Moacir Pimentel
Apresento-lhe Marie-Clémentine Valade, pintada aos dezenove anos por
Auguste Renoir. O que torna inesquecível a história dessa jovem de personalidade
marcante é certamente a determinação dela em realizar-se pessoalmente como
mulher e de, por direito próprio, ter sucesso como artista pós-impressionista
em uma época pré cubista na qual o céu artístico parisiense era povoado por
enormes estrelas masculinas.
Que Montmartre foi o lar de alguns dos mais brilhantes artistas,
escritores e músicos do final do século XIX e início do século XX não é
segredo. No entanto, as mulheres artistas, que fizeram parte desta constelação
de espíritos criativos, sem qualquer acesso a treinamento formal, são muito
menos conhecidas.
Sucede que Marie-Clémentine começara a desenhar obsessivamente desde a
mais tenra idade, preferindo esboçar o mundo ao seu redor do que frequentar a
escola no convento na Rua Caulaincourt e, eventualmente, deixando a escola para
procurar trabalho.
Filha de uma mãe solteira, aos dez anos de idade a garota já ajudava em
casa fazendo bicos como garçonete e vendendo legumes em uma barraca do mercado
Les Halles. Quando não estava trabalhando, Marie-Clémentine gostava de brincar
com os garotos, fazendo acrobacias nas árvores e montando nos cavalos do
bairro. E era muito boa nessas brincadeiras. Tanto que suas coragem e
flexibilidade chamaram a atenção de Ernest Molier, o dono do circo que se
apresentava então na Praça Pigalle, e a convite do empresário, ela começou a
ser treinada para ser uma acrobata.
Enquanto ainda não dominava o trapézio, Marie-Cémentine se apresentava
cantado e dançando ou no picadeiro com os palhaços. Quando finalmente ela voou
no trapézio enlouqueceu o distinto público. No entanto, ela sofreu um acidente
sério e, incapacitada para mais acrobacias, tomou uma direção completamente
nova.
Aos quinze anos, petite e curvilínea, ela logo se tornou popular entre
os artistas de Montmartre que passaram a disputá-la como modelo. Diziam as más
línguas que seus olhos azuis luminosos “atraíam os homens como moscas”.
Ela modelou de 1882 a 1893 para vários pintores importantes, inclusos
Pierre Puvis de Chavannes, Pierre-Auguste Renoir e Henri de Toulouse-Lautrec.
Dizem as telas e biografias que Marie-Clémentine era mesmo uma moça de rara
beleza com um apetite voraz para a vida e um bom número de amantes durante
aqueles seus tempos como modelo.
Logo, não é de se estranhar que ela tenha dado à luz um filho com a
idade de dezoito anos. A identidade do pai da criança foi um dos assuntos mais
palpitantes de Montmartre e nunca restou definitivamente resolvida, mas o
pequeno foi perfilhado por um artista espanhol de nome Miguel Utrillo e também
se tornou um artista, treinado pela mãe, assinando como Maurice Utrillo, telas
que tiveram principalmente paisagens de Montmartre como tema.
Marie-Clémentine jamais disse ao filho quem era o seu pai. Dizem as
velhas do bairro que os dois mais prováveis candidatos à honra eram ambos
pintores e Pierres: Renoir e Puvis de Chavannes. Após o nascimento de Maurice,
a mãe continuou a modelar, mas permaneceu focada em seus próprios desenhos. Não
lhe bastava ver-se idealizada nas representações femininas de Renoir e Puvis de
Chavannes: ela almejava desenvolver a sua própria visão artística.
Então, enquanto posava, estudava profundamente as técnicas dos dois
pintores, principalmente as de Renoir que, aliás, jamais levou a sério as
aspirações artísticas da modelo preferida, cujos primeiros desenhos enfocavam a
figura feminina nua, com linhas fortes e qualidade visceral. As próprias experiências
como modelo da moça são palpáveis nesses primeiros trabalhos.
Marie-Clémentine sabia que o acesso a uma escola de artes estava fora do
alcance de uma jovem da sua condição e então fez de Montmartre a sua escola,
aproveitando todas as oportunidades que surgiam e desafiando as convenções de
seu gênero.
Até que, belo dia, um jovem artista chamado Henri de Toulouse-Lautrec
mudou-se para o prédio onde ela morava e percebeu além das curvas, é claro, o
talento da moça. Marie-Clémentine também foi retratada muitas e muitas vezes
por Henri, em quadros famosos como é o caso da tela abaixo de nome Ressaca, mas
foi ele quem reconheceu nela pela primeira vez uma artista hábil e não apenas
uma modelo jovem e atraente ou uma companheira de cama.
Encantado com os desenhos que a bela modelo fazia, pouco ortodoxos e às
vezes até mesmo escandalosos mas enormemente convincentes, foi Lautrec quem lhe
sugeriu o nome artístico de Suzanne Valadon, em homenagem à história bíblica de
outra Susana e muitos anciãos (rsrs) Fortalecida pelo encorajamento de
Toulouse-Lautrec, a recém-nascida Suzanne superou seus medos e apresentou ao
mais velho mestre do bairro - Edgar Degas - os seus desenhos.
Reconhecendo-lhe o talento, Degas tornou-se seu advogado e o primeiro
colecionador a comprar seus trabalhos. O velho e a jovem mantiveram uma
profunda amizade ao longo da vida e, graças ao apoio dele, ela se tornou a
primeira mulher a exibir sua arte na Société Nationale des Beaux-Arts de Paris,
em 1894.
Os primeiros modelos de Suzanne foram os membros da sua família, muitas
vezes o seu filho, a mãe ou a sobrinha. A artista fez de si mesma
impressionantes auto retratos a partir de 1892 quando começou a pintar a sério.
O auto retrato que a exibe com os seios nus fez furor talvez porque nas suas
primeiras exposições coletivas, realizadas no início da década de 1890, suas
obras surgiram mais bem comportadas como, por exemplo, os retratos que fez do
compositor Erik Satie com quem teve um breve mais intenso caso de amor.
Depois desse romance infeliz, Suzanne decidiu se casar com o corretor
Paul Mousis, um homem muito bem sucedido, esperando encontrar alguma
estabilidade para oferecer ao filho e um ambiente pacífico para pintar em tempo
integral. Foi então que ela mudou-se definitivamente do desenho para a pintura
e deu no que deu: hoje suas obras podem ser vistas pelo vasto mundo desde o
Centro Georges Pompidou em Paris até no Metropolitan Museum of Art em Nova
York.
Ela finalmente se divorciou e voltou para Montmartre onde, depois de
perder o coração para muitos homens, aos quarenta e quatro anos, conheceu André
Utter, um jovem pintor boêmio, muito amigo de seu filho. Apesar da diferença de
idade de vinte e um anos os dois se apaixonaram perdidamente.
Em 1909, Suzanne conseguiu fazer tremer a liberal Montmartre quando
passou a viver no mesmo endereço com o jovem amante e o filho. A inusitada
família ficou famosa no bairro com o apelido de “trindade diabólica”. Durante seu romance com André, porém, ela deu
à luz os seus primeiros e belos e grandes óleos, que conversavam sobre o prazer
sexual, mostrando o homem pioneiramente como o objeto do desejo de uma mulher.
Depois do lançamento dessa rede aí em cima, a artista chocou Paris com
um óleo de nome Adão e Eva, uma representação dela mesma e do homem do seu
encanto que, é claro, a essa altura além de marido tornara-se seu modelo. A
tela do casal primordial, que eu pessoalmente não aprecio, foi a primeira
pintura de um casal despido feita pela mão de uma mulher.
Em 1911, apenas dois anos depois do início do tórrido romance, Suzanne
fez com muito sucesso, a sua primeira exposição individual. Através de seus
jovens amante e filho, ela se aproximara da nova geração de artistas do bairro
e muito aprendera junto com Pablo Picasso, Georges Braque e Raoul Dufy dando
início ao período mais produtivo de sua carreira, no qual ela trabalhou com a
paleta mais ampla de cores do fauvismo em telas de variados temas.
Os auto retratos, retratos, nus, paisagens, gatos e cães e naturezas
mortas de Suzanne Valadon permaneceram desvinculados das tendências e aspectos
da arte acadêmica. Seus temas muitas vezes reinventaram as telas de seus
mestres: mulheres no banho, nus reclinados e cenas de interiores. Ela pintou a
mãe e a sobrinha na Boneca Abandonada, jovens mulheres no banho e nas janelas,
se auto retratou muitas vezes ao lado do marido, do filho e da sogra, para não
falar dos bichanos.
Suzanne Valadon - La poupée abandonnée (1921) / Jeune fille devant la fenêtre (1030) /Portraits de famille (1912) / Raminou assis sur une draperie (1920) |
O sentido vibrante e emocional que emana de suas figuras de olhos
expressivos foram o resultado de uma observação íntima e familiar dos corpos
representados. Talvez a sua dupla experiência como modelo e artista tenha lhe
permitido dominar o processo que transforma e posiciona o corpo como o objeto
do olhar dentro de uma obra de arte e influenciado o seu entendimento e
perspectiva transgressores da mulher e do corpo feminino. Entre as duas
Guerras, Suzanne produziu nus que nada deviam aos de Renoir, Degas e Lautrec.
Um dos mais famosos e controversos é o de uma jovem para quem uma cartomante
coloca cartas e lê o futuro.
Nesta pintura vemos uma mulher poderosa, de longos cabelos trançados e
um corpo forte mas flexível, completamente nua e muito à vontade e cheia de
autoconfiança dentro da própria pele. Reclinada e apoiada sobre um os cotovelos
ela olha calmamente, como que para matar o tempo, por pura diversão, para as
cartas de baralho que uma cartomante interpreta no tapete.
Além de desvelar o futuro, Suzanne Valadon aproveita para nos exibir
também o corpo da protagonista e, embora esse não seja um auto retrato, há uma sensação
de que a artista se revela através da modelo. Suzanne mostra-nos aí as suas
próprias força física e autoconfiança nessa serena garota que é vulnerável
porque despida, mas está claramente no controle. Percebe-se que a artista
repudia a passividade de séculos de erotismo feminino que aqui é sugerido não
para atiçar a imaginação, mas para enfatizar o potencial erótico de uma mulher
completamente dona de si mesma.
Tais pinturas e gravuras da artista revolucionaram o nu feminino. Ela
pintava mulheres simples, em poses ocasionais que subvertiam a tradição das
deusas e/ou odaliscas, sem pedir nenhuma desculpa pela falta de cerimônia, com
largas pinceladas que foram um sucesso de vendas. Quem criticava o seu trabalho
o fazia por julgá-lo pouco feminino ou por ver nele uma qualidade masculina.
(rsrs)
O certo é que Suzanne Valadon invadiu o domínio dos homens na arte e
nele firmou-se como igual a seus pares mais proeminentes, se negando
valentemente a cometer representações típicas e inventando novidades através do
uso de corpos não-idealizados e autopossuídos e sexualizados.
A jovem trapezista que encontrara e seguira com coragem a sua vocação
artística realizou quatro grandes e bem sucedidas exposições individuais e
conquistou enorme sucesso financeiro como artista. O trabalho de Suzanne -
cerca de trezentos desenhos e mais de quatrocentas e cinquenta pinturas - foi
exibido nos grandes Salões de Arte de Paris, ganhando elogios mesmo que os
críticos tivessem muita dificuldade de enxergar além do seu gênero e da vida
pessoal não convencional. Indiferente às palavras críticas ou elogiosas, ela
persistiu até o fim, nunca vacilando na criação de suas figuras femininas
diretas que frustavam o usual voyeurismo do olhar masculino.
Apesar dos altos e baixos e das reviravoltas de sua vida pessoal, a
pintora permaneceu ativamente dedicada à sua arte até o último de seus dias.
Pouco antes de sua morte Suzanne escreveu ao seu maior amigo, o jornalista e
poeta e compositor Francis Carco:
"Meu trabalho está terminado e a única
satisfação que ele me deu é que eu nunca me rendi. Nunca traí nada em que
acreditei.”
Suzanne foi para o andar de cima fazendo o que mais gostava: de pé e
pintando em seu cavalete em março de 1938, aos setenta e três anos.
Infelizmente o seu obituário no jornal Le Figaro informava que falecera a
esposa do pintor André Utter e a mãe do pintor Maurice Utrillo, em vez de
Suzanne Valadon, uma grande artista.
Outras mulheres também escreveram a história de Montmartre e elas farão
parte de outras conversas.
Adorei a história, Moacir. Não sei dizer coisas legais dos quadros, que no geral eu gosto. Mas fiquei surpresa dela ter se dado bem financeiramente. Porque ainda hoje continuamos ganhando menos do que homens com a mesma formação para desempenhar a mesma função. Acho que ela venceu na vida exatamente porque tinha ‘qualidades masculinas’ e administrou muito bem as poucas chances que teve. Como você disse da garota pintada nua ela estava 'no controle'. Virou modelo porque era bonita mas aprendeu a pintar observando os pintores. Fez os aliados certos no mundo artístico mas casou fora dele para poder criar o filho e pintar sossegada. Na meia idade se apaixonou, casou novamente e fez do marido gato seu modelo kkk Com certeza estava bem na frente do seu tempo. Hoje homens e mulheres machistas ainda xingam de ‘diabólicas’ pra baixo as mulheres que são donas de suas vidas. Se elas tem companheiros mais jovens então é um massacre. Imagino o auê que ela deve ter causado em Montmartre. Obrigada!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirAcho seus comentários muito “legais” e você fez uma pragmática e muito acertada leitura de Suzanne Valadon.
Sim, ela esteve “no controle” da vida dela desde os quinze anos (rsrs) O romance vivido por ela e o compositor Erik Satie é muito esclarecedor a respeito da personalidade da artista. Dizem que foi um grande amor, uma avassaladora paixão, um encontro de almas, para valer. Ela pintou, inclusive, dezenas de retratos do amante. Mas então, abruptamente, ela fugiu para viver com um sujeito improvável, rico, burguês e conservador, a própria antítese de Satie que, devastado, escreveu para a malvada cartas de amor pelos próximos 30 anos (rsrs)
Sucede que ela simplesmente decidira mudar-se para o campo, ter criados, enviar o filho Maurice para um excelente internato e, liberada da necessidade de ganhar a vida e dos trabalhos domésticos, finalmente desenhar e pintar como nunca antes. E foi o que aconteceu.
Até que vinte anos depois ao se apaixonar pelo amigo do filho, ela de novo atirou tudo para o alto, inclusive o marido banqueiro, retornou para Montmartre e passou a pintar como nunca. E foi extremamente bem sucedida tanto que terminou fechando um contrato de exclusividade com uma prestigiada galeria parisiense, das suas e das telas de Maurice Utrillo, em troca de um milhão de francos por ano, uma quantia realmente fabulosa então.
"Obrigado!" e abração
Gostei de ver a artista feminista de Montmartre. Mas tirando a incomparável Georgia O'Keefe e a Frida não consigo me lembrar de outras pintoras famosas.
ResponderExcluirMárcio,
ExcluirÉ claro que não lembra! Lembre-se que a arte sempre foi sobre poder, feita por e para quem fazia as regras e, sendo assim, também moldava a imagem do mundo. É claro que os homens foram por séculos os formadores das imagens além das opiniões e, não coincidentemente, os únicos com acesso a treinamento, apoio e patrocínio.
Pero que las hay, las hay e muitas e pintando o sete e desde a Antiguidade (rsrs) Mas a primeira exceção a confirmar a regra, a primeira das senhoras a fazer "sucesso" como retratista, foi a italiana Sofonisba Anguissola, que nos deu o ar da graça dela um pouco mais tarde, no Renascimento. Gosto muito dos modestos auto retratos pintados por ela antes de encontrar a fama, pintando para os poderosos da Corte Espanhola de Felipe II
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/56/Self-portrait_at_the_Easel_Painting_a_Devotional_Panel_by_Sofonisba_Anguissola.jpg
Obrigado por participar.
Faça uma pesquisa no Google. Voce vai descobrir centenas de artistas maravilhosas dentro da história da arte. É claro que quanto mais nos aproximamos da arte e da história contemporânea mais mulheres vai aparecer no cenário da arte. Pesquise que cultura e conhecimento sempre são bem vindos! Boa sorte.
ExcluirPimentel,
ResponderExcluirNota dez para a evolução do enredo da Colina.
Sampaio,
ExcluirEspero que o seu Carnaval tenha sido tão agradável e animado quanto o comentário. Obrigado!
Moacir,
ResponderExcluirVi no seu artigo anterior que uma das garotas pintadas no lindo quadro dos guarda-chuvas de Renoir é Marie Clementine mas não sabia da nada a respeito da pintora Suzanne Valadon. Lendo e aprendendo. Amei o desenho do filhinho dela! Pelo que você escreveu e os trabalhos que mostrou achei que a pintura dela foi biográfica e gosto muito de autoretratos. Até mesmo a menina trocando a boneca pelo espelho mostra um pouco da vida da artista que virou mulher tão novinha para ajudar a mãe nas despesas.
Um abraço para você
Flávia,
ExcluirQue bom que você a reconheceu nos Guarda-Chuvas. Que eu me recorde, a Suzanne mora ainda em outra tela famosa de Renoir:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f2/Dance-At-Bougival.jpg
Como você eu muito aprecio o desenho do pequeno Maurice. E dizem que estamos em boa companhia pois Degas também ficou fortemente impressionado pelos desenhos intransigentes que a mãe fazia do menino. Aliás a amizade entre o velho pintor e a jovem artista é um mistério. Porque Degas, apesar de suas maravilhosas e sensuais pinturas de mulheres, foi de fato quase um misógino (rsrs) Mas ele adorava Suzanne e foi reverenciado por ela até o final de seus dias. Talvez tenha sido a validação que o Mestre Degas fez dos seus talento e trabalho, aquilo que fez com que Suzanne se acreditasse e se levasse a sério como artista.
De resto, a pintura dela foi, sim, muito auto centrada e suas escolhas na vida foram todas calculadas no sentido de lhe garantir os meios, espaços e circunstâncias nos quais pudesse fazer livremente o que mais queria: pintar!
Obrigado pelo ótimo comentário e outro abraço para você
Olá Moacir,
ResponderExcluirVou aproveitar que os netos foram ao aquário com o avô, depois de um passeio ao Museu de História Natural, ou o que seja, onde vi tanto fóssil que quase já fiquei por lá.
Adorei Suzanne Valadon. Preciso ver mais desenhos dela. Vou pesquisar.
Como você bem disse ela é inclassificável. Lembra o Impressionismo e já não lembra mais porque tem tem um algo de mais moderno nos seus traços e nas pinceladas lisas e fortes mas definidas.
E como pode pintar nus contornados, como em "Le lancement", e não torná-los rígidos, sem movimento?
Interessante sua trajetória feminista de luta, sua vida de romances e sua fome insaciável de desenhar e pintar! Faz qualquer mulher se sentir orgulhosa de sê-lo.
E você descreve de maneira completa e redonda o seu (dela) erotismo pintado diferente, " o potencial erótico de uma mulher completamente dona de si mesma".
E assim aparece todo o seu trabalho não deixando chance de rótulos.
Queria mesmo é "conversar" cada parágrafo: a infância de Suzanne, sua adolescência no circo, sua modelice e maternidade de pai não revelado, sua formação artística através do olhar fazer, Toulouse Lautrec amigo e promotor,seus amores, sua ousadia e persistência, tudo! E seus auto retratos não sei se fortes ou sérios , se melancólicos ou apenas curiosos.
Gostei demais.
Aprendi demais. Sou grata demais
E quero muito mais.
Caríssima Donana,
ExcluirNeto é uma maravilha que deixa muita saudade. Fazer o quê além de esperar pelas próximas férias? E, como de hábito, seu comentário me dá pretexto para mais "conversa".
Dizem as feministas que o nu feminino na pintura tem sido produzido exclusivamente para o prazer e o consumo masculinos. Mas quando uma Suzanne faz do nu feminino o tema central de sua arte, aí é preciso fazer uma interpretação diferente, certo? (rsrs)
Eu diria que foi necessária muita disciplina e determinação para que essa garota bonita, inteligente e talentosa, que modelava não apenas para ganhar a vida, mas para estudar obsessivamente as técnicas usadas pelos artistas, aprendesse a pintar só de “olhar fazer” durante uma década. Penso ainda que sua arte é vazia de sorrisos, não quer agradar, é apenas uma tradução de formas imperfeitas baseadas em suas próprias experiências de ambos os lados da tela. Gosto das “peladecas" dela, bem delineadas com os traços simples e pinceladas largas que foram a sua marca registrada. Penso que os anos de modelagem eliminaram qualquer mística e sentimentalismo desses corpos altamente sexualizados e muitas vezes impiedosos cometidos por ela. Suas mulheres jamais foram insensíveis e/ou pouco expressivas mas nada tinham de macias e sensuais e/ou indiretas. Tais criaturas me parecem tão resolvidas quanto a criadora.
Enfim...é muito bom constatar que em Montmartre, após séculos de doces estereótipos femininos criados por homens maus, finalmente uma valente mulher passou a reivindicar a arte e a vida do artista como suas e ver como ela assumiu o controle da criação de suas próprias imagens.
E sou eu que sempre e muito lhe agradeço
“Até mais”
Pimentel,
ResponderExcluirA retomada que fazes dos artigos sobre a arte da pintura, colocam este blog extraordinário em um patamar de elevado nível cultural.
Repito:
Antes essa arte não me ocasionava qualquer reação por não entendê-la, não apreciá-la devidamente.
Após os teus textos, explicações, justificativas, interpretações, fizeram com que surgissem em mim um certo interesse, exatamente motivado pelos teus conhecimentos a respeito que, esmiuçando as obras de célebres pintores, apresentava-nos não só a obra, mas o autor e sua arte, portanto, um quadro completo do criador e sua criação.
Ora, tal demonstração tão bem escrita, tão fortemente relatada pelos conhecimentos e detalhes que caracterizam a grandiosidade das inúmeras fases e épocas da pintura, inegavelmente realçam o teu trabalho magnífico, pelo qual devemos considerar na forma de leitura e arquivamento, justamente para valorizar o estudo e pesquisa tão bem feitos sobre a pintura, uma das artes mais notáveis desse ser humano tão inconstante e, paradoxalmente, tão previsível!
Um forte abraço.
Saúde e paz.
Chicão,
ResponderExcluirAgradeço-lhe pela atenção e pelas boas e exageradas palavras mas hoje NADA que você pudesse ter teclado a respeito do post, nem mesmo a mais feroz das críticas, seria capaz de sequer arranhar a IMENSA satisfação que é lê-lo novamente nas "Conversas". Porém peço-lhe que ao registrar seus pensamentos aqui e alhures, ao obedecer ao bendito impulso de expressar a sua verdade e de assim fazer a diferença, você vá com calma, se economizando, observando o compasso do seu organismo, evitando - como diz nosso Editor! - "os esforços de reportagem" (rsrs). Para mim já estaria de bom tamanho ler um ABRAÇÃO depois do Francisco Bendl inicial e antes das SAÚDE e PAZ que lhe desejo.