-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

06/11/2018

O pássaro e o touro


Georges Braque - L'atelier VIII (1954)



Moacir Pimentel
Esse é o mais famoso dos Estúdios de Braque, o de número VIII, uma imagem complexa que mais parece um resumo ou um inventário de tudo que o francês aprendera sobre arte. Nesse espaço ele se move muito além da clássica natureza morta cubista. A pintura está cheia de movimento e tensão - entre superfície e profundidade, os planos alto e baixo, a frente e o fundo, a esquerda e a direita.
Decerto que a liberdade de inventar e afastar-se do realismo foi central para a abordagem que Braque fez à pintura. Embora elaborasse os detalhes básicos de suas composições em desenhos preliminares, ele gostava de descrever seu método de trabalho como sendo baseado em descobertas pictóricas: “Eu nunca sei como uma pintura vai terminar. Uma imagem é uma aventura a cada vez. “
Braque amava metáforas e metamorfoses - que para ele eram trocadilhos gráficos – e se tornou um colecionador inveterado de quinquilharias e um catador e reciclador de lixo. Mas, com certeza, eu não compro o velho Braque transformado em um taoísta honorário, embora não há como negar os grandes pássaros brancos, rosa pink, castanhos e negros voando pelas suas telas.
O pássaro onipresente na verdade fugira de um modesto quadro real que morava em uma das paredes do ateliê do pintor. No entanto, a criatura passou a ser representada fora desse habitat, da sua moldura original, e se tornou uma presença misteriosa pairando sobre o estúdio, os campos circundantes, o horizonte, funcionando, talvez, como talismã e guardião, observando Braque e seu ofício sagrado e animando a sua arte. O fato é que asas gigantescas passaram a ser uma constante em sua fase final, rasgando os seus espaços pictóricos.
Mas os sabichões capricham na metafísica quanto tentam explicar os voos dos pássaros nas pinturas tardias do artista, inclusive no teto da Sala Etrusca do Museu do Louvre, onde o pintor conheceu a consagração triunfal, nos anos 1950, quando o então ministro da Cultura da França, André Malraux, o convidou a fazer uma intervenção. O resultado foram os famosos pássaros negros voando num céu estrelado e uma exposição individual, a primeira de um artista vivo na história da instituição. Esse ineditismo perturbou profundamente Picasso (rsrs)
Georges Braque - Plafond dans la salle Henri II du Musée du Louvre (1953)


Tudo bem que é um truísmo que a imagem de um pássaro e o processo de vôo tenham estado obsessivamente relacionados à alma, à imortalidade, à busca do homem por Deus, desde que um pintor desconhecido fez pela primeira vez tal sugestão, em uma famosa pintura na caverna de Lascaux, no sul da França. De fato, desde a sua aurora, a humanidade parece ter a convicção da alma e os pássaros ainda são os símbolos arquetípicos dela em todas as mitologias e religiões. Mas...
Nos seus cadernos iniciados no pós-primeira-guerra durante sua convalescença, em cujas páginas ele combinava pensamento e imagem e fundia a complexa poética pictórica e a meditação, Braque discorda de tudo isso e sempre negou qualquer significado simbólico e/ou metafísico na sua pintura. Como não acreditava, o pintor encarava o destino final da vida como uma submissão ao inevitável e um retorno ao inorgânico.
Sucede que, nas suas derradeiras pinturas, não havia qualquer vislumbre da preocupação obsessiva com temas de sexo, impotência e morte que davam à obra de Picasso sua força extraordinária e seu trabalho atingiu uma harmonia, uma revelação contínua que só posso descrever como um estado de paz, que tornava tudo possível e correto. Essa mente em tranquilidade e essa renúncia de todo o interesse pelo mundo material é uma atitude comum aos místicos religiosos.
Assim ponderando é possível que, por fim, depois de ter sido apenas uma ideia o ser alado de Braque tenha se metamorfoseado. A leitura que faço das imagens desses enormes pássaros que voam acima da confusão e desordem do estúdio e mais além é que personificam a força criativa e que o artista percebia esse poder como algo separado da paleta, dos pincéis, das telas, das pinturas e do estúdio onde trabalhava. É como se ele nos mostrasse a inspiração sobrevoando a tela e a vida, libertando-o das restrições terrenas.
A relação de Braque com as coisas em seu estúdio tornou-se cada vez mais complexa à medida que a qualidade abstrata de sua linguagem pictórica o afastava de uma representação familiar das coisas e de todas as lembranças sobreviventes. Todas as coisas passaram a funcionar como as probabilidades e os fins de um velho artesão que conhecia os valores daquilo com o que sua mente e mãos haviam trabalhado e criado ao longo da vida.
Na reta de chegada é como se para o artista cada objeto do cotidiano fosse um livro que lhe fornecia ideias e sugeria temas para composições. Podemos supor que os objetos de Braque assumiram um significado transcendental? Nunca saberemos. Segundo o pintor “na arte há apenas uma coisa que importa: o que não pode ser explicado”.
Georges Braque - L'oiseau retournant à son nid (1956)
Mas a tela Retornando ao Ninho, pintada na véspera do seu septuagésimo quinto aniversário, é mais do que uma pintura: o pássaro sobe livremente além dos limites do estúdio e das suas muitas posses, voa sobre a paleta e o cavalete, para fora da janela e do inconsciente poético do artista, em um ambiente noturno, no qual o branco do pássaro e dos ovos é silenciado e aquecido por todos os castanhos, tão escuros que se aproximam do sinistro negro cósmico. O pintor não simbolista que morava na floresta de símbolos do seu ateliê, sem saber, fez desse pássaro o resumo de toda a sua arte.
Os símbolos são criados subjetivamente, não importa o quanto o criador esteja consciente ou inconsciente deles ou ligado a uma determinada cultura, mas a simbologia, assim como a poesia são misteriosas na medida em que lidam com visões que pertencem à imaginação, na fronteira entre o pessoal e o impessoal. A metamorfose seria para o artista o que o êxtase deve ser para o místico: um abandono do mundo.

Há dentro de nós dimensões das quais não podemos nos tornar conscientes exceto através de símbolos, que expressam uma fuga das limitações terrenas. O mundo mental e pacífico de Braque não era penetrado pela fé ou pelo desespero e sua alma era um repositório de sentimentos estéticos. Ele capturou o símbolo da liberdade no movimento gracioso do pássaro: não há horizonte, nem céu, nem cosmos, o estúdio é a vida e a vida após a morte, a integração final e harmoniosa do consciente e do inconsciente. Um por do sol geral.
Georges-Braque-au-coucher-du-soleil-OISEAU-XVIème (1958)

Esses símbolos gráficos permitiram ao velho pintor externar seus processos psíquicos, criar uma ordem de discernimento intraduzível, que transmite mais do que diz. As aves lhe permitiram, talvez, começar a relacionar-se com a necessidade de morrer. Elas resumem o mistério supremo da expressão humana, o conforto da realização completa. A dele era a fusão artística das paixões da vida com o repouso da morte: “Com a idade, arte e vida se tornam uma”, escreveu ele.
Havia sim, em Braque, no fim da estrada, uma insondabilidade, uma reclusão, um envolvimento total alcançado por um pintor/ camponês, preocupado com a terra, as colheitas, as praias e areias normandas. Dizem seus biógrafos que no seu leito de morte, ele pediu os pigmentos para a sua última paleta: “siena queimado, amarelo ocre, cor de ferrugem e preto”.
Para ele, preparar e misturar as tintas era como “tirar amostras da terra”. Portanto não causa espanto que, no momento definitivo, nos rudimentos de uma imagem que ele deve ter imaginado mas nunca pintou, as cores escolhidas sugerissem que ele reduziria o homem a seus elementos, à decomposição cubista final.
Georges Braque e Pablo Picasso (fotografia de Lee Miller, 1954)


Se, conforme acreditam os especialistas, Braque nas suas tintas se auto representou – talvez! - como um pássaro voando de volta a um ninho metafísico, o touro viril foi o animal de estimação do espanhol Pablo Picasso, um reflexo de sua autoimagem, um alter ego do pintor a partir da década de 30.
O processo do pensamento não é normalmente visível, mas Picasso, ao desenhar um touro com crescente simplicidade, demonstrou cabalmente como menos pode ser mais. A série taurina abaixo começa com um touro pré-histórico, mas a progressão inclui aspectos dos estilos de artistas mais civilizados como Albrecht Dürer, Francisco Goya, Paul Cézanne, Edgar Degas e Henri Matisse, os mestres que o espanhol não se acanhava de revisitar.
Pablo Picasso - 11 états du taureau (1955)

Nesse conjunto de litografias o touro nos soletra sua viagem da arte rupestre à acadêmica e dela à abstrata. Através de uma análise da forma, Picasso disseca visualmente a imagem para descobrir o “espírito” da coisa, sua presença essencial. Ainda que as cubices nem sempre sejam esteticamente agradáveis, como não achar uma beleza o cérebro humano funcionando a todo vapor?
É claro que a presença do touro na arena pictórica picassiana pode significar, por exemplo, o entusiasmo do artista pelas touradas, ou uma crítica ao fascismo e à brutalidade, ou uma representação do povo espanhol. Picasso, como Goya antes dele, celebrou o poder, a força e a virilidade do touro, como um símbolo poderoso de nacionalidade. Note que na década de 30 a identidade da Espanha, como nação, estava ameaçada.
Mas como nada na arte desse homem era fácil e/ou raso, de repente, Picasso passou a pintar um mítico Minotauro grego - parte homem, parte touro - e parte de uma ampla exploração do classicismo que persistiu em seu trabalho por muitos anos. Ele expressou com tal figura emoções complexas em momentos de grande turbulência pessoal. Note que nas composições da montagem abaixo – que nem Freud explicaria! - mulheres, pássaros e cavalos, aparecem como fantasmagóricos coadjuvantes da fera.
Pablo Picasso - Diversos


Para o pintor o Minotauro simbolizava a violência e o desespero, mas também a lascívia e uma libido totalmente desencadeada. A imagem mitológica foi usada para traduzir, por exemplo, seu amor e seu tesão pela mulher por quem foi mais apaixonado: Marie-Thérèse Walter, que tinha dezessete anos e cujos perfil grego, olhos azuis e corpo escultural e atlético eram a antítese das características de bailarina da neurótica esposa do touro, Olga Khokhlova. Seu caso com Marie-Thérèse foi uma intoxicação sexual temperada por encantamento e culpa, que pulverizou a domesticidade da vida de casado e resultou em centenas de telas e gravuras que, para mim, são das suas obras mais belas e mais sensuais.
Pablo Picasso - Faune dévoilant une femme (gravura da Suite Vollard -1936)
Porém também pode-se dizer que na obra do pintor as imagens do touro e do minotauro parecem dizer muito mais, inclusive profetizar o início de novos distúrbios políticos na Europa e até mesmo antecipar o sofrimento de sua terra natal que dentro em breve seria destruída pela guerra civil interna e pela invasão dos inimigos culminando com o bombardeio alemão em Guernica.
A imensa tela Guernica é um grito de desespero contra a guerra e quem a contempla sempre se surpreende com o tanto que uma pintura é capaz de articular emoções. Com clareza inegável, Picasso expõe em termos modernos, uma condenação ao sofrimento desnecessário, à agonia causada por uma violência intencional inimaginável. Essas figuras em fuga, humanas e não, incorporam o horror das criaturas vivas sob ataque e devem sua eloquência ao que são e não ao que querem dizer.
Guernica choca quase monocromaticamente, exemplificando o triunfo da pura forma abstraída em imagens feitas com folhas de jornal que transformam um evento espanhol em um ícone universal do terror após a violência.
Pablo Picasso - Guernica (mural - 1937)



Essa série de imagens alegóricas evoca a complexidade e a profundidade do sofrimento causado pelo bombardeio alemão, mas Guernica não representa apenas a tragédia que a inspirou. Nessa composição superlotada, figuras estranhas foram amontoadas em primeiro plano: uma mãe gritando e embalando uma criança morta, um cadáver com olhos bem abertos, um braço empunhando uma lâmpada como arma de combate, um touro de rosto humano, um cavalo ferido. Nessas trevas cercadas por prédios em chamas, cujo simbolismo desafia a interpretação exata, as figuras parecem unidas, por uma lógica interna, em um lamento fúnebre.
Seus movimentos, fragmentações e transformações expõem a dura realidade universal da dor insuportável. Mas, como a maior parte da obra de Picasso é autobiográfica nessa obra prima não poderiam estar ausentes nem o touro nem as suas duas jovens amantes à época, Marie Thérèse e Dora, retratadas em Guernica e em uma outra guerra que – dizem! - terminou em tabefes.
Mas eis que, de repente nos deparamos na obra do toureiro com um Minotauro Cego em um conjunto de gravuras de rara beleza de nome “Suíte Vollard”. Se não sabemos por quais cargas d’água o touro e Minotauro mítico tornaram-se para Picasso complexos símbolos de potência e paixão sexual, de impulsos inconscientes, de desejos proibidos, de culpa, de poder criativo e de fraqueza humana, imagine traduzir um deles cego!
 Pablo Pixasso - Minotaur aveugle guidé par une filette dans la nuit (gravura da Suite Vollard  - 1936)

Há que lembrar a historinha da besta que era mantida por Minos, o Rei de Creta, em um labirinto profundo e era alimentada com ofertas humanas anuais. Os marinheiros – cujas camisas listradas nos lembram esqueletos - no barco de velas brancas à direita do trabalho, são referências àqueles que eram sacrificados ao Minotauro e o jovem à esquerda é Teseu, que finalmente matou a fera sem se perder no labirinto graças à ajuda do fio de lã da filha do rei, a princesa Ariadne, a quem ele prometeu casamento, mas depois abandonou na ilha de Naxos.
Beleza! Mas quem disse que um só dos mitos gregos era o bastante para descrever Picasso? Acontece que o prezado Minotauro nunca foi cego! A cegueira do bicho, nessa e em várias outras litografias, foi uma invenção do artista. Isso mesmo! O cara resolveu cometer a fusão de dois mitos gregos: o de Édipo e o do Minotauro (rsrs) Édipo, é claro, é aqueeeeele que botava o pai na frente, que arrancou seus próprios olhos de culpa pelos crimes de matar o genitor e casar com a mãe e empreendeu uma viagem guiado por sua filha, Antígona.
Dizem que essas referências podem estar ligadas à culpa que Picasso sentia por causa da sua relação adúltera e tremendamente física com Marie-Thérèse, trinta anos mais nova do que ele e que teria deixado de ser desejável ao engravidar. Complicado! Porém há quem pense que a garotinha tem o rosto de Marie Thérèse mas na verdade é uma representação da irmãzinha do pintor – a Conchita! - que morrera quando o artista era menino, mesmo depois dele ter feito uma promessa: se ela sobrevivesse ele jamais pegaria em um pincel novamente. Seja lá como for, a psicologia pessoal e as alegorias autobiográficas não podem ser desvinculadas do poder mítico geral da obra.
Porém quando o Minotauro entra em cena percebemos que Picasso alcançou o centro de seu interesse: a arte se torna sexo, o sexo transforma-se em poder e a batalha dos sexos se torna uma metáfora da necessidade obsessiva que ele tinha de dominar os objetos de seu olhar. Esse Minotauro Cego distingue-se pela tristeza das belas linhas ao reformular temas antigos como atração, voyeurismo e outras coisitas. Agora... que esse bicho uivando para a lua é pungente, não há dúvidas.
Picasso transmite uma sensação de caos e desespero emocional nessa impressão poderosa na qual seu alter ego grego, antes tão poderoso, perdeu a sua potência e, cego e indefeso, está sendo conduzido pela amante que já fora sensual e submissa, mas que se metamorfoseara em uma garotinha proibida mas segura de si que o conduz por uma paisagem complexa e fora do seu controle. 
Os observadores são movidos a pathos para esta besta mítica que já não provoca repulsa e sim empatia. Quem de nós já não se imaginou assim velho, impotente, sozinho, dependente e pesado para os nossos, na reta de chegada? Quem não teme ficar para trás, em vez de ir antes da companheira?
Essa fera mitológica não deixa de ser o touro da Espanha natal do homem, o bicho cujos poder, orgulho e ferocidade correspondem ao caráter do próprio artista. Nem deixa de ser o símbolo dos surrealistas para quem a criatura representava a força desenfreada e incontrolável do inconsciente. Mas o Minotauro é, principalmente, o monstro interno de Picasso, seu demônio jamais domesticado e sempre faminto devorando o seu entorno.
É ainda o medo da cegueira que o havia assombrado desde as pinturas da sua fase azul, é o pavor de envelhecer sozinho, é o temor de perder a força quase imparável do seu impulso criativo. Não era para ser. Daí a minha dor de cabeça e a sua loooooonga leitura (rsrs)
“Se todas as formas que eu fiz fossem marcadas em um mapa e unidas por uma linha, ela representaria um minotauro.”
Lidar com Picasso é um pouco como lutar contra a presença do fantasma de um Minotauro impossível de se matar no labirinto da arte. Mesmo agora, quase quarenta e cinco anos depois de sua morte, ainda estamos descobrindo-o, julgando-o, avaliando o seu legado, a sua fertilidade criativa que só cresceu durante setenta e oitenta anos de tintas. Sua obra nos prova que um grande artista pode fazer qualquer coisa, de novo e de novo, com ineditismo.
Pablo Picasso - Tête de taureau (1942)


“O que é arte?”, perguntaram a ele. “O que não é?”, ele disparou de volta. E fundamentou esse argumento combinando um assento e um par de guidões de uma bicicleta para fazer a cabeça de um touro (rsrs)
“Seja qual for a fonte da emoção que me leva a criar, eu quero dar a ela uma forma que tenha alguma conexão com o mundo visível, mesmo que seja apenas para guerrear nele”.
Um dia, quando você tiver digerido essa overdose de Cubismo, voltaremos a conversar sobre as artes de Braque e Picasso depois de Montmartre. Elas merecem ser vistas e consumidas com apetite (rsrs) Para já só vou adiantar que até a morte de Braque, em 1963, aos oitenta e um anos, o francês e o espanhol permaneceram amigos distantes, um na Normandia e o outro em Paris, reunindo-se ocasionalmente para um almoço, observando o trabalho do outro com desconfiança. Picasso se despediu aos noventa e um anos, em 1973.
Foi sepultado no jardim de seu castelo de verão no sul da França, de onde se avista o famoso Monte Santa Vitória repetidamente pintado por Cézanne. Não que Picasso fosse particularmente sentimental sobre tal escolha e tal conexão com o antigo mestre. O toureiro foi é territorial até o fim: “Cézanne pintou essas montanhas e agora elas são minhas”, se gabava ele.
Dizem os sábios que na arte, como na vida, a saudade mais dolorosa é a do que não se fez ou do que não foi feito. Às vezes me pego imaginando o que esses dois grandes artistas teriam aprontado se tivessem amadurecido e envelhecido mais próximos um do outro. E tento fazer com que conversem:
“A verdade existe. Apenas mentiras são inventadas”, diria Georges Braque.
“A arte é a mentira que diz a verdade”, retrucaria Pablo Picasso.
E ponto final!


15 comentários:

  1. Mônica Silva06/11/2018, 08:31

    Você colocou um ponto final num trabalho maravilhoso que eu queria ter condições de comentar melhor, como você merece. Mas o artigo é tão profundo que me deixou meio tonta, Moacir. Então... achei o pássaro se pondo simplesmente deslumbrante, a autópsia do touro genial e a bicicleta a cara do dono. E adorei a foto dos pintores. Braque era um gato e Picasso um patinho feio kkk Mas o olhar da fera me fez acreditar que tinha mesmo amizade pelo belo. Muito obrigada!
    ...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moacir Pimentel08/11/2018, 09:06

      Mônica,
      Fico matutando se mereço os seus comentários inteligentes e divertidos (rsrs) "Obrigado!" Mas o "patinho feio" fazia mais sucesso com as senhoras do que os deuses gregos como Braque e Modigliani. Carisma ou pegada? Braque explicava que grande parte da sedução de Picasso era sua disposição para ser seduzido (rsrs) O fato é que esses dois nunca se recuperaram totalmente do fim da amizade/inimizade que permitiu que ambos se definissem como artistas. Um lado interessante desse enredo é que apesar da personalidade dominadora o espanhol era muito dependente do francês que, ao contrário, era muito na dele e se bastava. Por exemplo, quando a Fernande chutou o pau da barraca o valente toureiro escreveu para Braque nos seguintes termos:
      "Ontem Fernande fugiu com um pintor futurista. E agora... eu faço o quê com o cachorro?” (rsrs)
      É bem verdade que, como uma criança mimada, ele não suportava compartilhar atenção, que ao menor sinal de rivalidade reagia enfurecido, que implicava com a admiração dos seus marchands por outros artistas e se irritava com a amizade de Gris com Matisse. Através dos escritos de Gertrude Stein tomamos conhecimento de que, durante a Primeira Guerra, escreveu bobices do tipo:
      “Não será horrível quando Braque, Derain e Apollinaire voltarem, colocarem as pernas de pau em cima das cadeiras e começarem a contar como foi a briga?”
      Sim, Picasso sabia ser cruel e seu humor podia ser negro mas é necessário primeiro separar a sua produção artística da biografia e depois contextualizar o homem: o sarcasmo aí foi um refúgio contra o desprezo dos parisienses que o ofendiam nas ruas e cafés porque sendo fisicamente capaz não estava nas trincheiras. Não, Picasso não era um Barba Azul nem um mau companheiro. O seu antagonismo só aflorava quando era confrontado com evidências da bravura, ou da integridade ou da despretensão de Braque. Era como se precisasse ridicularizar e depreciar tudo o que não era capaz de ser, fazer ou ter em seus próprios termos. Complicado? Com certeza. Mas muito humano, coisa que ele não deixava de ser por ser um gênio.
      Abração

      Excluir
  2. 1) Considerando que os dois citados são gênios, faço minhas as palavras a seguir:

    2) "O gênio não passa de uma longa paciência" = Buffon (1707-1788)

    3)Pimentel está de parabéns, nos possibilita enxergarmos detalhes outros nessas artes visuais, que repousam, por exemplo em um pensamento do dia.

    4)Abraços de boa semana.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moacir Pimentel08/11/2018, 09:11

      Antonioji,
      Considerando que sou um sujeito impaciente, já estava estranhando o seu silêncio nas Conversas. Obrigado pelas boas palavras!
      Quanto aos dois citados acho que o que tinha mais paciência era menos gênio que o outro (rsrs) E o meu problema é que, em vez de focar em “um pensamento por dia” e avançar, me perco em brainstormings consecutivos. Por exemplo: quando li “paciência” me lembrei, ao mesmo tempo, tanto da bela canção do Gun N’ Roses quanto das pretinhas da Lispector: “Preciso de paciência porque sou vários caminhos, inclusive o fatal beco-sem-saída” (rsrs)
      Penso que ser paciente, em vez de ser passivo, é praticar a arte do possível, é aceitar que existem problemas cuja solução não depende de nós e/ou não foi ainda inventada. É saber distinguir os nós cegos que podem dos que não podem ser desatados e dar tempo ao tempo.ISSO é mais difícil do que foi inventar o Cubismo.
      Namastê!

      Excluir
  3. Olá Moacir,
    Caramba! Que texto, que final de temporada,que tragédia de orfandade você está deixando! E ainda vai carregar culpa de ter fomentado infidelidades conjugais: apaixonei-me perdidamente por Braque!
    Velho bonito, liberto no final de suas crenças e descrenças na arte resumida de seus pássaros, experimentando o outono e já pensando nas cores do inverno.
    Também interessante o Picasso, na sua beleza muito própria, de traços fortes e sua libido desenfreada. Avassalador o homem! Sua gravuras fincadas fortes nas matrizes e queimadas de ácido são inconfundíveis . E belas. Inspirei-me nelas em uma de minhas eróticas. Ja falei que sou abusada! Seus desenhos de touros também são lindos. Não me canso de admirá-los. E de invejá-los também.
    No mais, o que dizer além da vontade já experimentada de ir comentando ao lado de cada parágrafo? Por outro lado, você já disse tudo. Tanta arte, mitologia e poesia e ainda humor nessas pretinhas irretocáveis.
    E fico aqui ( que jeito?) esperando a próxima temporada. Que ela não demore tanto como as da tv.
    Até sempre mais.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moacir Pimentel08/11/2018, 09:17

      Caríssima Donana,
      Pois é, eu nem acredito que essa longa “temporada” chegou ao fim. “Ufa!” Mas valeu a se acreditar que, na despedida, as cubices deixaram saudades, causaram “orfandade” e essa “paixão” mais do que merecida pelo velho Braque, “liberto no final de suas crenças e descrenças na arte resumida de seus pássaros, experimentando o outono e já pensando nas cores do inverno.” Brava! Como eu gostaria que a senhora comentasse assim todos os meus parágrafos (rsrs)
      "Avassaladora" é um justo adjetivo para a obra de Picasso, que foi acima de tudo um fantástico desenhista. No traço ele era imbatível enquanto que o forte de Braque era a tinta. Daí as características táteis de sua pintura. Não será uma tarefa fácil teclar sobre o francês. Vimos uma exposição retrospectiva da obra dele em 2013, no Grand Palais de Paris, organizada para marcar os cinquenta anos da sua morte. Daí sei de quais pinturas e séries gostaria de falar mas não me recordo dos nomes, o que dificulta a busca das imagens. Além disso, excetuadas as cubistas, é difícil ver telas de Braque porque o cara pintava lentamente mas vendia depressa o que significa que o seu melhor se encontra nas mãos de colecionadores particulares, muitas vezes sem fotos na internet.
      Mas acredite vale a pena ver Braque por inteiro, sozinho e originalíssimo, aprofundando e expandindo as descobertas cubistas, misturando as técnicas analíticas às sintéticas, manipulando o espaço com ousadia incomum, promovendo o retorno da figura humana nas suas telas nas décadas de 20/30 e reinventando a luz e a natureza morta nos anos 40. Não sei se terei competência para mostrar as maravilhas cometidas por ele na maturidade mas prometo tentar e desde já me desculpo caso a franquia demore um “poucachinho” para aterrizar na Redação.
      “Até sempre mais”

      Excluir
  4. Flávia de Barros06/11/2018, 12:47

    Moacir,
    O seu artigo é uma obra prima! Vou ter que reler com calma, mil vezes, degustando cada belo parágrafo e curtindo cada fantástica obra de arte , enquanto espero por mais novidades sobre Braque e Picasso. Anote mentalmente que tenho vontade de conhecer as outras mulheres do Minotauro! Fiquei encantada ao ler que existe na caverna de Lascaux uma pintura rupestre de um pássaro sugerindo a crença humana na existência da alma imortal. A sua interpretação não metafísica dos pássaros como a inspiração do artista é interessante. Mas prefiro pensar que Braque ao chegar à conclusão que só tem importância 'o que não pode ser explicado’ já se encontrava bem pertinho de Deus.
    Hoje você merece um beijo no coração

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moacir Pimentel08/11/2018, 09:20

      Flávia,
      Menos, pelamordedeus! (rsrs) Apesar de ter sido imerecidamente beijado – “mil vezes” obrigado! – é como escrevi no post: os escritos de Braque evidenciam que ele não acreditava, que negava a existência de significado simbólico e/ou metafísico na sua obra e que para ele a pintura era “a resposta para tudo”. Qualquer interpretação zen da pintura dele, inclusive as minhas pretinhas, é mera poesia (rsrs)
      O fato é que foi criada uma aura quase mística à volta do pintor que tinha "uma mão firme a serviço de uma alma pura e de uma mente clara", muito provavelmente porque viveu quase em reclusão e era inescrutável. Ele não foi apenas um artista influente, mas um exemplo de dedicação ao ofício, um homem decente e fiel aos seus princípios que tornou-se uma espécie de mentor sagrado para jovens artistas embora não corroborasse ninguém além de si mesmo.
      Agradeço-lhe pela sugestão do post sobre as mulheres de Picasso – me limitei a mencionar os amores que rolaram em Montmartre (rsrs) - e já comecei a rascunhar sobre o trabalho mais maduro de Braque. Aguarde!
      Outro abraço para você

      Excluir
  5. Márcio P. Rocha06/11/2018, 17:11

    Parabéns por um post bem escrito, denso, maiúsculo do começo ao fim. Apesar da psiquiatria não ser a minha especialidade eu vejo paralelos significativos entre a terapia existencial e a prática da arte e assino embaixo da sua colocação de que temos neuroses e medos dos quais não podemos nos tornar conscientes sem riscos. As mentes dos dois pintores, no entanto, se mantiveram bastante sadias porque ambos puderam fazer o que amavam até os derradeiros dias de suas vidas. Que hoje são vividos por cada vez mais pessoas em unidades de terapia intensiva onde rotinas arregimentadas as afastam de todas as coisas que lhes são mais caras, como família, amigos e trabalho. Nossa relutância em examinar honestamente a experiência de envelhecer e morrer nega aos doentes os confortos básicos de que mais precisam no fim da jornada. Sem uma visão coerente de como as pessoas podem viver com qualidade e dignidade até o fim, permitimos que nosso destino seja controlado pelos imperativos da Medicina, da tecnologia e de estranhos. Braque e Picasso que se foram de pé e executando suas artes e ofícios nos seus lares, são lições a serem seguidas.
    ...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moacir Pimentel08/11/2018, 09:24

      Márcio,
      “Denso” é o seu comentário! Devo confessar que nada sei sobre “terapia existencial” - suponho que tenha a ver com o velho Sartre! – e como ultimamente tenho padecido de uma preguiça mental macunaímica vou ficar lhe devendo (rsrs)
      Quanto à necessidade de simbolizar antes da tomada de consciência certa vez uma especialista disse-me que os “psis” são chamados de “Orfeu” porque, é claro, o mito além de poeta e músico, teria sido o primeiro terapeuta da cultura ocidental, mas principalmente porque ao tentar trazer seus pacientes de volta à uma vida saudável, os prezados doutores correm o risco de dar um passo em falso - como aconteceu com Orfeu ao se voltar para olhar para Eurídice - revelando demais antes do tempo e detonando as psiques ainda não devidamente fortalecidas de seus pacientes. Deve ser por isso que, quando questionados sobre qualquer coisa, eles só respondem com aqueles “humhuns” de praxe. Ainda bem que Braque e Picasso, em vez de ir para o sofá, pintaram o sete até não mais poder (rsrs)
      Por fim, concordo integralmente com você quando diz que a sociedade precisa debater um tema espinhoso: em que momento a Medicina deixa de salvar vidas e passa a prolongar mortes. Valeu e obrigado por participar!

      Excluir
  6. Alexandre Sampaio06/11/2018, 22:08

    Pimentel,
    O mais perto que cheguei da arte moderna foi no Museu D’Orsay, onde descobri os impressionistas, o realismo de Gustave Courbet e achei que já tinha visto tudo. Estava enganado. Também vi alguns quadros da fase azul de Picasso mas não lembro de nenhum relacionado ao medo da cegueira que você menciona na descrição do impressionante Minotauro. Termino a leitura desta minissérie nota dez convicto de que Pablo Picasso é um dos grandes pintores da humanidade, que Braque chegou bem perto e que ler você é um hábito agradabilíssimo. Parabéns!
    ...

    ResponderExcluir
  7. Francisco Bendl07/11/2018, 10:20

    Pimentel,

    Desta vez não serei repetitivo como nas anteriores.

    Permite-me eu somar os elogios que merecidamente recebeste dos comentaristas acima, e usá-los como se também fossem meus.
    Diante dos conhecimentos muito maiores sobre arte e, especificamente, sobre Picasso e Brasque, que os colegas possuem se comparados aos meus, as palavras que te dirigiram são registros sinceros daqueles que admiram o teu trabalho, onde me incluo.

    Os vários trechos onde abordas algumas questões pessoais sobre esses dois artistas, complementam essa tua obra magnífica, e que me obriga a te pedir que escrevas um livro sobre o Cubismo, exatamente reunindo os artigos postados no Conversas do Mano.
    Ou, então, levanta um orçamento de quanto sairia uma encadernação completa dos artigos registrados, pois certamente os colegas comentaristas comprariam um exemplar, pelo fato de o teu trabalho ter sido extraordinário, contundente, impecável e incomparável!
    Eu seria um deles!

    Parabéns pela maravilhosa coleção que nos ofereceste gratuitamente.
    Não há valor que possa qualificá-la pecuniariamente, razão pela qual só nos resta agradecer a oportunidade maiúscula que nos deste para que conhecêssemos uma parcela da arte, onde alguns filósofos diziam ser o momento onde o ser humano se aproxima de Deus ou com Ele troca ideias.
    E foi também o que fizeste!

    Um forte abraço.
    Saúde e paz.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moacir Pimentel08/11/2018, 09:41

      Bendl,
      Você não é repetitivo é só teimoso e contundente! Mas sucede que não desejo encapar Picasso e Braque nem virar papel (rsrs) Seu comentário me lembrou do “caderno” naquela canção que o Toquinho escreveu para a filha: "A vida segue sempre em frente, o que se há de fazer? Só peço a você um favor, se puder: não me esqueça num canto qualquer" (rsrs)
      Aprendemos a escrever lendo e eu escrevo, você escreve, nós escrevemos porque nos amarramos nas pretinhas e levamos jeito com elas, certo? Mas admito que sim, que eu gostaria que um dia os meus netos soubessem como penso sobre um monte de coisas, entre elas Dona Arte. Só que li, dia desses, que os produtores teatrais estão "resumindo" os textos de Shakespeare, Brecht e Nelson Rodrigues porque a galera não consegue mais ficar sentada longe dos celulares por duas horas: seus polegares entram em crise de abstinência! (rsrs) Por mais afeto que tenhamos pelos livros precisamos encarar uma triste verdade: o mundo mudou! Nossos filhos gostam mais de filmes do que de livros. E nossos netos teclarão no ar, Bendl! Belo dia para eles textos e imagens sairão das telas e serão hologramas flutuando no espaço. E os netos deles considerarão obsoletas tecnologias como o 3D e a holografia, porque não mais verão os mundos, o real e o virtual, como os vemos, através dos olhos que a Terra há de comer. Já terão aprendido a ativar diretamente o córtex visual para produzir imagens (rsrs)
      Face ao exposto, insisto: mais importante de como escrevemos, é escrever. O quê? Não importa! O que tem que ser estimulado é o ato criativo. Há que cuidar das futuras gerações, brincar com os pequenos, contar-lhes estórias, promover o contato da garotada com tintas, lápis, papel, massinha, tesoura, cola e barro, garantir-lhes tempo, espaço e meios para fantasiar, praticar artes, gostar delas e de “trocar ideias com Deus”. Para mim está de bom tamanho que um netinho veja no meu laptop um dos retratos de Picasso e conclua que trata-se do "Transformer" (rsrs)
      Só quero que os livros, as peças, as pinturas de todos os gigantes que criaram antes de nós continuem vivas seja lá como for impedindo que se diga às crianças que não terão chance de realizar os seus sonhos, que nem sequer arranharão a superfície do mundo, que nada mudará porque todos os fatos já estão dados e está tudo dominado. Familiarizadas com a inventividade humana elas saberão que não é verdade.
      Muito obrigado pelos calorosos e elogiosos exageros e um grande abraço

      Excluir
  8. Wilson Baptista Junior08/11/2018, 09:00

    O Moacir sabe que não costumo comentar ainda no meio de uma "franquia", como chamamos suas séries de artigos com um fio condutor comum, porque, como editor, tomo conhecimento antes dos leitores dos capítulos que ainda virão à frente, e receio inadvertidamente dar "spoilers".
    Agora posso falar de sua magnífica série que começou trinta e um capítulos atrás e terminou (ao menos por enquanto) neste aqui.
    Por gosto e formação, desde pequeno (e como lá vai tempo :) sempre fui muito ligado às artes visuais, mas devo confessar que quando me deparava com uma pintura cubista, seja nas paredes de algum museu, seja nas páginas de algum livro de arte, eu simplesmente passava adiante. Não me atraíam, não conseguia achar sentido nelas, por mais que gostasse dos outros trabalhos dos seus autores.
    Mas ao ler, editar e montar a série do Moacir, pela primeira vez comecei a conseguir olhar através da superfície desses quadros e compreender, pouco a pouco, a visão que os inspirou e o que talvez nos quisessem dizer.
    Foi a mais longa série sobre um mesmo assunto que já publicamos aqui, e mais de uma vez, durante sua elaboração, o Moacir me revelou sua preocupação de estar cansando ou aborrecendo os leitores. E mais de uma vez eu disse a ele que isso não ia acontecer, ao menos para muitos deles.
    E agora todos podem julgar. Um trabalho magnífico que, além de falar das pinturas, de desmonta-las e remonta-las para nós agora com a gente conhecendo-as melhor nos contou muita coisa sobre a alma dos que as pintaram.
    Posso dizer que nunca mais olharei para elas com os mesmos olhos. O que não é pouco para dizer depois de tantos anos de praia. E por isso, além de pelo prazer da leitura, tenho que agradecer ao Moacir.
    Um abraço do
    Mano
    P

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moacir Pimentel08/11/2018, 14:49

      Wilson,
      Como dizia o prezado William: “All is well that ends well”(rsrs) Qualquer autor, ainda mais amador,se sentiria realizado ao se deparar com um leitor comentando que suas pretinhas o tinham feito olhar para um tema "com outros olhos". Agora ... quando quem diz isso é o Sr. Editor e o tema é a arte cubista, aí é caso para comemoração, muitos copos virados e até fogos de artifício!! (rsrs) Você disse tudo: tentar ver e gostar de tudo que mora pendurado nas paredes de um grande museu, de uma vez, é como ir a um cinema multiplex e tentar ver todos os filmes em cartaz em sessenta minutos passando de uma sala para outra. Nada faria sentido! Mudar de ideia sobre algo que a gente já conhecia e não apreciava é um processo lento. Há que desacelerar, olhar, ver e pensar, para encontrar algo que realmente converse com a gente. Que bom que você fez isso.
      Quanto à minha preocupação não era apenas com a quilooooometragem das cubices, mas com o fato de que nesse nosso mundo apressado Dona Arte é encarada, cada vez mais, como algo inútil e cansativo, um escapismo bobóide, um hobby para quem não tem mais o que fazer, coisa de sem noção desconectado da real. Ou, pior ainda, como algo bastante intimidante para um observador casual, um universo apenas compreensível por “especialistas” cheirando a mofo, com os conhecimentos “certos” credenciando-os a opinar sobre ela sem pagar mico.
      Quando eu lhe coloquei tais receios você contra argumentou que era exatamente por tudo isso que deveríamos insistir na publicação de posts de arte. Devo confessar que ao tomar conhecimento do seu “liberou geral” para as muitas dezenas de artigos que eu já tinha prontos em arquivo, eu fiquei bem contente. Mas a alegria não se deveu somente à pré-existência do robusto estoque. Me senti como deve se sentir um caminhante quando finalmente chega a uma terra onde falam a sua língua mãe (rsrs) Vamos em frente e muito obrigado pela estrada.
      Abração

      Excluir

Para comentar, por favor escolha a opção "Nome / URL" e entre com seu nome.
A URL pode ser deixada em branco.
Comentários anônimos não serão exibidos.