Maurice Utrillo - Montmartre |
Moacir
Pimentel
E aqui estamos nós de volta a um dos bairros parisenses mais icônicos e
sobrecarregados de mitologia turística: Montmartre, pintado por Maurice Utrillo
na tela que abre o post.
Por quê? Para conversar sobre sua história artística pois durante o
século XIX e ao longo do século XX modelos, bailarinas e pintores como Auguste
Renoir, Vincent van Gogh, Paul Cézanne, Edgar Degas, Henri de Toulouse-Lautrec,
Suzanne Valadon, Henri Matisse, André Derain, Maurice Vlaminck, Pablo Picasso,
Georges Braque, Marie Laurecin, Maurice Utrillo, Raoul Dufy, Amadeo Modigliani
e Salvador Dali e músicos como Erick Satie e escritores como Guillaume
Apollinaire trabalharam ou frequentaram ou moraram ou amaram naquelas paragens,
contribuindo para criar movimentos artísticos como o Impressionismo, o
Fauvismo, o Cubismo, e o Surrealismo.
Montmartre, no encontro dos séculos XIX e XX, é um capítulo fascinante
da História da Arte tão surpreendente e rico quanto o Renascimento e quem se
interessa por arte o conhece de telas, músicas, poemas e biografias mesmo antes
de lá pisar e, lá chegando, sempre experimentará uma sensação de “déjà vu”, de já ter assistido aquele
filme, de que o bairro é um velho conhecido.
Pudera!
Montmartre tem sido uma base, em um momento ou outro, para quase todos
os pintores e escritores famosos que viveram na França ao longo dos dois
séculos passados. E isso não é exagero! No final do século XIX, muitas mentes
brilhantes e criativas já tinham sido atraídas para aquela colina, para a “butte” como dizem os de lá. Na virada
do século XX, o bairro tornou-se o centro de toda a vida artística e
intelectual de Paris.
Sou um fã de carteirinha dessa esquina da cidade porque na colina de
Montmartre, além da alva Basílica do Sacré-Coeur que os parisienses acham feia,
se escondem muitos encantos: pequenos museus que tratam do romantismo ao
erotismo, lindas ruas calçadas de pedra, arte urbana, vistas de tirar o fôlego,
cemitérios povoados por belas obras de arte e até um vinhedo. Para não falar do
charme da arquitetura do lugar com praças encantadoras, igrejas pacíficas,
belas casas, subidas e descidas sinuosas e infindáveis escadarias. Perder-se
sem mapa e relógio nesse encantador pedaço de Paris, diferente de qualquer
outro, é uma maravilha.
Mas atenção!
Há que calçar sapatos confortáveis para enfrentar a colina, senão não se
tem pernas para alcançar a sensualidade que está por todos os lados só que lá
embaixo, no bairro da luz vermelha, na vizinha Pigalle, ou, como diziam os
americanos, pelo menos nos filmes da Segunda Grande Guerra que assisti: “in Pig Alley”.
Berços da maioria dos “cabarets”
do passado, os bairros de Montmartre e Pigalle carregam séculos de histórias,
contos e fábulas e “conversas”, muitas verdadeiras e algumas mentirosas. Sim,
Montmartre pode ser uma armadilha turística para tolos mas seus caminhos sempre
levam à arte, à cultura, ao aprendizado. O bairro foi umas das consequências
diretas da gestão de Haussmann, o prefeito demolidor, que construiu prédios e
avenidas para modernizar e embelezar o centro de Paris, empurrando as mazelas
dos miseráveis que eu conhecera nas páginas de Victor Hugo para a periferia.
Esse pedaço de Paris é uma aula de história a céu aberto, que começa em
idos tempos quando ele era mencionado na páginas policiais como “Le Maquis Montmartre”. “Maquis” é uma
vegetação espessa característica de certas regiões mediterrâneas e o termo
adjetivava Montmartre pejorativamente porque, nos seus primórdios, um grande
matagal povoado por construções desordenadas cobria grande parte da colina. O
maquis de Montmartre era uma ilha intocada pela urbanização promovida pelo
Barão Haussmann, entre as ruas Lepic e Caulaincourt.
Embora o lugar tenha sido representado frequentemente como bucólico e
provincial e romântico, a realidade era mais escura. Os seus barracos
improvisados eram ocupados por uma população miserável que, expulsa do centro
de Paris pelas demolições modernizantes, não podia morar melhor.
A basílica no topo da colina de Montmartre já serviu de coroa para
hospedarias obscuras e bordéis pestilentos em meio aos barracos de madeira e papelão e piche que
subiam morro acima, entrelaçados com sebes de flores selvagens.
No entanto, apesar de todas as dificuldades materiais, a joie de vivre, as piadas, as sátiras, as
provocações e as inovações da turma revolucionária que aprontava o sete no
bairro e, notadamente, a sua animada vida noturna atraíram curiosos de todos os
tipos – inclusive os de cartolas de seda - para ver como é que Montmartre
conseguia ser um mundo à parte e ter cada vez mais inquilinos, que agiam como
se fossem membros de uma mesma família rebelde.
Tudo bem que nessa carreira boêmia de Montmartre o seu agitado vizinho,
o bairro de Pigalle - hoje chamado pelos jovens anglicanizados de “SoPi” – desempenhou um papel importante
pois foi lá que os cabarés se multiplicaram. Sabemos que muito ajudou a atrair
tantos pintores, por exemplo, o famoso Mercado de Modelos da Praça Pigalle, que
possibilitava o encontro da fome com a vontade de comer, das musas com os
talentos, de verdadeiras beldades com os artistas de Montmartre, de meninas
boas de famílias más, com os pintores e poetas que as eternizaram nas suas
obras.
Mas será que durante a Belle Époque – mais ou menos de 1872 a 1914 –
todos aqueles artistas e escritores e poetas notáveis e modelos e dançarinas
belíssimas e cantores e humoristas tão cheios de carisma, decidiram viver e
trabalhar em Montmartre transformando o lugar no vértice da intelectualidade
parisiense só porque lá os aluguéis eram baixos e a atmosfera agradável?
É claro que não. Pensar que todos aqueles homens e mulheres talentosos
se reuniram no bairro à procura das espetaculares vistas da cidade como
inspiração ou que eles foram seduzidos apenas pelos baixíssimos aluguéis, seria
poesia.
Houve outra razão para o afluxo de tantos artistas e boêmios: o vinho
isento de impostos! No final do século XIX, Montmartre ainda estava
oficialmente fora dos limites de Paris e, portanto, o vinho ali produzido não
estava sujeito aos impostos parisienses! Isto, juntamente com o fato de que
Montmartre era coberto por vinhedos - até mesmo as freirinhas locais faziam
vinho! - rapidamente fez da área um lugar popular para se beber.
Vincent Van Gogh - Green Vineyard (1888) |
Já tivemos oportunidade de conversar sobre o vinhedo de nome Le Clos Montmartre que ainda é hoje é cultivado
na Rua Saint-Vincent. Em setembro ali ainda hoje é feita a colheita da bagas e,
em seguida, na primeira semana do mês de outubro, é realizada a festa da
vindima – a tradicional Fête des
Vendanges – e o leilão do tinto, em memória da indústria do vinho que
prosperou nos tempos em que o cabaret Lapin
Agile, bem ali na esquina, era o rendezvous de todas as cabeças pensantes
da cidade e a Rua Lepic era a pista onde o estranho carro de nome Voiturette, inventado por Louis Renault,
conseguia ganhar valentemente e disparado à frente de qualquer bicicleta todas
as corridas ladeira acima.
Porém embora o vinhedo seja uma grata surpresa dizem que a história
artística de Montmartre começou mesmo na Allée
des Brouillards – a Alameda das Neblinas – cujas fotos já vimos em outra
conversa.
No século XII, nesse local havia uma fazenda e um moinho que viviam
debaixo de neblina, devido ao vapor que emanava de algumas fontes d’água quente
no local que, em contato com o ar fresco, cobria a paisagem com um manto de
névoa.
Dona Lenda conta que, no século XVIII, um marquês adquiriu as ruínas do
moinho que transformou em uma mansão branca batizada por ele de Château des Brouillards - o Castelo das
Neblinas. Quase um século depois um poeta francês, chamado Gérard de Nerval, se
encantou pelo lugar e, desistindo de suas rotineiras viagens, passou a morar no
Castelo.
Foi em Montmartre que eu ouvi falar do poeta pela primeira vez e foi lá
que ele escreveu os doze sonetos das suas lindas Quimeras, que me fazem
refletir sobre a relação entre a loucura e a criação poética. Nos doze sonetos
- que viraram vinte devido ao editor - na primeira pessoa do singular, Nerval
apresentou-se como um só: ele mesmo, em tom confessional.
Mas esse “eu” poético é tão codificado, evoca tantos símbolos,
personagens históricos, lugares, referências literárias, que Nerval terminou
obcecado. Ele passou a mudar os versos de lugar, de estrofe, até mesmo de
soneto, misturando as estações, mudando os nomes dos deuses, inventando uma
mitologia própria, quase um samba do crioulo doido, na qual o leitor fica tonto
e se perde.
Nas Quimeras desde os primeiros versos chama a atenção os arcanos das
cartas do Tarô. É como se o poeta tivesse jogado as cartas sobre a mesa e
recebido como resposta aquela torre do Castelo fulminada por um raio: o anúncio
da sua destruição.
No título do soneto que abre As Quimeras ele é El Desdichado - desafortunado, infeliz, em espanhol - um exilado,
um deserdado do mundo:
“Sou o tenebroso – o viúvo – o
inconsolado/ O príncipe na torre destruída de Aquitânia”
O restante do poema é a invocação da mulher amada, uma repaginação da
mítica viagem de Orfeu ao reino dos mortos para resgatar a sua perdida
Eurídice. Depois de escrever toda essa bela mitologia surtada, esse cruzamento
de símbolos de diferentes esferas, Nerval foi mais longe ainda e mitou geral e
transformou em mito, não apenas os capítulos de sua vida mas a própria morte -
em 1855 ele suicidou-se no Castelo.
Após a sua morte os jardins foram ocupados por vagabundos e ciganos, mas
o castelo foi invadido – dizem! – pelos primeiros artistas sem dinheiro de
Montmartre e de suas neblinas teria surgido a boemia.
Não importa onde se esteja ou para onde se olha em Montmartre, lá se
sente os vestígios dessa boemia, de uma comunidade, de um senso de vizinhança
hoje perdido e os sinais das centenas de criaturas talentosas que naquelas
paragens revolucionaram a moral e modificaram a arte em defesa das liberdades.
Os nossos fantasmas prediletos ainda passeiam por Montmartre.
O crítico de arte Leo Stein escreveu que Picasso estava sempre por lá,
mais real do que a maioria das pessoas. E, por sua vez, Picasso disse a Braque
que o bairro era assim “como uma dança,
uma sardana catalã”, uma festa, uma comunhão de almas, de ricos e pobres,
de jovens e velhos, dançando juntos. Como talvez dançassem Isadora Duncan e
seus jovens alunos vestidos com túnicas gregas e de pés descalços pelas ruas de
Montmartre, que na verdade era um vilarejo, onde se morava e se divertia sem
gastar muito dinheiro, nos cabarés e nos bordéis que funcionam aberta e
alegremente na rua Amboise.
O espírito de Montmartre, os ideais lá compartilhados foram soletrados
por André Breton no seu Manifesto Surrealista de 1924:
“Querida Imaginação, o que amo em ti é,
sobretudo, não perdoares. Não é o medo da loucura que nos vai obrigar a hastear
a meio-pau a bandeira da imaginação.”
Para conhecer esse Montmartre histórico e artístico comme il faut uma boa ideia é caminhar até o coração do bairro -
Caulaincourt! – e começar a perambular pela parte de trás da colina. Na Rua des
Saules, esquina com a Rue Cortot, está a Maison
Rose, imortalizada por Maurice Utrillo quando lá morou.
Maurice Utrillo - La Maison Rose (1920) |
Hoje o espaço abriga o Café La Maison Rose, que oferece escargots, sopas
de cebola e o crème brûlée, padronizados e apressados.
Mais adiante ainda mora o famoso cabaret Au Lapin Agile onde os artistas
bebiam fiado nas mesas de madeira marcadas com as iniciais da galera e depois
pagavam a conta com pinturas, trocando quadros por bebidas. Foi o caso da obra
de Picasso de nome No Lapin Agile – O
Arlequim com um Copo, que o proprietário da casa, de nome Frédé, passou
adiante por uma miséria e que o Metropolitan Museum de Nova York terminou
comprando por mais de quarenta milhões de dólares.
Na obra pintada em toca de comida, Picasso se auto retratou como um
Arlequim entediado, virando copos de absinto e ao “patron” Frédé, ao fundo,
tocando no violão provavelmente uma canção tradicional francesa do século XV.
Dizem que a tela passou anos encostada numa das paredes do cabaré.
Pablo Picasso - No Lapin Agile - O Arlequim com um copo (1905) |
Picasso era impetuoso, toureava a vida com
generosidade, bom humor, exageros e maestrias. Feliz na pobreza e na riqueza,
tomando vinho a la régalade, ele se
relacionava muito bem com todos os prazeres da vida.
Qualquer biografia de Picasso nos deixa clara a sua
sensualidade, o seu amor pelas mulheres, pela comida, pelo vinho, pelos sabores
da vida, enfim. Nas fotos ele surge frequentemente à mesa, em meio a quadros e
garrafas, as cores da comida confundindo-se com as das telas, em uma mistura
bagunçada de vida e arte.
O bando de artistas catalães que chegou a Paris em
1900 com Picasso vivia mais nas ruas e nos bares do que nos seus ateliês
gelados onde era impossível cozinhar. O restaurante preferido da turma era o
Lapin Agile. Quando o crédito no restaurante acabava, havia sempre um amigo com
um resto de dinheiro no bolso. Compravam pão e queijo e iam comer num banco de
praça. E quando ninguém, absolutamente ninguém, tinha um tostão furado, aí é
que comiam bem.
Encomendavam um almoço bem bom no Lapin Agile e
marcavam a entrega para o meio-dia em ponto. Quando o entregador chegava e
batia à porta, ninguém atendia. Quando o coitado insistia a modelo faminta da
vez gritava lá de dentro:
“Estou
nua. Não posso abrir a porta. Por favor, ponha no chão".
Todos os amigos esfomeados compareciam e
compartilhavam o banquete e o Frédé, é claro, deixava passar batido e os
meliantes pagavam-lhe quando podiam.
Uma das melhores histórias de Montmartre fala
justamente desse Frédé, na realidade Fréderic Gérard que, além de dono do
cabaré era um músico de repertório excêntrico e possuía um bom coração. Além
disso ele era dono de um burrinho, o Lolo, muito querido no bairro. Um belo
dia, em 1911, Roland Dorgelès, o escritor que foi um crítico ferrenho das novas
formas de arte de Picasso e de outros pintores modernistas, forrou a rua
defronte do Lapin com uma grande lona, amarrou um pincel no rabo do burrico
Lolo e fez o animal se mexer sobre a tela subornando-o com guloseimas.
A obra de arte resultante da brincadeira assinada por
um certo Boronali foi exposta no Salon
des Indépendants, com o título de Um Pôr do Sol no Adriático e, - pasme! -
conquistou sucesso de público e de crítica. Acontece que a assinatura nada mas
era do que um anagrama de Aliboron, o
nome do asno de Buridan, o paradoxo filosofal sobre o livre arbítrio, que nos
conta como, estando o animal à mesma distância de uma pilha de feno e de um
balde de água, incapaz de optar por um ou por outro, acabou por morrer de fome
(rsrs)
Essa sátira ao filósofo medieval Jean Buridan e à
pintura moderna faz parte do folclore do bairro e, é claro, uma Praça Roland
Dorgelès foi construída defronte do antigo cabaret para homenagear o mentor
intelectual da presepada.
A graça de Montmartre, à parte a sua incontestável
beleza física, mora nessas conversas e piadas e risadas e nas telas que, como o
Arlequim inventado por Picasso e tantas outras obras de Renoir, Lautrec e Utrillo
ajudaram o bairro a alcançar fama internacional.
Au Lapin Agile, por exemplo, tornou-se o mais famoso
rendezvous de Paris, não no sentido de bordel na zona do meretrício como usavam
a palavra os nossos avós, mas de um ponto de encontro, de um lugar onde
apareciam todos os que tinham o que dizer. Mas afinal o que significa o nome do
cabaré Au Lapin Agile?
A casa já funcionava há mais de duas décadas quando,
em 1875, outro artista chamado André Gill, em troca de outro prato de comida
pintou no local uma tela retratando um coelho - um lapin - saltando do pote de seu destino para beber alegremente o
vinho tinto no qual costumava ser cozido.
O bem humorado quadro foi afixado acima da porta de
entrada da casa e então os clientes apreciadores do ensopado do bicho de
capoeira passaram a querer comer “Le
lapin à Gill” - e um trocadilho homófono gerou o seu nome definitivo Lapin Agile - o Coelho Ágil.
Andre Gill - Au Lapin Agile (1875) |
No fim do século XIX, o Au Lapin Agile era o local favorito de artistas
e escritores em início de carreira, mas também era frequentado por cafetões,
personagens excêntricos, grupos de anarquistas, estudantes vindos do Quartier
Latin e burgueses bem vestidos à procura de diversão.
Empoleirado nas mesas do Lapin, Francis Carco cantava La Marseillaise e,
saindo da casa nas primeiras horas da manhã, Mac Orlan acordava os amigos
tocando clarineta embaixo das suas janelas. Guillaume Apollinaire, Roland
Dorgelès, Amedeo Modigliani, Maurice Utrillo e outros grandes talentos da
literatura e da pintura, todos anarquistas de coração, bebiam demais, comiam de
menos e dormiam onde calhasse, e, não fora a caridade e a paciência dos Frédés
da vida, teriam mendigado.
Todos aqueles artistas geniais rabiscavam poemas e artigos que não
vendiam, erravam suas tintas em telas incompreendidas e tocavam música
dissonante sob apupos mas das panelas sobre os fogões dos cafés e bistrôs de
Montmartre sempre puderam descolar alguns nacos de pão, colheres de sopa e
pedaços de coelhos não tão ágeis...
Assim era Montmartre: um caldeirão de sobras para os artistas pobres e
muitas anedotas e estórias. É muita conversa...
Que pena que não li seus artigos antes de ter visitado Montmartre, Moacir. O 'Infeliz' do poeta do castelo não seria o Dependurado, um dos arcanos do Tarot? Amei as histórias do Coelho Ágil e do burrinho kkk. Acho que álcool e artistas combinam mas só o vinho barato também não explica a quantidade de famosos da sua lista. Montmartre devia ser para eles como uma faculdade, onde a lei é ‘um por todos e todos por um’. Sabiam que podiam experimentar e aprontar porque tinham torcida organizada. E causavam porque sempre aparecia alguém legal como o dono do restaurante para colocar um pf na mesa e segurar as pontas. Obrigada!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirA sua análise psicológica dos artistas do "bando" de Picasso é válida: foram mesmo adotados pelos do bairro. Quanto à sua questão sobre as cartas do Tarot, confesso que não sei qual é o significado da carta do "Dependurado". O que posso lhe dizer é Nerval era muito culto, muito doido e muito esotérico - pense em um poeta panreligioso! - e que nas Quimeras ele misturou todas as bolas - História, mitologia, religiões, lendas, Tarot cigano - em torno de uma mulher de quem se considerava viúvo, uma atriz de grande beleza de nome Jenny Colon, a quem amara também loucamente durante alguns anos. Jenny surge nos versos de variadas maneiras, como a deusa Ártemis,como a carta da Morte - aí sim - e até mesmo como uma santa italiana martirizada. Sim, El Desdichado e a Torre podem ser traduzidos como arcanos do Tarot, mas também podem ser referências a um personagem literário de Walter Scott no romance Ivanhoé e à famosa torre onde a rainha Leonor da Aquitânia, mãe de Ricardo Coração de Leão, foi feita prisioneira. A verdade é que não se sabe.
Ou seja, Nerval usou um vocabulário esotérico, mas expressou a si próprio, utilizou as mais diversas simbologias mas lhes inventou novos sentidos para além dos seus significados usuais. Criou uma mitologia para consumo próprio pela qual ficou obcecado e que, ao fim e ao cabo, foi apenas o anúncio de um suicídio longamente planejado.
“Obrigado!" e abração
Moacir,
ResponderExcluirJá estive neste bairro adorável em duas ocasiões mas não me canso de ler você falando sobre ele. O que faz seus artigos deliciosos são os detalhes sobre o vinhedo, o castelo e o carro da Renault fazendo pega na ladeira com as bicicletas. Também não sabia que Isadora Ducan dançava em Montmartre e que o Lolo foi um pintor de sucesso. E mesmo gostando tanto de Picasso e de autoretratos não conhecia o Arlequim. Fazer turismo misturado com História e Arte é um presente.
Um abraço para você
Flávia,
ExcluirQue bom que você gosta de Montmartre e apreciou o post. Sei que já conversamos sobre o bairro mas dessa vez estou tentado fazer um passeio diferente, com escalas nas vidas dos artistas - pintores, cartunistas, litógrafos, poetas, alguns deles quase desconhecidos - em textos ilustrados pelas suas obras.Espero que você continue lendo e fazendo seus generosos comentários sobre o turismo artístico. Obrigadíssimo e...
"Um abraço para você"
Belo artigo. Infelizmente, vão longe os dias em que Montmartre era uma vila tranquila entre vinhas e moinhos de vento. Mas o charme descontraído dos becos e escadas cobertos de hera, a tranquilidade dos cafés ao longo da rua des Abbesses e a arte feita por estes malucos beleza ainda perduram. Espero que você tenha pernas para nos levar até 'Pig Alley' onde não há mais filas para entrar nos sex shops, rs.
ResponderExcluirMárcio,
ExcluirCom certeza os botecos da Rua das Abesses são perfeitos, principalmente depois de uma longa caminhada e se rola boa conversa enquanto se observa a vida passando lá fora e se bebe um troço que em qualquer outro local do mundo é um purgante mas ali é uma maravilha: a mistura de Campari, fatias de laranja, vinho branco e água com gás que os nativos chamam de spritz. Mas, so sorry, vou pular os sex-shops: os do Soho dão de dez a zero (rsrs)
Hoje a “night” de "SoPi" não é para “velhinhos em formação” que gostam de jazz, bien sur. É para os jovens fãs da “vibe” da música eletrônica dos novos clubes de música e dança que proliferam no pedaço – um deles bem ao lado do Moulin Rouge.
Keep Walking!
Bom dia Moacir,
ResponderExcluirO Mano me mostrou a Paris da glória e do luxo, dos dourados e dos vitrais, dos palácios e jardins reais. Meu filho me mostrou a maravilha de lugares como Chartres e Giverny e por um pequeno incidente não me levou a Bruges. Quel dommage! Minha nora mostrou o Quartier Latin, as pontes sobre o Sena e a feira fascinante da rua Mouffetard, onde furei fila sem saber. Fuzilaram me com olhares mal encarados e só por uma delicadeza não esperada fui atendida. Com minha mãe nos perdemos em metrôs e museus, em cafés e chocolates, até tentamos entrar no museu do Rodin que estava em greve e fomos barradas por um gendarme pouco gentil que explicava e explicava que estavam em GREVE e eu não conhecia a palavra. Foi divertido! E por conta própria me aventurei, sem lenço nem documento, até a última estação em Paris, de um R.O.R., levando os queridos à loucura. E você me leva a esses bairros e becos fabulosos de cultura e arte e boemia.
Já posso dizer que conheço Paris? É lógico que você deve estar rindo de mim e dizendo Claro que não! (rsrs) Mas posso alinhavar pedaços conhecidos com seus escritos apaixonados e ter uma breve idéia e fechar um cenário.
Sabe o que mais? Acho que começo a gostar um pouco mais dessa Cidade Luz.
Um final de semana de família carinhosa, muito beijo e abraço, muita farra com netinhos. E lógico, muita comida gostosa, certamente cheia de perninhas, bigodes e chifres.
Até mais.
Bom dia Moacir,
ResponderExcluirO Mano me mostrou a Paris da glória e do luxo, dos dourados e dos vitrais, dos palácios e jardins reais. Meu filho me mostrou a maravilha de lugares como Chartres e Giverny e por um pequeno incidente não me levou a Bruges. Quel dommage! Minha nora mostrou o Quartier Latin, as pontes sobre o Sena e a feira fascinante da rua Mouffetard, onde furei fila sem saber. Fuzilaram me com olhares mal encarados e só por uma delicadeza não esperada fui atendida. Com minha mãe nos perdemos em metrôs e museus, em cafés e chocolates, até tentamos entrar no museu do Rodin que estava em greve e fomos barradas por um gendarme pouco gentil que explicava e explicava que estavam em GREVE e eu não conhecia a palavra. Foi divertido! E por conta própria me aventurei, sem lenço nem documento, até a última estação em Paris, de um R.O.R., levando os queridos à loucura. E você me leva a esses bairros e becos fabulosos de cultura e arte e boemia.
Já posso dizer que conheço Paris? É lógico que você deve estar rindo de mim e dizendo Claro que não! (rsrs) Mas posso alinhavar pedaços conhecidos com seus escritos apaixonados e ter uma breve idéia e fechar um cenário.
Sabe o que mais? Acho que começo a gostar um pouco mais dessa Cidade Luz.
Um final de semana de família carinhosa, muito beijo e abraço, muita farra com netinhos. E lógico, muita comida gostosa, certamente cheia de perninhas, bigodes e chifres.
Até mais.
Caríssima Donana,
Excluir"Gratidão" por esse comentário tão bom de ler. Não ter visto Bruges - porque do museu de Rodin o básico nós vimos nas Conversas (rsrs) - é mesmo uma grande pena. Quanto às tantíssimas Paris que a senhora descobriu por sua conta e mérito ou que lhe foram mostradas pelos seus "queridos" que muito apreciam a Cidade Luz, penso que esse seu "alinhavo" vai muito bem, obrigado, e fico feliz de saber que a senhora começa a degustar e a gostar do "cenário"(rsrs)
Mas nessa "franquia" ora inaugurada conversaremos mais da paisagem mental do bairro, das mudanças do mundo no encontro dos dois últimos séculos, dos personagens locais, dos folclore, mitologia e presepadas e da sagrada arte de Montmartre. Espero que a senhora curta a "viagem" e - cruze os dedos! - sobreviver à farra do final de semana (rsrs)
"Até mais"
Pimentel,
ResponderExcluirGostei da escolha do tema porque não conheço o trabalho de muitos dos artistas citados por você. Parabéns.
Sampaio,
ExcluirJá eu gostei do título - A Colina dos Artistas - da lavra do Sr. Editor do blog! - muito apropriado porque a colina será o cenário comum das conversas nessa nova "minisérie".
Muito obrigado pelo comentário.
Abraço
1) O belo artigo do Moacir me fez lembrar da frase de Henrique IV (1553-1610):"Bem que Paris vale uma missa".
ResponderExcluir2) Então aconteceu o seguinte, ninguém precisa acreditar, mas é verdade:
3)Um casal de sobrinhos estavam morando na capital francesa. Ela fazendo doutorado em Ciência Política, ele, acompanhando. Estavam odiando a permanência e tudo dava errado.
4)Lembrei da frase acima atribuída ao Rei Henrique IV e escrevi sugerindo que eles visitassem a Catedral de Notre Dame, assistissem a missa e rezassem pedindo permissão aos Espíritos Locais, que os aceitassem e abrissem as portas.
5)Mesmo não tendo religião, aceitaram e cumpriram o recomendado.
6)Voltaram encantados com a cidade, com as pessoas e com os cursos que ela fez.
7) Missa milagrosa, Henrique IV está certíssimo, e o Pimentel que escreve tão bem, também !
Antonioji,
Excluir"Gratidão" pelo interessante comentário que primeiro me lembrou da minha saudosa mãe que fazia questão de assistir missa na Notre Dame antes de começar a visitar a cidade e que também trouxe para a conversa Henrique IV , esse defensor da tolerância religiosa que foi responsável pelo fim das sangrentas guerras travadas por décadas pelos católicos e huguenotes protestantes franceses, ao garantir a todos idênticos direitos civis e liberdade religiosa, através do Édito de Nantes.
Como muitos católicos se recusavam a reconhecer sua autoridade por ele ser huguenote, Henrique decidiu se "converter" ao catolicismo. Foi nesse contexto político ele teria afirmado que ""Paris vale uma missa". Só que, embora sua conversão tenha mesmo unido a nação, não foi capaz de acabar com o fanatismo religioso pois, em 1610, "le bon roi Henri " foi assassinado em Paris por um fanático católico. Bom final de semana.
Pimentel voltou a escrever sobre pinturas que trazem como imagem lugares de Paris, suas particularidades, atrações, curiosidades.
ResponderExcluirE capta a nossa atenção pelo relato sempre primoroso e detalhado das praças, dos cafés, dos lupanares, dos restaurantes, refeições, dos cabarés e dos locais mais frequentados pelos pintores e escultores.
O texto é tão preciso, que nos transporta no tempo e nos faz sentir o clima do ambiente e desses encontros no mínimo fabulosos de gênios com seus pinceis e cinzeis.
Até as suas dificuldades iniciais, antes de conseguirem a fama, Pimentel se mostra atento, e narra como que se alimentavam e se divertiam, mesmo com as carências pecuniárias que os caracterizavam.
A tal postagem, a meu ver, podemos pacificamente rotular o seu autor como um romântico incurável, que não só possui vastos conhecimentos sobre esses movimentos culturais, como os pesquisou, andou por onde os episódios aconteceram, adicionando ao artigo a legitimidade necessária à sua credibilidade, e nos informando com preciosos pormenores como que subsistiam em uma época de grande ebulição na Europa, principalmente na cultura, que se desenvolvia freneticamente em face de acontecimentos políticos e beligerantes, como as duas maiores Guerras do Mundo servindo como baliza para essas aspirações, e o início do comunismo na Rússia.
Paris, como berço de uma cultura essencialmente voltada às artes e ao ser humano, não poderia deixar de ser o tambor que retumbava para o mundo tais desenvolvimentos!
Parabéns, Pimentel, por mais esta postagem de extrema qualidade e informação.
Um forte abraço.
Saúde e paz.
Prezado Bendl,
ExcluirNa casa da minha infância havia muitos livros e leitores vorazes. E então, há quase quarenta anos, conheci a minha companheira de viagem, que então cursava História da Arte. Foi o encontro da fome com a vontade de comer. De lá para cá, juntos, temos cultivado o interesse comum, visitando museus, catando livros de arte e biografias de artistas nos sebos e livrarias, vendo filmes, conversando sobre o tema.
Não sei se é "romantismo" mas há algo mágico sobre "viajar plenamente", em um lugar que a gente conheceu nos livros de história e romances e que, de repente, ganha vida. Tem alguma coisa emocionante nesse perambular ao longo de ruas e praças e pontes e rios onde a História aconteceu, onde os escritores que apreciamos escreveram, os pintores pintaram , os poetas se inspiraram, onde as gerações que vieram antes de nós sonharam e pensaram e mudaram o mundo. A gente aprende o significado da continuidade, das geniais frases feitas das quais nos apropriamos de vez em quando tipo " há um passado no meu presente" ou "o futuro terá um coração antigo". E passa a valorizar não só aquilo que é criado mas o próprio ato criativo humano.
Creio que o maior bem que Dona Arte me fez e continua fazendo nessa vida é dela afastar o tédio substituindo-o por uma espécie muito tênue mas sempre renovada de esperança.
Obrigado pelo belo comentário e outro forte abraço.
Prezado Autor, Sr. MOACIR PIMENTEL,
ResponderExcluirMaravilhoso seu Artigo sobre Montmartre, esse Bairro tão especial de Paris-FR, enquadrado dentro da História, desde quando era externo aos muros de Paris e ao lado do Bairro Judeu.
Seus Escritos são uma delícia de ler, desde as descrições da milenar Índia, Sudeste Asiático, de Portugal e Península Ibérica, da Itália, especialmente a Toscana, etc, e lógico, especialmente de Paris-FR.
Escritos maravilhosos, que encantam qualquer Leitor.
Abração.
Prezado Flávio Bortolotto,
ExcluirSaber que você continua lendo as Conversas é tão bom quanto merecer um dos seus generosos comentários, dos quais todos sentimos falta, porque enriquecem o blog. Agradeço-lhe imenso pelas boas palavras e espero continuar merecedor da sua leitura. Volte sempre, por favor!
Abração