imagem Prefeitura Municipal de Marília |
Antonio Rocha
É uma importante campanha. Lembrei de uma amiga, arquiteta que praticava
meditação em um grupo e nos reuníamos em Icaraí, Niterói, RJ. Seu marido era um
teólogo protestante, mas trabalhava no próspero ramo da administração de
imóveis, tinham uma filha adolescente.
Um sábado de meditação a tarde, ela disse que estava com câncer e me
perguntou:
- Como o Buda pode ajudar?
- Continue com todos os tratamentos
médicos. Vamos enquanto grupo de meditação reforçar as práticas, as orações.
- Eu tive uma formação católica. Minha mãe
gostava muita de Santa Catarina de Labouré, aquela que recebeu de Nossa Senhora
as indicações para criar a Medalha Milagrosa...
- Eu tenho uma comigo e guardo com muito
carinho, foi um amigo brasileiro que mora em Paris, ele me presenteou.
- Eu estive lá, na França, visitando os
locais sagrados onde ela morou, esteve, passou etc.
- Eu gosto muito de estudar as vidas
religiosas, de forma ecumênica...
- Eu também, depois andei pelo
Espiritismo, só não me adaptei no Protestantismo do meu marido...
- Mas ele é uma ótima pessoa.
- Eu sei, ele já veio aqui, lembra? Às
vezes ele vai comigo nos lugares religiosos que visito. Na verdade, observo que
ele anda afastado do Protestantismo...
- Pode ser que esteja afastado
fisicamente, mas noto que a Fé permanece, ele tem um conhecimento profundo da
Bíblia, desde pequeno, me disse que gostava muito de Jesus e eu disse a ele
para continuar e cultivar essa amizade por Cristo.
- Mas sabe, na hora que bate a dor é
insuportável, a gente esquece tudo que é ensinamento religioso.
- Força amiga, permita-me chamá-la de irmã
na Fé Budista.
- Claro, a última filosofia que conheci
foi o Budismo e tenho me identificado muito. É libertadora...
- É isso mesmo, a proposta é nos
libertarmos deste ciclo de renascimentos e sofrimentos.
Ela passou pelos médicos e hospitais mais caros de Niterói, tratamentos
idem, tinham possibilidades, mas nada adiantou.
Nos momentos finais o marido, meu amigo, vinha em casa me pegar de carro
e levar para o Hospital. Eu dizia para ele não se preocupar, eu ia e pegava a
barca, ele respondia que naqueles últimos três meses eu era a companhia para
ele conversar, já que a filha quando voltava do colégio só ficava dentro do
quarto.
Todos nós sabíamos que o estado de nossa amiga era terminal. Eu ia uma
vez por semana na casa deles realizar uma cerimônia budista, enquanto ela
podia, mas depois ficou internada, parecia inconsciente; fazíamos orações e
meditações budistas.
Na véspera de falecer, ela já não falava nada e não reconhecia ninguém.
Era sábado a tarde, na hora da nossa prática de meditação. Segurei a mão
direita dela e do outro lado da cama o marido segurava a mão esquerda do
coração. A filha e a mãe no pé da cama presenciavam.
Comecei o cantar em língua páli, a língua do Senhor Buddha, os cânticos
evocativos cerimoniais de despedida. Ela reconheceu, apertou minha mão o mais
forte que podia. Notamos que sentia muita dor.
Fiquei uma meia hora, depois ele me deu carona de volta. No dia seguinte
ela faleceu.
Escrevo estas linhas como forma de homenagem e gratidão a todas essas
pessoas que passaram pela Terra e tiveram câncer.
Esta amiga que não preciso citar o nome; meu padrinho Chico, minha mãe,
meu pai!
Obrigado, um dia a gente se vê!
Excelente a lembrança deste mês - outubro rosa -, onde as mulheres são alertadas sobre o câncer, e os cuidados que devem ter com seus corpos.
ResponderExcluirPosso falar de cátedra, pois perdi a minha mãe com câncer de mama quando ela recém havia completado 42 anos.
Eu tinha 20, e ela faleceu na minha frente, dando seu último suspiro.
Em 71, ano que morreu, praticamente o único tratamento era a cirurgia, e radical, a mastectomia, dilacerando o corpo da mulher, e ocasionando além da doença problemas psicológicos.
Hoje, com a evolução dos medicamentos, a cura do câncer é real, desde que detectado no seu início, havendo os tais tratamentos denominados de neoadjuvantes, ou seja, antes da cirurgia a quimioterapia, talvez a radioterapia também, que ajudam sobremaneira no combate às células malignas.
Minhas tias e avó também morreram de câncer, logo me preocupo com esta doença, e aplaudo qualquer campanha no sentido de ser sanada mediante cuidados e observações tanto da mulher quanto pelos homens, pois o nosso Calcanhar de Aquiles é a próstata, assim como nas mulheres é a mama, afora o melanoma, em ambos, ainda mais no meu RS, pois a pele branca é freguesa de caderno deste tipo de câncer.
Parabéns, Rocha.
Meu aplauso pelo teu artigo, adequado, procedente e atualíssimo!
Um grande e caloroso abraço.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.
1) Obrigado Bendl, de fato, é uma campanha muito importante e todos temos que apoiar, divulgar etc.
ResponderExcluir2) Abraços de boa semana !
Antonio,
ResponderExcluirquase todos os nossos leitores com certeza terão um ou mais parentes ou pessoas amigas que foram levadas embora pelo câncer. Eu mesmo tive meus dois avôs, minha avó materna e por último minha mãe, e a avó materna da Ana. E escapei por pouco de ir também.
Por isso sei que o seu post tocará de perto muita gente. Obrigado por se juntar aos alertas desta campanha.
Um abraço do Mano
1) Oi Wilson, com este artigo eu quis abraçar fortemente os que se foram e os parentes que ficaram
Excluir2) Como se a Literatura tivesse esse link de amizade fraterna e eu acho que tem.
3)E o seu blog proporcionando momentos de união como este. Abraços !
Olá Antonio,
ResponderExcluirAcho que a vida é triste, mas a gente insiste em ser feliz.
Como disse o Francisco Bendl, seu texto é procedente e atualíssimo. E necessário. Tive história parecida com minha melhor amiga. Foi tudo muito sofrido, entre esperanças e desesperanças até chegar ao fim.
E nem assim aprendi, sou do tipo " façam o que eu digo, não olhem o que faço". Passo feliz por anos sem ir ao médico. Cuido de outros males. E você, sarou da asma?
Que voces dois tenham uma ótima semana dos professores. E não desvistam nunca das suas almas o avental de mestre.
Até mais.
1) Oi Ana, a asma é um caso antigo, ela vai, some, mas de vez em quando aparece dizendo: "Estou na área !"
Excluir2)Obrigado pela lembrança do Dia dos Professores, eu e Heloisa somos, professores-aprendizes...
3)O Artigo foi meio triste, mas também procuro ver os lados alegres da vida.
Antonio,
ResponderExcluirEu confesso que dou mais valor à saúde quando ela me falta mas na Constituição da minha tribo fazer check-up anual é cláusula pétrea. E portanto me arrastam para a "máfia de branco" todo mês de março. De resto é a velha e boa receita: comer certo, dormir bem, perseverar nas atividades físicas , não banalizar os prazeres e seguir em frente!
Parabéns pelo oportuno post
Bom feriado!
1) Oi Moacir, vc está certo. não descuidar da saúde.
Excluir2) Eu só tenho que me reeducar quanto ao quesito alimentação... tem horas que é difícil...
3) Os sabores bem temperados são terríveis de bons !
Antonio,
ResponderExcluirConheci essa doença de perto, exatamente no meu pai. Eu tinha nove anos, ele adoeceu quando retornamos da última viagem dele - fomos visitar suas irmãs (minhas tias) e ele chegou gripado. Depois, icterícia, hepatite. Tudo mentira. Todas desfeitas no centro cicúrgico, quando o médico renomado, muito amigo dele, disse à minha mãe: "É um tumor maligno no pâncreas, não havia o que fazer na cirurgia". Era um tempo bastante diferente, não havia muitos recursos de enfrentamento.
Desde aquela tal "gripe" que acompanhei sem medo, foram 423 dias de uma convência esquisita e cada vez mais amedrontadora. O homenzarrão que se orgulhava de ter estado doente pela última vez (gripado) havia 22 anos, foi sofrendo dores certamente enormes, frios glaciais em pleno verão nordestino, definhando sem trégua.
Vivi com ele as que devem ter sidos suas últimas grandes alegrias, a conquista da Lua pelos americanos e da Copa de 70 por Pelé e sua turma avassaladora. Ah, como ele, nacionalista orgulhoso, comemorou, sorriu e chorou ouvindo o jogo final, os 4x1 sobre a Itália!
Eu, que nunca havia visto meu pai sem estar com a barba feitíssima, o vi parecido com a imagem de um são pedro terminal, com a barba branquinha. Que um amigo querido (a pedido dele) lhe veio tirar, pouco antes da partida. Era católico fervoroso, não deve ter querido se apresentar mal apessoado diante do Criador.
A fala lhe fugiu quase no final, não sem antes permitir que ele tivesse uma conversa definitiva comigo, de homem para homem (eu me achando, do alto dos meus dez anos). Até hoje, passados 47 anos, ainda estou tentando, sem sucesso, traduzir corretamente o significado daquele momento estupendo no resto da minha vida.
Entendi cedo que a vida humana tinha um inimigo muito poderoso, o câncer. Perdi um tanto de amigos e conhecidos, nós todos incapazes de fazer muita coisa.
Circulo no meio da saúde há diversos anos e vejo como a oncologia tem cada vez mais porte, mais um sinal de alerta de que o inimigo não é fácil. Tanto que todos nós vivemos com um pé atrás, pedindo a Deus para nunca ter "a notícia".
Há gente abalizada anunciando que, daqui a cinco, seis anos será tratada apenas como mais uma doença crônica (como hoje o são a hipertensão, o diabetes, a aids...). Oxalá!
Foi dolorido testemunhar o sofrimento impiedoso de tantos que amamos e não conseguiram chegar ao novo tempo anunciado para daqui a pouco. Que, ao menos, essas experiências que carregamos sirvam para nos preparar melhor para a finitude que também trazemos desde o dia que nascemos. Estamos numa contagem regressiva. Amém por todos. Abraço.