca de sino” e das mini saias delas e de como todos balançávamos os esqueletos ao som do iêiêiê na pista cheia. Até que tocavam Como é grande o meu amor por você, Yesterday e/ou Je t'aime... moi non plus - caramba! - e aí as pistas ficavam congestionadas: era a hora do rala-coxa!(rsrs)
Quanto às “mulheronas”, aos carrões e às coisas do amor penso que é mais ou menos como no futebol: não é tanto uma questão de equipamento, nem de força, mas de treinamento e, principalmente, de jeito (rsrs)
De resto, creio que há um tempo para tudo e parece-me preferível que o “desbunde”, os prazeres e os pecados sejam cometidos na juventude e que só “se assente o facho” depois de muitos quilômetros rodados. Até mesmo o jovem Buda – corrija-me se eu estiver errado - teve que deixar para trás os excessos primeiro do luxo e da sensualidade e depois do ascetismo para achar o “caminho do meio”.
Namastê!
1)Oi Pimentel, vc tem toda razão. O "arrasta-pé" era ótimo!
Excluir2) Buda tb, quando jovem caiu na gandaia, só aos 29 anos virou religioso.)os textos diziam que fizeram até "concurso de misses" para ele escolher uma. Só que outros textos dizem que ele tinha mais de uma.
3)Abraços de boa semana.
Rocha foi para Brasília depois que eu saí de lá.
ResponderExcluirEu, minha mãe e irmão, descemos na grandiosa Rodoviária do Plano Piloto ainda em construção, em 1.959!
Brasília era só poeira!
Ficamos três dias no Núcleo Bandeirante ou Cidade Livre, e depois nos mudamos para Taguatinga.
Dez meses sem água e luz, que tal!?
Bom, na minha cidade satélite também as festinhas como eram chamadas eram aos sábados.
Geralmente na casa de um amigo, ao som de Ray Coniff, The Platters, The Clevers, depois Os Incríveis, The Ventures, Billy Vaughn, Renato e Seus Blue Caps ... e onde os primeiros romances na vida de um guapo rapaz acontecem.
A primeira namorada, um acontecimento que, se fosse possível compará-lo, seria mais importante do que o homem ter chegado à lua!!!
A primeira caminhada de mãos dadas, as saídas ao cinema, ao Parque de Diversões - a maior diversão de Taguatinga, à época -, e o primeiro beijo??!!
Os nervos, a tremedeira, os efeitos naturais ocasionados pelos hormônios, impossíveis de se esconder ou ela sentir????!!!!
Brasília foi marcante na minha vida, logo, entendo muito bem o Rocha quando relata suas historietas sobre o Gama, onde fui várias vezes.
Legal, Rocha.
Um forte abraço.
1)Oi Bendl, hoje, constato-me um saudosista, maravilhado com a pré-adolescências e suas descobertas.
Excluir2)Falavam que o sistema de ônibus no Gama-DF era ruim,mas o meu pai tinha um Gordini café com leite que nos ajudava e muito.
3)Então só lembro das coisas boas. Abração amigo Chicão.
Olá Antônio budista,
ResponderExcluirDelícia de música com que você começa o texto divertido.
E como disseram os comentários acima, seu texto é uma viagem no tempo. Com horas dançantes, muitas vezes com rádio. E com refrigerante e sacanagem, não intereprete mal, espetinho de salame com o que tivesse em casa, queijo, azeitona, nem me lembro mais.Para nós meninas não era muito diferente. Só que sempre fomos mais românticas.
Aproveito para agradecer seu comentário no meu texto. Comentário gostoso, doce como caramelo no meio de um cansaço.
Arranjei uma amiga budista!
Até mais.
1)Oi Ana, que bom que vc arranjou uma amiga budista.
Excluir2) Refrigerantes naquela época era a Laranjada Crush, Mirinda Uva, Zupa Cola etc. Tudo marca de lá, que foi comparada pela Skol.
3)Na sacanagem nós incluíamos também pedaços de pimentão verde.
4)Bons tempos !
Prezado Autor Prof. ANTONIO CARLOS ROCHA,
ResponderExcluirMuito agradável de se ler sua descrição do Colega de aulas do terceiro ano Ginasial ( 2 Grau ) que ganhou prêmio milionário na Loteria Esportiva, aí no Gama, Brasília-DF .
Estudante aplicado, dos que sentavam na fileira da frente, Filho do Zelador da Escola, e Estagiário numa Joalheria-Relojoaria do Bairro.
Jogavam Patrão e Estagiário sempre 2 Cartões, provavelmente financiado pelo Patrão, com a condição de que quem ganhasse daria 10 Pc para o outro. Ele ganhou e honrou a palavra dada.
O Pastor da sua Igreja, também solicitou o Dízimo do Prêmio, mas não teve a mesma sorte, terminando a questão por exclusão da Igreja, o que me faz suspeitar que ele era "Cristão Novo" naquela Igreja.
É interessante notar a mudança de vida que o Colega do Prof. ANTONIO CARLOS ROCHA após ganhar o Prêmio e especialmente depois de comprar o Dodgeåo Charger Vermelho, das Garotas sabidas que passaram a se interessar grandemente por ele, até então um Garoto simples e que não despertava muita "emoção romântica".
Dono daquele potente motor V-8 de 420 polegadas cúbicas, certo dia saiu da estrada e entrou eucaliptal adentro, tendo um galho lhe perfurado o pescoço, e quase morrido.
Depois montou sua Joalheria-Relojoaria em Anápolis-GO, casou e viveram Felizes para sempre.
Mas se o Colega tinha sorte para ganhar Loterias, o Prof. ANTONIO CARLOS ROCHA, teve a sorte de ter o Dom de Escrever Bem.
Abração
1)Certíssimo Mestre Bortolotto. Esse foi o dom que Deus me deu e procuro honrá-lo diariamente.
Excluir2)Essa é a minha riqueza, os livros e as crônicas que escrevo.
3) E como não tenho como pagar*, continuo eternamente grato ao Criador (que eu aprendi a chamá-lo de El Shaddai, em hebraico).
4)(*)Se bem que, sempre que possível colaboro para ajudar com $$$ instituições de Caridade. Falo isso não por vaidade, mas para sugerir, se possível, que outros também doem... é gratificante...
5)Boa semana mestre Bortolotto.