Ana Nunes
Lápis 3B,
uísque irlandês e música e passado. Armadilhas da vida.
Não sou saudosista, velhinha de brinco de pérola saudosista é obra do diabo. Mas quem resistir há de?
Não sou saudosista, velhinha de brinco de pérola saudosista é obra do diabo. Mas quem resistir há de?
Aproveito-me
do humor nostálgico que anda assolando por aqui. As paixões eternas e
platônicas que duravam uma semana, a professora plus size, as meias de nylon da
mãe do amigo, as meninas boas e os meninos bons de famílias más, e as meninas
más e os meninos maus de famílias boas, e, por que não, os bons de famílias
boas e os maus de famílias más (quem não teve um desses?)
A
nostalgia gostosa e rica das músicas, o brega do Johnny Mathis, Afrikan Beat, Trini
López, Elvis Presley, lógico, Beatles, Jovem Guarda e que tudo mais vá pro
inferno!
Que
inferno bom! Lembranças aromáticas, perfumes roubados da memória enquanto vida!
Um cinema, um filme, Bonequinha de Luxo e a maravilhosa Audrey, Noviça Rebelde que
assisto quantas vezes passar, Zorba o Grego que me fez dançar com cunhados que
ainda não eram! Kirk Douglas na Montanha dos 7 Abutres, Tony Curtis e Doris
Day, Candelabro Italiano, o belo Steve Macqueen fugindo do inferno, o Álamo,
Cat Ballou, A bela da Tarde, Cleo das 5 às 7, Les Parapluies de Cherbourg e os
primeiros James Bond com Sean Connery que me faz suspirar até hoje... que
velho! Posso falar assim porque o Redator sabe do meu amor eterno... apesar dos
meus suspiros!
São todos
amores do passado, filmes, lugares, pessoas, cheiros e cores! Que o Heraldo
Palmeira me deixou usar “... são como
santuários para onde rumamos sempre sem pestanejar. Talvez em busca de reviver
certas felicidades adormecidas ou quase perdidas...nossos vínculos duradouros
que provocam até dores de saudade.” Devidamente licenciada. Grata sempre.
Mas
preciso mesmo falar é dos amores da juventude invadida pela “tal revolução
hormonal”. De insônia de amores não correspondidos.
Aqueles
romances nascidos entre imaginação e desejos ainda não sabidos. O irmão de
olhos verdes da colega, o vizinho da casa ao lado, ou o menino da hora dançante
ao som de discos ou mesmo de rádio.
Amores
inventados ao som de um só coração que, hoje, a troco de uma música, de um livro
antigo, sei lá, voltam como onda que tira a respiração e o movimento e corrompe
minha quietude. Dá-se então aquela nostalgia de romance inacabado acabado. Que
hoje eu saberia da música “amores do
passado no presente, repetem velhos temas tão banais...” Mas não, porque são
lindos e sofridos devaneios quase de infância estreando talvez um caminho a
percorrer.
A
querência da solidão para ouvir músicas. Ou as viagens longas, atravessando
estados para ficar só nesse estado de paixão secreta, estando entre muitos mas
completamente só com o barulho da Rural e vento nos cabelos já embaraçados. Às
vezes um sol morninho através do vidro ou uma lua fugitiva na quase manhã entre
montanhas. Ou uma planície amarela de trigo balançando no vento.
Mar verde
com areias brancas e árvores achatadas e redondas também trazem lembranças
românticas que passeiam depois na espuma do ferryboat. Uma casa com degraus e
um parque com roda gigante rodando no biquíni amarelinho que na palma da mão se
escondia. Um guapo rapaz curitibano prestes a aparecer.
Isso tudo
para dizer que não são desses amores do passado que tenho saudade e alegria de
lembrar. É mais o sentir daquela época, o estado de paixão, amor e
expectativas. O “in the mood for love”. Sem passado e sem futuro. Só a tormenta
de estar amando. Aquele lugar nunca mais visitado, cheio de ilusões, sei hoje,
mas perturbadora realidade então.
E vocês,
rapazes antigos, também se sentem assim?
Até mais.
Minha querida dissidente, Aninha,
ResponderExcluirQue belo mergulho no passado, eim?
Que texto mais bem feito sobre nostalgia!
Se a idade nos atribui experiência, também nos pune inexoravelmente através das lembranças que jamais serão esquecidas, memórias de tempos idos jamais comparados, recordações de momentos enternecedores e encantadores!
E as músicas?!
As revistas?
Os livros?
Os passeios?
A cidade onde se nasceu que não é mais a mesma?
O movimento do trânsito lento e preguiçoso, e em relação ao atual, vibrante e perigoso?
E o trio maravilhoso Regina, sabonete, talco e óleo?
As eletrolas Telespark, Alta Fidelidade, e depois as Telephunken já estereofônicas, em móveis expostos na sala porque belíssimos?
E os chapéus Ramenzoni, para os homens (alô, Wilson)?
Tá, e as Tvs Philco Predicta, que o tubo de imagem era giratório?
As TVs quadradas da GE?
E os carros?!
Simca Chambord, Aero Willys, as berlinetas Willys Interlagos, os automóveis JK, as Rural Willys, os primeiros fucas montados no Brasil, em 59 ...?!
Bah, mas quanta saudade daquele tempo, nossa!
Mas um daqueles objetos de extrema utilidade eu guardei e tenho até hoje!
Trata-se das minha máquina de escrever Remington, carro grande!!!
Meu Deus, quantas milhares de páginas escritas nesta máquina!!!
E as canetas, as canetas ... Parker 61, AINDA TENHO A MINHA COM TAMPA FOLHADA A OUTO GUARDADA!!!
E a primeira viagem de avião, no Caravelle?
E o maravilhoso e mais belo avião construído, que somente o vi de longe, o Constelattion? Havia o Super G e depois o Super H!
E quem não usou a Pomada Minâncora?!
Ou quem não teve uma geladeira Climax?
Fantástico artigo, Ana, que me fez viajar no tempo, época inigualável, imorredoura, assim como os extraordinários The Platters com Only You, My Dream, My Prayer ... Rolling Stones com Satisfaction, The Mamas and the Papas entoando Califórnia Dreamin ...
Textos como este precisam ser enaltecidos, Ana, então os meus parabéns pela lembrança, a minha reverência pela escolha primorosa.
Um forte e amistoso abraço.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.
Olá Dissidente,
ExcluirNessa 3a. feira de sol indeciso e vento bem frio é uma delícia ler os comentários de vocês. Dá um quentinho na alma!
Fui aleitada ouvindo The Platters. Rolling Stones e The Mamas and The Papas vieram mais tarde. É muito bom mesmo ouvir essas músicas, não tem como evitar a viagem no tempo.
Obrigada! Saúde muita e paz para vocês também.
Prezada Sra. ANA NUNES,
ResponderExcluirSim, também me sinto assim, dentro desse clima de humor nostálgico que recordam "Paixões eternas e platônicas que duravam uma semana- ANA NUNES".
Só que esse rapaz antigo (67) não tem a capacidade de Escrever magnificamente bem como a senhora. Mas de qualquer forma a gente tenta responder +- dignamente.
Mas se é difícil responder, é fácil e uma alegria muito grande Ler ANA NUNES.
Belíssimo também a ilustração sua, feita em tinta Nanquim ou Lápis 3B, do trenzinho circulando pelos alti-planos das Minas Gerais. Mas muito discreto, quase impossível de ler, a Autoria no extremo esquerdo inferior do Quadro. Se fosse eu, destacaria com tinta colorida, ANA NUNES.
Parabéns.
Olá Flavio,
ExcluirPosso te chamar assim? Também sou antiga, e estou na frente, 68. Antes eu falava que era uma velhinha em formação, mas depois que fiz 68 fiquei um pouco na dúvida...velhinha em forma(ção), não sei. Soa um pouco pretencioso.(rsrs)
As belas palavras "Paixões eternas..." são do Moacir e outras deste parágrafo também, dele e do Antonio. Abusei!
Como disse para o Francisco Bendl os comentários aqueceram o meu dia.
Muito obrigada!
Até mais.
1)Oi Ana, parabéns, belíssimo bico de pena.O trenzinho vai de uma ponta do infinito passado até a outra ponta do infinito futuro. No caminho do meio o Eterno presente e vc nos presenteou com um belo e significativo texto.
ResponderExcluir2)Como das outras vezes, poesia em forma de prova.
3)Saúdes múltiplas !
Olá Antonio,
ResponderExcluirVocê sempre trazendo interpretações novas e válidas! Gostei bastante.
Generoso como sempre também.
Saúdes muitas. Obrigadíssima.
Até mais.
Ana,
ResponderExcluirHonrado por me incluir nessa belíssima viagem no tempo. Claro que a resposta à sua pergunta final é SIM! Tudo que está citado fez parte da minha vida, assim como um bocado do que listou o Bendl. Mas há uma passagem especial: a surra que levei por causa do filme "O Álamo". Fui assistir e nunca tinha visto um tal de "longa metragem", como eram chamados no Nordeste os filmes que ultrapassavam as duas horas de projeção tradicionais (que já compõem um longa metragem, claro). Pois bem, cheguei em casa quase às 19h30 e minha mãe não acreditou que a culpa era da fita extra - naquele tempo, um menino na rua até aquela hora era razão para desabar o mundo!
Também lembro da paixão platônica por Michela Roc, estrela das fotonovelas da revista Grande Hotel. Aquela italianinha (morreu em 2013, aos 71 anos) era mesmo linda! Bons tempos. Até mais.
Olá Heraldo,
ExcluirClaro que teria que usar suas palavras, não saberia dizer tão bem.
Triste a surra injusta. Tomara não tenha comprometido o filme!
Obrigada pelo comentário, pelo elogio.
Até mais
Caríssima Donana,
ResponderExcluirLindas as suas pretinhas e tintas nostálgicas que me fizeram pensar nos grandes Milton e Brant " o trem que chega é o mesmo trem da partida" e no intraduzível Rosa: " toda saudade é uma espécie de velhice".
Mas quem não sente necessidade de, vez por outra, nesses dias de inverno, se enrolar no passado como se ele fosse um cobertor quentinho, que cobre todas as incógnitas frias do amanhã e todas as realidades duras do hoje?
Porém...Se a gente não edita as recordações com cores mais suaves lembra de não foi moleza ser um moleque aborrecente num corpo adulto, rodeado por gente grande esperando que ele se comportasse como tal mas tratando-o como se fosse criança e pressionando-o para decidir o que queria ser pelo resto da looooonga vida. Complicado!
O melhor naqueles tempos era mesmo inventar doidices e todos os amigos assinarem embaixo. Para mim esse era o espírito da aborrecência: sempre ter parceiros no cometimento dos crimes pois tínhamos certeza que podíamos fazer qualquer coisa e mudar o mundo que, a bem da verdade , já era um lugar imenso e fascinante mesmo antes das mudanças radicais que queríamos fazer nele.(rsrs)
Gostaria de reter enquanto envelheço só um "poucachinho" daquele otimismo e curiosidade desenfreados do garoto que “viajava”, se encantava , saía dos trilhos, desembarcava, desconfiava do p&b e dos pontos nos is, chutava o pau da barraca, virava a mesa e as páginas, não desistia antes de tentar e jamais sabia se gostava ou não antes de experimentar.
Quanto aos puppy loves eternos e platônicos que duravam uma semana confesso que a coisa ficou beeem mais divertida quando passou da teoria à pratica (rsrs) Mas se os "rapazes antigos" não sabiam, os "velhinhos em formação" já aprenderam que, diferentemente do tempo, o amor para valer não sabe passar e teima em ficar à nossa beira apesar dos ventos.
"Até mais"
Olá Moacir,
ResponderExcluirObrigada. Adoro essa música do Milton Nascimento e ela não me veio quando fiz o texto, nem na escrita nem no desenho. Que bom que você me lembrou!
Não se preocupe no envelhecer. Pelo que já li, acho que você carregará sempre sua alma otimista e curiosa e um pouquinho moleca. E isso é muito bom, saudável!
Quanto ao amor pra valer é muito bom e desejado que ele fique apesar dos ventos, mas penso que pode correr riscos e até ficar impossível.
De novo obrigada pelo comentário.
Até mais.