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16/10/2017

Peripécias de quem não tem celular

imagem Wikimedia

Antonio Rocha
Tenho o maior respeito pelos que usam celular, reconheço que é uma ferramenta muito importante, mas no meu caso e no de Heloisa não precisamos do telemóvel, como dizem os nossos queridos patrícios portugueses.
Quase que diariamente as operadoras, as teles e não sei mais o que, ligam para o nosso fixo, oferecendo mirabolantes planos para comprarmos dois celuloides (às vezes eu chamo assim) e diminuir a conta do fixo.
O fixo está em nome da Heloisa e quando respondo que ela não está, e não estava mesmo, dessa vez um rapaz inquiriu:
- O Senhor é parente dela?
- Sim, sou o marido.
- Então o senhor também responde pela conta?
- Respondo, até porque a conta está em débito automático na minha conta bancária.
- Bem... o senhor já conhece os nossos planos não é?
- Sim amigo, eu conheço e já sei que você vai me oferecer mundos e fundos para diminuir a nossa conta mensal do telefone fixo, em troca de comprarmos dois celulares...
- Isso mesmo...
- Acontece que nós não gostamos de telefone celular, nós não temos telefone móvel.
- Mas o senhor nunca teve?
- Olha, a Heloisa nunca teve. Eu tive há mais de vinte anos, daqueles primeiros que eu chamava de “patacão” e que pendurávamos na cintura. Eu tinha um por causa da firma em que eu trabalhava. Tempos depois ele quebrou, consertei uma vez. Quebrou de novo, consertei a segunda e na terceira o balconista me informou que não tinha mais peça de reposição. Como eu tinha saído dessa firma, aproveitei e desisti de ter o tal celuloide.
- E não sentem falta?
- Não sentimos falta de nada. E se algum parente ficar doente depois ficamos sabendo e pronto.
- Mas se for uma emergência?
- Qual é o problema? Se eu cair na rua, se eu desmaiar, ué, a ambulância me leva para o Hospital. E se não levar e eu morrer, faz parte da existência, todo mundo vai morrer um dia.
- Olha, tô achando legal viver assim. Mas então vocês dois têm absoluta confiança um no outro?
- Claro amigo, somos casados há mais de quarenta anos...
- Porque hoje em dia, muita gente tem celular por motivos de ciúme, fica vigiando a outra pessoa: “Onde é que você está?”, “Por que não me respondeu na chamada anterior?”, “Vai chegar que horas?”, “Essa voz que eu estou ouvindo aí do lado, é de quem?”... na verdade ... um saco !
Percebi que o funcionário do telemarketing queria conversar algo de sua vida, ou de pessoas conhecidas...
- Olha, observo que muita gente que tem celular, reclama que é uma dependência, no fundo queria se libertar dessa obrigação de ter o referido.
- Concordo... – falei.

- E tem um agravante, li outro dia no jornal, aqui no Rio, a cada quarenta minutos um celular é roubado, furtado, sequestrado etc... logo, a pessoa compra a tal facilidade, mas acaba virando um transtorno, uma ameaça à segurança, uma dificuldade. Quando roubam precisamos ir na delegacia, registrar a queixa etc, haja estresse.

8 comentários:

  1. Francisco Bendl16/10/2017, 12:48

    Rocha,

    Tenho um celular que, de tão antigo, funciona à manivela ou tem que esquentar antes de liberar a linha!

    Também rejeito as propagandas dos novos, que acompanham até sensores sexuais, que acusam se o dia está propício para o sexo ou não!

    Desta forma, o meu não tem teclas, tela, não é smart ... só permite eu me comunicar e receber chamadas.

    Ora, na razão direta que até pouco tempo atrás vivíamos muito bem sem celular, a minha limitada mente não registra esta necessidade premente hoje em dia de se ter um celular como se fosse o motivo de nossas existências!

    E tenho um "telemóvel", pelo fato de quando vou à capital do RS posso me comunicar com a esposa, caso ela precise de algo ou queira me passar um recado ou coisa que o valha.

    Tô contigo, Rocha, nesta empreitada de resistirmos certos avanços eletrônicos, uma espécie de controlador de nossos movimentos e do nosso dia a dia.

    Um grande abraço.
    Saúde e paz.



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    1. 1)Salve Chicão, reconheço que o celulóide é muito importante, mas descobri um jeito ótimo de sobreviver sem o mesmo e vou contar em um próximo artigo.

      2)Pode ser até um certo comodismo, gosto de andar livre na calçada, sem um "celumóvel" me caçando.

      3)Abração !

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  2. Moacir Pimentel16/10/2017, 12:53

    Antonio,
    Acho que o celular foi uma benção profissionalmente falando. Não consigo imaginar , por exemplo, os médicos sem eles e confesso que hoje nas minhas léguas tiranas pelos interiores nordestinos quando o sinal desaparece me sinto fora da civilização. Mas entendo a sua opção.
    Houve um tempo que a vida rolava sem ele e muito bem. Tudo bem que era uma vida de certa forma menos previsível mas se a gente tinha um problema bem que encontrava a solução e coisas bacanas aconteciam no processo. Sinto falta de certos bilhetes deixados na moto, no fusca e na geladeira e lembro de como era bom esperar.
    Como na casa de minha infância o telefone era rigorosamente controlado e na t'rrinha tuga nenhum liga para o telemóvel de Seu Ninguém sem um bom motivo, quando nossos filhos começaram a namorar e a receber e fazer ligações a cada dez minutos perguntando e respondendo ao que nos parecia ser um disco arranhado - Onde você está? O que você está fazendo? Com quem você está? O que você está pensando? e, é claro, Você me ama? - confesso que como o rapaz do marketing achamos aquilo um horror e tivemos pena dos coitados, perseguidos e oprimidos, que jamais saberiam o que era ser livre e despreocupado. Mas sucede que, entre mortos e feridos, todos se salvaram e hoje em vez de falar a galera está teclando nos celulares com "polegares estranhos " uma taquigrafia mais estranha ainda. Não sei como, é verdade, mas diferentemente daquilo que pregam os que anunciam o fim do mundo iminente , acho que todos se salvarão de novo porque, não importa com quais novidades, continuaremos a fazer contato e a nos comunicar. É que somos humanos (rsrs)
    Fazer o quê?
    Uma boa semana de trabalho

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  3. 1)Pimentel, vc tem toda razão. É que eu e Heloisa já nos acostumamos assim.

    2)Confesso que sou um cutidor dos tempos jurássicos.

    3) Não censuro quem tem, mas, aqui e acolá descubro que tem mais gente do MSC = Movimento dos Sem Celulares...

    4)E viva Gram Bell que inventou o antigo fixo.

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  4. Olá Antonio,
    Celular é polêmico mas também é importante. Mais importante ainda é ter educação para usá-lo. E acho que isso está em falta. Devia ser como carteira de motrista. Mas pensando bem , os motoristas com curso e teste também estão sem educação. Mal da época?
    O meu vive esquecido na bolsa e até já guardei na gaveta da mapoteca. O Redator teve de ligar para mim para eu achá-lo. E sempre esqueço o número. Mal da idade?
    Comecei a usar quando trabalhava em favelas mais perigosas. Tinha muito medo do carro estragar e ficar desamparada.
    O pior de tudo é ter que ouvir conversas que não interessam.
    Até mais.

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    1. 1)Oi Ana, vez por outra me acontece isso, o computador some com o meu comentário, vamos ver se dessa vez chega ao destino.

      2) Vcs que usam o referido estão certos.

      3) Como escrevi certa feita, estou tentando desenvolver a telepatia, via "mindphone". Belo dia chego lá !

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  5. Antonio, eu também hesitei muito em usar celular. No começo usava o da Ana, quando ela não estava dando aula, apenas para sair de bicicleta, como segurança. Ninguém tinha o número dele, só nós.
    Depois, usei no trabalho, da empresa, e comprei um para mim, daqueles simples mas que já tirava fotos. Era muito útil porque me dispensava de levar a câmara (meu trabalho na época incluía documentar interseções de tráfego). Mas fiquei muito tempo com esse, resistia ao smartphone.
    Há pouco tempo foi que passamos para os smartphones, levados, veja só, pela conveniência dos aplicativos de táxi, que exigiam internet na rua. Mas aí descobri que, além de uma câmara muito melhor do que o antigo, ele me permitia acompanhar os comentários do blog para libera-los quando não estava em casa, desde que me lembrasse. E aí ele passou a realizar parte do trabalho que eu fazia no tablet, que já tinha substituído parte do trabalho no computador de mesa, e que além disso me permitia a leitura de livros no Kindle
    E acho que é um caminho sem volta, porque aí surgiram os grupos de whatsapp da família... Mesmo neles passa-se mais tempo apagando mensagens inúteis do que lendo coisas úteis.
    Hoje a Ana reclama que eu passo tempo demais com o smartphone, porque não se lembra de que antigamente eu ficava o dia inteiro e mais um pouco no computador grande. E, claro, é preciso controle e educação, coisas que infelizmente as gerações mais novas vão perdendo. Mas a conveniência e segurança que ele traz, a trabalho e/ou em viagens, compensa o trabalho de tomar um pouco mais de cuidado e atenção. Espero não chegar nunca ao ponto de, como diz o Moacir, desenvolver aqueles "polegares estranhos"...
    E não, não os usamos, definitivamente, para controlar um ao outro :)
    Um abraço do
    Mano

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    1. 1) Grande vitória, parece que consegui encaminhar o comentário da Ana, agora vamos ao nosso editor:

      2) Com... mentário - com a mente...

      3)Assim vou treinando a referida mente para desenvolver o "mentemóvel", "teleconsciência", "cerebrofone" tão logo consiga... avisá-los-ei !

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