A cruz occitana, das armas dos Condes de Toulouse, adotada pelos cátaros antes das Cruzadas em vez da cruz do suplício |
Antonio Rocha
O movimento
Cátaro tem origem nos primórdios do Cristianismo, só reconheciam e aceitavam o
Novo Testamento, como livro básico, principalmente o Evangelho de João. A
interpretação que fazem das Escrituras é bem original: não crêem no Juízo
Final, nem na Ressurreição de Jesus. A salvação se obtém mediante a
transformação interior de cada praticante. Neste sentido os Espiritualistas
contemporâneos se aproximam do Catarismo. Não têm a paixão redentora de
converterem outros “ímpios”, “pagãos” que não professam a fé que eles
cultivavam. Cada um na sua respeitando os outros. Não tinham dogmas, uma
linhagem que se espalhou por várias cidades da Europa, mormente França, onde
até hoje existem ruínas das cidades, povoados e lugarejos cátaros. Os reflexos
podem ser vistos até na Bulgária, Turquia, Inglaterra, Itália etc. Mas, com
toda essa “liberdade” ameaçavam os poderosos da época e entre os séculos X e XV
foram sumariamente executados. As cruzadas mataram todos os cátaros.
Quem afirma
é o especialista no assunto Michel Roquebert, no livro La Religión Cátara,
Editions Loubatières, Toulouse, 1990. Estudiosos afirmam que sofreram
influência do Gnosticismo, esoterismo e há quem diga que são precursores dos
espíritas e kardecistas atuais.
Michel
declara que há um equívoco na tradução do grego katharos, muitos pensam e falam em “puros”, esta, na verdade, era a
forma irônica que o sistema da época os chamavam e por isso os exterminaram.
Roquebert vai além, cita várias fontes e escreve que chamar os Cátaros de puros
é “infamante”, pois eles eram simples, tinham consciência da imperfeição humana
e a melhor tradução é como eles se auto-identificavam: “Amigos de Deus”.
Os cátaros
não professam a Santíssima Trindade, afirmam que Jesus era um mensageiro, e não
Deus, como conhecemos hoje, popularmente. Cristo não veio para morrer na cruz,
não há esta missão redentora. Não existe isso de redimir os pecados com o
sangue derramado no madeiro. Para os cátaros, Jesus foi um Mestre, um
professor, o “Pai Espiritual” de uma corrente de filosofia de vida e não o Deus
Criador.
Mesmo o Novo
Testamento, algumas partes, eles questionam a autenticidade. Os cátaros vêem na
Cruz um instrumento de suplício e assim não a veneram. Dizem que Jesus foi
crucificado, mas não morreu na cruz, neste item aproxima-se de muitos budistas,
maçons, esotéricos que afirmam o mesmo.
Eis uma
pergunta cátara: “Se tivessem enforcado o
seu pai, você iria adorar, reverenciar e tornar sagrada a corda que o
estrangulou ?”
O batismo
era espiritual, sem água, com imposição de mãos, como se fosse uma passe
espírita.
No final do
livro há uma boa bibliografia para quem desejar os conhecimento desta bonita
Fé.
Modernamente
os cátaros estão aos poucos ressurgindo, renascendo, reencarnando, através de
praticantes solitários, pesquisadores e na França existe o Centro de Estudos
Cátaros.
Michel
afirma que a Fé Cátara: “Era a mensagem
de amor mais bonita que se conheceu no Ocidente, desde os tempos apostólicos”.
Na Espanha
já existem publicados diversos livros sobre a Doutrina Cátara.
O tema nos
faz lembrar o professor budista inglês, Edward Conze, que já abordamos aqui...
“Quanto mais se tornar patente o desastre de
nossa civilização, mais pessoas buscarão a sabedoria do passado...”.
você poderia indicar alguns textos e livros em língua portuguesa sobre este assunto?
ResponderExcluir1)Obrigado Wilson, pelo texto e ilustração. meu computador estava quebrado, reencarnou há poucos minutos...
ResponderExcluir2) Dica bibliográfica:
a) "Os Cátaros e o Catarismo, do Espírito à Persguição", Lucienne Julien, edições Ibrasa, 1993. (Neste livro a autora, historiadora, informa que vários clássicos da Literatura Medieval tiveram influência dos Cátaros, inclusive o magnífico "Dom Quixote", de Cervantes, é uma novela Cátara (pág. 148).
b) a editora espírita Celd, RJ, publicou "Os Cátaros e a Heresia Católica", de Hermínio C. Miranda.A editora Lachatre, também publicou.
c) as duas obras citadas podem ser encontradas em sebos.
d) na web se encontra muita coisa.
3)Abraços de ano novo !
O nosso amigo Antônio, budista, tem se caracterizado por nos trazer uma série de orientações de cunho religioso ou de fé.
ResponderExcluirAprecio tais ensinamentos porque expandem a mente, a ampliam no que diz respeito a entendermos melhor as razões pelas quais cada um de nós professa a sua crença.
Mas, preocupa-me a quantidade de livros e orientações sobre como professar esta fé.
Cada uma das crenças existentes tem uma mensagem que a difere das outras, claro, que, se as somássemos, acredito que teríamos sérias dificuldades para viver!
E são tantas as observações, que a tentativa de se seguir as parâmetros propostos pelos cátaros, católicos, protestantes, judeus, islâmicos, politeístas, espiritualistas, budistas ... mais ainda deixariam o ser humano atrapalhado do que possibilitando visualizar a sua vida como uma trilha sem obstáculos, apenas que deve ser vivida.
Penso que, se vivermos sem fazer para os outros o que não queremos que façam conosco, basta.
A vida será abundante, e teremos tempo para nós, que fomos criados com incalculáveis defeitos e, graves, e não temos a chance de consertá-los, mas de se conviver com a humanidade eivada de erros de construção porque assim nos fizeram!
Logo, a ânsia de ser correto nos leva a ser muitas vezes o contrário, mais anda incorreto, pois deixamos de lado o próximo, o diferente, aquele não comunga da minha fé, então um suposto inimigo.
Pior:
As religiões que para poderem sobreviver ou criar uma aura de mistério em torno de si, se dizem secretas, a tradução é simples:
Não podem ser propaladas porque são mesmo falsas e seus métodos não são os apropriados.
Carpe Diem!
Um forte abraço, Antônio.
Saúde e paz.
1) Oi Bendl, eu gosto muito de ler, então leio de tudo um pouco.
Excluir2)Para o meu gasto e gosto pessoal cheguei a conclusão que todas as religiões falam uma coisa só, na essência, que é nos conectar com o Criador, e deixo de lado, detalhes culturais ou preconceituosos, conforme a minha visão de Ecumenismo, embasada em Gandhi.
3) Não ligo para os dogmas religiosos.
4) Respeitando-se as devidas proporções, uma pessoa que gosta de beber cerveja diz: "eu bebo todas(as marcas)"
5)Eu... rezo todas... fidelidade ao Criador que tem muitos nomes...
6)Abração.
1) oi Bendl, pela manhã respondi, não apareceu. Não sou bom nestas modernidades...
Excluir2)Eu tinha dito e digo que gosto muito de ler, de tudo um pouco. Não sigo os dogmas religiosos, mas vejo em todas uma mesma Essência, como Gandhi via.
3) Assim, para mim, todas são iguais, tirante o aspecto cultural e um ou outro detalhe...
4)Por exemplo, tudo é futebol, independente das cores de cada time.
Mestre Antonio, um artigo interessante sobre uma comunidade européia que foi violentamente perseguida, na minha opinião, não só pela intolerância religiosa mas talvez também porque sua doutrina de propriedade comum da terra ameaçava o sistema feudal.
ResponderExcluirQuem sabe, num próximo artigo, você nos fale de como a interpretação feita pelos cátaros do evangelho de São João combina com a idéia deles da existência de um Deus como princípio do bem mas da terra e o corpo material serem criação do Príncipe do Mal?
Um abraço do Mano.
Antonioji,
ResponderExcluirO pouco que sei sobre esses "Amigos de Deus" é História e relacionada às Cruzadas que,por óbvio, não tiveram apenas motivações religiosas.
Confesso que, no geral, concordo com o comentário do Bendl. Porque tem mais estrada atrás de mim, do que vislumbro pela frente. Apesar de acreditar que o "futuro terá um coração antigo" há primeiro que tentar viver no presente um caminho do meio digno. Infelizmente não tenho mais tempo para ler tudo o que gostaria. Ademais, a essa altura do post, sei o que sou: um animal com uma mente emergente e uma consciência em evolução. Nesse contexto me parece que não se encaixa nas minhas prioridades de leitura a filosofia cátara. Mas fiquei curioso. E então, à pertinente questão feita pelo Wilson, peço licença para acrescentar mais uma. Se dos cátaros não restou a palavra escrita, como poderia, dois séculos depois, Cervantes ter se inspirado em um Quixote de tão nobre estirpe? Ao fazer tal afirmação a historiadora Lucienne Julien fundamenta sua argumentação, a exemplo de outras, na oralidade medieval? De resto é muito bom lê-lo de novo nesse novo ano.
Obrigado e abração
1) Bom questionamento Pimentel.
Excluir2)Penso que a historiadora pesquisou "registros escritos" de Literatura Oral Medieval e outros que tais.
3) Devem ter ficado escondidos alguns resquícios de escritos Cátaros, da mesma forma que ficaram as imponentes ruínas no sul da França.
4)Abração.
1) Oi Wilson, vc tem razão: a civilização cátara foi algo ótimo na Europa de então, mas como tudo na vida é impermanente, passou...
ResponderExcluir2)Alguns espiritualistas falam que "O Evangelho de João" é o mais místico de todos:
3) "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus"... começa assim o citado e belo Evangelho.
4)Verbo é palavra, com a palavra Deus fez o mundo e com a palavra (pensamentos, ações) nós fazemos o nosso mundo... as vezes para o Bem ou para o Mal...
5)É por aí, pois as duas naturezas estão dentro da gente, enquanto não nos iluminarmos/santificarmos...
6) Abraços.
Olá Antonio,
ResponderExcluirBenvindo!!
Seu post foi todo novidade para mim, que não sou sabichona. E gostei dos comentários e das perguntas. Concordo com eles e quero saber mais com elas.
As férias foram muito boas?
Até mais.
1) Oi Ana, as férias foram ótimas. Revi meu irmão e duas irmãs e sobrinhas.
ResponderExcluir2)O clima estava agradável, chovia quase todo dia...
3)Adoro o Cerrado e o DF.
4)Quanto aos temas, vamos continuar estudando e pesquisando.