Jean Dubuffet - Jazz |
Ana Nunes
“Poetisa
de pé quebrado”
de
versos sem pé nem cabeça
espalhados
em preto e branco
costurados
aqui e ali
por
um fio de água transparente.
De pregos duros enfiados na carne mole
e
aberta pela lâmina fria e afiada
afastada
por asas de abelhas
de
mel, ferrão e dores.
De
sono escuro e sem sonhos
no
rastro de pulseiras coloridas
e
anéis pulsantes, boás esvoaçantes
e
chapéus vermelhos de malandro.
De
visita no mundo da Alice
uma
xícara de chá com gato cor de rosa
da
cor do boá que ilude e persegue
e
uma coisa doce que se mistura ao sangue
numa
paz há muito visitada.
De
volta ao nada escuro
num
mergulho lento e pesado
com
notas de rock oitenta
insistentes
no ficar do fundo
vagas
lembranças de útero materno
nos
prenúncios de eternidade.
De
depois de escuro sem estrela
de
palco vazio e calado
de
vôos rasantes e livres
sobre
florestas verdes encantadas
agulhas
de pinheiros tocando nuvem
um
pouquinho de luz bem clara
revirando
penas brancas macias.
De
toque acolhedor de mãos quentinhas
um
jejum de silêncio quebrado
Mozart,
Bach e Chopin e Brahms
tocando
em vozes conhecidas
no
acordo de volta ao mundo.
De
acordo com alegria e felicidade
sem
choro ou ressentimento
de
puro prazer de promessa cumprida
e
o gastar do dia a dia.
A
vida é uma festa.
Vou
de Uber e volto de SAMU
Quer
carona?
Rufino Tamayo - El bebedor feliz |
1) Concordo plenamente com a Ana, a vida pode e deve ser uma festa, levarmos na flauta como se costumava dizer antigamente.
ResponderExcluir2) Me fez lembrar que isso é uma das técnicas do pensamento positivo; transformar todo momento chato ou doloroso, em festa.
3)Algumas dessas técnicas, aprendi em um Seminário Jornadas da Mente, com o padre, escritor e conferencista gaúcho Lauro Trevisan, que tem mais de 20 livros sobre o assunto.
4)O dito conclave foi realizado no antigo Hotel Glória, quando ele ainda existia. Eu e Heloísa lá, aprendendo e aprimorando os exercícios de Pensamento Positivo = praticamos até hoje.
5) Ensinamos para nossa filha, nosso genro e já dei as dicas (desde que nasceu) para ensinarem à nossa netinha de 3 anos.
6) Quanto ao texto da Ana, ela brincou com as palavras, com os vocábulos... num jogo lúdico gramatical-linguístico, parabéns !
Olá Antonio Budista,
ExcluirSim, a vida pode e deve ser uma festa. Só que nem sempre. Temos nossos momentos barra.
E aí entra o aprendizado da vivência por termos de separar esse joio desse trigo e ser feliz de novo. Isso vem com o tempo. Como diz o Sr. Editor, o diabo é sábio porque é velho.
Mas, a sua netinha de tres anos? E se o temperamento dela for bem outro? Ela vai se policiar a vida toda? Bem, se der certo ela já é uma linda pequenina budista!
Obrigada demais pelo comentário e vamos em frente tentando sempre brincar do jogo do contente!
Até mais.
Prezada autora Sra. ANA NUNES,
ResponderExcluirA senhora de jeito nenhum , é uma Poetisa “ de pé quebrado, e muito menos faz versos sem pé nem cabeça”. És sim, uma grande Alma Artística, produtora de “Fina Arte”.
Nessa Poesia, como bem diz acima o Prof. Dr. ANTÔNIO ROCHA, ” aqui a Poetisa ANA NUNES brinca com as palavras, com os vocábulos...num jogo lúdico gramatical-linguistico, Parabéns”
Parabéns
Saudações.
Olá Flávio Bortolloto,
ExcluirA "poetisa de pé quebrado" foi o trocadilho de um amigo. E achei tão perversamente divertido e criativo ( e isso quer dizer que adorei!) que fiquei pensando e pensando nuns momentos de insônia. E saiu o texto.
O fato é que eu, que nem gosto de comemorar aniversário, desde o ano passado vinha dizendo que iria fazer meus sessenta e nove numa pista de dança. E que iria dançar até precisar do SAMU para voltar para casa. E a minha sobrinha quis carona! E, exatamente nós duas, quando ela foi se despedir de mim, caímos agarradinhas como duas metades de um sanduíche, de costas, no buraco de uma árvore. E aí pânico geral com a perna para um lado e o pé para o outro. Todo mundo sóbrio repentinamente.
Deu tudo certo no final.
Obrigada pela "fina arte".
Até mais. (Sem pé quebrado, combinado?)
Minha prezada Aninha,
ResponderExcluirNa condição de mulher, esposa, mãe, trabalhadora, agora demonstrando a todos nós o teu talento como escritora e que nos deixa embevecidos pelos textos postados, tens este poder e força para transformar os dias que quiseres em festa!
Mesmo tendo quebrado o pé, fizeste deste episódio mais um registro da tua inteligência superior, extraindo dos momentos dolorosos que foi a fratura em um texto inspirador, ainda mais quando finalizas de maneira humorística e de grande qualidade, que havia saído de Uber e voltaras de SAMU!
Pois simplesmente tens contigo mesma, em face da tua experiência, méritos, e conquistas ao longo da tua vida, a varinha de condão, cujo poder altera a existência sempre para melhor, jamais retrocedendo ou permitindo que os aspectos negativos prevaleçam sobre o teu cotidiano.
Admiro sobremaneira quem tem esta capacidade de vencer as adversidades, as circunstâncias, que colocariam qualquer outra pessoa em desânimo, onde a força de vontade, a necessidade imperiosa de não ser derrotada pelo imprevisto, denotam uma fortaleza interior inexpugnável, poderosa, e que contagia quem vive ao teu lado ou te conheças através de tuas crônicas, contos, relatos, mesmo estando distante milhares de quilômetros!
Evidente que espero o teu pronto restabelecimento físico, pois a mente permanece brilhante, vibrante, criativa, produtiva, e nos oferecendo volta e meia gotas desses conhecimentos obtidos ao longo da tua vida como mulher, logo, um ser que devemos permanentemente reverenciar, pois infinitamente superior a nós, homens.
Diga-se de passagem que, considerei extraordinário o teu relato sobre o mergulho que deste para dentro de ti mesma com a anestesia, algo memorável, que deve ser guardado e arquivado.
Belo trabalho, Ana, que descortina a tua personalidade, que nos mostra o quanto és forte, e que nada neste mundo pode te abalar, se não quiseres!
Como se diz politicamente, mesmo que o chefe não goste, porém somos dissidentes, tu estás devidamente blindada, e não seria um pé fraturado que alteraria o teu humor, a tua capacidade, a tua criatividade, o teu modo de ser, que nos cativou e ocasionou essa admiração que temos por ti, minha cara.
Um forte abraço, apertado, carinhoso, fraterno, respeitoso, claro.
Muita saúde e paz, e que tenhas rapidamente a tua capacidade de locomoção restabelecida.
Olá Francisco,
ExcluirMeu amigão eternamente apaixonado pelas mulheres, nos trens da vida, as gurias da juventude, as enfermeiras do P.S., certamente alguma secretária e não posso deixar de dizer a Gisele. E por fim a gaúcha da vida, Marli.
Você me enche de elogios e até meu tornozelo quebrado cheio de placa e pregos
fica em estado de beatitude!
Adorei seu mergulho na minha anestesia alucinógena. Pensei que ninguém ia entender o texto nonsense. Que bom que estava errada.
E preciso te contar que andas conquistando outras velhinhas em formaçāo com teus comentários para mim. Elas que ainda não te leram enfurecido naTI, não é verdade? Não conhecem seu lado leão.
Abraço, saúde e paz.
E até mais.
Prezada autora Ana Nunes
ResponderExcluirHoje, enquanto preparava o almoço e conversando com meu marido, este comentou que estava lendo uma poesia sua no blog do mano, fiquei curiosa. Li sua poesia e, como leiga, não entendi alguns termos, acho que captei algumas das mensagens possíveis do espírito do texto. Relacionando os momentos da vida com uma festa, com momentos de alegria e expectativa, como no nascimento, outros de cuidado, como nos momentos finais da vida, a alusão ao “vou de Uber e volto de Samu”.
A seguir, o Flávio comentou que além de poetisa, também postas algumas aquarelas, minha curiosidade aumentou ainda mais e, ao ler e ver as imagens, meu dia se alegrou ainda mais. Como admiradora de arte em geral e das plantas e arquiteta, procuro sempre em meus projetos inseri-las como parte integrante e indispensável. O efeito que as plantas, a arte e a natureza trazem ao espírito humano é fantástico, quando se está com os olhos e a mente aberta. O cuidado de nossas plantinhas (sem falar de nossos animais) também é uma terapia para a cura de muitos males, e alento nas horas difíceis. Parabéns pelo belo trabalho e continue nos presenteando com suas aquarelas, sua visão poética e crítica da vida.
Olá Ana Bortolotto,
ExcluirAgora você já sabe da história toda. E assim posso dizer que bem mais lindo que meus escritos foi a sua interpretação na comparação com a vida.
E sabe, é isso mesmo , alegrias, expectativas, cuidados, nascimento e morte. Fui premiada com o seu comentário.
E vamos seguindo cuidando das nossas flores, nossos queridos e nossa alma.
Obrigada pelos elogios.
Até mais.
Caríssima Donana,
ResponderExcluirQue bom ler de novo nas Conversas a “poetisa de pé quebrado e costurado” de versos deliciosamente “nonsense”! Eu concordo com o Antonioji que na sua poética a senhora brinca, mas penso que não é só com as pretinhas e sim e também com outra linguagem : a das imagens. Decerto que depois da festa do “Jazz” do prezado Jean - um cara que aprontou em todos os “ismos” e que visitava , regularmente, os mercados de pulgas em torno de Paris, comprando arte feita por crianças e loucos - e antes da carraspana - ou será sonho de consumo? - protagonizada, no epílogo, pelo mexicano Rufino - de quem só conheço o Prometeu da cor do gato e do boá - não é que a senhora caiu, literalmente, no buraco da Alice? (rsrs)
Eu vou lendo a sua poderosa imaginação e os ótimos comentários e fico por aqui matutando que escrever/ler é uma tradução de mão dupla pois ambos os verbos para serem conjugados dependem das referências de parte a parte. De fato, essas suas imagens “anestésicas” - “o sono escuro, o útero materno, uma coisa doce na veia, a falta de estrela, a ribalta vazia, a “alminha” calada, o voo baixo , as agulhas de pinheiro, a floresta encantada” - me lembram de uma canção dos anos 80 do Pink Floyd, de nome Comfortably Numb (rsrs)
Que bom que foi só um susto. Que delícia voltar para as “mãos quentinhas” e vozes amadas e recomeçar devagarinho “o gastar do dia a dia” mesmo às voltas com bota e policiamento (rsrs) Viva a vida e nela os “analgésicos” sem contra indicação como família, amigos, cordeirinho ao alecrim, queijo de cabra, torta de limão CARAMELADA, teclado, arte e criatividade e uns copinhos, que ninguém é de ferro!
Se eu quero carona para a vida, para as tintas, para os tintos e para a poesia de grande estirpe? É claro que sim! Mas...pela cara do “Bebedor Feliz”...
“Ai, ai! ...Vou chegar atrasado demais!"(rsrs)
“Até SEMPRE mais”
Olá Moacir,
ExcluirPoetisa de pé quebrado é ótimo, mas "cair literalmente no buraco da Alice" é sensacional!
E aí o nonsense fica completamente explicado. E enquanto lembrar música fica melhor ainda.
Lá, com a Alice e o Gato e o Chapeleiro, cheia de alegria pela festa que foi muito mais do que pensava, encontrei o salvador desconhecido que me resgatou do buraco e dizia "ela estava tão feliz!", filhos preocupados e carinhosos, irmãs zelosas e enlouquecidas,sobrinha querida chorosa de culpa, marido branco de medo e médico competente da madrugada que olhava sério para o pé e para mim e dizia, "é grave!"
E acho que um pouco de LSD na veia porque eu continuava feliz como se ainda estivesse na festa. Talvez ainda estivesse lá! E todo mundo súbitamente sóbrio.
E depois, viva a vida porque ninguém é de ferro, e o texto desperto pela "poetisa de pé quebrado" e a felicidade de encontrar El bebedor feliz, a cara de mim!
E, atrasado que seja, mas SEMPRE mais!
Ana querida, enxerguei você em cada palavra lida e relida. O pé quebrou, mas a alma cresceu, se isto é possível. Beijos.
ResponderExcluirOlá cunhada querida,
ExcluirO possível sim, somos todas exemplo disso!
Beijo.
Até mais
Ana
ResponderExcluirtive certeza que vc é mesmo uma grande mulher com este humor e coragem pra encarar a vida
Como a conheço eu só posso aplaudir 👏pelo texto
Desejando que fique boa rapidamente e continue a nos presentear com suas crônicas 😘
Olá prima querida,
ExcluirComo disse para a Laura somos todas mulheres desse tipo que nem conhecem a força que têm e que aparece nas horas escuras da vida. Vou ficar boa é para tomar café com você.
Até mais