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Moacir Pimentel
Às vezes
é preciso prestar atenção nos países que estão dando certo nesse mundo cruel.
Por incrível que nos possa parecer eles existem! São países onde a corrupção
tem índices baixíssimos, a administração pública é vanguardista, eficiente e
transparente, a justiça não é cega e as leis são duras.
Estou
falando dos quatro principais países nórdicos – a Suécia, a Dinamarca, a
Noruega e a Finlândia – que, sem quaisquer dúvidas, vão muito bem, obrigado.
Os
nórdicos estão no topo das tabelas de tudo, são os primeiros em todos os
rankings, seja de competitividade econômica, de saúde social, de educação, de
PIB, de felicidade. Tanto que os especialistas em desenvolvimento passaram a
indicar os países do norte da Europa como modelos de modernização bem-sucedida,
justiça social, baixa violência e preservação cultural.
Quanto
aos serviços públicos, vale o pragmatismo. Se eles funcionam, os bravos Sigurds
não estão nem aí para quem os fornece, se o estado ou empresas privadas. Mas
medem o desempenho em todas as escolas e hospitais e concentram-se no longo
prazo, mantendo fundos soberanos que garantam a educação, as tecnologias de
ponta, o meio ambiente e as futuras gerações. A educação - da creche a quantos
terceiros graus alguém quiser fazer - e a saúde são gratuitas. Tratamento
dentário? Até os dezoito anos as criancinhas têm dentistas de graça. Pense em
sorrisos brancos.
Enquetes
demonstram que para esses cidadãos o valor maior é o da igualdade - inclusive a
de gênero! - e cada vez mais países tentam seguir os passos dos nórdicos rumo
ao bem- estar social sem abrir mão da riqueza. Por lá se acredita que a
resposta é educação. Afinal, como poderá ser grande, justa e rica uma nação
cujo povo é ignorante?
No último
mês de dezembro, assisti a um documentário na televisão portuguesa sobre o
sistema educacional dinamarquês que me deu muuuito o que pensar. Tanto assim
que estive rascunhando essa conversa nos últimos seis meses (rsrs)
Basicamente
o que o documentário afirmava é que as escolas da Dinamarca são frequentadas
pelas crianças mais felizes do mundo devido, em grande parte, ao fato do seu
sistema de ensino ter incorporado competências essenciais para a vida como, por
exemplo, a EMPATIA.
Isso
mesmo!
“Empatia”,
nos dizem os dicionários, é a capacidade de sentir o que uma outra pessoa
sentiria em uma determinada situação e circunstâncias dadas e de compartilhar
tais sentimentos. Ou seja, é a capacidade de se colocar no lugar do outro e de
sentir o que ele sente, um requisito não só para a solidariedade e a caridade,
mas para a vida civilizada.
Empatia
não é um sinônimo de simpatia. E qual é a diferença entre elas? Talvez a
simpatia contenha um sentimento de piedade pelo infortúnio de outra pessoa. E
quem é que gosta de provocar pena? Nesse sentido a simpatia não conecta as pessoas
como a empatia sim. Pois empatizar é, principalmente, ser capaz de entender a
perspectiva de outra pessoa, respeitar sua opinião sem condescender e fazer
julgamentos.
A bem da
verdade o tal documentário bem que me pareceu uma estorinha de trancoso talvez
pela beleza física da Dinamarca - ou quem sabe? – porque seja complicado
entender as dinamarcas da vida pensando em tupiniquim ou vice versa. Mas
enquanto eu assistia ao programa lembrei-me de que aquele pais realmente é, ano
após ano, apontado como um dos mais felizes do mundo pela Organização das
Nações Unidas no ranking mundial de FIB. Traduzindo: Felicidade Interna Bruta
(rsrs)
É claro
que nessa felicidade toda têm muito peso os quesitos de parentalidade e sistema
educacional e aparentemente o sentimento de empatia altamente desenvolvido dos
dinamarqueses é uma das principais razões pelas quais o país funciona.
O fato é
que, para os educadores dinamarqueses, o ensino da Empatia é considerado tão
importante quanto os de Matemática e Literatura e por isso a matéria é
incorporada no currículo escolar desde a pré-escola até o final do ensino médio
ou, para ser mais específico, dos três até os dezoito anos.
Sucede
que os dinamarqueses são de opinião de que todos os da nossa espécie nascem com
uma aptidão para a empatia pois ela é um resquício sensível e ainda latente
dentro de nós que nos foi legado por nossos antepassados primordiais. Por
aqueles brutos cabeludos das cavernas que viviam - para sobreviver aos perigos
de uma natureza inóspita e ainda não dominada - em um estado altruísta e
cooperativo onde talvez a tal da empatia fosse apenas instintiva.
Não há
como negar que nossos cérebros ainda estão conectados o suficiente para
estremecer quando alguém dá uma topada sanguinolenta no dedão do pé ou bate no
polegar com um martelo, ou para rir se alguém está rindo ou para chorar diante
da perda de um ente querido de outro ser humano.
O
problema é que a nossa fiação empática varia. Algumas pessoas têm fantástica
empatia natural e podem captar como as demais estão se sentindo só de olhar
para elas ou escutar-lhes as vozes ao telefone. Outras possuem apenas uma
pequena quantidade de empatia natural e não vão notar que estamos com raiva até
que comecemos a berrar impropérios. A maioria das pessoas está em algum lugar
no meio mas podem aprender.
Podem ser
treinadas empaticamente e o exercício passa pelo autoconhecimento: para
compreender a emoção do outro, é preciso conhecer e entender o que se passa
dentro da própria cabeça. Assim como podemos treinar os bíceps na academia, e
ficar mais fortes, podemos ser cada vez mais empáticos com a prática. A
plasticidade do cérebro torna isso possível, principalmente na infância.
E é por
isso que começam a treinar seus alunos no jardim de infância com “lições”
projetadas especificamente para promover sentimentos de empatia e compreensão
pois, contrariamente à crença popular no restante do planeta, eles apostam na
tese de que, se lhes for dada uma chance, desde a mais tenra infância as
pessoas se preocuparão sim com o bem-estar umas das outras.
Qualquer
pai e/ou mãe de primeira viagem aprende rapidamente com seus primogênitos um
fato básico da vida: somos criaturas naturalmente egoístas. Do primeiro choro
até o último suspiro, nossas necessidades anulam as evolutivas, contribuindo
para um mundo desagradável na melhor e perigoso na pior das hipóteses.
É claro
que nas criancinhas a empatia não dá o ar da graça dela naturalmente nem lhes
cai do céu a capacidade de entender as outras pessoas e de querer ajudá-las.
Então faz sentido a crença dinamarquesa de que a empatia, em vez, é uma
habilidade - semelhante à matemática ou a ciência ou a escrita - que pode e
deve ser ensinada para a formação de cidadãos socialmente mais competentes.
E então
seus educadores se especializaram em facilitar esse aprendizado e em
incrementar os estoques empáticos de seus pupilos através de “cenários de
ensino” nos quais os estudantes têm espaço para expor seus próprios problemas e
falar de seus conflitos e para se inteirar dos alheios.
Dizem os
especialistas daquelas paragens que essa empatia adquirida é praticada com
sucesso comprovado para reduzir o bullying escolar, por exemplo, e para formar
adultos emocionalmente equilibrados que se tornarão os sujeitos de futuras
melhorias na sociedade.
Segundo
os educadores nórdicos, não só a empatia ajuda a transformar as crianças em
pessoas mais agradáveis mas é a chave para forjar as conexões sociais que
determinam seus fracassos ou sucessos. Pois, para serem verdadeiramente
empáticas, as crianças precisam aprender como valorizar, respeitar e
compreender os pontos de vista de outra pessoa, mesmo quando não concordam com
eles.
O fato é
que ninguém ensina Empatia melhor do que a Dinamarca. As crianças dinamarquesas
aprendem, desde a mais tenra idade, que estar conectadas socialmente - e
empaticamente - a outras pessoas é mais importante do que garantir nota dez em
seus exames nas demais matérias. Elas levam essa convicção na bagagem para além
da escola, para a idade adulta e para a vida.
Mas na
prática, o que os dinamarqueses fazem para garantir que as suas crianças
desenvolvam essa habilidade tão importante?
Bem, é
como se a “programação” dos dinamarqueses fosse invertida. Eles acreditam que
sim, a sobrevivência exige uma pitada de egoísmo mas que, para bem viver, é
preciso algo muito mais difícil: a generosidade.
Na
Dinamarca os “programas empáticos” começam desde o jardim de infância na
maneira como as bancas escolares são organizadas nas salas de aula. Ao longo da
escolaridade, os estudantes são agrupados de forma sempre mutante. Desde a
primeira experiência de trabalho, os miúdos são colocados em grupos, nunca
individualmente. A regra principal é que os alunos estejam sempre juntos em uma
espécie de rodízio, jamais separados.
Os
assentos não são atribuídos a nínguém, per se. Todos os alunos mudam de
cadeiras ao longo do ano de forma tal a conviver com diferentes colegas. Mesmo
que não seja uma coisa verbalizada e discutida abertamente, os alunos sabem que
o professor mistura alunos com diferentes habilidades para que eles possam se
ajudar uns aos outros. Tal prática é chamada de “aprendizagem cooperativa”.
Há método
e propósito na prática de juntar os alunos que são mais fortes academicamente
com os de notas mais baixas, os astros dos esportes com os pernas de pau, os
mais gregários com os tímidos e assim por diante. Como o gênio em matemática
pode ser terrível no futebol, e vice-versa, o objetivo é que os alunos vejam
que todos têm qualidades positivas e características negativas e compreendam a
dualidade e as limitações humanas, enquanto se apoiam em seus esforços para
passar de ano.
Os
nórdicos acreditam que este sistema de ensino interativo, além de promover a
colaboração e o trabalho em equipe, encoraja inconscientemente a empatia porque
todos têm que permanentemente tentar compreender seus pares e aprender a
conviver com novas personalidades, nelas tirando proveito dos pontos fortes e
superando aqueles mais fracos.
Nesses
grupos os melhores alunos em cada matéria e os de maior habilidade em determinada
tarefa, ensinam os menos capazes e os ajudam a vencer suas limitações e a
resolver seus problemas. Os dinamarqueses são de opinião que ensinar aos outros
colegas e/ou aprender com eles realmente melhora a aprendizagem individual
muito mais eficazmente do que a memorização solitária.
Dizem
que, em uma cultura competitiva, um aluno é informado de que ser bom não é
suficiente e portanto é treinado para triunfar sobre os outros e que quanto
mais ele compete, mais ele precisa competir para se sentir bem consigo mesmo.
Tem mais. Juram de pés juntos que como obviamente quando um aluno ganha outro
perde, os demais tendem a invejar o vencedor e a desprezar o perdedor.
E estão
absolutamente convictos de que a cooperação é muito mais eficaz e bem-sucedida
do que a competição para ajudar as crianças a se comunicarem eficaz e
eficientemente em um mundo global. Garantem que as crianças se sentem melhor
trabalhando com os colegas do que competindo contra eles, e que suas
auto-estimas não dependem de ganhar o concurso de matemática, o campeonato de
ortografia ou em um jogo qualquer.
Na escola
dinamarquesa estranha é justamente a concepção de se trabalhar sozinho e não
ajudar os coleguinhas é algo inadmissível. As crianças são treinadas para, no
caso de não entenderem alguma coisa, por exemplo, perguntarem a um amigo, ao
colega do lado e, só no caso de nada disso funcionar, perguntarem ao professor.
Segundo a
pedagogia escandinava este tipo de aprendizado compartilhado que encoraja
crianças a se ajudarem umas às outras incentiva as autoconfiança e autoestima,
faz os alunos confiarem em suas próprias habilidades. Tal prática também
desenvolve a confiança entre os alunos, que não encaram seus colegas como
concorrentes que podem roubar seu trabalho, mas sim como parceiros merecedores
da sua confiança.
Os alunos
que ensinam os colegas trabalham mais para compreender as matérias, recordá-las
com mais precisão e usá-las mais eficazmente. Mas eles também têm que tentar
entender a perspectiva dos colegas para que os possam ajudar a captar a
mensagem. A capacidade de explicar um assunto complicado para outro aluno não é
uma tarefa fácil, mas é uma habilidade inestimável para o resto da vida.
Não é
nenhuma surpresa que a empatia seja uma das características mais importantes dos
líderes bem sucedidos, dos profissionais mais orientados para seus propósitos,
dos relacionamentos mais significativos. As pessoas de sucesso não operam
sozinhas. Todo ser humano precisa do apoio de outras pessoas para alcançar
resultados positivos na vida.
Os
dinamarqueses citam estudos e exames que provam que tal colaboração proporciona
um nível profundo de satisfação e que curiosamente os cérebros humanos
registram mais prazer ao cooperar para uma vitória coletiva do que uma
solitária. Deve ser como no sexo (rsrs)
E foi a
essa altura do documentário de televisão que vimos as cenas ou os “cenários de
ensino” mais impressionantes. É preciso esclarecer que dinamarqueses realmente
acreditam que Dona Empatia é um impulso valioso para o fortalecimento e sobrevivência
do grupo, no caso, da nação.
Trata-se
pois de um projeto educacional nacional e obrigatório e evolutivo que se inicia
na mais tenra idade quando eles começam a mostrar aos pequenos imagens de
outras crianças, cada uma exibindo no rosto uma emoção ou sentimento diferente
que eles são incentivados a descrever: tristeza, medo, raiva, frustração,
felicidade e assim por diante. É claro que a gurizada erra, mas aprende – me
lembraram de um verso do poeta Manoel de Barros que diz: “repetir, repetir, até ficar diferente” - e os frutos dessa criação
que estimula a pensar nos sentimentos e nas necessidades dos outros são
colhidos diariamente.
É como se
as crianças olhando para aquelas fotos fossem alfabetizadas em expressões
faciais, fossem treinadas para ler os rostos das pessoas e para traduzir o que
os outros estão sentindo, para identificar humores, sentimentos e emoções. Em
seguida são incentivados a criar narrativas de como as crianças imaginadas
podem estar se sentindo e, principalmente, de como poderiam ser ajudadas.
Ao
colocar em palavras o que viram nas fotos de outras crianças e o que eles
mesmos sentiram, os miúdos dinamarqueses aprendem a conceituar seus sentimentos
e os dos outros, aprendem a se conhecer melhor, desenvolvem a capacidade de
diagnosticar e administrar problemas e o autocontrole.
Uma parte
essencial do programa é que os professores e as crianças não julgam as emoções
que identificam. Em vez disso, simplesmente reconhecem e respeitam esses
sentimentos. Simples assim. Tais lições compartilhadas em ambientes de sala de
aula trabalham em ambos os sentidos: os professores também aprendem a entender
melhor os alunos, o que pode ajudá-los a se tornarem melhores professores e a
servirem como uma ponte ao interagir com os pais, promovendo bem estar
agregado.
A
criançada tem classes de anti-bullying, pratica exercícios para não se deixarem
intimidar e entram em contato com técnicas que os tornam mais conscientes, mais
preocupados uns com os outros, mais capazes de desenvolver consciência
emocional e mais competentes em sala de aula, nos trabalhos em equipe. O
respeito pelas diferenças é motivado e trabalhado diariamente.
A aprendizagem
socioemocional é feita na escola e o desenvolvimento das habilidades sociais,
da interação e do desempenho em conjunto é minuciosamente monitorado e mais
valorizado do que quaisquer outros desempenhos e/ou notas. Em um mundo
globalizado, a capacidade de um miúdo de respeitar e trabalhar com alguém que
não é como ele, lhe confere um diferencial imenso e uma habilidade de muito
valor.
À medida
que os alunos crescem, o currículo amadurece e os estudantes passam a ter
sessões semanais de resolução de problemas, discutindo as diferenças que estão
tendo uns com os outros, ou com outro grupo, na sala de aula ou nas suas casas
e/ou comunidades, ou em situações que enfrentam na escola, como o bullying.
Uma
informação importante é que na Dinamarca o bullying infantil, na última década,
diminuiu espantosos noventa por cento. Todos se concentram nas mesmas coisas:
escutar uns aos outros, trabalhar os problemas como um grupo e aprender com as
experiências de outras pessoas.
Pode ser
um piti de uma das garotinhas, o divórcio dos pais de uma outra, uma questão
entre dois estudantes apenas ou entre dois grupos, ou mesmo algo não
relacionado a escola e se o céu for de brigadeiro e não tiver busílis nenhum
para ser discutido, a galera simplesmente relaxa e joga conversa fora enquanto
come bolo ou outras guloseimas.
Trata-se
da hora semanal reservada para a turma, quando os alunos e professores param e
simplesmente interagem tentando criar uma cultura de abertura e um ambiente
compreensivo a fim de encontrar consenso e soluções.
Que tipo
de mudanças poderia trazer uma hora apenas por semana para ensinar às
crianças a inventar respostas para problemas não resolvidos? Bem, com certeza
as crianças que compreendem como se sentem e como os outros se sentem e que o
mais particular é o mais geral, são necessarianente mais resolvidas e seguras.
Além
disso o cultivo dessas habilidades empáticas aprendidas nas escolas pode fazer
a diferença para os adultos que serão um dia, ajudando-os a administrar
problemas em conjunto com base factual em conversas civilizadas e escolhas
fundamentadas. Facilitar a conexão ao invés da divisão, mal é que não fará a
ninguém.
É claro
que os alunos dinamarqueses também estudam a palavra escrita mas ela também
serve de pretexto para Dona Empatia. A Literatura é uma janela para os mundos
de outras pessoas, para as diferentes maneiras das pessoas serem e pensarem.
Foi interessante verificar como as escolas dinamarquesas linkaram leituras de
ficção com empatia.
Rolam
classes de leitura de grandes e clássicas obras não só para ensinar Literatura
mas também para aprimorar a capacidade dos alunos de se conectarem com os
enredos e de entenderem as emoções dos seus personagens. Os dinamarqueses
acreditam que bons livros ajudam os estudantes a perceber melhor seus
semelhantes e dessemelhantes e que a ficção literária é capaz de aumentar neles
a capacidade de detectar e entender as emoções de outras pessoas, uma
habilidade crucial na administração em terra firme de relacionamentos sociais
complexos.
Concordo
veementemente com os prezados nórdicos. Pois sou de opinião que aquilo que os
grandes escritores fazem é transformar seus leitores em escritores. Na ficção
literária, a incompletude dos personagens transforma nossas mentes para tentar
entender as mentes dos personagens. A leitura nos obriga a preencher as lacunas
e a participar da trama, a entrar em um novo ambiente e a nele encontrar nosso
próprio caminho.
O que as
escolas dinamarquesas estão fazendo é transferir a experiência lida na ficção,
a visão de um mundo interior que não está em exibição preta no branco, para
situações de aprendizagem empática reais em salas de aula. É como se os
dinamarqueses quisessem que seus alunos se colocassem nos sapatos do Dom
Quixote e do Sancho de Cervantes, nos de Bentinho e nas sandálias da Capitu do
nosso Machado e perguntassem às crianças como tinha sido ser todos eles nas
circunstâncias deles apostando que nos espaços entre os personagens pode ser
descoberta a empatia.
Porém...
Contra os
benefícios dessa bela Era da Empatia vozes já se levantam. Pode lhe parecer
estranho, de cara, que alguém possa ser contra a empatia. Afinal que mal pode
nos causar a identificação com os pensamentos e sentimentos de nossos
semelhantes?
Creio que
o assunto deve sim passar pelo contraditório e que é preciso analisar com mais
profundidade se os dinamarqueses estão certos ao jurar de pés juntos que o
mundo seria um lugar melhor se a nossa sensibilidade empática prevalecesse
sobre a nossa razão.
Na
próxima conversa faremos essa crítica.
Um artigo interessante e perturbador. Nem sei o que comentar, Moacir. Se você levou 6 meses pra escrever vou precisar de um tempo pra entender kkk Só depois de ler a sua crítica vou dar a minha opinião porque a Dinamarca e seu ensino são tão distantes da nossa realidade quanto o planeta Marte. Obrigada!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirÉ mesmo complicado compreender as dinamarcas que funcionam. No caso, trata-se de um povo bem educado e saudável, de uma cultura igualitária, de mulheres e homens iguais nos deveres e direitos e salários, o que significa uma poderosa força de trabalho. Estamos falando de bem estar social, de livre comércio, de um alto nível de confiança, de um dos melhores lugares no mundo para se iniciar um negócio, de apoio à inovação, de educação disponível para estudantes de todas as classes sociais sem limitações, de instituições democráticas fortes que promovem o crescimento econômico: estado de direito, baixíssima corrupção e direitos bem protegidos.
É claro que é perturbador perceber o quanto essa paisagem é diversa da nossa. Dá mesmo uma tristeza e a sensação de que perdemos a largada. Mas ISSO é realidade e não um conto de fadas. Então quem sabe um dia nossos netos gritem terra à vista? Fico na escuta da sua futura opinião.
"Obrigado!" e abração
Tá certo, tá certo.
ResponderExcluirSe a empatia resulta também em altruísmo, e eu me colocar no lugar de outro e sentir as suas emoções e, desta forma, diante de situações idênticas eu saber como agir, como me oferecer ou doar o necessário, indiscutivelmente essa qualidade mais aprimorada advém da educação, do ensino da empatia!
Logo, se os países escandinavos têm as melhores escolas e até a disciplina empatia, o resultado é um povo mais feliz, mais ordeiro, mais evoluído, mais empático, compreensivo, mais evoluído e desenvolvido!
A questão justamente dos governos brasileiros é esta, de jamais se colocarem no lugar do povo, mas única e fundamentalmente se preocuparem consigo mesmos e administrarem o país para si e apaniguados.
E, se a empatia é enaltecida pela educação, e um dos nosso problemas mais graves é o analfabetismo funcional e absoluto, o povo cada vez mais se distancia da empatia, tratando de viver somente para si mesmo, deixando de lado os problemas alheios e até do país, exercendo, em consequência, muito mais o egoísmo!
Explica-se, assim, a razão pela qual não nos importamos mais com a crise, com este caos reinante, pois enquanto estou empregado ou tenho meu negócio, ganho o meu dinheiro e a minha família está bem, pouco se me dá a situação dos desempregados, dos inadimplentes, dos doentes que não são atendidos, dos presos injustamente, enquanto os verdadeiros e grandes ladrões do povo e do erário estão livres, leves e soltos, pois me falta a empatia.
E menos me interesso pela impunidade em confronto aos que estão detidos quanto à gravidade do crime praticado.
Certamente a violência exacerbada, a corrupção, a desonestidade, os roubos, a exploração contra o povo são decorrentes da falta de educação, objetivo de todos aqueles que foram governantes desta nação.
Imagino, em decorrência, quando ouvem falar na necessidade imperiosa de se investir na área educacional e de se ter como uma das disciplinas do currículo escolar, a Empatia!
Indiscutivelmente não temos sequer como avaliar quando teremos esta excelência na educação como existente hoje na Escandinávia.
Talvez nunca conseguiremos atingir este patamar ideal para uma população, justamente pela falta que temos de investimentos neste setor e de que algum governante decida priorizar a educação, e não a política, esta sempre deletéria, abjeta, nociva e nefasta ao povo brasileiro.
Aplaudo o artigo de Pimentel, pois pontual, adequado, extremamente importante.
Escrito com a qualidade de sempre, nos anima a praticar a empatia, nos impulsiona a ser mais compreensivos e tolerantes com as demais pessoas porque a partir do momento que nos colocamos em seus lugares, amplia a nossa visão tanto do outro quanto de nós mesmos.
Agradeço ao autor o texto tão bem feito, e que me faz entender os porquês de eu ser aceito nesse meio cultural, que não seria o meu lugar, evidentemente, mas a explicação é simples:
O Wilson, a Ana, Rocha, Pimentel, Palmeira, Domingos, leitores deste oásis cultural, todos, indistintamente, possuem esta qualidade excepcional, a empatia, então o motivo da minha permanência no Conversas do Mano, pelo qual agradeço penhorado, ou seja, fazem um enorme sacrifício para se colocar no meu lugar de ignaro, de um escrevinhador.
Uma pergunta, Pimentel:
Os pais não teriam desenvolvido a empatia em níveis superiores porque já foram crianças, já fizeram as mesmas ou piores traquinagens, então muitas vezes o perdão, a compreensão, o passar a mão na cabeça, haja vista colocarem-se no lugar do filho quando flagrado em comportamento criticável, passível de admoestação?
Um forte abraço.
Saúde e paz, e tenha empatia para comigo, por favor!
Bendl,
ExcluirMuito obrigado pelo comentário. Quanto mais esclarecido for um povo mais difícil será manipulá-lo, ludibriá-lo, dominá-lo. E é exatamente por isso que os ditadores e/ou os governantes corruptos investem tão pouco em educação de base. O aprendizado geraria uma alteração estrutural gigantesca, culminando com a formação de uma sociedade menos dependente dos Estados babás, mais informada e consciente e, consequentemente, mais justa. Ou seja, o descaso para com a educação é simplesmente uma auto defesa dos poderosos.
Com relação à questão sobre os pais e os filhos é claro que lembramos de como era ter avô e pai e ser filho e neto quando chega a nossa hora de educar os nossos curumins.
Finalmente as minhas percepções empáticas discordam frontalmente das suas no penúltimo parágrafo. Mas as respeito, se bem que pedindo arrego ao grande Pirandello:
"Assim é ( se lhe parece)"
Abraço
Moacir,
ResponderExcluirComo cristã só posso louvar uma educação que ensina a não jogar a primeira pedra, se colocar no lugar do outro e lhe estender a mão. A Dinamarca está ensinando as crianças a não ter preconceitos e a não odiar e isto pode ser a solução de muitos problemas a longo prazo. Não podemos esquecer que é em casa que se começa a aprender a valorizar a vida e a respeitar o próximo. Os estudantes de hoje serão os pais e os cidadãos de amanhã e isto me traz muita esperança de um mundo melhor. Parabéns e um abraço para você.
Flávia,
ExcluirVocê tem toda razão ao apontar que "é em casa que se começa a aprender a valorizar a vida e a respeitar o próximo". Veja a tão falada ética, por exemplo. De nada adianta decorar uma cartilha sobre ela na escola e tirar nota dez na prova de múltipla escolha , porque os miúdos vão internalizar os valores e adotar mesmo é o comportamento que, já que não são tolinhos, observam nos pais e vivenciam em casa.
Mas é muito bom encontrar, quando se perde o bonde e o trem e o otimismo, alguém que como você insiste em dizer sim! para a fé e a vida. Por isso e pedindo licença ao Rubem Alves...
“Esperança é o oposto de otimismo. Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração. (…) A esperança se alimenta de pequenas coisas. Basta-lhe um morango à beira do abismo”.
Outro abraço para você
Grande post. Concordo com você que sobre a crítica. Sem ela não há progresso porque são justamente as dúvidas e as perguntas que educam.
ResponderExcluirMárcio,
ExcluirObrigado por participar e bem observar. Mas, desculpe-me, eu talvez tenha me expressado mal. Nada do que assisti e/ou li me autoriza a afirmar que nas escolas dinamarquesas o questionamento não seja estimulado. Muito ao contrário: os alunos chegam a ser treinados para não se deixar intimidar e insistir nas suas argumentações. São evitadas, isso sim, as perguntas diretamente aos mestres, antes de se tentar encontrar as respostas entre os da turma. Não vou me aprofundar para evitar spoilers (rsrs) mas "é a dose que faz o veneno".
1) Excelente artigo Pimentel.
ResponderExcluir2) Curiosamente estou lendo o livro que é sucesso no Japão: "A Arte da Empatia - A Consideração ao Próximo", do escritor budista japonês Koichi Kimura, editora Satry, 190 páginas.
3) São crônicas budistas informando que o Buda foi o grande empreendedor dos Ensinamentos da Empatia e os seus reflexos na cultura japonesa.
4)Nota 10 Moacir !
Antonioji,
ExcluirA consideração ao próximo é uma arte que você domina. Que tal nos escrever sobre o livro quando acabar a leitura?
"Gratidão"
Pimentel,
ResponderExcluirO tema é surpreendente. Eu sabia que os países nórdicos estão liderando todos os rankings mas que na Dinamarca a Empatia é matéria escolar é uma completa novidade. No entanto a pedagogia faz sentido para um povo que tem a igualdade como seu maior valor. Vou acompanhar a análise da matéria com muito interesse.
Bom feriado
Sampaio,
ExcluirFoi interessante refletir, depois de ler o seu comentário, que aqueles que acima de tudo priorizam a igualdade talvez não o façam por boniteza mas por necessidade. Ou seja, por não conseguirem se sentir felizes e livres e seguros convivendo com a desigualdade.
Aproveite o feriado
Olá Moacir,
ResponderExcluirExcelente o seu artigo! É um assunto muito interessante principalmente no que toca à educação. Temos muito que aprender e muito o que fazer antes de inovar. Acho mesmo que aqui tem-se mesmo é que começar...
Já te disse uma vez que aqui em casa tem um inteligente e um empático (sei que vc já riu disso...). Uma vez esperando apiscina esvaziar um pouco para entrar vi o marido de uma colega no outro lado da piscina. E pensei comigo, esse cara tá cansado. Ele morreu dois dias depois. Acho que isso é a tal da empatia, não é?
Esperando ansiosa a continuaçáo.
Até mais.
Caríssima Donana,
ExcluirMesmo países que moram no topo do ranking PISA estão começando do zero e realizando enormes mudanças e investimentos em educação. O sistema de ensino canadense aparentemente é um sucesso irretocável, certo? Errado. Os caras-pálidas estão mudando tudo, a partir das matérias e métodos , para educar melhor uma geração que enfrenta o ritmo sem precedentes das mudanças social, econômica e tecnológica. Querem treinar os pequenos para romper paradigmas, para não só absorver mudanças como as promover e não estão medindo esforços para dotar os alunos com as habilidades e os conhecimentos necessários para prosperar em um ambiente mutantes, as competências específicas, capazes de promover uma sociedade que se adapte efetivamente às mudanças rápidas.
Eu estou falando de pensamento crítico, criatividade, inovação, de capacidade de articulação e liderança e , last but not least , como tão bem diz o Sr. Editor, "de ensinar os pirralhos a aprender". Isso tudo significa que pelo menos um sistema está preparando cidadãos, a partir dos quatro anos, para questioná-lo e sendo assim, para aperfeiçoá-lo incessantemente!
Quanto às características do casal é claro que já ri, e muito, porque so sorry as minhas long distance impressões são diversas e porque nem mesmo no mundo rigidamente ordenado da vovó Jane Austen a razão e a sensibilidade, as puras lógica e emoção, conseguiram ser apartadas uma da outra (rsrs)
Mas confesso que, na nossa tribo, como a senhora, a minha mulher tem uma fiação empática que ganha disparado da minha. Tudo bem que ela jamais diagnosticou cansaços terminais, mas lembro que certa vez recebemos um casal para jantar e eu comi e bebi todas e conversei e me diverti e me surpreendi quando, depois da saída dos convidados, ela me disse estar com uma imensa dor de cabeça "devido a tensão entre eles". Que tensão?!! Sucede que alguns meses depois eles se separaram.
Então e talvez essa capacidade de leitura e tradução das expressões faciais e linguagens corporais, dos sub-tons e sub-textos, dos significados ocultos, do que ficou faltando, dos detalhes das conversas, seja mesmo uma habilidade mais natural para as de Vênus (rsrs)
"Até mais"
O tema é interessantíssimo e daria muita conversa. Mas, tal como a Mônica, vou esperar a segunda parte para poder comentar de uma maneira mais geral.
ResponderExcluirWilson,
ExcluirPromessa é dívida e, mesmo meio "sonolento" depois dos copos em comemoração ao FLAxFLU de ontem, eu vou lembrar e cobrar da Redação (rsrs)
Abração