Henri de Toulouse-Lautrec - La Roue (1893) |
Moacir Pimentel
Os cartazes de Lautrec faziam propaganda principalmente do mundo das
casas noturnas, dos teatros e dos bailes, dos artistas incluindo Loïe Fuller
dançando em meio a um redemoinho de gaze. As impressões de Lautrec muitas vezes
exibem efeitos técnicos deslumbrantes, já que as novas inovações em litografia no
final do século XIX permitiam impressões maiores, cores mais variadas e
texturas nuançadas.
O artista frequentemente empregava a técnica de tinta salpicada como
vemos em sua série de gravuras representando Loïe, a dançarina americana que
enlouqueceu a Paris de fin de siècle
ao se apresentar na Folies-Bergère em performances nas quais combinava dança,
longos panos multicoloridos e luzes caleidoscópicas.
Enquanto a “Fada Elétrica” ou a “Escultora da Luz” girava através do
palco, seus enormes mantos transparentes rodopiavam em torno do seu corpo
espetacular refletindo as luzes coloridas e criando um efeito impressionante
que, tendo sido elogiado até por Rodin como a “estranha arte do futuro”, atraiu
a atenção de muitos artistas. Em vão os poetas, escultores e pintores tentaram
capturar os deslumbrantes efeitos visuais da dança de Loïe em uma grande
variedade de mídias, inclusive a fotografia.
Toulouse-Lautrec não foi uma exceção à regra e tentou comunicar essa
magia etérea em dezenas de trabalhos desde os figurativos como a Roda que
inaugura o post até as litografias minimalistas, nas quais a moça aparece como
uma forma sinuosa cercada por metros flutuantes de seda. Ele cometeu cerca de
sessenta litografias de Loïe, imagens notáveis de uma dançarina fabulosa em uma
enorme variedade de cores, inclusive com o uso pioneiro de pó de ouro e prata para
atrair a luz e provocar um efeito cintilante. Seus últimos trabalhos – como o
da direita - evocam cumulativamente o
efeito das performances da bailarina e têm uma qualidade simplificada que
reapareceria no trabalho de muitos pintores durante a primeira metade do século
XX.
Henri de Toulouse-Lautrec - Loïe Fuller (circa 1893) / Loïe Fuller (circa 1893) |
Toulouse-Lautrec foi o primeiro artista a elevar a publicidade ao
Nirvana das belas artes, causando uma mudança extraordinária na história da
arte, obliterando os limites entre as artes consideradas até então elevadas -
pintura, desenho, escultura - e as menores - cartazes, logotipos e outras
formas de cultura visual.
De vez em quando Lautrec nos revela imagens de alienação e tédio, é
verdade. As imagens gráficas do artista também podiam ser tristes e cruéis como
seus retratos da cantora Yvette Guilbert como um rosto caindo aos pedaços, agarrando-se
aos móveis e cortinas, embora todas as fotografias da época atestem que ela era
uma jovem bem atraente. Ou satíricas como o cartaz Reine de Joie – Rainha da Alegria - com suas cores doentias a la
Degas que mostra um banqueiro idoso sendo entretido por uma cortesã de cabelos
negros retintos criado para promover uma novela do mesmo nome, da lavra de
Victor Joze. Ou tão boboides como as peças publicitárias para vender de
bicicletas a confetes.
Henri de Toulouse-Lautrec; Ivette Guilbert Gants noirs (1894) / Yvette Guilbert (1894) / Reine de Joie (1892) / Confetti (1894) |
Mas ele muito influenciou os jovens artistas da sua época. Picasso já
conhecia o design do pintor francês, disponível para ele em Barcelona em
revistas e jornais como Le Rire, La Vie Parisienne, Gil Blas e L'Assiette au
Beurre. Dizem que a taberna catalã El
Quatre Gats - Os Quatro Gatos – o quartel general da turma do artista –
fora, inclusive, decorada no estilo do cabaret parisiense Le Chat Noir só que
os espanhóis trocaram o gato por um macaco como marca registrada. Picasso e o
pintor catalão Ramon Casas, inspirados pelas revistas, chegaram a rabiscar para
a famosa casa um ou dois cartazes que não chegaram aos pés dos franceses.
Em 1900, quando visitou Paris pela primeira vez, Pablo Picasso ficou
deveras impressionado com as qualidades da arte de Lautrec - chamado por ele de
gênio! - que claramente o influenciou, como foi o caso nesse Bebedor de
Absinto, cometido pelo espanhol em 1901.
Pablo Picasso - L'absinthe buveur (1901) |
Picasso também absorveu o brilho gráfico de Toulouse-Lautrec para em
seguida o colar nos seus próprios trabalhos. Na tela O Quarto Azul ele
eternizou pendurado na parede um dos cartazes de Lautrec para a cantora May
Milton. Ainda em Montmartre e naquele mesmo ano Pablo pintou um salão de dança
para chamar de seu, meio selvagem e primitivo, de nome Le Moulin de la Galette. As tintas de Lautrec respingaram ainda nos
excluídos da vida, nos acrobatas de circo e mulheres caídas vistos em muitos
trabalhos posteriores e rosados de Picasso como essa Família de Acrobatas com
um Macaco, na montagem abaixo.
Pablo Picasso - La chambre bleue (1901) / Henri de Toulouse-Lautrec - May Milton (1895) / Pablo Picasso -Le Moulin de La Galette (1900) / Pablo Picasso - Famille au singe (1905) |
Esses links com o design do cartaz primordial e, finalmente, com a ampla
arte caricata de Lautrec parecem ter tido uma continuação direta nas formas
simples e monumentais que aparecem nas pinturas de Picasso, até o final da
década de 1930.
O certo é que ao longo de muitos anos o toureiro espanhol esteve à
sombra de Toulouse-Lautrec. Embora e como já vimos no post de Renoir os
impressionistas já tivessem sido fascinados pela vida noturna de Montmartre,
Lautrec não imaginou o mundo dos dançarinos e prostitutas: ele morava nele.
Esta mudança do voyeurismo para a empatia para com os marginais e underdogs e forasteiros de Montmartre
iniciada por Lautrec foi cometida de novo e de novo por Picasso antes de
tornar-se a matéria da arte do século XX. Embora Henri de Toulouse-Lautrec
tenha se despedido em 1901, muito mais do que um pintor do fin-de-siècle ele
foi o primeiro grande artista do novo século.
Suas pinturas, desenhos e, claro, seus famosos posters preservam o
redemoinho de energia, a mistura de classes e culturas e os altos e baixos da
vida urbana na Montmartre do século XIX. O reconhecimento de que algumas das
maiores obras de Lautrec foram meros cartazes para as casas noturnas de
Montmartre não diminui de modo algum o valor do artista. Pelo contrário, tal
percepção definiu a estrada para grandes artistas “comerciais” de Alphonse
Mucha até Andy Warhol.
Longe de ser um pintor bêbado de cartazes de quinta, Toulouse-Lautrec
era um profissional consumado que produziu mais de setecentas pinturas, quase
trezentas aquarelas, trezentas e cinquenta obras gráficas e cinco mil desenhos
e esculturas durante uma carreira que durou menos de duas décadas.
Ele circulou pelos círculos intelectuais parisienses mais avançados,
fazendo ilustrações para publicações como La
Revue Blanche e estava na vanguarda em sua experimentação com as mais novas
formas de gravura. Devido à sua insistência em desenvolver seus projetos
gráficos simultaneamente com suas pinturas, ele ajudou a preparar o palco para
o diálogo entre a dita “alta cultura” e aquela de massa que alimentou tanta
arte do século XX e pintores tão diversos como Bonnard, Matisse, Munch e
Schiele.
Em contraste com quase todos os outros artistas do seu círculo,
Toulouse-Lautrec não teve problemas para ganhar a vida porque os empresários
parisienses perceberam que poderiam ganhar dinheiro com sua visão única e
moderna. Mais do que simplesmente um brilhante anunciante e marqueteiro,
Toulouse-Lautrec foi um importante historiador visual informal da vida urbana
da Belle Époque em Montmartre e Paris. Se eu tivesse que escolher entre tantos
o pintor que mais personificou o espírito de Montmarte, não hesitaria em apontar
o dedo para Henri de Toulouse-Lautrec. Por isso filmes como os vários “Moulin
Rouge” e Meia Noite em Paris e tantos outros foram tão fortemente influenciados
pelos seus posters, gravuras e pinturas.
Quem conhece o modo como esse famoso frequentador de cabarés e bordéis
retratou os habitantes da Montmartre noturna de fin-de-siècle sabe muito bem, é claro, que os cineastas
desinfetaram a história. Nem John Huston, nem Jean Renoir, nem Baz Luhrmann nem
Woody Allen chegaram perto do real Moulin Rouge.
Qual a diferença entre um poster e um retrato, entre as tintas honestas
de Toulouse-Lautrec e suas propagandas glamorosas? Nenhuma, pois, de uma forma
que me escapa, os seus cartazes jamais falsificaram nem o homem nem o artista.
Mas pergunto: o sucesso gráfico não teria também determinado o destino
do pintor Henri Marie Raymond de Toulouse-Lautrec Monfa, um dos artistas mais
famosos do vasto mundo e um dos menos apreciados? O sucesso não teria sido
também a sua queda?
Seus cartazes para os cabarés de Montmartre já transformaram várias
mulheres em popstars, já foram reproduzidos em um bilhão de porta-copos e
chaveiros e cardápios e toalhas de mão pendurados em todos os bistrôs
pseudo-franceses da Terra e um bairro inteiro de Paris é dominado tanto por
suas figuras coloridas como pela brancura da Sacré-Coeur.
Mas tudo o que torna Toulouse-Lautrec tão popular hoje diminuia seu
prestígio junto aos críticos sabichões do passado. Afinal podia ser mesmo
levado a sério um pintor tão entrelaçado com a mitologia kitsch da boemia de
Montmartre há um século? Certamente que telas como o Bar de Manet no
Folies-Bergère ou o Lago d'Annecy de Cézanne, ou o auto retrato com a orelha
cortada de van Gogh merecem mais respeito do que as lindas dançarinas e
prostitutas de Lautrec. Mas a pintura desse gigante ainda renderá assunto para
mais conversas.
Se eu não tivesse visitado Montmartre, visto os cartazes e assistido os filmes não saberia quem foi Toulouse Lautrec, Moacir. Então acho que cultura pop tem o seu lado bom kkk Não conheço outros trabalhos do pintor mas você logo vai um jeito nisto. Obrigada pelas aulas pro bono e pela santa paciência de compartilhar o muito que sabe de arte!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirPara começo de conversa muito obrigado pela leitura atenta e pelo incentivo.É claro que a cultura popular tem enoooorme valor! Eu sou fã de carteirinha dos geniais posters de Henri de Toulouse-Lautrec. O que eu lamento é que o mundo não conheça e valorize, da mesma maneira, também as telas que ele pintou enquanto brincava de publicitário. Ou seja, nessas paragens que se modernizavam em um ritmo alucinante ele não quis registrar apenas as mudanças na vida cotidiana mas revelar os efeitos emocionais e psicológicos de se viver tais mudanças. Não se pode separar a obra do pintor em duas.
Devemos, sim, curtir a cultura popular, a arte das ruas, utilizá-las como referência, mas sem passividade, sem consumí-las apenas porque sim. Sempre haverá forças que tentarão manipular a opinião pública, orientar suas ações, massificá-la. Por outro lado, sempre haverá pessoas capazes de reconhecer e usar a vastidão da cultura popular para descobrir e discutir o que é importante. A arte nunca escapará da cultura popular e nem deveria. Mas o público consumidor, também é crítico e, mais importante, criador. É ele quem decide o que vai viver e - talvez aqui eu seja otimista demais! – quem pavimenta a estrada para novos Lautrecs com uma câmera de dez megapixels e o YouTube à disposição (rsrs) A cultura popular é, afinal, muito mais do que uma rede de símbolos, vozes e cópias sem fim: é a história da nossa existência. Ou, pelo menos, deveria ser…
Abração
Independente das informações prestadas pelo Pimentel quanto à Cidade-luz em seus áureos tempos, o apogeu da pintura, da diversão, dos cartazes que chamavam à atenção de uma época em pleno desenvolvimento antes da Primeira Guerra Mundial, os artistas que se notabilizaram com seus trações e estilos, faz-se mister que o trabalho de Pimentel seja enaltecido!
ResponderExcluirA pesquisa, a apresentação, as fotos, os relatos sobre arte, devem ser elogiados pela sua precisão, correção e dados verdadeiros.
Independente da visão de Pimentel sobre este ou aquele mestre, porém trazer à baila os grandes nomes à época e que até hoje são reverenciados, aumentam nossos conhecimentos sobremaneira a respeito de um tipo de arte sofisticada, que requer um poder de interpretação e de imaginação muito acima de uma certa normalidade.
Faz-se necessário entender a obra do pintor, e as razões pelas quais optou por tons mais escuros, mais claros, mais tristes, mais alegres, e traços que à primeira vista poderiam ter deturpado a visão de um leigo sobre a imagem que, na verdade, representa o estilo do autor, o seu talento, que tanto poderia ter dado início a uma nova escola quanto dar prosseguimento a qualquer outra já existente.
Indiscutivelmente a Belle Époque e, em Paris, contribuiu decisivamente para esta pujança artística, para esta feérica etapa da vida e de desenvolvimento, exigindo que as obras de arte acompanhassem esse progresso e esta diversão, onde o mundo ainda não havia se apercebido do mal que o espreitava, da destruição que a Europa, notadamente a França, iriam se subjugar!
Belíssimo trabalho de Pimentel, cuja homenagem que lhe presto é arquivar seus textos a cada vez postados, e tê-los em uma pasta especial, onde volta e meia leio e aprendo sobre Paris e as artes em formas de pintura e escultura, além de conhecer a capital francesa de modo muito amplo, como se eu já estivesse viajado para aquela cidade, em face dos detalhes e pormenores mencionados em suas obras extraordinárias!
Um forte abraço.
Saúde e paz.
Bendl,
ExcluirSoltar a imaginação é como andar de bicicleta, requer um pouco de treinamento mas, depois que se pega o jeito, jamais se esquece (rsrs) Sim, Paris, na Belle Époque, era o centro do mundo e, é claro, das artes. Eu sou de opinião que desse contexto “feérico", desse imenso borborinho cultural, Lautrec foi o melhor tradutor. Ele pintou como ninguém o otimismo contagiante, o povo desejoso de diversão, o entretenimento sendo providenciado para a galera , a boemia, as baladas, a noite, as festas populares, os cantores e dançarinos dos cabarés virando os primeiros "famosos”, os bordéis. Para comunicar e vender essa "vibe" ele inventou novas imagens que deixavam todo mundo de água na boca replicadas que passaram a ser milhares de vezes nos cartazes graças às inovações na impressão. Ele mergulhou completamente no mundo que ilustrou/pintou e por isso deixou uma narrativa visual extraordinária da sensualidade e da boemia de Montmartre, em poses provocativas, eróticas e até mesmo vulgares tão eficazes quanto um tapa na cara. Antes dele as mensagens comerciais tinham palavras mas ele provou que as imagens poderiam ser um meio de comunicação muito mais poderoso e eficaz. Ao fazer isso, ele mudou tudo e inventou a língua mãe da pintura de vanguarda e a cultura pop. Esta herança, ao meu ver, foi uma contribuição bem maior para a arte moderna do que as novas perspectivas no bar de Manet e a imensa beleza da geometria emergente do lago de Cézanne. Por isso, tiro minha cartola, levanto um brinde e digo ao baixinho Lautrec: merci beaucoup!
E vamos à essa modernidade sobre cujos " trações" vou gostar imenso de ler a sua opinião. Muito obrigado pelo belo e imerecido comentário, por favor continue lendo e um grande abraço.
1) o belo artigo do Pimentel me fez lembrar que na adolescência, lá na minha querida cidade satélite do Gama, DF, semanalmente eu lia o jornal Pasquim
ResponderExcluir2) E eles vez por outra falavam sobre o Toulouse-Lautrec. Então eu fiquei com a memória de que ele era o pintor dos cabarés, inferninhos e afins...
3)Abraços ao nosso cronista das artes plásticas.
Antonioji,
ExcluirA turma do Pasquim tinha sempre razão (rsrs) Lautrec realmente pintou o lado mais marginal de Montmartre. Mas...
Olhando atentamente para a coleção de cartazes, desenhos e pinturas do pequeno conde a gente pode - além de quase escutar a música e sentir o perfume inebriante das senhoras, dos charutos e do absinto, vislumbrar uma mensagem triste da efemeridade de tudo isso. Como e porquê ele pintou o que pintou, na minha opinião, é uma história que merece ser contada.
Abração
Moacir,
ResponderExcluirLer um artigo seu é aprender. Eu visitei o Museu Picasso e o Quatre Gats em Barcelona mas não sabia que Toulouse Lautrec o influenciou. Adorei os detalhes preciosos como os desenhos modernos da dançarina, o cartaz da cantora na parede do quarto azul de Picasso e a festa do moinho tão diferente do quadro de Renoir. Espero ler muito mais sobre os dois pintores.
Um abraço para você.
Flávia,
ExcluirSim, sobre esses dois gigantes continuaremos a conversar. E sim, apesar deles jamais terem se encontrado, a obra radical e moderna de Lautrec teve um impacto muito forte e duradouro em Picasso. Mesmo tendo o primeiro pintado durante apenas quinze anos e o segundo durante sete décadas, pode-se encontrar respingos das tintas de Lautrec até na última pincelada de Picasso. E não se trata apenas da similitude dos temas - a vida noturna nos cafés, cabarés e teatros, a dura realidade dos indivíduos marginais que habitavam Montmartre, o espetáculo lúdico do circo com os seus palhaços e acrobatas e arlequins, o universo erótico e escuro dos bordéis, os bebedores de absinto e as prostitutas – mas, acima de tudo, o fato de que ambos tinham o domínio do desenho e um afeto especial por linha e caricatura, que usaram impiedosamente para investigar a personalidade de seus modelos, enchendo centenas de cadernos com desenhos habilidosos desde a mais tenra idade. Veja na tela do Bebedor de Absinto, por exemplo, como Picasso exagera no perfil, no nariz, nos dedos, da mesma forma que Lautrec desconstrói as feições da pobre Yvette, ambos com o mesmo objetivo: estampar a sede, o vício na bebida.
Embora as abordagens que fizeram dessas paisagens tenham sido diversas – a de Lautrec mais empática e a de Picasso mais erótica – ambos foram artistas brilhantes desde a infância, foram atraídos por Paris muito jovens, rejeitaram as academices, tomaram emprestado das artes de Ingres e Degas e El Greco. Os mundos das poderosas imaginações de Lautrec e Picasso eram vizinhos. Simples assim.
Outro abraço para você
Pimentel,
ResponderExcluirNo seu belo artigo chamou minha atenção a informação que a bailarina Loie Fuller foi pintada sessenta vezes só por Toulouse Lautrec. É muito! Mas nas fotos ela aparece coberta dos pés à cabeça, destoando das demais dançarinas de can-can da época, que eram provocantes e sensuais. Fiquei sem entender o sucesso da dança mesmo levando em consideração os efeitos especiais.
Sampaio,
ExcluirNão era bem por aí o apelo da Fuller que, nas raras fotos disponíveis, aparece bochechuda embora dona de um corpo muito bem feito (rsrs) Creio que o que fez sucesso foi mesmo a coreografia que não, não se tratava de strip-tease ou dança do ventre ou can-can (rsrs) A Dança Serpentina foi apenas uma grande novidade assim como a escada rolante, o cinema, o motor a diesel etc e bota etc nisso.
Para você ter uma ideia do tanto que a moça agradava aos gregos e troianos e parisienses, na Exposição Universal de 1900, ela teve um pavilhão exclusivo.Eu entendo que, no auge das curvas da Art Nouveau inspirada na natureza, no palco a Loïe personificava o movimento, com seus redemoinhos de seda e as luzes projetadas nos tecidos esvoaçantes que ela fazia ondular para dar a ilusão que mudavam de cor enquanto girava e parecia se transformar em uma flor, uma borboleta, uma chama, uma serpentina.
https://www.youtube.com/watch?v=y321YKUc7KY
Penso que capturar essas imagens aí, não exatamente da mulher, mas das formas que ela esculpia com os panos à sua volta, foi um desafio irresistível e compulsivo para os pintores, escultores e fotógrafos de então. Por mais famosa que tenha sido em seu tempo, Loïe Fuller foi misteriosa na sua capacidade de transcender a si mesma, de ser como dizia já não me lembro quem – talvez Rodin! - “o espírito de uma era”.
Abração
Sem desmerecer os cartazes, as pinturas de Lautrec que vi no Museu D'Orsay dão uma visão mais ampla desta era hedonista que ele e Picasso viveram, não só por escolha própria,rs.
ResponderExcluirMárcio,
ExcluirPode-se escolher onde e como mas não quando viver. E com certeza a matéria dos grandes artistas é "o tempo presente, a vida presente", como já disse um poeta. Os pintores podem sim decidir como pintar mas será que eles sempre têm a opção de escolher o que pintar? Diz Dona Lenda que na Paris ocupada um oficial nazista perguntou a Picasso se fora ele quem "fizera" Guernica e que o pintor respondeu: “Não, foram vocês." Pois é.
Quanto à pintura de Lautrec, assino embaixo: é preciso conhecer a grandeza dos retratos rudes e ternos que ele fez da verdadeira natureza do demimonde onde morava, que tanto impressionaram o jovem Picasso e influenciaram, notadamente, seus temas eróticos. O fato é que, em seu estúdio e até o final da vida, o toureiro manteve emoldurado um retrato do pequeno conde nos trinques: de fraque, cartola e bengala.
Mas o que eu fico por aqui matutando é como teria sido o avesso dessa "conversa" artística. Ou seja, o que teria pintado e aprontado Lautrec se tivesse visto e sido influenciado pelas Demoiselles de Picasso? (rsrs)
Obrigado por participar.
Olá,
ResponderExcluirCada vez gosto mais dos cartazes do Toulouse Lautrec e dos escritos de um tal Moacir Pimentel. Conhece?
São aulas fantásticas que agradam a todos do blog, despertam a curiosidade e provocam ótimos comentários.
Obrigada pelo refresco cultural.
Até mais. E mais.
Caríssima Donana,
ExcluirEu encaro as nossas Conversas como uma viagem desafiadora, uma aventura por novos mundos rascunhados aqui por uma comunidade de viajantes - literários e reais ! - que vêm de ignotos países, falando diferentes idiomas, por estradas diversas.
Aqui conversamos sobre as coisas que apreciamos e as histórias que vivemos e nos fazemos um poucachinho de companhia naquela viagem de trem que ainda será looooonga. Aqui aprendemos a apreciar não apenas as leituras mas muito principalmente a eterna coceira da curiosidade, o mesmo vício de aprender o desconhecido, o constante destemor pelo novo, as mentes sempre abertas e alertas nas linhas e entrelinhas de todos os rascunhadores.
Em tempos de vídeos no Youtube penso em nós lendo os textões uns dos outros como os últimos e bravos - e cinzentos! - dos moicanos (rsrs) Mas não me canso de agradecer ao Sr. Editor pelo espaço e por esses momentos virtuais que compartilhamos e que ficarão não só no arquivo do blog mas nos nossos bytes da memória nos fazendo bem.
Em tempos nos quais as pessoas fogem das caixas de comentários como o Super Homem da kriptonita é uma maravilha entrar nas Conversas e ler as suas pretinhas sempre francas, generosas e brilhantes. Para mim funciona como uma gargalhada, um adágio, uma brisa, uma trégua nas más notícias, um copo d’água gelada ao meio dia ou aquela xícara de chá de cidreira antes de dormir. Nesse "oásis" de civilidade a senhora faz a diferença e muita falta quando não dá pé (rsrs)
"Até sempre mais"
Estimado Moacir
ResponderExcluirProfessor, é notável seu domínio do assunto nas descrições de obras de artes plásticas, tanto pintura, como escultura e arquitetura. Tenho aprendido muito com seus textos a respeito , formulados com grande conhecimento e de forma agradável.
A propósito, creio já ter dito, nestes nossos diálogos, sobre minha total incapacidade de desenhar. Mesmo assim, gosto muito de apreciar tais artes, no que tive muitas oportunidades, bem aproveitadas, visitando inúmeros museus e cidades históricas nas andanças de marinheiro pelo mundo.
Além disso, outras circunstâncias me levaram a alguma familiaridade com o assunto. Assim foi quando, "servindo" no gabinete de um Ministro da Marinha, muito amigo, fui designado por ele "Assessor de Belas Artes". Para tanto, ele usou o argumento de que eu tinha sensibilidade para escrever bem, logo deveria apreciar as artes plásticas.!!!
Tudo isso decorreu do fato de que, naquele ano, a Marinha, em Brasília, iria comemorar uma data magna com vários eventos, dentre eles um Salão de Belas Artes dedicado a temas navais. Dentro da lógica militar, assumi a missão e comprei um livro sobre a "História das Artes" no qual mergulhei com grande interesse. O resultado foi que comparecemos ao Salão , o Ministro e eu, e não fizemos feio...
Outro passo adiante foi quando , na reserva, passei a colaborar com o Clube Naval onde participei de vários Salões, integrando as comissões julgadoras...
Dessa forma, me ofereço para ser seu assessor, em caso de necessidade.
Um forte abraço
Domingos
Prezado Domingos,
ExcluirCreio que somos, todos nós, aqui nas Conversas, “Assessores das Belas Artes". De coisas e experiências que queremos preservar e compartilhar. Talvez os bons artistas sejam, em parte, aqueles que fizeram as escolhas certas sobre o que comunicar e o que deixar de fora. Mas confesso a você que, às vezes, por mais que a aprecie, quase desisto de escrever sobre Dona Arte. Além de ter receio de que a leitura se torne cansativa, ao mostrar uma bela tela em meio ao barulho que nos cerca, não sei até que ponto deixo claro que não estou sugerindo que, para bem viver, basta apenas iluminar os nossos apartamentos e bytes de memória com belas representações, digamos, como a imagem daquela sua "rosa branca de neve".
Os meus textos de arte podem dar a impressão que ignoro todos os problemas mais urgentes que enfrentamos, assim como as beleza, inocência e simplicidade da sua rosa branca pode parecer militar contra qualquer tentativa de melhorar a vida como um todo. Nada a ver. Penso que a arte, acima de tudo, nos equilibra em vez de nos entorpecer e alienar e nos deixar menos críticos daquilo que nos cerca.
Talvez eu não seja competente o suficiente para explicar que o poder da arte é justamente celebrar o valor do comum, é nos oferecer uma espécie de ferramenta de sensibilização que nos desperta para a riqueza de nossas próprias vidas diárias, que nos ensina a ser mais justos em relação a nós mesmos, que nos consola enquanto nos esforçamos para retirar o melhor de nossas circunstâncias, para ser felizes apesar das imperfeições da idade, das nossas ambições frustradas e das nossas repetentes tentativas de permanecer leais a nós mesmos e às nossas "estrelas da manhã".
Nesse sentido aquele seu superior hierárquico "ministrava" os seres humanos muito bem: arte e sensibilidade são amigas de infância. Sem ISSO não se merece nem se oferece "rosas brancas". As suas pretinhas e "rosas brancas" são arte. Pois em vez de glamourizar o inatingível nos despertam para o genuíno mérito das vidas que levamos. Portanto obrigadíssimo pelo incentivo, por fazer na vida e no teclado a arte mais difícil: a possível.
Abração