O julgamento por Yama e os reinos do inferno budista (imagem www.britishmuseum.org) |
Antonio Rocha
Havia no
tempo de Buda um praticante muito devoto, tinha muita fé. Quanto mais meditava
mais percebia que os poderes que o Senhor Buda emanava, qualquer pessoa também
podia adquirir e desfrutar, desde que seguisse o Caminho.
Certo dia, a
mãe deste praticante faleceu. Tempos depois, o devoto lembrou-se de que, se
estava na Senda, certamente teria os poderes de Sakyamuni, como também o mestre
era conhecido, e munido com esta fé, imaginou que a mãe estava no mais alto dos
céus, iria pessoalmente conversar com ela, da mesma forma que o Mestre Buda
conversava com a mãe Rainha Mahamaya.
Falou com o
Buda, pediu autorização e foi logo ao mais sublime céu, lá no mais alto,
entretanto... para surpresa... viu que a mãe não estava... e assim foi descendo
na escala dos céus até o mais baixo... são planos espirituais onde residem os
espíritos...
Chegou à
linha limite dos infernos. Parou e voltou para conversar com o Buda. Buda lhe
ensinou como fazer, autorizou novamente. Explicou que a mãe do praticante
sempre cuidou do filho muito bem, mas mentia bastante, enganava muita gente,
embromava, enrolava, trapaceava e mesmo uma mentirinha de nada é uma energia
negativa.
E o devoto,
completamente desapontado, foi descendo até que em dado momento chegou a um
determinado plano: Inferno da Mentira e encontrou a mãe.
Abraçaram-se,
choraram e através da poderosa Energia Búdica da Compaixão ela foi resgatada
para um plano melhor, onde iria ser tratada e educada conforme os ensinamentos
do Darma Sagrado, onde um dos preceitos é não mentir jamais. E se por alguma
fraqueza mentir, corrigir logo mediante as práticas espirituais, sanando o
débito e zerando a tal mentira.
Diz o texto
sagrado do Mahayana que a mãe do devoto ficou tão feliz que saiu do Inferno
dançando.
É e por
isso, que até hoje, nos ritos fúnebres do Japão, existe a chamada “Dança de
Obon” = cerimônia budista.
Aliás, o
grande cineasta japonês Akira Kurosawa começa um de seus últimos filmes com as
cenas de um rito fúnebre onde os participantes do sepultamento vão dançando.
Moral da
História: mesmo que você vá para o Inferno, fique tranquilo, o Buda vai lhe
tirar de lá. Claro..., você tem que fazer a sua parte... estudando e
praticando, portanto... relaxe e medite.
Esta história nos foi contada pelo sacerdote da HBS = Budismo
Primordial, Jyunshô Yoshikawa, no núcleo do RJ, em São Cristóvão, durante uma
reunião mensal.
Antonioji,
ResponderExcluirSeguinte: se não mentíssemos estaríamos todos solteiros, envelhecendo sozinhos. Budanoslivre! Quem diz que não mente , está mentindo. Uma mentira pode ser virtuosa, a prática de algo muito importante: a gentileza. Realmente depende da intenção por trás da mentira. Eu minto todos os dias, na boa. É melhor ir para o inferno depois do que viver nele agora (rsrs) Um exemplo? Os cabelos das senhoras agora deram de nascer escuros e terminarem claros nas pontas. Eu acho as cabeleiras híbridas muito esquisitas mas se elas me perguntam se o corte ficou bom, minto que ficou fan-tás-ti-co. E vou lá dizer ao amigo que me pergunta se gostei do presente de Natal que me deu, que não? Nem morto tiraria dele a satisfação de pensar que me deu uma lembrança bacana , do meu agrado.
Certa vez uma prima, psiquiatra, nos disse que os deprimidos são mais honestos consigo mesmos do que pessoas mentalmente estáveis e que sabia que um deprimido estava a caminho da cura quando se tornava menos honesto ou pelo menos mais escorregadio no sofá (rsrs) É “normal” nos editar um pouquinho, nos pintar com cores mais amenas, suavizar más notícias. E se nós não gostamos de ouvir certas verdades porque os "outros" iriam gostar? Geralmente achamos que os "outros" querem ouvir a verdade. Só que não é bem assim. Sem mentiras talvez nossa vida social desmoronasse à medida que fossemos verbalizando o que realmente pensamos dos "outros" e descobrindo que eles nos percebem muito menos positivamente do que imaginamos.
Quanto ao inferno, penso que é como poetou o Milton:
“A mente é seu próprio lugar e em si mesma
Pode fazer um Céu do Inferno e um Inferno do Céu.”
Abração
1) Oi Pimentel, qdo criança e jovem é claro que menti, adulto idem, mas qdo decidi praticar mesmo o Budismo parei de mentir e me senti/sinto ótimo.
Excluir2) Percebi que mesmo uma mentirinha tola de brincadeirinha tem energia negativa e faz mal aos envolvidos.
3)Perdão, mas, respeitosamente discordo da sua parente psiquiatra. Quando me perguntam algo, polidamente falo a verdade.
4) Me sinto bem assim, talvez por isso não me fazem tantas perguntas embaraçosas, tipo se o cabelo da fulana está bonito ou não...
5)Não sei se já falei aqui neste blog, mas uma amiga brasileira que casou com um sueco e foi morar em Estocolmo aprendeu que lá, de acordo com as leis, o cidadão "é obrigado a falar a verdade". Pode até mentir, mas quando descobrem é preso e paga multas altíssimas.
6) Veja o caso, se nossas autoridades, pessoas públicas e políticos falassem 100% a verdade, penso que o nosso Brasil seria melhor.
7) Abraços.
Antonioji.
ExcluirMinha sincera "Gratidão" pelos ensinamentos e a cortesia de sempre. Respeito imenso a sua religião/vida. Só gostaria de acrescentar que a psiquiatra em pauta não manisfestou uma "opinião" ao falar da autodepreciação dos deprimidos.Trata-se de um fato comum na prática profissional dela, de um estado psicológico apelidado na literatura médica de "realismo depressivo".
Sabe?
Nos seus escritos sobre o budismo o que mais me atrai é a serenidade, a temperança, a noção da efemeridade de tudo, o caminho do meio, avesso aos 8 ou 80 e P&B na vida, conhecedor dos matizes, sabedor de que a dosagem seja do remédio ou do veneno pode sim matar e/ou curar. Penso que assim como é inútil gritar para surdos e/ou mostrar as cores para cegos, dizer a alguém mais verdade do que está preparado para ouvir, só vai prejudicar a "comunicação".
De resto você é um felizardo se não lhe fazem mais questões capilares. Na minha tribo as "fulanas" têm mania de me atormentar com perguntas "embaraçosas"(rsrs)
Abração
1) Oi Amigo Pimentel, vc tem razão e sua prima, academicamente idem.
Excluir2) Lembrei de um conhecido que ao fazer análise de grupo, ele inventava histórias, criava situações várias pensando que estava enganando o analista, então, belo dia ele revelou: "tudo o que eu falo aqui é mentira, fico inventando".
3)O médico que era psiquiatra/psicanalista/analista didata/professor respondeu: "Para a psicanálise não tem problema nenhum, se é mentira ou se é verdade, nós trabalhamos com o que vc fala e sente..."
4)Então aprendi bastante com esta história que presenciei no grupo que fazia parte... claro que respeito as "psis" da vida.
5) Contudo, para o meu gasto pessoal eu fico com a discutível prática da "verdade" conforme o Buda ensinou.
6)Escrevo discutível, porque alguém poderá filosofar: verdade relativa ou verdade absoluta?
7)Saio pela tangente e respondo: verdade búdica ! sem querer impor nada a ninguém.
8) Aos demais:estou chegando de Teresópolis onde fiquei cinco dias, aos poucos vou comentando o que ainda não escrevi.
9) Abraços gerais de boa semana !
Prezado Prof. Dr. ANTONIO ROCHA,
ResponderExcluirBela parábola Budista para ressaltar a importância de não Mentirmos.
O quadro que ilustra a parábola é muito sugestivo, mostrando ao centro YAMA o Juiz Universal, a balança com os pratos do Bem e do Mal, e o Escrivão que assenta no Livro da Vida, a Sentença. Diabos a direita de YAMA, prontos para tomarem conta do Condenado e levá-los ao Inferno onde aplicam as mais cruéis torturas nos Culpados, conforme os sub-quadros ao redor mostram.
Para nós Cristãos, N. S. JESUS CRISTO deixou o Comando: Mat. 6 - 37
" Dizei sòmente: SIM, se é SIM: NÃO se é NÃO. Tudo o que passa além disto, vem do Maligno.
Abração.
1) Salve Dr. Bortolotto, concordo plenamente com o seu comentário. Ótimo !
Excluir2)Gratidão pela citação bíblica.
3)Abraços !
Mestre Antonio,
ResponderExcluirEu procuro não mentir, o que de vez em quando significa que é melhor ficar calado, mas às vezes, quando não dá para manter o silêncio, como nos casos que o Moacir deu de exemplo, tenho que concordar com ele que às vezes uma pequena mentira pode ser melhor para o outro do que a verdade, que pode machucar sem fazer bem.
O difícil é avaliar quando isso é verdade.
E é interessante que pessoas diferentes podem ter noções diferentes do que é a mentira, como o nosso netinho mais novo que, flagrado numa mentira dirigida à avó durante uma brincadeira, respondeu indignado: "Mas eu não sabia que você ia acreditar!"
Um abraço do Mano
1)Salve Wilson, entendo sua postura e a do Moacir, mas ao longo dos anos fui treinando ser cordial e falar a verdade, peço desculpas, mas falo a verdade.
Excluir2)Não sou melhor do que ninguém, é um aprendizado que demora décadas.
3)Abraços de Gratidão sempre !
Olá Antonio querido budista,
ResponderExcluirSempre fui sincericida por temperamento e por criação. E ja entrei em muitas frias e arrependimentos por causa disso.
À medida que fui ficando mais velha fui aprendendo a mentir. E continuo aprimorando. O divertido é que, por ser sincera, todos acreditam nas minhas mentiras. Foi muito bom quando aprendi a jogar truco com meus filhos.
Apesar de tudo ainda acho que comigo a verdade prevalece.
Até mais.
1) Oi Ana, o Buda recomenda que falemos a verdade, em qualquer situação, de uma forma agradável, amigável. Se o outro não entender, paciência... desapeguemos ...
Excluir2)Na hora o sincericídio deve ser muito ruim, mas depois, qdo passar a tempestade, vamos ver que foi a melhor atitude. Estou falando por mim, não estou passando receita para ninguém.
3)É que eu aprendi com Gandhi a "força da verdade" é algo belíssimo, mas reconheço que nem todo mundo tem maturidade para ouvir a verdade. Então fico Zen, fico em silêncio conforme o Mano disse.
4)Tudo de bom !
Olá sincero Antônio,
ResponderExcluirSinceramente passo a acreditar nos seus elogios.
Obrigada.
Adorei a chamada enérgica para nós quase todos.
Abraço para você.
Caro Rocha,
ResponderExcluirPerdoa-me o atraso, mas ando a mil por hora!
Reitero que aprecio em demasia os teus contos budistas, todos com suas mensagens de otimismo e fé.
E me impressiono com a quantidade de contos que já postaste!
Afianço que para mim são sempre bem-vindos.
Um forte abraço.
Saúde e paz.
1) Salve Chicão, sem problemas de atraso quanto às postagens e comentários...
Excluir2) Os textos canônicos afirmam que ao longo de 45 anos, o Buda pronunciou nada menos que 84 mil ensinamentos (número simbólico).
3) Então haja historinhas, parábolas e afins.
4)Obrigado sempre !