Moacir Pimentel |
Moacir Pimentel
Depois da luz e da cor o visitante mediunizado pelas belezas da Sagrada
Família se espanta com o tamanho do templo, com aquelas abóbadas altíssimas e
com uma impressionante variedade de colunas que foram concebidas, de caso
pensado, para parecer com árvores crescendo inclinadas dentro da Basílica.
Como já vimos na conversa anterior, na Sagrada Família a luz natural
penetra e mistura-se com as luzes elétricas de última geração, dando a
impressão de que os raios do sol furam o dossel de uma floresta. Tudo contribui
para uma sensação de que, embora se esteja dentro da igreja, pode-se facilmente
imaginar estar do lado fora, em uma selva branca rodeada por algumas das mais
intensamente coloridas janelas de vitrais que já se viu.
Gaudí nesse projeto usou e abusou da luz natural em uma das exibições
mais impressionantes que eu já vi. Muito mais do que a cor proporcionada pelos
materiais de construção utilizados tais como os diferentes tipos de pedra e
azulejos nas abóbadas, pelos muitos detalhes simbólicos coloridos nas colunas e
capiteis e claraboias e vidros, é a luz do sol que dota o interior da Sagrada
Família de vida harmoniosa e acentua a plasticidade da nave e, acima de tudo,
conduz à introspecção.
Também as colunas ramificadas, além de ter uma função estrutural,
convidam à oração e à celebração da fé.
A pergunta que não quer se calar é: “ISSO
é realmente Gaudí?”
Essa igreja conservou a cara do grande arquiteto catalão que ajustava
seus edifícios à medida que eles avançavam, modificando detalhes em resposta às
pedras incomuns que lhe traziam das pedreiras?
Eu acho que é uma excelente interpretação de Gaudí. A sua visão genial é
visível em todos os elementos e segmentos da Sagrada Família. Prestaram atenção
a cada detalhe dos croquis, esboços, maquetes sobreviventes do seu trabalho e
exatamente como fazia o mestre integraram perfeitamente esculturas, vitrais,
cerâmica e outros artesanatos na arquitetura grandiosa.
É claro que desde 1882 o trabalho que vem sendo realizado na Sagrada
Família prossegue. E realmente não mais estamos diante da imaginação de um só
singular e genial arquiteto religioso, mas do esforço de várias gerações
determinadas de profissionais dedicados.
O certo é que Gaudí estava muito à frente de seu tempo e que aqueles que
criticam a Sagrada Família fazem isso em grande parte porque se recusam a ver
além do inusitado de suas formas ricamente decoradas e aparentemente
arbitrárias. Se rasparmos a superfície, entretanto, esse assombroso edifício
confirma ser uma proeza, uma incrível exibição de força, habilidade e
engenhosidade, de matemática altamente sofisticada e de engenharia estrutural
avançada.
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Para criar seus arcos e tetos que são, ao mesmo tempo, elegantes e
estruturalmente muito fortes, em vez de fazer desenhos tradicionais Gaudí criou
um suporte de alvenaria para um complexo conjunto de correntes suspensas e
penduradas pra poder estudar a matemática dessas curvas chamadas de catenárias,
da palavra latina para catena ou corrente.
As curvas catenárias do arquiteto eram as formas que as correntes
tomavam quando ele as suspendia pelas duas extremidades e, em seguida,
deixava-as cair naturalmente sob a força da gravidade. Olhando para um espelho
no chão, ele desenhava os arcos e colunas de seus projetos à imagem e
semelhança do reflexo das correntes no espelho
O método altamente inovador e baseado na teoria da reversão da catenária
foi chamado por ele de “o modelo pendurado”. Gaudí simplesmente entendeu que a
forma da catenária de cabeça para baixo era perfeita para um arco de alvenaria
de pedra de cabeça para cima. Simples assim.
Imagens Wikimedia / Moacir Pimenel |
Esse sistema de correntes resultou nas linhas para suas colunas, arcos,
paredes e abóbadas e assim ele obteve a forma absolutamente precisa e exata da
estrutura da Sagrada Família, sem ter realizado nenhuma operação de cálculo e
sem possibilidade de erro.
O interior concebido por ele para a Sagrada Família é um delírio formado
por inéditas colunas arbóreas inclinadas e abóbadas baseadas em hiperboloides e
paraboloides buscando sempre a forma da catenária. Um método descomplicado,
intuitivo e elementar que permitiu a Gaudí obter formas equilibradas muito
semelhantes às que existem na natureza.
Hoje os seus projetos são concluídos à luz do design espacial e de
técnicas paramétricas de modelagem computacional. Em uma época na qual as
pedras do templo são cortadas por máquinas computadorizadas não deixa de ser
humilhante que o arquiteto fosse capaz de elaborar modelos matemáticos
tridimensionais complexos em sua mente, usando apenas a intuição. Um milagre
arquitetônico.
Gaudí era de opinão que o gótico era imperfeito, porque as suas formas
retas, o seu sistema de pilares e arcobotantes não refletiam as leis da
natureza que, segundo ele, é propensa às formas geométricas regradas, como são
o paraboloide hiperbólico, o hiberboloide, o helicoide e o conoide.
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Antigamente quando eu ouvia um destes palavrões - paraboloide
hiperbólico, hiberboloide, helicoide e conoide - ficava cismado e encolhido na
minha insignificância e envergonhado de confessar que não fazia a menor ideia
do que fossem.
Hoje já consigo fazer uma elementar tradução: são apenas formas
abstraídas por Gaudí da natureza - em juncos, árvores, ossos, conchas etc -
depois traduzidas para o desenho das colunas, abóbadas e elementos geométricos
que se entrecruzam na estrutura da Sagrada Família, sem o uso de contrafortes
góticos.
A forma helicoidal, por exemplo, é universal. Ela mora em todas as
formas de matéria, da estrutura microcósmica atômica à estrutura molecular do
DNA e à forma espiral macrocósmica das galáxias. Após o estudo cuidadoso da
estrutura de esqueletos de animais, plantas ou conchas, Gaudí encontrou novas formas
que adotou como guias, depois de cálculos matemáticos provarem que eram
adequadas para seu propósito. Como as suas escadarias na forma da espiral
logarítmica presente nos fósseis de conchas jurássicas.
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Ele aplicou nas colunas a forma dos troncos do eucalipto ou do
castanheiro, afirmando que as colunas teriam sido muito provavelmente, na sua
origem, inspiradas pela forma das árvores que crescem do mesmo jeito. Gaudí
idealizou todas as colunas da Sagrada Família usando este modelo helicoide que
ele associava ao movimento.
Já as formas dos ossos humanos - tíbias e fíbulas e fêmures - são
hiperboloides e foram usadas por ele nas fachadas da Sagrada Família.
Paraboloide hiperbólica é a forma dos nervos entre os dedos, que o arquiteto
aplicou em suas criptas e que associava à luz . E last but not least conoide é forma mais frequente das folhas das
árvores que o arquiteto usou e abusou por todos os lados.
Gaudí, para quem a Caverna do Salitre em Collbató foi uma das fontes de
inspiração, dizia que não existe melhor estrutura do que um tronco de árvore ou
um esqueleto humano, formas ao mesmo tempo funcionais e estéticas, que empregou
adaptando a linguagem da natureza às formas estruturais da arquitetura,
aproveitando as suas qualidades estruturais, acústicas e de difusão da luz.
Com o passar do tempo, à medida que o trabalho de Gaudi se desenvolveu,
a influência das formas naturais tornou-se mais perceptível em suas construções
maiores. Ele não mais as aplicava só decorativamente, como fazia em seus
prédios primordiais, mas em estruturas criadas para resistir ao vento e ao
clima e ao tempo como as torres da Sagrada Família, cujas curvas seguem
fórmulas matemáticas semelhantes.
Olhe para a abóbada que coroa o interior da nave da basílica. Ela não se
assemelha a uma floresta densa de árvores com luz solar brilhando através dos
troncos e galhos?
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Gaudí esperava que pudéssemos vê-la assim. Tudo o que ele projetou foi
abstraído do seu entorno, segundo suas próprias palavras, vinha “do Grande
Livro da Natureza”. Seus livros didáticos eram as montanhas e grutas que ele
adorava explorar.
As colunas-árvores da Sagrada Familia têm sistemas de ramificação, os
seus galhos se espalham cada vez mais finos imitando o crescimento
tridimensional das árvores, que acompanham a necessidade biológica de ocupar
espaços livres sem sombras.
Foi isso que Gaudí fez: criou uma estrutura ramificada que faz ótimo uso
da superfície disponível ao dividir suas colunas ramificando-as como as árvores
e dividindo-as em vários ramos em determinadas alturas. Cada ramo de uma
coluna-árvore e a própria coluna só suportam uma seção particular da
superestrutura, direcionados para o centro de gravidade da seção da abóbada que
tem que suportar.
Pelo conjunto de elementos aplicados nas colunas - inclinação, forma
helicoidal, ramificação em várias colunas menores etc, etc - o arquiteto
conseguiu uma simples forma de suportar o peso das abóbadas sem necessidade dos
contrafortes exteriores dos tempos góticos.
Na realidade, por mais que tentassem seus continuadores não conseguiram
juntar os fragmentos restantes dos modelos arquitetônicos de Gaudí da Sagrada
Família usando a geometria, até que a ficha caiu e – fiat lux! – compreenderam que a sua imaginação matemática
excepcional estava enraizada em fenômenos naturais e que ele fora beber na
fonte das formações rochosas das montanhas.
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Gaudi era um homem de idéias simples e de senso comum e na sua
arquitetura se fundem a estrutura e a decoração. Ele claramente aceitou a
natureza como seu guia. Todos os aspectos de seu trabalho demonstram isso: que
não copia a natureza mas compreende a sua geometria e seus princípios e estuda
a sua infinidade de formas.
Ele estudou as leis da estática e da dinâmica, as estruturas naturais da
composição fibrosa - como juncos, bastões e ossos - interessado principalmente
nas forças internas da natureza, que se expressam na superfície. Isso pode ser
contemplado nas suas colunas inclinadas e nas paredes entortadas que suportam
tantos tetos estranhos.
Se a natureza sempre trabalha procurando soluções funcionais sob a
inexorável lei da gravidade, ele foi muito sábio ao estudar as estruturas
naturais que durante milhões de anos tiveram uma operação perfeita. Conhecendo
a essência dessas estruturas, Gaudi simplesmente levou-as para o mundo da
construção.
Por outro lado, as colunas do interior do templo têm variada simbologia
– que os medalhões brilhantes decodificam - e representam os apóstolos, os
evangelistas, cidades e até continentes, os bispados da Catalunha, os
padroeiros de cada diocese e por aí vai.
Gaudí desenhou uma planta em cruz latina muito comum nas igrejas
monásticas dos beneditinos medievais e naquelas românicas do Caminho de
Santiago. O templo tem - por enquanto! - um altar encimado por um relevo da
Sagrada Família sobre uma cripta rodeada por doze capelas, sendo que sete delas
dispostas em forma de rotunda e cinco em linha reta.
O arquiteto está sepultado na capela de Nossa Senhora do Carmo sem muito
alarde, talvez em respeito a sua personalidade arredia. O túmulo de Josep Maria
Bocabella, o construtor, se encontra na capela do Santo Cristo.
Desse altar brotam cinco naves de noventa metros de comprimento, e um
cruzeiro de três naves de sessenta metros cada. A igreja tem quarenta e seis
metros de altura nas abóbadas da nave central e trinta nas laterais. Já a
abóbada da torre central a ser erguida chegará aos sessenta metros. Tudo isso
em uma zona edificada de quatro mil e quinhentos metros quadrados com
capacidade para receber quatorze mil fieis e mais de dois mil cantores no coro.
Mora no templo ainda uma abside – uma abóbada semicilíndrica sobre a
qual será erguida a torre da Virgem Maria - que contém uma profusa decoração
escultórica onde se destacam as estátuas dedicadas aos santos fundadores de
ordens religiosas como São Bento, São Francisco de Assis e Santa Clara, os
monogramas de Jesus, Maria e José, em meio a narcisos, lírios e outros
elementos como ervas, trigo, gárgulas, cobras, lagartos, salamandras, dragões e
sapos espalhados pelos pilares e laterais das capelas.
Pode ser difícil para aqueles com uma decidida preferência por linhas
retas e pela estética minimalista apreciar esta façanha absolutamente brilhante
de construção imaginativa, mas a Sagrada Família inspirou o trabalho de alguns
dos melhores engenheiros e arquitetos do mundo ao longo do século passado como,
por exemplo, Oscar Niemeyer.
A data da conclusão da Sagrada Família tem sido por muito tempo
nebulosa, uma questão de conjectura ao invés de fato. Em 2013 dois terços do
edifício monumental estavam concluídos e o prognóstico era o de que a Sagrada
Família estaria concluída em 2026, cento e quarenta e quatro anos após o início
da sua construção, no centésimo aniversário da morte de Gaudí.
Não sei se Gaudí teria concordado com essa data mais ou menos
estabelecida para a conclusão da Sagrada Família. Ele era um homem que há muito
havia engolido sua vaidade juvenil e enterrado seu orgulho.
Num mundo em que, cada vez mais, a arquitetura tornou-se uma forma de
publicidade e de design de produtos como vistosos “ícones” que são construídos
em poucos meses como se isso fosse uma virtude, a saga da basílica de Gaudí nos
ensina a lição da paciência.
A arquitetura que vale a pena, seja uma casa ou uma catedral, tem suas
estações. A arquitetura real, verdadeira e bela ao serviço do nosso espírito e
dos nossos sentidos, bem como das nossas necessidades quotidianas é o resultado
final de criadores satisfeitos e não de gestão de prazos e de consumidores
insatisfeitos.
A construção vagarosa da Sagrada Família permitiu que novos talentos com
novas habilidades se unissem para completar a obra-prima de Gaudí, e ao tomar a
estrada lenta a Sagrada Família abraçou as habilidades, inteligências e ofícios
de gerações sucessivas.
Ao fim e ao cabo Antoni Gaudí em vez de um edifício terá criado uma
experiência de construção. Começou um processo que continuará por muito tempo
ainda e é uma espécie de educação ética e imaginativa. Não existe no vasto
mundo outro prédio como esse, no qual a colocação de cada pedra, de cada
escultura, de cada detalhe por artesãos modernos intuitivamente tentando
perseguir os planos de Gaudí, é um ato sagrado e reverente.
Quando a pedra final for posicionada, a Basílica será o lugar de oração
mais estranho e possivelmente o mais controverso jamais construído em uma
escala tão épica e o Templo Expiatório da Sagrada Família continuará a
assombrar a imaginação das gerações vindouras que poderão vir a conhecer o
arquiteto como Santo Antoni Gaudí.
Há muito tempo que estamos familiarizados com as torres e fachadas da
Sagrada Família, o modo como o edifício entra em erupção no horizonte de
Barcelona, atingindo os céus. Quando estiver pronta essa floresta petrificada
emocionante de luz, cor e pedra mostrará ao mundo que a sua modernidade está na
maneira como Gaudí internaliza o que normalmente é deixado de fora - plantas,
animais, natureza – e coloca no exterior o que geralmente está confinado dentro
das paredes de uma igreja: retábulos e esculturas narrando a história da
cristandade.
Viveremos para ver a Sagrada Família terminada, teremos a chance de
voltar a Barcelona para ver todas as belas torres levantadas?
Simplesmente lindo, Moacir! Quem leu seus artigos pode dizer que conheceu a Sagrada Família por dentro e por fora. E eu descobri que não posso avaliar a fruta só de olhar pra casca kkk Não tenho palavras para lhe agradecer por compartilhar tantas coisas maravilhosas com a gente como o vídeo e as músicas de arrepiar. Mil vezes obrigada!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirOlha que o grande Machado de Assis, pelo menos quanto à Capitu, dizia que a casca tinha muuuuito a ver com a fruta (rsrs) Fico satisfeito que você tenha perseverado na leitura e , ao fim e ao cabo, apreciado essa loooonga "franquia" da Sagrada Família. Penso que a arquitetura é uma fonte de histórias magníficas para serem imaginadas e construídas e "conversadas".
E já que escrever para mim é como estar no recreio, compartilhar com vocês fotos, aprendizados e bytes de memória sobre esse Templo ímpar foi bom demais. Obrigado pela presença sempre simpática.
Abração
Olá Moacir,
ResponderExcluirLi com fome de saber. E entendi porque quando vi as primeiras fotos da Sagrada Família o que me vinha eram lembranças de coisas do mar, ossos e bichos.
Com os palavrões, mesmo com a sua tradução, me senti meio burrinha.
Fantástico! Os dois.
Até mais.
Caríssima Donana,
ExcluirSaber que a senhora leu um texto meu com "fome de saber" me deixa flutuando a meio metro do chão. Quanto à tradução dos palavrões metidos à besta a senhora releve – é que eu costumava matar as aulas de geometria! - mas, por favor, para tirar quaisquer dúvidas dirija-se à Redação (rsrs)
Estou contente de terminar mais uma franquia e espero ter sido capaz de passar adiante um poucachinho pelo menos da estranha beleza dessa construção.
Mas quem será capaz de "traduzir" Gaudí, sem trair suas coisas orgânicas e cheias de curvas, ou sua imaginação doida de pedra, ou o imenso e místico trabalho baseado na observação da natureza e do ser humano? Como explicar que ele imaginou a sua igreja como a montanha de Montserrat do lado de fora e como uma floresta do lado de dentro? Não tem como. Mas vale a pena errar tentando fazer justiça a um criador que detestava as coisas "perfeitas" e jurava de pés juntos que “a linha reta é uma invenção do homem pois a natureza não nos assombraria com nada tão monotonamente uniforme”. (rsrs)
“Até mais”
Moacir,
ResponderExcluirVocê fechou a série da Sagrada Família com chave de ouro. As explicações sobre as estruturas são muito interessantes e o vídeo é simplesmente emocionante. Parabéns.
Destaco uma das suas observações:
"A modernidade está na maneira como Gaudí internaliza o que normalmente é deixado de fora - plantas, animais, natureza - e coloca no exterior o que geralmente está confinado dentro de uma Igreja : as esculturas narrando a história da Cristandade."
Que Deus proteja o Templo contra todos os ódios nestes tempos atribulados.
Um abraço para você
Flávia,
ExcluirO fato indiscutível de Gaudí ter internalizado a natureza e exteriorizado a história da cristandade , a priori me fez cogitar se não teria ele estabelecido uma espécie de hierarquia, se não guardara no coração do Templo os ensinamentos pelos quais tinha maior apreço: aqueles do “Grande Livro da Natureza”.
Mas sucede que o arquiteto acreditava que a natureza é obra do Criador, que as formas arquitetônicas derivavam da natureza e que o trabalho do Criador deveria ser continuado através do homem. Ou seja, Gaudí depositou nesse interior a sua oferenda: o seu melhor e inédito trabalho de criação.
Sim que Deus proteja o Templo contra os vândalos com uma mãozinha da polícia, é claro!
Outro abraço para você
A Sagrada Família é uma obra mundial, logo, de todos nós, independente se cristãos ou não, crentes ou não.
ResponderExcluirNeste aspecto, de catedrais e basílicas monumentais, o Catolicismo é inigualável neste patrimônio que pertence à espécie humana, e que precisa ser preservado e enaltecido tanto pela beleza da arte empregada e na sua construção, quanto a homenagem que se faz a Deus, a importância da fé, do culto, da religião professada.
E tais obras se revestem mesmo de importâncias que transcendem à compreensão porque elas não pertencem a ninguém, não existe quem as herda, quem fica como seus proprietários depois de um certo período.
Os magníficos prédios religiosos ficam como marcos no tempo, símbolos de eras, de movimentos, de desenvolvimento da humanidade e até mesmo como exemplos onde a incompreensão e a intolerância predominaram, como no caso da Inquisição.
Essas obras grandiosas ultrapassaram séculos inteiros, e estão a nos dizer que permanecerão em pé por mais tempo ainda, pela resistência de suas paredes, profundidades de seus alicerces e abóbodas que desafiam a gravidade.
A Sagrada Família representa o que aleguei acima, e também a criatividade humana no seu apogeu, a competência do construtor, a mão de obra empregada de grande qualidade, e gosto refinado na sua decoração interna, e o significado de cada parte do templo.
Aplaudo o Pimentel por nos trazer esta homenagem ao ser humano e à fé, representados por esta obra ímpar neste particular, que está encantando a todos nós, ainda mais com os detalhes que nos são informados pelo autor, invariavelmente um mestre em artes que o blog, Conversas do Mano, nos coloca à disposição!
Um forte abraço.
Saúde e paz, Pimentel.
Bendl,
ExcluirComo colecionador de artigos e fotos das grandes catedrais góticas da humanidade que você é, tenho certeza de que já se perguntou como raios a Sagrada Família, no século XIX, conseguiu ficar de pé sem a ajuda daqueles arcobotantes e contrafortes nossos velhos conhecidos, que – verdade seja dita! – bem que parecem aparelhos ortodônticos das belas catedrais. Que jamais foram as mesmas depois que Gaudí sacou e usou e abusou dos arcos da catenária que dispensavam muletas. A Sagrada Família é um marco na arquitetura por causa das suas novidades estruturais que promoveram uma revolução na concepção e construção dessas maravilhas. Aplausos para o Mestre Antoni Gaudí e obrigado pelo comentário.
Outro forte abraço
Muito bom. É no interior da igreja diante do tamanho e da altura da estrutura toda, do esqueleto da construção que a ficha cai e se entende que este edifício é o resultado do trabalho de uma brilhante mente matemática.
ResponderExcluirMárcio,
ExcluirO cara era um experimentador de nascença, dotado com uma imaginação transbordante e com a mania de observar o seu entorno e tais qualidades aliadas à mente brilhante fizeram-no chegar a soluções simples para criar ambientes radicalmente novos, onde a arquitetura se transformou, pela primeira vez, em sensações. Não sei se será santo mas com certeza Gaudí foi gênio. Obrigado por participar.
Moacir, sua série sobre a Sagrada Família foram seis posts (e não haveria como ser menos) com uma belíssima descrição dessa obra que, além de imensa, é enormemente complexa. Assim como os construtores medievais das grandes catedrais construíram na terra a imagem do que significava para eles o céu, onde a pedra exprimia o caminho da alma para Deus, Gaudí lançou as fundações da sua expressão da mesma coisa no seu tempo.
ResponderExcluirVou passar por cima das excelentes descrições e das suas belas fotografias, que com toda a certeza despertam nos leitores, tenham ou não visitado a igreja, novas visões e novas compreensões. Vou dizer apenas que tive a oportunidade há alguns anos, junto com a Ana, de visitar uma exposição no MASP dedicada à formulação das obras do arquiteto catalão, e nela me impressionaram particularmente as maquetes que lhe permitiram visualizar e transformar em realidade as curvas, ao mesmo tempo matematicamente complexas e naturalmente simples, que ele transformou na incrível estrutura que hoje seus sucessores procuram terminar.
Os "palavrões", como você as chamou, eram minhas velhas conhecidas das geometrias analítica e descritiva, onde outrora eu soube calcula-las, medi-las e desenha-las, mas ver a sua inspirada transformação nas maravilhosas colunas e volutas que suportam as abóbadas foi uma revelação. Só um espírito capaz de olhar com os mesmos olhos para a matemática e a natureza teria sido capaz dessa síntese.
Eu nunca estive na Sagrada Família, minhas viagens não me levaram a Barcelona, mas depois dessa série me sinto um pouco como se tivesse visto essa maravilha. Obrigado por isso.
Wilson,
ExcluirAcho que a Sagrada Família nos mostra algumas das mais belas estranhezas - e palavrões- jamais concebidos (rsrs) Como você também considero muito importante ao menos tentar comunicar como esse homem brilhante trabalhava nos bastidores, como ele possuía a visão geral mas a perseguia e concretizava exaustivamente nos mínimos detalhes. É diante das maquetes e modelos pendurados e de arames que a gente entende como ele tão simples e genialmente, por exemplo, revolucionou o arco gótico e viabilizou os seus delírios verticais.
Porém do seu comentário me chamou a atenção o seu entendimento de que “só um espírito capaz de olhar com os mesmos olhos para a matemática e a natureza teria sido capaz dessa síntese.” Pensando bem talvez você e o arquiteto, devido às respectivas formações, enxerguem do mesmo jeito a santa geometria “nas maravilhosas colunas e volutas que suportam as abóbadas”. Mas a sua colocação também nos soletra que a obra de Gaudí foi o ponto de encontro da imaginação com a realidade. As suas pretinhas traduziram muito bem a visão holística, o sonho e a função, a expressão da utopia e do instrumento.
Contemplando os trabalhos dele percebo uma profunda coerência, entendo que o seu ofício era a maneira dele ver, pensar e questionar o mundo e o seu lugar nele. De fato, a forma como Gaudí construiu reflete além da fé o jeito como ele viveu : sem parar de criar e de elaborar novas propostas, como por exemplo as modificações “em seguidinho” da própria forma catenária que ele cometeu diferentemente em diversas obras.
Obrigado pelo rico comentário, pelo espaço e pela paciência.
Abraço
Pimentel,
ResponderExcluirNão consigo pensar em mais nada sobre o seu belo ensaio da Sagrada Família que os colegas que comentaram antes de mim já não tenham dito. Só faltou a nota: é dez!
Sampaio,
ExcluirMuito obrigado pelo evidente exagero e pela generosidade, essa sim, nota dez.
Um excelente final de semana para você e os seus
1) De fato, estas colunas e torres nos lembram uma bela e multicolorida floresta, mediante os raios do sol.
ResponderExcluir2) Parabéns `Pimentel !