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16/07/2017

Kisa Gotami

imagem www.mygodpictures.com

Antonio Rocha
É uma história muito conhecida das Escrituras Budistas:
Havia uma senhora, chamada Kisa Gotami, que teve um filho e ficou feliz da vida, como a grande maioria de todas as mães. O pai da criança não ligava muito, nem para a mulher, nem para o filho.
Infelizmente a criança morreu, picada por uma cobra no jardim e Kisa ficou desesperada. Tinha muito amor à criança, nem pensou que amanhã ou depois poderia ter outro filho ou filha. Ela simplesmente queria de volta a vida que se foi...
Então, com o filho morto no colo ela saiu de casa chorando e começou a procurar pela cidadezinha onde morava se conheciam alguém que pudesse ressuscitar o menino.
Pergunta daqui, pergunta dali e não encontrava ninguém, até que alguém lembrou:
- Talvez o Mestre Buda, ele tem feito muitos milagres, ele tem ajudado muitas pessoas, ele faz bastante caridade. Quem sabe ele pode lhe ajudar.
- E onde eu posso encontrá-lo? perguntou Kisa, disposta a ir a qualquer canto, onde pudesse devolver vida ao corpinho inerte em seus braços.
- Lá na floresta, você vai encontrar uns ascetas vestidos de manto amarelo. É só perguntar que fácil você chega até o Mestre.
Ela não pensou duas vezes, dirigiu-se a um parque florestal próximo e finalmente chegou até a presença do Bendito, como também era conhecido.
Kisa começou a tremer de emoção, estava diante do iluminado. O seu terrível sofrimento, desenvolveu nela uma percepção extra-sensorial. Via muita luz emanando do Sidarta Gautama. Por isso ela começou a tremer, sentindo que estava diante de uma pessoa incomum.
“Seria um Deus?!”
Pensou em sua dor que a debulhava em lágrimas copiosas.
O Buda estava sentado debaixo de uma árvore, com alguns discípulos em volta. Ela chegou e gaguejando falou:
- Bem aventurado Senhor Buda, por favor, me disseram que o Mestre pode ressuscitar meu filho, que faleceu há pouco tempo.
Então ela colocou o corpo da criança aos pés do Buda, como se fosse uma oferenda e o Mestre respondeu:
- Kisa...
- Como senhor sabe o meu nome?
Um discípulo que estava próximo disse à moça:
- O Mestre tem Onisciência, ele conhece, ele sabe todas as coisas...
E o Buda voltou a falar:
- Kisa... eu posso ressuscitar o seu filho sim, mas tem uma condição...
- Pode falar Senhor, eu faço tudo o que for necessário...
- Você vai sair de casa em casa neste povoado. E vai perguntar, bata nas portas, peça licença, por favor e pergunte se ali já morreu alguém. Pergunte se naquela família tem alguma dor, alguma tristeza, algum sofrimento? E na casa que não tiver nada disso, for só alegria, felicidade e contentamento você me traga uma pequenina semente de mostarda.
- Sim mestre eu vou, disse a mulher já saindo correndo em direção ao lugarejo. E assim foi fazendo, batia aqui, tocava a porta ali, abordava transeuntes, pedestres, gente andando em carroças e o pessoal respondia:
- Não, aqui em casa, a situação está difícil, meu marido está desempregado e nós não sabemos o que fazer...
- Ih! olha, a minha esposa está com uma doença terrível, deitada na cama há meses, e a coisa está dificílima.
- Escuta moça, nós aqui em casa até que tínhamos um pouco de fartura, mas veio uma gangue de ladrões e nos roubaram tudo, vamos ter de recomeçar do zero.
- Alegria? Eu não sei o que é isso... meu marido fugiu com uma mulher mais nova do que eu e agora eu tenho que sustentar sozinha três crianças, qual homem que vai querer me ajudar, já com essa idade?
E quanto mais o tempo passava e as perguntas se sucediam ela ia chegando à conclusão que em todas as casas, todas as famílias tinham problemas... Parou no meio de uma pracinha, fez meia volta e dirigiu-se ao parque aonde estava o mestre. Chorando ajoelhou-se aos pés do Senhor Buda.
- Kisa, enquanto você foi à cidade, nós preparamos a fogueira para incinerar seu filho. Veja ali, vamos fazer uma cerimônia fúnebre, solicitando ao seres de Luz que, na próxima vida o seu filho tenha longa vida.
- Mesmo que em uma próxima encarnação ele não seja meu filho, fico feliz que ele tenha uma vida longa e saudável.
- E ele vai se dedicar à difusão do Caminho do Meio, acredite.
- Sim, acredito, Mestre.
Após as solenes exéquias do menino, Kisa entrou para a Ordem e tornou-se a primeira discípula do Buda.


8 comentários:

  1. Olá Antonio,
    Gostei da sua estória, em certo sentido meio salomônica, que fez pensar muito.
    Sem me olhar no espelho, esqueço e não concordo com a minha idade. Não sou saudosista, vou ficando mais flexível, revendo os conceitos e desmanchando meus preconceitos. E assim me acho mais jovem e feliz. Mas quando leio uma mensagem como a sua me vem, como diz o Quino, 68 anos pelas costas. Porque tenho a impressão de já saber disso tudo, de já ter vivido e visto também outras coisas. Que discussões sobre " de onde vim, para onde vou" não me interessam mais porque o tempo é pouco, e eu quero é viver!
    Estou lendo um livro aubiográfico, ou quase, de uma "chef". E agora nas últimas páginas tenho peninha imensa de terminar. Não porque ela pensa como eu, mas porque ela descreve meus pensamentos tão clara e diretamente como eu jamais conseguiria. Desculpe, acho que isso tudo é conversa de mulher. (Quem sabe você tem alma feminina...O que diz a Heloisa?)
    Entenda se fui aborrecida!
    Bom domingo!Suco para você, chá para a Heloisa e cerveja gelada para mim.
    Até muito mais.

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    1. 1) Oi Ana, sem problemas... vc tem o direito democrático de expressar os seus sentimentos/pensamentos, mas eu não me vejo com alma feminina. Penso que a história de Kisa é universal, serve para todos e todas.Uma das minhas funções é divulgar o Budismo das mais diversas formas...

      2)Só não acho que tenho pouco tempo para viver, pois acredito que a vida é infinita e tem muitos planos e dimensões. Por enquanto estamos na dimensão física, outras virão...

      3)Por favor, depois nos escreva sobre este livro que vc está lendo.

      4)Em nossa idade nós já lemos tudo isso, mas penso que jovens tb devem ler este blog e talvez a história seja boa para refletirem...

      5)Boa cerveja dominical, irei saborear um suco e Heloisa gosta mesmo é de chá.

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  2. Wilson Baptista Junior16/07/2017, 11:13

    Antonio, a sua história budista lembra a história cristã do homem que reclamava que carregava na vida uma cruz muito pesada de problemas e aflições, e se queixava sempre disso em suas orações. Até que um dia Deus lhe disse que fosse a um determinado lugar. Lá ele encontrou uma enorme pilha de cruzes, e Deus disse: escolhe a que quiseres para trocar pela tua. E o homem pegou uma, viu que era mais pesada do que a dele, pegou outra, e outra, e mais outra e não conseguiu achar nenhuma mais leve do que a sua...
    Mas a história de Kisa fala de uma dor que deve ser a maior dor que poderia acontecer a uma mãe ou um pai, e que peço a Deus para nunca experimentar, que é a perda de um filho. Para mim seria difícil acreditar, no lugar da Kisa, que as dos outros fossem maiores...
    Um abraço do
    Mano

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    1. 1) Oi Wilson, as experiências religiosas são parecidas, pois tratam da libertação humana que tb são parecidas em qualquer quadrante.

      2)Eu tb não queria estar na pele da Kisa Gotami.

      3)Abraços de bom domingo.

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  3. Francisco Bendl16/07/2017, 12:32

    Caro amigo Rocha,

    Conheço esse ensinamento de Buda há muito tempo.

    Certamente foi uma das primeiras história que ouvi do Mestre, que usa do mesmo modo como Cristo transmitia seus conhecimentos, as parábolas.

    Mais uma vez foste certeiro na escolha dos contos budistas, pois reconheço a falta de equilíbrio atualmente, ainda mais no que diz respeito à política, onde os ânimos se exaltam facilmente, os meus, então ...

    Um grande abraço, Rocha.
    Saúde e paz, extensivo aos teus amados.

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    1. 1)Salve Chicão... observo que vc tem um lado simpatizante do Budismo e outro do Espiritismo ... eu também...

      2) Logo estamos aí... caminhando por dias melhores... em todas as áreas.

      3) Abraços de boa semana !

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  4. Moacir Pimentel16/07/2017, 17:38

    Antonio,
    Penso que a parábola da Kisa pode ser até eficaz para comunicar a mensagem de que ninguém tem o monopólio do sofrimento mas que não consola. Sabemos que acompanharemos nossos pais à última morada deles mas não é da ordem natural da vida sepultar um filho e nada nos prepara para a dor indizível de tal perda.Tanto que não conheço palavra que defina a situação como a do marido que perdeu a companheira - viúvo - ou a dos filhos que perderam os pais - órfãos. A saudade de uma mãe ou de um pai órfãos de um filho eu não consigo nem imaginar mas sei ela é com certeza o maior dos temores e a mais pesada das cruzes a ser carregada.
    Abraço

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    1. 1)Obrigado Pimentel... realmente uma dor difícil de explicar. Por exemplo,meus pais faziam aniversário no mês de julho, já falecidos, todo ano no mês de julho,penso demais neles e aproveito para agradecer, agradecer, agradecer...

      2)A semana passada perdi um sobrinho neto, que estava sendo muito festejado, veio natimorto...

      3)Amigão... é dor... e preces... e orações ... e abraços ...

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