Georges Braque dans son atelier, rue Caulaincourt à Paris, en 1911 - fotografia de Mariette Lachaud |
Depois de ter em apenas dois anos e juntamente
com Picasso quebrado o domínio da perspectiva renascentista, Georges Braque se alistou antes mesmo que a Primeira Guerra Mundial
começasse. “Levei Braque à estação de
trem e nunca mais o vi”, disse Picasso, metaforicamente, na velhice.
Na verdade eles seguiram caminhos
separados e, como acontece com muitos casais divorciados, raramente falavam um
com o outro e quando se encontravam a antiga intimidade não era
retomada. Porquê? Nunca saberemos porque os dois amigos jamais explicaram. Os
biógrafos ventilam variadas hipóteses mas é tudo achismo e ninguém sabe realmente
as razões do distanciamento dos pintores.
Braque recebeu duas condecorações por bravura em combate, mas em 1915 foi
seriamente ferido na cabeça e teve uma experiência de quase morte: perdeu a
consciência por dois dias, ficou temporariamente cego, foi operado e escapou por pouco de perder a visão e só conseguiu voltar a pintar em
1917, receoso de ter sido superado por aqueles que, como Picasso, continuaram a
criar durante a guerra. Ele nunca recuperou seu grande vigor físico nem o
gregarismo da juventude. e meio que se exilou, voluntariamente, na bela
Normandia, no norte da França.
Apesar dele ter sido, na minha opinião,
extremamente criativo e original como pintor, o genial trabalho de Braque jamais
foi devidamente reconhecido e continua sendo subvalorizado porque ele não tinha
uma personalidade vistosa e midiática, nem pintava de uma maneira provocativa
ou sensacional.
O que não significa que ele não tenha
perseguido até o fim as suas próprias visão do mundo e concepções
de criação, em uma obra que desafia a classificação por qualquer dos “ismos”
conhecidos. Suas complexidade visual, honestidade intelectual e nobreza espiritual
não eram as qualidades preferidas em uma época na qual os olhos eram
arrebatados pela demonstração contínua do gênio autorenovador de Picasso.
De fato, de 1909 até 1919, não apenas o
público interessado, mas especialmente os críticos, deram pouca atenção ao
trabalho de Braque, a quem eles consideravam um imitador e satélite de Picasso.
Com todas as evidências à nossa disposição hoje, podemos ver o quão errado foi e
continua sendo esse julgamento.
Durante os anos em que trabalharam
juntos, nem Braque nem Picasso pensavam em si mesmos como líder ou discípulo e a
grande conquista da dupla foi, sem dúvida, ter sido capaz de misturar e manter
sob controle suas personalidades competitivas enquanto se concentraram de todo
o coração em criar a quatro mãos uma nova linguagem pictórica.
O espanhol contava nas rodas dos cafés
de Paris que, quando Braque estivera entre a vida e morte tentara vê-lo no
hospital. Em vão! Uma enfermeira lhe explicara que não seria possível pois
Madame Braque proibira todas as visitas. Picasso então retrucara para espanto
da mulher: “Como assim? Eu sou Madame
Braque!” (rsrs)
Usando uma expressão do próprio
Picasso, foi do “casamento” desses
dois temperamentos, um francês e o outro espanhol, que resultou a sucessão de
invenções imprevisíveis que mantiveram o desenvolvimento da pintura cubista em
movimento. No entanto, cada um dos dois artistas tinha dons distintos que
inevitavelmente encontraram expressão. Enquanto pintaram próximos um do outro
os rapazes tiraram vantagem criativa da interação e das divergências dela mas suas
respectivas pinturas sempre tiveram um caráter individual que um olho atento
detecta. Ambos deram a seus quadros descritivos um caráter inconfundivelmente
pessoal.
Embora Picasso tenha cometido o grande
insight do Cubismo – as figuras espaço/tempo ao mesmo tempo de frente e de
perfil - foi Braque quem “cubolizou” as paisagens, introduziu as “certezas” – as
palavras e os números que funcionavam como pistas para o tema pintado – texturizou as telas e
cometeu a primeira colagem. Vistas em confronto com as pinturas cubistas do
espanhol, às vezes as suas telas parecem mais bem acabadas, serenas, líricas e
requintadas. Em compensação, Picasso surge mais produtivo, agressivo, temerário
e corajoso e surpreendente.
Não é exagero dizer que o “divórcio”
entre eles ocorreu em 1913, época em que cada um passou a fazer o seu próprio
Cubismo Sintético. Em seguida os dois deixaram a comunidade de Montmartre,
enriquecidos pelas experiências e descobertas que haviam compartilhado, mas
cientes de que diferenças inatas e a crescente maestria exigiam, naquele
momento, que cada um perseguisse sozinho o próprio desenvolvimento artístico.
Durante sua longa convalescença dos
ferimentos da guerra Braque repensou-se e à sua arte. Sua maior e mais
ambiciosa tela dessa época fecunda de auto-renovação e descoberta tem um
significado especial. Primeiro porque marca o final da década de ouro, durante
a qual o artista absorveu as lições de Cézanne e desenvolveu a linguagem cubista,
e, em segundo lugar, porque ela foi e é a última pintura na qual ele usou um
idioma cubista puro.
O pintor terminou a tela de nome La Musicienne depois de nove meses de
trabalho, no início do verão de 1918. Esse primeiro trabalho no pós-guerra combina
as formas geométricas planas e interligadas e sobrepostas do período analítico
com a cor e a maior legibilidade dos anos sintéticos. Ao pintar uma moldura de
enquadramento retangular em torno dessa figura feminina, Braque enfatizou tão
claramente seu achatamento que é como se estivéssemos olhando para a imagem de
uma rainha de carta de baralho.
Georges Braque - La Musicienne (1918) |
Essa senhora braqueana tem uma silenciosa e sugerida majestade que evoca
aquelas madonas da Renascença que nos encaram de frente - aqui por trás de uma
máscara - mas cujos torsos são representados de lado. Porém essa criatura
musical em meio a espaços pontilhados de tinta, papéis de padrões diversos,
retalhos de tecido e muita textura, em vez de se ocupar com um instrumento de
cordas parece segurar o cabo de uma espada, como se fora uma Santa Joana d’Arc medieval.
A partir desse momento, aos trinta e
seis anos de idade, o talento de Braque reafirmou-se plenamente; sua pintura
tornou-se completamente pessoal e sua arte floresceu pelos próximos quarenta
anos em telas monumentais, porque quanto maior era a escala em que ele
trabalhava mais completa e brilhantemente ele criava.
Durante o resto de suas longas vidas, o francês e o espanhol em muitos
aspectos - especialmente em termos de estratégia profissional - tiveram pouco
em comum. Picasso foi um mestre da autopromoção, seja como pintor, desenhista,
gravador ou reinventor da escultura. Braque, muito ao contrário, jamais
perseguiu aplausos e fama. Sim, ele se afastou de Picasso mas não, ele nunca se
divorciou do cubismo que, para ele, era um assunto inacabado.
Quando o dominó geopolítico caiu após o assassinato do arquiduque Franz
Ferdinand da Áustria, em 1914, Picasso, por ser cidadão da neutra Espanha,
ficou fora da carnificina das trincheiras mas não conseguiu escapar da tristeza
de ver seu país adotivo dilacerado pela guerra.
Então, o nome de Picasso já era sinônimo de arte moderna, especificamente
do cubismo. O arquimodernista, portanto, chocou a todos em 1914 com o desenho
naturalista e neoclássico que fez do poeta Max Jacob, um dos seus poucos amigos
franceses que não foram afastados pela guerra. Mas como o pintor evitou o
rascunho do exército e da guerra, continuou sendo a mente central por trás de eventuais
visuais cubistas sintéticos.
Uma vez começada a Primeira Guerra Mundial, o significado anterior que
as cubices tinham de destruição, de energia primária e recomeço do zero mudou
completamente. A grande aventura cubista livre e desinibida acabou naqueles
anos de convulsão, quando a velha ordem parecia estar morrendo e muitos
artistas queriam vê-la morta. É preciso lembrar que sempre que alguém queria
rotular Picasso com um ismo qualquer, ele procurava uma nova saída (rsrs) Mas acontece
que durante o conflito mundial o artista estava mesmo dividido, definindo uma
estratégia que lhe permitisse reter a estrutura composicional do cubismo
enquanto introduzia elementos de representação naturalista. Parece que, antes
de olhar para frente, Picasso olhou para trás e viu o neoclássico Ingres (rsrs)
Ele continuou a oscilar entre estilos, não esquizofrenicamente, mas em
uma busca sincera de soluções para expandir seus horizontes enquanto escapava
de todos os limites. Os pierrôs e arlequim da montagem abaixo são exemplos
perfeitos da capacidade de Picasso de mudar de marcha e de consolidar novas
abordagens continuamente. A única constante é a procura de um jeito novo para
representar o mundo e as pessoas nele presentes.
Pablo Picasso - Pierrot (1918) / Pierrot et Harlequin (1920) |
Cometidos no mesmo período, o tristonho pierrô à esquerda é mais
realista, mas a dupla cubista à direita, supostamente fria e sintética, explode
em cor e alegria e o pintor nos obriga a perguntar: qual é a imagem mais “real”?
Tudo o que Picasso queria era a liberdade de todas as ideologias, de todos os
dogmas, de todos os rótulos limitantes, a liberdade de ser e de descobrir o que
isso implica.
Foi no verão de 1921 que Picasso cometeu sua derradeira tela em idioma
cubista sintético puro sangue: Os Três
Músicos, dos quais ele pintou duas versões. A
maior das telas tem mais de dois metros de largura e /ou altura e mora no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Ele pode ter decidido trabalhar assim em grande
escala porque sabia que o trabalho seria o monumento que marcaria a conclusão
da fase cubista, que o tinha sequestrado por quase quinze anos.
Pablo Picasso - Les trois musiciens (1921) |
Muitos linkam essas imagens ao trabalho de Picasso para os Ballets
Russes e identificam os personagens como seus amigos bailarinos mais recentes.
Os trajes das figuras certamente derivam das tradições do teatro popular
italiano. Dizem que o pintor ficou encantado quando Gertrude Stein lhe contou
que finalmente entendera o que os três músicos significavam:
“Uma natureza morta!” (rsrs)
Picasso pintou três músicos construídos com formas abstratas planas,
coloridas e brilhantes, em uma sala rasa e semelhante a uma caixa. Do lado
esquerdo está um clarinetista, no meio um violeiro e, à direita, um cantor segurando
partituras. Note que o primeiro personagem de azul e branco, à esquerda, está
fantasiado de Pierrô– veja como ele segura o clarinete com as mãos. O do meio, de
amarelo e laranja, finge ser um Arlequim e à direita vemos um frade vestido de
negro.
Na frente do Pierrô mora uma mesa, sobre ela um cachimbo enquanto que
debaixo dela se esconde um cão, cujos focinho, barriga, pernas e cauda
espreitam por trás das pernas dos músicos. A sombra da sua cabeça, no entanto,
se projeta no ar e não na parede de fundo.
Como o palco castanho no qual os três músicos tocam, tudo nesta pintura
é feito de formas planas. Atrás de cada músico, o chão castanho claro está em
um lugar diferente, estendendo-se muito mais para o fundo, à esquerda do que à
direita. Ou seja, o chão e as paredes lisas que enquadram as figuras deixam a
sala de lado e inclinada, mas os músicos parecem firmes e mantém o equilíbrio.
É difícil dizer onde um deles começa e o outro termina, porque as formas que os
criam se cruzam e se sobrepõem, como se fossem recortes de papel.
Que me desculpem os sabichões mas ISSO além de uma obra prima é um poema
nostálgico, uma despedida dos dias de sol em Montmartre, dos velhos
companheiros, das gargalhadas, da alegria descuidada dos cabarés e dos circos,
da trilha sonora da juventude, dos seus primórdios artísticos, do cubismo da
gema parido no Bateau Lavoir.
Picasso está no centro da foto - como sempre de Arlequim! - e seus
amigos mais caros, o poeta Guillaume Apollinaire, morto em 1918, e Georges
Braque, de quem ele havia se distanciado, sentam-se cada qual de um lado.
Quem observa de longe as estradas separadas trilhadas por Picasso e
Braque encontra sim várias “coincidências” nos temas de suas tintas: músicos,
pintores e suas modelos, mulheres defronte dos espelhos e por aí vai que podem
significar que cada um deles mantinha o olho atento ao que o outro criava. Mas
quem estuda mais atentamente as obras dos velhos companheiros percebe que o
link entre esses dois criadores era mais profundo que seus títulos e temas. Para
ambos, por exemplo, o espaço de criação - seus estúdios! – era algo sacro e
inescrutável.
Ora, o ateliê de um pintor é em parte o seu refúgio e, em parte o seu
campo de batalha, o seu laboratório de alquimista. Dentro desse espaço sagrado,
o artista usa seus poderes para produzir ilusões e transformar materiais
físicos comuns em ouro criativo. O tema dos estúdios apareceu na arte ocidental
pelas mãos de Vermeer no século XVII e foi pintado magistralmente por Courbet na
metade do XIX, mas tornou-se universalmente conhecido graças à magnífica e
gigantesca tela de nome As Meninas, a obra prima do pintor espanhol Diego
Velázquez, na qual o pintor se auto retratou no seu atelier, no palácio do rei
da Espanha, enquanto pintava as infantas.
Sucede que essa pintura foi repaginada várias vezes por Picasso e pode ser que
o toureiro tenha tido outras motivações para se interessar por esse trabalho específico
do compatriota. Diz Dona Lenda que sempre que Picasso estava no sul da França
visitava o amigo britânico Douglas
Cooper, um historiador, crítico e colecionador de arte que vivia perto
de Avignon, no Château de Castille, que transformara em museu para sua imensa
coleção de arte moderna.
Ora, Cooper comprara uma tela pertencente à mais famosa entre as muitas “séries”
de Braque chamada “Estúdios”. O
colecionador narrou a John Richardson
- o principal biógrafo de Picasso – como o toureiro costumava ficar horas estudando
a tela, pendurada em lugar de honra acima da lareira do escritório do Château,
resmungando que não a entendia.
Nos seus “Estúdios”, durante
longos anos Braque pintou a parafernália de objetos que moravam no seu ateliê
normando, usando técnicas associadas tanto ao primeiro estágio analítico do
cubismo quanto à sua segunda fase sintética. As telas de Braque estão entre as
mais belas e originais representações já feitas de um estúdio de pintor.
Penso que tais misteriosos trabalhos do único parceiro que teve na vida
desafiaram o toureiro a recomeçar o velho diálogo artístico. Sim, Picasso
respondeu diretamente a Velázquez mas se dirigiu formal e indiretamente a
Braque com a sua própria série de variações e releituras das Meninas.
Em sentido horário, note na montagem abaixo e em detalhe a obra prima de
Velázquez e, à sua direita, a primeira das Meninas de Picasso. Se dividirmos a
versão do toureiro ao meio veremos que à direita e oriundos do território
velazqueano estão presentes a pequena princesa de branco e, ao fundo, o homem
na soleira da porta deixando a luz entrar para iluminar a cena. Mas constataremos
que todo o lado esquerdo da composição revisita o aparente caos dos Estúdios de
Braque, mais abaixo.
Diego Vélasquez - Las Meninas (1657) / Pablo Picasso - Las Meninas (1957) Georges Braque - L'Atelier VI (1951) / L'Atelier II (1949) |
Porém, por mais que tentasse, Picasso não conseguia igualar a estranheza
elementar alcançada por Braque na sua obra tardia.
As obras dos dois são a prova de que o Cubismo não foi absorvido pela
história, não se tratou apenas de um movimento com sua própria lógica, um ponto
no caminho entre o Impressionismo e a Abstração. Para os seus pais fundadores
essa arte que abraçou a desordem e o caos para criar uma nova ordem pictórica permaneceu
irresistível. Até quase o final de suas vidas, Braque e Picasso continuaram a
construir grandes estruturas de tinta, impuras e híbridas, a partir de
fragmentos da natureza misturados com características cubistas, a meio caminho
entre o mundo conhecido e outras realidades alternativas que serão uma outra e
derradeira conversa.
Olá Moacir,
ResponderExcluirDepois de um domingo aterrorizante com duas bestas soltas no picadeiro,porque tudo não passa de um grande circo,o seu texto é um refrigério para os meus sentidos. E para a minha inteligência machucada.
Mergulho de cabeça nesse outro "palco castanho no qual os três músicos tocam" e nem quero mais sair de lá. Fico alegre e divertida tentando entender com você tudo nesse pedaço colorido.La Musicienne é sóbria, longelínea e organizada. Me encanto com ela também. E a história de Braque corre livre e solta em forma de "pretinhas". Não importa se você se cerca de livros e de uma mulher também sabichona. O importante é o que vem para nós,pobres mortais.
E quando chego no "ateliê de um pintor é em parte o seu refrigério" aí perco a cabeça de tanta amorosidade. O atelier é tudo o que vocę disse e reforço a idéia de que no post passado era mesmo o atelier do Picasso.
Picasso é magistral com as suas meninas de Vélasquez mas as oficinas de Braque são fantásticas. E mais uma vez ele explora a verticalidade.
O Cubismo não acaba nunca. E acho que vou sentir muita falta dele depois
da derradeira conversa! Fica, Moacir, fica!
Até sempre mais.
Caríssima Donana,
ExcluirNão permita que seus benditos neurônios sejam agredidos. Há que rir da imbecilidade humana nos picadeiros da vida e curtir com "amorosidade" o aconchego e o “refrigério” das nossas sagradas tocas (rsrs) Não foi à toa que a foto de uma delas inaugurou o post.
Digamos que aos estúdios de Picasso faltou talvez um pouco de ...paciência (rsrs) mas concordo que o francês não tinha a genialidade transbordante do espanhol.
https://www.tate.org.uk/art/artworks/picasso-the-studio-t06802
No entanto a obra tardia e menos conhecida de Braque é misteriosamente bonita e livre de ego. Na minha leitura foi o trabalho dele, seus detalhes indutores de profundidade, os halos e contornos brilhantes, as texturas, a imitação de madeira e mármore - claramente o ponto de partida para a exploração tátil na pintura dele – as suas lareiras e janelas inesperadas, as mesas de bilhar doidas de pedra e esses estúdios obscuros aquilo que mais continuou dando gás e seguimento ao Cubismo.
Aqui entre nós e baixinho - para não assustar o leitorado padecendo de "fadiga de material" (rsrs) - já comecei a rascunhar um arquivo provisoriamente chamado de "Braque depois de Picasso"(rsrs) Quem sabe um dia, em um futuro muuuuito distante, o Senhor Editor, não venha a batizar melhor o post?
"Até sempre mais"
Você arrasou nos detalhes das vidas dos pintores e dos quadros. Gostei muito dos Três Músicos bem coloridos. Picasso se retratou muito bem. Parece mais um vampiro da energia alheia com um bocão escancarado para canibalizar tudo ao seu redor kkk Obrigada!
ResponderExcluir...
Moacir,
ResponderExcluirAmei o artigo! Não sabia do afastamento dos dois amigos nem conhecia suas últimas obras cubistas. Talvez Braque tenha precisado se afastar da personalidade dominante de Picasso para poder fazer uma arte só dele. Fiquei encantada vendo você demonstrar o quanto Picasso era admirador do trabalho de Braque relacionando os Estúdios dele às Meninas dos pintores espanhóis. Pena que as fotos são pequenas e que você economizou na descrição das obras.
Um abraço para você
Lamento o divórcio dos gênios mas em briga de marido e mulher não devemos meter a colher, rs. E seus excelentes artigos defendem tão bem o cubismo que não tem como ele ser esquecido mesmo perdendo a eleição para a abstração.
ResponderExcluirMárcio,
ExcluirNão o cubismo ainda não foi esquecido. Semana passada, li que o Centro Pompidou de Paris, acabou de inaugurar uma exposição cubista com mais de trezentas obras emprestadas por vários museus e jamais vistas em conjunto antes, que exibem cronologicamente as ricas natureza experimental e inventividade do movimento.
A linguagem cubista é explicada desde a sua fonte primordial - a fascinação por Cézanne! – representada por uma natureza morta do espanhol, totalmente cezannesca e de nome Pães e Fruteira:
https://1.bp.blogspot.com/-F0oXe1CZJ08/WLHDvRpXhQI/AAAAAAANcNE/IvJlz-HhYdIBLYqH65x5EOaaYixMpT7FgCLcB/s1600/Pablo%2BPicasso%2B%2528Spain%252C1881-1973%2529%2BPains%2Bet%2Bcompotier%2Baux%2Bfruits%2Bsur%2Bune%2Btable%2B1909.jpg
A mostra conversa sobre o impacto do cubismo em artistas contemporâneos - como Henri Matisse! - e sobre a influência que exerceu sobre seus herdeiros na arte abstrata e/ou anti-establishment como Piet Mondrian, Kasimir Malevich e Marcel Duchamp, todos presentes prestando homenagem à revolução cubista (rsrs)
Lá estão passando uma chuva maravilhas como a Música de Braque e obras-primas de Picasso como os retratos de Gertrude Stein, Ambroise Vollard e Daniel-Henry Kahnweiler e a colagem da Cadeira de Palha. A exposição reuniu ainda telas de Raymond Duchamp-Villon, Fernand Leger e Braque que soletram o impacto da Primeira Guerra sobre os cubistas mobilizados e dão um testemunho da inevitável esterilização de um movimento que, no meu entender, foi esvaziado precocemente por Dona História. Obrigado por participar!
Pimentel,
ResponderExcluirVocê me convenceu que Picasso, Braque, Gris e Metzinger foram pintores fora de série pela inteligência de suas pinturas e não apenas porque você é muito bom com as suas palavras. Mas a verdade é que não sinto por nenhuma das obras primas cubistas a admiração que senti no Museu do Prado diante da beleza e da qualidade do quadro As Meninas , de Diego Velázquez.
Sampaio,
ExcluirComo lhe teclar que “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”? Quando estamos em Madri pousamos, invariavelmente, no triângulo das artes, formado por três dos museus mais importantes do mundo: o Prado, o Reina Sofia e o Thyssen-Bornemisza que juntos abrigam sete séculos de arte. E, a pé, costumamos caminhar de um para os outros. No Prado diante de telas de grande beleza como as Fiandeiras e as Meninas a fruição é imediata e na veia! Mas diante delas experimentamos as emoções e vislumbramos os pensamentos de indivíduos que viveram em um mundo diferente, séculos atrás, pintando para a Igreja e/ou para os reis. Tais telas nos oferecem sim uma janela para o passado no momento de suas criações porém, na verdade, não nos identificamos com as cenas do ontem, feitas sob encomenda. Convenhamos que profundas mudanças ocorreram no mundo e desde o século de ouro espanhol e, onde há mudança, rola arte mudada.
Ao sair do Prado para visitar o Reina Sofia vamos na direção de um outro tempo, quando os artistas começaram a questionar a realidade de sua submissão às regras, aos temas e às composições, ousaram questionar o que estavam vendo e a fazer figuras, objetos e paisagens com seus próprios estilos misturados às suas tintas.
No Reina Sofia nos deparamos com livres expressões, com inéditas interpretações. Depois da imensa estranheza de Guernica literalmente nos perdemos entre Picassos, Dalís, Mirós, Gris e Tápies, fora os Braques, Delaunays, Man Rays, Riveras mas nos sentimos de volta à nossa realidade cotidiana, ao tempo presente.
Onde o clássico nos diz lindamente como as coisas eram, o moderno e o contemporâneo nos perguntam como serão, nos desafiam, incomodam, balançam mas garantem que não estamos sozinhos e que outros realmente sabem como nos sentimos. As artes moderna e contemporânea são "da hora", como diz a juventude, do aqui e do agora e, de sê-lo, não nos oferecem a oportunidade de olhar para trás, mas sim de refletir sobre o presente e, se necessário, de fazer algo a respeito. Nos sentimos conectados com as modernices mais próximas de nós porque as experiências que levaram os artistas a pintar seus quadros são as mesmas que nós também vivenciamos.
Além disso, o que hoje é contemporâneo um dia se tornará moderno e depois clássico, e depois antigo e assim por diante. Digam o que quiserem sobre Dona Arte, ela jamais deixou de acompanhar os tempos e, às vezes, fez deles o que foram.
Muito obrigado e abração
Caro Pimentel,
ResponderExcluirNão sei dizer se o autor de uma pintura ou criador de um novo estilo nessa mesma arte, quis o sucesso, ser famoso e rico.
Há casos de pintores que morreram pobres, logo, a fama muitas vezes não contemplou a obra magnífica hoje reconhecida.
Pois, da mesma forma que a excelência dessa habilidade extasia milhões de pessoas que apreciam a pintura, neste caso, também o Cubismo, aqueles que escrevem sobre essas mestres e suas escolas não ficam atrás da grandiosidade dos quadros pintados e seus estilos.
Não fosse o crítico de arte ou até mesmo um apreciador se mostrar competente, culto, dotado de profundos conhecimentos sobre esta arte e seus vários estilos e escolas, o grande público jamais teria a oportunidade de concordar com os merecidos elogios ou não aos pintores e suas obras!
Ambos ficariam abandonados em museus ou em cantos de prédios antigos ou em garagens e, nós, admiradores desses gênios, deixaríamos de apreciar a beleza, a capacidade humana de emocionar, a mente que consegue concretizar seus pensamentos em formas de telas, que absorve seus autores, que os faz trabalhar a vida inteira naquilo que acreditam e que se torna o sentido de suas vidas!
Logo, Pimentel, antes de eu tecer loas aos quadros e mestres, eu o elogio primeiramente, pois sem os seus conhecimentos e disposição para postar temas que abordem essa arte específica, eu nunca teria tido o interesse que foi despertado em mim graças à tua especialidade, e que te caracteriza ao mesmo tempo como um brilhante professor, de didática indiscutível, de mencionares riqueza de detalhes, e de nos colocar à disposição o que sentes pela arte.
Muito obrigado, mais uma vez.
Um forte abraço.
Saúde e paz.
Prezado Bendl,
ExcluirObrigado lhe digo eu pelo interessante comentário. Você tem razão: a arte é, de fato, mais do que apenas uma questão de conquista profissional, de fama, sucesso ou dinheiro. Note que a cometemos desde as cavernas quando não era necessária para a sobrevivência da espécie (rsrs) Logo ela é expressão, linguagem, uma chave crucial para o propósito, a direção e o significado humano.
Tudo bem que a criatividade resulta da individualidade única do criador mas nas paragens artísticas, como em todas as outras áreas dinâmicas da experiência humana, entender a criatividade principalmente como uma extensão de nossas próprias experiências e percepções acumuladas, como meramente uma projeção de nossa personalidade e /ou identidade é um equívoco. Eu não estou dizendo que o individualismo não é importante. Longe disso! Sem o sabor e caráter únicos do artista, uma obra de arte seria vazia, carente daquele elemento de humanidade que é sua característica maior. Mas a arte transmite a vida e portanto é, a um só tempo, particular e universal e com ela a gente aprende que, independentemente das fronteiras, o que é mais particular é o mais geral e que nossas ideias e ideais aguentam o diálogo crítico e de longo alcance.
Por fim, já me senti pequeno por demais diante das grandes artes da humanidade até entender que sem mim, você e outros bilhões de homens “normais”, os “gênios” simplesmente não existiriam: porque um livro só se torna eterno quando alguém o lê e uma tela só é grandiosa porque alguém a vê.
Abração
1)A leitura tardia me remete aos pensamentos do dia:
ResponderExcluir2) "A pintura é uma poesia que se vê e não se sente, e a poesia é uma pintura que se sente e não se vê". = Leonardo da Vinci (1452-1519).
3) Fiquei em dúvida se já transcrevi o pensamento acima.