Représentation populaire d'un poulbot
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Moacir Pimentel
Quem chega a Montmartre pelo metrô da Place des Abbesses se depara com
um carrossel todo decorado com rostos infantis, como esse que inaugura o post.
Quem sobe a butte encontra os mesmos
meninos, de olhos grandes, por todos os lados, sendo vendidos como cartazes e
postais, imãs de geladeira e chaveiros, broches e copos e até decorando a
fachada de um aconchegante restaurante chamado “Poulbot” em uma rua lateral também batizada com o mesmo nome na
qual, aliás, mora o Museu Salvador Dali.
Quem não for absolutamente distraído a essa altura do passeio já terá
perguntado ao ser humano ou ao guia turístico mais próximos :
“Mas afinal quem é esse menino? E quem é
Poulbot?”
Répresentations populares de Poulbots (Pinterest) |
A resposta será entusiasmada: Poulbot foi um estimadíssimo filho da
colina, um pintor e ilustrador cujo tema preferido eram os moleques de rua, que
entraram para a história como Les Petits
Poulbots – Os Pequenos Poulbots.
E então você saberá que Francisque Poulbot, desde os primeiros cartazes
e ilustrações e frisos que criou com essas figuras pueris, foi um benfeitor dos
pirralhos desfavorecidos daquelas paragens. E sempre e tanto que se tornou o
protagonista de mais uma das lendas do bairro, aquela que jura de pés juntos
que, incitada pelos intelectuais e artistas e anarquistas de Montmartre, a
população masculina nativa – leia meninos, jovens, homens e velhos - um belo
dia de fin de siècle tirou dos baús
os seus antigos uniformes militares da guerra de 1870, para defender assim,
fantasiados de soldados, não mais a bela França de seus invasores prussianos,
mas o bom Poulbot da Justiça que queria mandar encarcerá-lo por dívidas.
Sucede que movido pelo sofrimento das crianças pobres de Montmartre, o
artista tomara dinheiro emprestado para construir, inaugurar e manter em
funcionamento uma clínica médica e uma Associação das Crianças de Montmartre. E
não tivera como, é claro, honrar tais dívidas.
Como acabou a presepada armada eu não sei mas em Montmartre o prezado
Francisque continua sendo uma unanimidade e talvez os seus pequenos poulbots
carreguem anexado um outro significado mais profundo.
Quem visita a colina, como já fizemos, no mes de outubro, durante a
festa da colheita das uvas do vinhedo do bairro, entre muitas outras
celebrações testemunha os desfiles: rapazes garbosos marchando pelas ladeiras
do bairro, com seus uniformes de infantaria estilo 1813, aqueles usados na
Batalha das Nações na cidade alemã de Leipzig entre o exército francês e os
exércitos aliados da Rússia, Prússia, Áustria e Suécia. Parece que o fato de
Napoleão ter perdido a guerra e dos aliados terem marchado triunfantes pelas
ruas de Paris não tira em nada o brilho das comemorações (rsrs)
Só que logo atrás dessa infantaria, eis que aparece a ala dos meninos,
dos descendentes dos pequenos poulbots, que também marcham armados pelas ruas
da colina. E então é possível fazer uma melhor tradução: a garotada desfila
fantasiada de “sans-culottes”, ou
seja, usam orgulhosos em vez dos calções justos típicos da nobreza, o traje dos
líderes das manifestações de rua, a vestimenta de trabalho, as calças de
algodão grosseiro, o casaco curto e os sapatos de madeira do povo trabalhador.
Os pequenos poulbots simbolizam sim o menino de Montmartre: esperto,
malicioso, brincalhão, zombeteiro, irreverente, indomável. Mas também
representam um dos símbolos da França, um outro garoto corajoso fugido da tela A Liberdade Guiando o Povo, de Eugène
Delacroix, na qual a Liberdade usa como eles, o barrete frígio vermelho,
símbolo dos escravos libertados da antiguidade, com o qual a classe
trabalhadora parisiense demonstrava seu ardor revolucionário.
Eugène Delacroix - Le 28 Juillet - La Liberté guidant le peuple (1831) |
Nessa imensa pintura de quase três metros e meio de largura que mora no
Louvre, uma mulher conhecida como Marianne personifica a Liberdade e a França.
O mais interessante sobre essa tela é que apesar de descrever uma cena do
levante de 28 de julho de 1830, na realidade ela tornou-se a imagem definitiva
da Revolução Francesa: o ápice da liberdade anárquica, violenta, libidinal.
Vemos aí uma Liberdade que expõe seus grandes seios redondos enquanto
ergue uma bandeira com as cores francesas com um braço poderoso e, com a outra
mão, carrega um fuzil com baioneta. Delacroix pintou a deusa de perfil como se
inconsciente da loucura que a rodeava mas fez dela uma mulher do povo, de carne
e osso, robusta e descalça, definitivamente viva.
E se você olhar com atenção verá que à direita da Liberdade um menino
surge correndo com armas em ambas as mãos e um grito nos lábios: “Abaixo o Rei!” E saberá que essa
história não pode ter acabado bem, que esse garoto deve ter sido, com certeza,
um dos seiscentos mortos daquele dia de verão. Do lado esquerdo da Liberdade
verá ainda um intelectual, talvez um poeta boêmio ou até mesmo pintor – quem
sabe um auto retrato de Delacroix? - que saiu do seu sótão, deixando de lado
seus versos e tintas para se juntar ao povo, usando seu chapéu alto e um fuzil que
mal sabe manusear.
Na fumaça, ao fundo, vislumbra-se as torres da Notre Dame, reverenciada
como ícone do romantismo francês por Victor Hugo em seu romance Notre Dame de Paris, mais conhecido como
O Corcunda de Notre Dame, publicado em 1831. E então a gente se lembra que esse
menino de Delacroix, por sua vez, pode ter inspirado outro personagem de Hugo,
o Gavroche nas páginas de Os Miseráveis, aquele garoto que
durante a batalha entre os revolucionários e o exército percorria cantando a
área entre as trincheiras para recolher armas e munição e que, é claro, foi
atingido e se despediu exceto nos refrões da música francesa e nas memórias de
velhos leitores.
É esse o espírito do menino pintado por Francisque Poulbot tão exaustivamente:
a luta pelas liberdades. Os intelectuais e os artistas e os meninos de rua
lutando lado a lado, pelo maior dos valores, na opinião dos franceses.
Tanto é verídica a tradução que, após ter sido mandado das trincheiras
para casa, devido a sérios problemas de saúde, logo nos primeiros dias da
Primeira Guerra Mundial, Poulbot empunhou seus lápis e tintas e mandou os seus
filhos adotivos para o campo de batalha, de vassouras em punho, a serviço do
esforço de guerra. Entre 1914 e 1918 ele publicou centenas de desenhos patrióticos,
que ajudavam a população e as tropas a sorrir em tempos muitos difíceis.
Francisque Poulbot - Les Petits Poulbots se vont en guerre (série, entre 1914 e 1918) |
Clonados pelos artistas de rua do presente, esses pivetes do passado
ainda ajudam a colorir Montmartre.
Outro lendário filho e morador da colina também se preocupava com as
criancinhas: um tal de Baron Pigeard,
um construtor naval bem sucedido que, fascinado pelo mar, fundou a União
Marítima de Montmartre onde ensinava os pirralhos a nadar de bruços sobre um
banco de madeira.(rsrs)
Porém... dizem as más línguas que os artistas entravam e saíam dia,
noite e madrugada da tal União Marítima. É que eles acreditavam que o ópio e o
haxixe estimulavam as suas imaginações e parece que, além das ações
beneméritas, o Barão também se ocupava daquelas do tráfico, abastecendo
inclusive as “fumeries” vespertinas
organizadas por Paulette Phillipi, vulgo a Manon,
a mensageira da alegria, a musa dos dependentes, a fonte de drogas e de
prazeres para os artistas de Montmartre.
Manon foi chamada de Opia nos
escritos notáveis de Henri-Pierre Roché, foi musa de Paul Verlaine em uma de
suas Ballades e amante do pintor
Georges Braque. André Salmon, nos seus escritos, nos narra como o casal Pablo
Picasso e Fernande Olivier, muito preocupados, conspiraram para separar o amigo
Braque dessa perigosa namorada.
Na verdade os principais artistas do século XX passaram os primeiros
anos de suas carreiras vivendo entre acrobatas, dançarinos, prostitutas e
palhaços e criaram uma imagem tão exagerada do comportamento boêmio - pintando
a noite toda, vestindo-se bizarramente, viajando no ópio, vadiando na cama de
uma modelo diversa a cada noite etc, etc - que, um século mais tarde, nas
nossas imaginações, esse ainda continua a ser o protótipo do estilo de vida dos
artistas.
Mas as tardes preguiçosas e melodiosas de ópio chez Manon terminaram abruptamente, segundo os biógrafos de Pablo
Picasso. Dizem eles que, no verão de 1905, Picasso estava de muito bom humor,
doido para explorar e experimentar, inclusive os narcóticos, onipresentes na
colônia de artistas onde não havia regras nem pausas, e que eram considerados
como portas para novos mundos e visões.
Foi nessa época que o artista pintou a Família de Saltimbancos e, penso, talvez os entorpecentes consigam
explicar a falta de tensão e movimento, os olhos embotados, o isolamento
emocional das figuras dessa tela que descreve os membros do Circo Médrano de
Montmartre.
Pablo Picasso - La famille de saltimbanques (1905) |
O poeta Rainer Maria Rilke inspirou-se nessa pintura para escrever uma
das suas Elegias, na qual poetiza os personagens de tinta como “viajantes sem
morada fixa”, e à desolada e desértica paisagem de fundo como um “tapete
esgarçado”, que lhe sugeria “a última solidão”, o isolamento do homem em um
mundo incompreensível, “desde a infância até a morte”.
O certo é que, em uma bela noite, conforme os escritos de Fernande
Olivier, a primeira das mulheres do toureiro, ela e Picasso e o casal Guillaume
Apollinaire e Marie Laurencin se encontraram para um jantar cuja entrada foi
haxixe e que terminou no estúdio do artista no Bateau Lavoir com os rapazes delirando depois de um mistura de éter
e ópio. Fernande se recolheu aborrecida e Marie achou melhor voltar para casa
para fazer companhia à senhora sua mãe e dormir em paz com o seu gato.
Enquanto isso seu namorado, o poeta Apollinaire, se divertia como nunca
em um bordel imaginário e Picasso se encontrava perdido em um delírio e diante
de um visão horrível: uma parede que não conseguia ultrapassar e que o impedia
de avançar. Ele acordou Fernande fora de si, berrando que descobrira a
fotografia, que não restava nada mais para ele aprender, que estava condenado a
pintar sempre o mesmo e que queria se matar.
Logo em seguida, Picasso encontrou o corpo do pintor Karl-Heinz Wiegels,
pendurado pelo pescoço de uma viga em seu estúdio, depois de ter exagerado a
mão em outro cocktail de ópio, haxixe e éter. A galera criativa então abandonou
as drogas e os rapazes juraram de pés juntos e solenemente que nunca mais
tocariam em narcóticos. Só esqueceram de combinar com o Modigliani...
Eu lembro das carinhas fofas das crianças nas lojas de souvenir de Montmartre, Moacir. Todo o resto foi novidade pra mim. Gostei de ler sobre o pintor caloteiro e o menino lutando do lado da Liberdade. Mas apesar do triste fim dos dois pintores por conta das drogas, amei o quadro de Picasso. Talvez ele estivesse mesmo chapadão quando pintou porque o chapéu não encaixa na cabeça da mulher kkk. Obrigada!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirQue Picasso estivesse “chapadão” quando a pintou a Família de Saltimbancos é apenas uma das muitas explicações para o fato dele ter povoado a cena com seis personagens sem movimento, de olhos vazios e embotados, que não interagem, não se tocam, mas compartilham um estado de espírito deprimido, uma triste contemplação da vida, que destoa do humor de seus outros trabalhos mo mesmo período:
https://www.wikiart.org/en/pablo-picasso/family-of-acrobats-with-monkey-1905
Foi pela falta de expressão e conexão que o poeta Rainer Maria Rilke, na sua elegia, descreveu os saltimbancos como exilados. No entanto trata-se de um trabalho importante pois retrata a transição das tintas azuis para as cores rosadas, o momento em que o artista decidiu viver sem que nada limitasse a sua liberdade criadora. Daí a experimentação das drogas.A maioria dos "especialistas" acredita que Picasso tomou emprestado o tema do circo do Lautrec mas que essas figuras seriam primas distantes de outras da lavra do Manet na tela O Velho Músico:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/19/Edouard_Manet_-_The_Old_Musician_-_Google_Art_Project.jpg
Eles pensam que estamos diante da “adoção” de uma nova família, digamos, “artística” e que aí ele teria retratado novos laços afetivos, os seus amigos poetas de Montmartre : Apollinaire como o palhaço gorducho e Max Jacob como o rapaz acrobata. A mulher estranhamente separada do grupo seria Fernande, a então namorada.
Já eu penso que esse Arlequim, à esquerda e de costas, pode ser um auto retrato do jovem Picasso se despedindo, literal e metaforicamente, da sua vida anterior, deixada para trás na Espanha. E o faço por causa de um detalhe que não é desimportante: note ele está dando a mão a uma garotinha de asas negras. Ela talvez seja um pequeno fantasma que o pintor retratou imensas vezes por toda a vida: a irmãzinha Conchita vitimada pela difteria quando ele tinha sete anos. Dizem os biógrafos do pintor que ele teria, então, feito uma promessa: jamais pintaria novamente se ela sobrevivesse. Não deu mas ali surgiu a conexão obsessiva e recorrente entre arte, vida e morte na obra do toureiro.
Quem está certo e quem está errado? Nunca saberemos.Picasso dizia que se tivesse querido explicar tudo bem mastigadinho, em vez de pintar, teria escrito. Faz sentido (rsrs)
"Obrigado"! e abração
É sempre muito prazerosos ler esse excelente Autor, Sr. MOACIR PIMENTEL, especialmente quando escreve sobre esse elevado Bairro de Montmartre Paris-FR, berço da Arte Mundial nos Anos da Belle Époque ( Guerra Franco-Prussiana 1870 - 1ª Guerra Mundial 1914).
ResponderExcluirNeese Artigo, cheio de observações interessantes, nos conta a história do Pintor/Ilustrador muito querido do Bairro FRANCISQUE POULBOT, que escolheu como inspiração as Crianças Pobres do Bairro. para as quais Projetou e construiu uma Clínica Médico-Dentária e uma Escola "Associação de Crianças", cujos Custos o levaram a falência Contábil.
Era tão querido esse Artista FRANCISQUE POULBOT que no dia de ser preso por Dívidas não pagas, os Veteranos da Guerra Franco-Prussiana 1870 voltaram a vestir suas velhas Fardas de Combate, e com esse apoio moral, impediram a prisão deste Caridoso Artista.
Parabéns grande Escritor Sr. MOACIR PIMENTEL.
Prezado Flávio Bortolotto,
ExcluirMuito obrigado pelas suas leitura atenta e mais do que generosas palavras. Sabe? As conversas dos nativos de Montmartre sobre o "caridoso" Francisque Poulbot são tão entusiasmadas e fantásticas que a gente até duvida. Mas o estimado pintor, cartunista e ilustrador realmente não se contentou em criar um personagem mítico infantil, mas denunciou com seus desenhos as carências dos pequeninos.
Ele foi um dos artistas fundadores, em 1921, da tal República de Montmartre cujos membros ainda hoje - pelo menos nos dias de festa! - usam o lenço vermelho, a capa e o chapéu negros de Aristide Bruant, como imortalizado por Toulouse-Lautrec e têm por objetivo ações em prol das crianças desfavorecidas, a defesa das tradições do bairro, do seu espírito rebelde e humano e do lema de Francisque: “Alegra-te em fazer o bem!”.
Abração
Moacir,
ResponderExcluirParece que não é de hoje que as drogas matam. Que Deus proteja os nossos jovens. Para equilibrar o clima do seu belo artigo achei encantadora a história do pintor Francisque Poulbot. Os pequenos dele são simplesmente uma graça. E continuo lendo e aprendendo. Eu tinha certeza absoluta que A Liberdade Guiando o Povo era a própria Revolução Francesa! Fiquei surpreendida ao saber que é uma cena de outra revolta popular.
Um abraço para você
Flávia,
ExcluirA Liberdade Guiando o Povo realmente É o símbolo maior da Revolução Francesa. Explico: acontece que uma imagem mais verdadeira daqueles tempos atribulados seria, por exemplo, a famosa tela de Louis David de nome A Morte de Marat que nos mostra o final da história: um pesadelo de suspeitas, paranoia e terror.
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Death_of_Marat#/media/File:Jacques-Louis_David_-_Marat_assassinated_-_Google_Art_Project_2.jpg
Então... para ilustrar a “narrativa” revolucionária as figuras vibrantes que Delacroix criou meio século depois vieram a calhar e para ficar. Pois ele pintou o “mito” da revolução, um sonho, um arrebatamento místico que passara a fazer parte das conversas, do folclore dos dias de ontem. Ele retratou a alegria, o romance e a camaradagem do ato coletivo do povo para o bem comum, na coragem da geração romântica que, em julho de 1830, tocou os sinos da Notre Dame, tomou as ruas de assalto e, por um dia apenas, experimentou um gostinho do que seus avós sentiram cantando A Marselhesa.
No entanto, note que não se trata de um trabalho raso: a morte faz parte da tela cujo romantismo, na minha opinião, não é otimista. Veja que o revolucionário que engatinha ferido aos pés da Liberdade está vestido com um casaco azul, um lenço vermelho e uma camisa branca. Ou seja, ele foi idealizado como uma sombra de Marianne, como “o lado escuro da força” assim enfeitado com as cores da bandeira que voa sobre as barricadas. Se a pintura de Delacroix representa a sedução da Revolução melhor do que qualquer outra, esse moribundo tricolor representa o preço a pagar. Quando olhamos para essa tela no Louvre só temos olhos para a Liberdade, mas as figuras mais próximas de nós são os cadáveres sobre os quais ela lidera o “povo”, um substantivo abstrato que sangra.
Outro abraço para você
O post é excelente mas aproveito a oportunidade para pedir um tira-teima. Delacroix foi o maioral entre os pintores românticos, certo? Mas eu olho para a Liberdade Guiando o Povo e não consigo ver a menor conexão entre ela e as fantásticas pinturas dos impressionistas. Que mal lhe pergunte, como é que a origem do impressionismo foi o romantismo?
ResponderExcluirDesde que o Wilson reativou este blog extraordinário, Conversas do Mano, Pimentel nos tem brindado com uma coleção de postagens de altíssimo nível cultural e informativo, mormente pinturas e esculturas.
ResponderExcluirNão bastassem as aulas sobre essas especialidades artísticas, Pimentel nos leva a a passear por Paris, em conhecer a Cidade-Luz, a capital francesa, seus encantos, bairros, sua vida boêmia, seus cabarés, restaurantes e bares.
E nos transporta como se tivesse a máquina do tempo, para a Belle Époque, onde Paris efervesceu, mostrou-se para o mundo, declarando-se a cidade cultural do mundo!
Não creio que exista no Brasil descrições tão detalhadas e tão brilhantes quanto as que Pimentel nos deleita com Montmartre, cujo romance, aura de festas, renomados mestres, artistas em profusão - mesmo sem o conforto que dispomos hoje -, a vontade que se tem de viver naquele período é enorme!
A conexão com as pessoas não era como a de hoje, mas através do contato pessoal, de um romantismo exacerbado, de galanteios memoráveis, de homenagens incomparáveis ao ser humano.
E de festas, jantares, trajes elegantes, onde a vida fora desses ambientes era deixada de lado, e se penetrava em locais mágicos, exuberantes, encantadores, que devem ter proporcionado muita alegria e felicidade!
Deixo uma sugestão para Pimentel, na condição de seu admirador confesso:
Escreve um livro com o título Montmartre, tão somente, e relata esses conhecimentos que tens, reproduzindo esses quadros e a história de cada um deles.
Posso afirmar que seria um sucesso, tanto pela ausência de obras neste sentido, mas pela falta de textos de qualidade, que mostram a arte como dinâmica e não monótona; bela como a vida, e não somente pelas cores usadas; majestosa pelo talento de seus autores, e não pelas imagens que apresentam.
Mais uma vez aplaudo o artigo, brilhante, memorável, que merece junto aos anteriores uma homenagem, que seria um livro editado.
Pensa nisso, Pimentel.
Um forte abraço.
Saúde e paz.
Chicão,
ExcluirEu fico sensibilizado com a sua sugestão do livro, embora não tenha talento e/ou fôlego literário para ser escritor. Mas, aqui entre nós e baixinho, quando me deparo comigo mesmo publicado miudinho e devagarinho nas Conversas fico alegre e surpreendido como os meus netos em show de mágica! (rsrs)
Dia desses a Donana teclou que por aqui escrevemos “ folhas ao vento”. É assim que prefiro. Para mim escrever é uma espécie de recreio, de rasteira que tento dar nas nos desgostos de praxe. Rascunho minhas bobices para aliviar a travessia, para viajar mais leve, para que essa desesperança toda não vá sendo absorvida, porque quero envelhecer com dignidade. Para quê transformar a brincadeira em um contrato entre duas capas? Além do mais, se eu escrevesse um livro em vez de posts no Blog do Mano não teria a alegria de ler que meus rascunhos “ mostram a arte como dinâmica e não monótona; bela como a vida, e não somente pelas cores usadas; majestosa pelo talento de seus autores, e não pelas imagens que apresentam”.
ISSO não tem preço!
Às pretinhas e um grande abraço
Olá Moacir,
ResponderExcluirSeu post é um refresco e encantador como os pequenos Poulbots trocando idéias e tramando artes. Desenho lindo!
Quando comecei a leitura estranhei a primeira ilustração e fui pouco a pouco sendo seduzida pelo texto. Até que ele acabou antes de mim! ...quando acaba a gente quer de novo!
Não sabia nada dessas criaturinhas e seu criador. Só tinha tido contato com os pequenos heróis franceses tão presentes nos livros e nos filmes. E agora, para mim, esses garotos das colinas.
E a garotada desfilando "sans culottes" totalmente a minha praia: calças de algodão grosseiro,o casaco curto e os sapatos de madeira". Para ser de hoje só faltaram os rasgados, antes apenas nas pernas e agora até nas costas e cotovelos.
Adorei a liberdade libidinal quase selvagem (serão todas?), e ao mesmo tempo tão feminina no movimento, seios e pé descalço. Mulher certamente do povo mas primeiro mulher. E pulsa veia feminista!
Seu texto deveria vir na categoria triste, mas deve ter sido escrito num momento divertido. Porque junto às mortes opiáceas vieram atrelados as delícias dos bordéis imaginários e os pesadelos do repetir-se.
Pena o belo Modigliani!
Até sempre mais.
Caríssima Donana
ExcluirPoulbot é apenas mais um dos formidáveis personagens quase desconhecidos dessa esquina da arte. Eu também fiquei em dúvida quanto à ilustração que inaugurou o post. Mas acontece que os closes das caras sardentas dos pequenos poulbots contemporâneos, são mesmo as primeiras imagens que se avista quando se sai do metrô na Place des Abbesses. Eles são reproduções não dos desenhos primorosos do artista, mas de um friso bem colorido que supostamente ele teria pintado na fachada da Maison de Poulbot. E pronto! Daí "em riba" os "gavroches" ou “poulbots" nascidos em Montmartre, na Comuna de Paris, no seio proletário da classe trabalhadora, superpovoam o bairro (rsrs) Quanto ao Francisque dizem que fugia da escola para contemplar, nos muros da cidade, os cartazes de Toulouse-Lautrec e Steinlen. E que ficou viciado....
Quanto ao texto não ter lhe parecido triste ao descrever “as mortes opiáceas” a senhora tem razão. Note que mencionei os escritos de Fernande Olivier, que são deliciosos e leves e divertidos e estavam à minha beira enquanto teclava. Achei mesmo apropriado o delírio do Apollinaire no tal bordel imaginário: afinal ele dizia que “com a Marie era cerebral”(rsrs) De resto a “viagem” de Picasso traduziu muito bem o que estava na cabeça dele : depois da fotografia a pintura tradicional deixara de fazer sentido. É bom constatar que, durante quase setenta anos depois do pesadelo, o toureiro além de não se perder foi capaz do milagre de “não se repetir”. Finalmente desejo, com vontade absoluta, que a senhora "nunca acabe" antes das minhas pretas. Obrigado e
“até sempre mais”
Pimentel,
ResponderExcluirDepois de perguntar quem é Poulbot você oferece uma baita resposta. A leitura foi agradabilíssima até o bagaço do tema e o início do seguinte. Sem comentários além dos merecidos parabéns.
Sampaio,
ExcluirMuito obrigado! Quanto a ter chegado ao “bagaço” do tema Poulbot, vou discordar. Não mencionei, por exemplo, a imensa paixão dele por Montmartre. Diz Dona História que as derradeiras vinhas do bairro, que desde os tempos romanos cresciam em socalcos pela colina, só sobreviveram graças aos esforços do pintor. O vinhedo, que hoje se chama Clos Montmartre, foi protegido ferozmente por ele dos especuladores imobiliários em 1929. Batizado inicialmente como a Praça da Liberdade e declarado espaço público, sob a orientação de Poulbot ali foram replantadas duas mil cepas, principalmente da variedade Gamay Beaujolais. A vindima rola entre os meses de setembro e outubro e o dinheiro obtido com a venda do vinho continua sendo destinado às obras sociais do bairro.
Quanto a estar “iniciando” um novo e espanhol tema, você acertou na mosca. Como cantam os Guns N’ Roses “ all we need is a little patience” (rsrs)
Abração
Moacir, um belo post que, entre outras coisas, nos devolve a delicadeza, a expressividade e a ligação ao Montmartre e à França do seu tempo dos desenhos originais de Poulbot.
ResponderExcluirWilson,
ExcluirAcho que deu para se ter um vislumbre do verdadeiro traço de Poulbot tão difícil de encontrar mesmo naquelas paragens. Além de uns poucos e belíssimos trabalhos e ilustrações que pertencem ao acervo do Museu Montmartre - onde ele teve um atelier ! - os postais e posters circundantes homenageiam, com mais frequência, os poulbots clonados (rsrs) Talvez você aprecie esse vídeo que acabei não utilizando no post:
https://www.youtube.com/watch?v=uoukeb1teUA
Obrigado e um abraço
1)Pimentel, informativo e educativo como sempre.
ResponderExcluir2)Artístico, bom gosto, boa leitura.
3) Parabéns, bom domingo, boa semana.
Antonioji,
ExcluirEspero que o final de semana prolongado graças ao prezado São Jorge esteja sendo o melhor possível e sem visitas dos amigos do alheio. "Gratidão " imensa por suas boas palavras e namastê!