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Antonio Rocha
Esta é uma história clássica do Zen-Budismo.
Lá na antiguidade havia um grande mestre, muito conhecido pelas suas
preleções dominicais.
Pela manhã o templo ficava cheio e, após a meditação matinal, todos
aguardavam o pronunciamento do professor.
Monges, monjas, leigos e leigas haviam sido informados de que, naquela
manhã o texto sagrado seria algo importantíssimo e todos não deveriam perder a
bênção.
Então, no horário acordado o mestre apareceu em sua simplicidade. Reverenciou
a todos e foi para o púlpito. Posicionou-se na tribuna, abriu o livro de Sutras
e...
No momento preciso em que ia começar a falar um pássaro entrou no salão,
sobrevoou o auditório (naquela época, todos sentados no chão ou em almofadas) e
ficou no alto de uma calha, lá no teto.
O mestre, e todos os presentes seguiram com o olhar o voo do passarinho.
Parecia feliz e começou a cantar, trinar, embelezar com o seu canto maravilhoso
os seres visíveis e os seres invisíveis.
Quando terminou de cantar a ave levantou vôo novamente e foi embora.
O Mestre calmamente fechou o Livro de Ensinamentos. Fez uma longa
reverência e disse:
- O Sermão de hoje já foi dado.
Agradeceu, desceu do púlpito, foi embora e recolheu-se aos seus
aposentos.
Moral da História: O silêncio é um excelente Ensinamento e o canto do
passarinho foi a pequena grande aula dominical.
Diz o ditado, meu caro Rocha, que ouvir é prata e o silêncio é ouro!
ResponderExcluirCertamente o autor desta frase que muitos a repetem, deve ter sido uma pessoa que não sabia se comunicar com as demais, não sabia falar em público, não pronunciava bem as palavras!
Caso contrário, os grandes oradores que enternecem os ouvintes teriam sido sempre rechaçados, jamais teriam tido a fama que mereceram.
Não discuto a excelente oportunidade que teve o mestre junto aos seus seguidores ao se aproveitar do voo da ave para dar o seu recado, pois admito e concordo que, em certos momentos, o silêncio é muito mais forte que o melhor discurso.
No entanto, a generalização pode comprometer a máxima popular, a começar por aquele homem apaixonado pela mulher de seus sonhos, e entender que aproximar-se da musa em silêncio será melhor que ficar calado ao seu lado!
Ou o bebê entender que,se não chorasse, a mãe iria atendê-lo com mais rapidez e eficiência.
Ou, então, que os entendimentos, os diálogos em busca de denominadores comuns seriam desnecessários.
Nem tanto ao céu, nem tanto à terra.
Se somos os únicos animais na face da Terra com aparelho fonador, que nos possibilita falar, tal condição deve ser exercida, enquanto que o silêncio deve ser usado em ocasiões muito especiais, conforme o mestre na púlpito antes de transmitir as suas pregações aos fiéis.
Aplaudo e reverencio, Rocha, mais este belo texto contendo os ensinamentos budistas, e que espero que não consideres o meu comentário como contrário ao que foi dito aos frequentadores do templo.
Eu apenas apresentei o outro lado da moeda, pois na condição de humanos a infalibilidade não é nosso atributo, pois erramos, muito, e devemos levar em conta que são três as verdades:
A minha, a tua, e a verdade propriamente dita!
Um grande abraço, Rocha, meu caro amigo e professor.
Muita saúde e paz.
1) Oi Chicão, é sempre bom ler as suas considerações.Fique à vontade...
Excluir2)Resumindo eu posso dizer que no Ocidente temos uma tradição de falarmos muito e no Oriente é ao contrário.
3)Quanto ao amor, aos romances e paixões eu penso que um simples e silencioso olhar "fala" muito mais do que laudatórias declarações... mas... cada caso é um caso.
4)O silencioso sorrir dos pais, dos avós é perfeitamente entendível pelo recém-nascido, pois não é só a palavra, mas a vibração das Energias que acontece no momento.
5)Abraços Chicão !
1) Obrigado Mano, a postagem de hoje segue aquelas mensagens do Oriente, tipo "uma imagem vale mais do que mil palavras". No caso, um canto, um cântico, um som é tão importante quanto uma preleção.
ResponderExcluir2)Agradeço muito, pois hoje é o aniversário do Dalai Lama, uma pessoa que gosto e admiro muito e uma forma simples de homenageá-lo.
3)Bom fim de semana a todos (as) !
Mestre Antonio, o ensinamento é tanto sobre o silêncio como sobre fazer silêncio para ouvir o canto do pássaro. Porque o canto de um pássaro, como você disse, pode ser tão ou mais precioso do que uma palestra, porque é a expressão pura da natureza de alguma coisa que Deus criou, como deveria também ser a nossa.
ResponderExcluirE atrevendo-me a contradizer nosso amigo Chicão, quando se diz que a palavra é de prata e o silêncio é de ouro é porque para saber falar é preciso primeiro saber ouvir; só tendo ouvido se é capaz de compreender aquilo de que se quer falar, ou perceber que é melhor não falar.
Um abraço para os dois, do Mano
Meu caro Mano,
ExcluirDe modo a fortalecer a minha opinião que, assim como o silêncio, a voz é também muito importante, na maioria das vezes muito mais necessária, a deficiência da fala seria então um atributo!
Também em minha defesa, se pela primeira vez estamos diante de alguém e não houve antes qualquer diálogo, faz-se necessário dar início à conversa, ao que se deseja transmitir.
Depois, no desenrolar deste diálogo, as devidas pausas para que se possa ouvir o interlocutor, pois se dois bicudos não se beijam, dois calados não se entendem.
Aliás, neste aspecto, resgato o telefone, que seria absolutamente inútil neste particular e, no entanto, indiscutível é a sua utilidade!
Particularmente vejo com reservas certos conceitos, principalmente este que aborda o silêncio como fundamental, como sinônimo de inteligência, de sensatez quando, na verdade, um indivíduo muito esperto e de limitadas palavras deve ter criado este estratagema que tem tido seus seguidores ao longo do tempo!
Indiscutivelmente que devemos rejeitar o conversador, o falador, que somente profere bobagens e não diz nada com nada, mas eu jamais colocaria o mutismo à frente do som, pois desnecessário eu afirmar sobre o poder das palavras, da ênfase nos discursos, no enternecimento e suavidade das vozes, e nas declarações de amor.
Ou haveria gesto maior que pudesse competir com a declaração à mulher amada que, EU TE AMO!?
Ou a um filho?
Evidente que tu poderias me contestar com um abraço, mas a pessoa ouvir que é amado tem um significado transcendental.
E por que não valorizar o fala, o som, a voz?
Sinceramente, que mundo mais sem graça e as pessoas da mesma forma, se não houvesse o diálogo, a conversa, a discussão, o debate. E como seria um tribunal de júri?
Como que um cirurgião poderia operar, se não solicitasse à enfermeira os instrumentos que necessita durante a operação?
Observa que a Natureza é tão sábia, que mesmo uma criança que nasce com a deficiência da fala, o seu choro é ouvido pela mãe!
Imagina se até esta maneira que uma criança recém nascida se comunica, o choro, ela não o tivesse?!
Pobre mãe!
Imagina se não tivéssemos o som das vozes de cantores e cantoras?!
Um estádio de futebol repleto e ... em silêncio, sem o som ensurdecedor das torcidas e quando o time da preferência faz um gol?!
E, por favor, Mano, aproveito as tuas próprias palavras para enfatizar este comentário, quando escreveste:
"Porque o canto de um pássaro, como você disse, pode ser tão ou mais precioso do que uma palestra, porque é a expressão pura da natureza de alguma coisa que Deus criou ..."
Wilson, meu caro amigo, OUVIR O CANTO DE UM PÁSSARO, portanto não o silêncio da ave, mas o seu som, a sua manifestação. Ora, por que a voz humana não teria esta mesma importância?!
Aliás, não consigo também imaginar como Jesus Cristo teria deixado Seus ensinamentos, todos à base de parábolas que transmitia a seus discípulos! E como seus apóstolos sairiam pelo mundo pregando o Evangelho, e também como Buda teria comunicado a seus fiéis os seus conhecimentos, se não usassem a voz, o som, com mais ou menos ênfase aos recados deixados!
Tenho predileção por temas que possibilitam o contraditório, a exposição de argumentos, as alegações de cada interlocutor, em consequência, sei que entendes eu voltar a este tema e te responder as questões que discordaste de mim, de modo que eu pudesse realçar melhor as minhas ideias, pensamentos e conceitos sobre o silêncio em confronto com o som.
Finalizo, salientando a alegria de uma casa quando existe o "barulho" de crianças brincando, gritando, correndo, berrando, pedindo, chorando, no lugar de um ambiente soturno, silencioso, quieto.
Um forte e fraterno abraço, Mano.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.
Amigo Chicão,
Excluirlonge de mim fazer pouco da palavra, mesmo porque se fosse assim eu não teria criado um blog, que é lugar para a palavra escrita...
O uso pleno da voz é uma das características para medir o avanço da evolução de uma espécie, e a comunicação é indispensável à nossa vida.
Por outro lado, o silêncio é o retrato da concentração, da paz interior, da meditação, um dos caminhos para a sabedoria.
E quando o ditado diz que a palavra é de prata e o silêncio é de ouro, de modo algum quer diminuir a palavra, mas quer mostrar que a palavra deve ser expressão do pensamento, e não palavra vã.
Mark Twain disse uma vez, exprimindo a mesma idéia, que "é melhor ficar calado e passar por tolo do que abrir a boca e dar aos outros a certeza disso" (mais ou menos isso, não tenho a memória fotográfica do nosso amigo Moacir). E, do mesmo modo que já me arrependi de ter ficado calado, já me arrependi de ter falado demais.
Mas por nada desse mundo eu gostaria de deixar de ouvir a tua, como bem diz a Ana, "voz de trovão". Faz bem à alma.
Um abraço do
Mano
1)Valeu Mano. Concordo com o seu ponto de vista.
ResponderExcluir2) Abraços Zen !
Olá Antonio Zen,
ResponderExcluirMais vale um canto de pássaro do que muito sermão! E o importante é saber quando e como usar isso. É o que fez o seu Mestre.
Até mais sempre.
1)É isso aí, digníssima Ana. Vc disse tudo, o Mestre percebeu que, naquele momento de beleza, qualquer palavra não iria captar o encanto do pássaro: en-canto...
ResponderExcluir2) Sermão, às vezes lembra Falação, chateação.
3)Abraços Zen !
Antonio,
ResponderExcluirAtrasado - me desculpe - noto que os comentários homenagearam a moral da sua história e nela a pretinha que você teclou uma única vez: silêncio. Mas qual silêncio: o humano ou o divino?
Dia desses assisti um filme chamado "Silêncio" do Martin Scorcese sobre um padre apóstata que após alguma tortura japonesa abraçara o budismo e cuja mensagem talvez seja como é duro, às vezes, lidar com o silêncio de um Deus que não intervém. Tipo :
Meu Pai, por que me abandonaste?
O silêncio enquanto "ensinamento" talvez more um pouco nas palavras de Simon & Garfunkel que juravam de pés juntos na nossa juventude que "as palavras dos profetas são sussurradas nos sons do silêncio" ou - quem sabe? - no canto do passarinho já que a música é, na verdade, o intervalo silencioso que rola entre duas notas.
De qualquer forma e à parte crenças e filosofias não é moleza enfrentar os silêncios - principalmente o dos justos! - e neles encontrar sentido e significado tanto que finalizo apostando em um poeta mineirim:
"Mesmo no silêncio e com o silêncio dialogamos."
Tomara! e um bom final de semana para você
1)Moacir, não tem atraso nenhum, cada momento é o momento...
ResponderExcluir2)Gostei da citação do mineirim !
3)Bom fim de semana !