Ana Nunes |
Ana Nunes
Acho que
as cores precedem o mundo. Certamente o meu. E é maravilhoso mexer com elas,
tirar pigmento da terra e socar até virar pó fino. E depois escaldar, esperar
decantar e coar. Fazer a aquarela, o guache ou a acrílica. Ou compra-las
prontas que é bem melhor. E depois, tentar traduzir a imagem em cor, nas
manchas ou nas linhas.
A
aquarela em toques delicados de pincel no papel molhado se desfaz em sonho e
corre a se misturar às outras pinceladas, criando limites tênues, quase
inexistentes, entre as cores desmanchadas. O azul se junta ao vermelho e já
tenho o roxo. E já posso fazer uma ameixa. Se nesse mesmo vermelho colocar um
pingo de amarelo tenho a laranja, a mexerica e o mamão. O preto com o branco me
dá o dia chuvoso. E o amarelo com o azul o verde das folhas na minha janela.
A tinta
acrílica, mais densa e teimosa, é misturada na minha palheta de bandeja de
isopor. O pincel se envolve nas cores fortes e as mistura na busca da outra
cor. E cria uma gama de tons novos numa quantidade finita por enquanto. Porque
tenho pressa de usar.
No tear,
os fios coloridos saídos separados dos novelos se esticam e entrelaçam. E
perdem sua identidade no fazer da outra. Porque já não são azuis ou brancos ou
verdes porque tão entrelaçados formaram uma nova cor no tapete tecido. E o
resultado maravilha os nossos olhos cansados.
E quando
fica de noite essas mesmas cores se estranham e nos espantam. E sob lâmpadas
diferentes também se transformam. E se o sol fosse de outra cor nem sabemos
imaginar como seriam. É tudo uma surpresa.
Como
surpresa é a criança que nasce e traz na cor a mãe e o pai. E o avô e a avó.
Quem sabe um bisavô distante que ela nem vai conhecer.
E ela
aparece pálida amarelada se for uma japinha de olhos puxados.
E da cor
de chocolate, de olhinhos redondos e bochechas redondas se os pais forem
negros.
E da cor
do café com leite, nas suas variadas misturas, se os pais já vieram misturados
garantindo esses tons lindos nas peles macias de seus filhotes.
Branquelas
e sorridentes nas bochechas coradas, trazidas de um lugar mais longe e mais
frio.
Marronzinhas
avermelhadas de cocar e fitas nos tornozelos se vieram de uma tribo.
E
lindamente azeitonadas se vieram na barriga de uma indiana.
E muitas
outras cores que vieram sendo feitas ao longo do tempo nas misturas de amor.
E me
disse uma pesquisa feita, que essas cores todas vieram de um só lugar com a
idade da criação do mundo. Se branca, amarela, negra ou caramelo, se do
continente africano ou europeu, vieram de um mesmo DNA. E foram se adaptando,
ficando mais fortes e mudando os tons à medida em que saíam das florestas e se dirigiam às savanas. Disse também que classificar pessoas por
cor seria o mesmo que classificar por altura. E aí o Antonio e eu ficaríamos no
grupo dos baixinhos separados de vocês outros.
E não
importa mais se "Black is beautiful", se "Orange is the new
black", se "All the colours of the rainbow turn to blue", porque
todas as cores são especiais. E vão continuar se juntando e renovando. E
fazendo mais cores lindas para enfeitar o planeta. E nossas
vidas. E nossos amores.
E a manhã ficou colorida com seu texto
ResponderExcluirE as cores vieram alegrar os olhos e a vida
Surpresa pela manhã !!! Obrigada 😘
Priminha,
ResponderExcluirVocê está poética!
Que lindo comentário. Obrigada.
Beijoca.
1) Belo artigo e ilustrações, Ana, parabéns !
ResponderExcluir2) Tintas, traços, cores. Há implícita uma mensagem bonita de união, fraternidade e Paz.
3)Baixinhos e altões estamos todos aí na Arte de tecer o texto e a trama da Vida.
4)TAO = Teclando Amplexos Obrigado !
Antonio,
ExcluirObrigada pelo comentário elogioso.
Gostei de baixinhos e altões tecendo textos e tramas.
Até mais.
Na verdade somos mágicos e não sabemos ou ignoramos esta qualidade.
ResponderExcluirSe a magia de uma cozinha, onde estão ingredientes crus e em estado natural, podem ser transformados em alimentos e pratos deliciosos, alguns verdadeiras iguarias, o mesmo se pode dizer das cores, que dão beleza ao que fazemos, que adornam o local onde moramos, que dão alegria aos objetos e sentidos à própria vida, haja vista que a visão humana nos contempla com um universo de cores que, ao serem usadas embelezam o que queremos pintar, e nos encantam ao mesmo tempo pela transformação que trouxe ao resultado.
Na forma como as mulheres veem as cores, as interpretam, e são as pessoas que mais sabem utilizá-las e aplicá-las, o texto da Ana é um caleidoscópio, pois multicolorido, e nos faz imaginar os quadros e imagens os mais variados com as cores e as tintas.
Então, o artigo é belo porque não existe uma cor preferida, todas, indistintamente são lindas e importantes, e salientadas pela sensibilidade da autora, sua maestria em nos relatar o que pensa, e sua genialidade em saber transmitir o recado que deseja, a sua mensagem extraordinária porque possui um talento indescritível para escrever, e colorido.
Só mesmo uma dissidente conseguiria usar a magia de escrever com palavras em cores, surpreendendo-nos pela postagem maravilhosa!
Um forte abraço, Ana.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.
Olá amigo Francisco,
ExcluirAs cores são mesmo mágicas. E preciosas. Principalmente quando as cores das pessoas não servem mais para separá-las, e sim para compor um país harmônico, bonito e justo. Como você disse, "sem uma cor preferida , todas indistintamente lindas e importantes".
Obrigadíssima. Até mais.
Ana!!!!
ResponderExcluirVc é uma pintora pintando também com as palavras
Tingo
Olá Tingó,
ExcluirBom te ver por aqui. Ainda mais com um elogio tão caprichado!
Muito obrigada!
Até mais.
Caríssima Donana,
ResponderExcluirFui lendo até que cheguei no tear "onde os fios coloridos perdem sua identidade no fazer de outra" e então me lembrei de uma das mais complexas telas de Velázquez chamada Las Hilanderas, que mora no Prado.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a3/Velazquez-las_hilanderas.jpg/1200px-Velazquez-las_hilanderas.jpg
Só que o título tem menos a ver com as fiandeiras espanholas pintadas no primeiro plano, do que com o tapete que serve de pano de fundo, narrando o mito de Atenas e Aracne do qual, estranhamente, os observadores parecem ser personagens.
Com grande qualidade a senhora também vai entrelaçando tudo - vida, temas, palavras e cores e planos - como se fosse uma “tecelã de sonhos”, como uma vera contadora de estórias que sabe aquarelar , gravar, pintar, tecer, escrever e, no tempo certo, ficar quieta aprontando novas artes dentro da cabeça criativa.
Nesse seu mundo colorido parece mesmo que as cores harmonizadas e contrastadas são verbo, escorrendo em sonhos ou em deliciosas metamorfoses de ameixas em laranjas, de mexericas em papayas, para não falar das folhas azuis e amarelas antes de enverdecer, da chuva resultante de muito branco no preto e das crianças multicores (rsrs)
O fato é que as suas pretinhas, manchas e linhas e raios luminosos fazem o olho correr para cima e para baixo pela superfície, onde, é claro, as cores fazem coisas estranhas umas com as outras, em espaços ora secos ora úmidos ora brancos e mudam e se desmancham para nascer de novo em inéditos e poéticos tons.
Talvez a aquarela seja, para a senhora, o meio e a metáfora mais exatos pois suas claras cores fazem muitas perguntas no infinito de suas variadas atmosferas e formas (rsrs) Sim, uma aquarela, "de limites tênues, quase inexistentes", vibrante, transparente, imediata,
ricamente colorida, emocionada e imprevisível. Do jeito que a senhora tão bem "conversa" o mundo.
“Até mais”
Olá Moacir,
ExcluirGostaria de dizer concordo, concordo, concordo. Mas não é bem assim. você realmente anda exagerando...
Mas se pensou isso tudo é porque gostou do texto. E eu gostei muito de você ter gostado.
Continuarei tentando "conversar o mundo" e colorir nosso blog.
Gratíssima.
Até mais.
Ana,
ResponderExcluirComo já dizia o velho jingle, "O que seria do azul se todos gostassem do amarelo?. De qualidade de cor quem entende é o pintor". Belíssimas cores você espalhou sobre nós. Até mais.
Olá Heraldo,
ResponderExcluirQue lindo comentário voce fez para mim! Obrigada.
Até mais.