Juan Girs - Nature morte en face de la fenêtre ouverte (Place Ravignan) - 1915 |
Moacir Pimentel
Quem já subiu a colina de Montmartre pela rua Ravignan – descrita em
verso por Max Jacob - ou contemplou a Praça Ravignan de uma janela do Bateau
Lavoir - pelo menos nas cores do pintor Juan Gris – sabe que lá morou o poeta,
dramaturgo, escritor de contos, romancista e crítico de arte Guillaume
Apollinaire, o homem que serviu de interface decisiva entre os artistas e os
poetas do início do século XX, casando as artes visuais com os círculos
literários.
Ele ecoou os simbolistas, apoiou os cubistas e previu os surrealistas.
Apollinaire inventou vários termos importantes como “orfismo” e “simultanismo”
e “surrealismo” e foi o primeiro a adotar o termo “cubismo”. No seu livro Les
Peintres Cubistes, ele resume a modernidade nas tintas:
“Os novos artistas exigem uma beleza
ideal, que será não apenas a expressão orgulhosa da espécie, mas a expressão do
Universo humanizado pela luz “.
Um dos mais inteligentes homens do seu tempo, Wilhelm Albert Włodzimierz
Apolinary Kostrowicki, um parisiense por escolha, foi a figura principal da
poesia modernista. Fizeram furor em Paris, na segunda década do último século,
os seus caligramas. A palavra caligrama vem da francesa calligramme, significando uma bela caligrafia que expressa seu
conteúdo de maneira textual e visual. São frases ou poemas curtos nos quais em
vez de escrever de forma linear, como é costume, os poetas usam sua
criatividade para que as pretinhas representem a imagem do tema do poema.
Guillaume Apollinaire - Caliigrame Cheval (1918) |
Sua imensa influência junto aos seus amigos pintores é exemplificada por
uma infinidade de retratos seus pintados por artistas como Henri Rousseau,
Pablo Picasso, Jean Metzinger, Louis Marcoussis, Amedeo Modigliani, Marcel
Duchamp, Maurice de Vlaminck, Giorgio de Chirico, Mikhail Larionov, Robert
Delaunay, Marc Chagall e Henri Matisse e last
but not least pela artista Marie Laurencin.
Marie Laurencin - Appolinaire et ses amis (1909) |
Nessa tela acima cujo nome é Apollinaire e Seus Amigos se encontram
representados da esquerda para a direita: a escritora e colecionadora de arte
Gertrude Stein, a musa de Picasso Fernande Olivier, uma modelo loura misteriosa
e coroada de frutas que pode ter sido uma amiga de Gertrude, a cadela Fricka,
Apollinaire no centro da composição com Picasso ao seu lado, a poetisa
Marguerite Gillot, o poeta Maurice Cremnitz e finalmente a própria pintora Marie
Laurencin, vestida de azul.
Entre os muitos retratos de Apollinaire esse é o mais especial porque é
um trabalho feito pela mulher do seu encanto, a musa muito amada do poeta,
aquela que o visitava todas as noites no Bateau Lavoir e que, inclusive, presenteou
o amante com a pintura.
Nascida em Paris em 1883, filha de uma modesta costureira e mãe
solteira, a jovem Marie Laurencin aos dezoito anos foi enviada pela mãe – às
custas de muito sacrificio - para Sèvres para se familiarizar com a pintura de
porcelana. Sua instrução artística continuou na academia de Humbert, onde Marie
mudou o seu foco para a pintura a óleo e, em 1902, se aproximou do pintor
Georges Braque, um dos expoentes do cubismo.
O jovem pintor por sua vez, em 1907, quando Marie Laurencin exibiu um
trabalho pela primeira vez no Salon des Indépendants, apresentou a moça a Pablo
Picasso que – dizem! – antes de levá-la para conhecer o poeta Apollinaire
avisou ao amigo solteiro, que jurava de pés juntos que seu maior desejo era “ter em casa uma mulher sensata, um gato
para passear entre seus livros e, a todo tempo, amigos”, que se preparasse
pois naquela noite ele conheceria sua futura esposa.
Não chegou a tanto mas ali nasceu uma conexão tão apaixonada quanto
tumultuada. Marie e Apollinaire viveram um amor intenso que durou até 1913 e
mesmo depois da separação o poeta continuou a lhe dedicar apaixonados versos.
Durante os primeiros anos do século XX, Marie foi uma figura importante
na vanguarda parisiense, um membro destacado do círculo cubista de Picasso, o
pequeno grupo de pintores e poetas que estiveram presentes na criação do
cubismo e da colagem, talvez as duas maiores inovações visuais daquele século.
Essa galera apoiou desde sempre o seu talento e a integrou como igual,
como companheira de ofício nas discussões sobre a teoria da arte e a quarta
dimensão que, em breve, resultariam no cubismo. Ela frequentava regularmente o
pequeno e esquálido mundo do Bateau-Lavoir e nele foi gradualmente adotada por
André Salmon, Max Jacob e Henri Rosseau, pela americana Gertrude Stein, pelo
famoso costureiro Paul Poiret e sua irmã Nicole, de quem foi madrinha de duas
filhas.
Porém Marie também sempre foi muito próxima do outro grupo de cubistas,
daqueles mais orfistas chamados de Grupo de Puteaux, com sede nos subúrbios
ocidentais de Paris, que incluía os irmãos Duchamp, Albert Gleizes, Francis
Picabia, Jean Metzinger, Robert e Sonia Delaunay, tendo inclusive exibido suas
obras ao lado das deles no Salon des Indépendants em 1910 e 1911.
Ao fim e ao cabo, a ligação de Marie com a ala mais avançada da arte
passou a ser mais pessoal do que de estilo, sua personalidade se impôs e ela
seguiu o seu próprio caminho singular, absolutamente na dela, demonstrando um
sentido inato de retrato clássico e uma suave modernidade sustentada por uma
paleta monocromática de cinza, azul e ocre esboçada no preto. Marie Laurencin
faz parte do seletíssimo grupo das pintoras cubistas, no qual duas outras
artistas merecem menção.
A primeira foi a pintora russa Sonia, a mulher do pintor francês Robert
Delaunay. Os Delaunays praticavam o “simultanismo” uma das vertentes do “orfismo”,
um termo criado em 1912, quando Apollinaire identificou nas pinturas do casal
um novo estilo que, apesar de canalizar a visão cubista, priorizava a cor, fato
que, segundo o crítico de arte, trazia para as telas movimento e luz e até
mesmo qualidades musicais que o remetiam a Orfeu, o lendário poeta e cantor da
antiga mitologia grega. Daí o apelido.
Mas e o tal de “simultanismo”?
O nome é oriundo dos trabalhos do cientista francês Michel Eugène
Chevreul que identificou o fenômeno chamado de “contraste simultâneo”, no qual
as cores parecem diferentes dependendo das demais cores em torno delas. Por
exemplo, um cinza ficará mais claro em um fundo escuro do que sobre um fundo
claro. O que importa é saber que Sonia Delaunay dispensou a forma e passou a
criar ritmo, movimento e profundidade através de sobreposição de remendos de
cores vibrantes. Isso é evidente no trabalho da artista que veremos a seguir.
Outra pintora cubista brilhante foi Marie Vorobieff, também de origem
russa e mais conhecida como Marevna, que combinou de forma convincente
elementos do cubismo com o pontilhismo em 1912 quando, como muito talento e
vinte anos de idade, chegou a Paris para estudar arte e se tornou amiga de
todos os vanguardistas do pedaço mas se envolveu de corpo e alma com o pintor
mexicano Diego Rivera.
Conhecido mulherengo e então casado, Rivera se encontrava no zênite
magistral de sua fase cubista e foi através dele que Marevna descobriu o
cubismo como um veículo mais adequado para seu próprio talento. Do breve e
apaixonado relacionamento com o futuro muralista, Marevna teve a filha Marika,
a quem Rivera nunca quis reconhecer. Os amantes se separaram logo depois do
parto, ele para amar Frida Kahlo e ela o pintor Chaïm Soutine.
É interessante ver o quanto essas três artistas contemporâneas, Sonia,
Marevna e Marie, que tinham as mesmas idades e influências e amigos, pintaram
de forma diversa.
Veja as cores e curvas exuberantes de Sonia, retratando um mercado no
Minho português do meu encanto – mais precisamente na cidade de Vila do Conde,
reconhecível pelo aqueduto ao fundo - onde a artista e o marido se refugiaram
durante a Primeira Guerra Mundial.
Sonia Delaunay - Le Marché au Minho (1915) / Marevna Marie Vorobieff - Homage aux amis de Montparnasse (1962) |
Em seguida veja o mural intitulado “Homenagem aos Meus Amigos de
Montparnasse”, pintado de memória por Marevna décadas depois, como uma janela
do seu coração, pois nele ela se retrata, na extrema esquerda e em primeiro
plano, com a filhinha Marika no colo, entre o seu grande amor, Diego Rivera,
que surge acima dela e o seu mais íntimo amigo, Amedeo Modigliani, retratado no
centro da tela.
Essa pintura é uma homenagem aos artistas que viveram e trabalharam como
e com ela no decadente predinho de nome La
Ruche – ou a Colmeia – devido aos muitos e minúsculos ateliês que abrigava.
No mural podemos reconhecer na extrema direita e em primeiro plano o pintor
expressionista Moise Kisling. No segundo plano superior e da esquerda para a
direita foram eternizados ainda o escritor e jornalista soviético Ilya
Ehrenburg, o pintor russo Chaïm Soutine, Jeanne Hébuterne, a companheira de
Modigliani, o escritor e pintor francês Max Jacob, e o poeta polonês e mais
tarde marchand de Modigliani, Leopold Zborowski. Todos os personagens que
cercam Modigliani, figura dominante na pintura, também foram retratados por
ele.
E as tintas de Marie Laurencin? Delas conversaremos depois...
O jeito que você fala dos artistas até parece que são seus amigos do primário, Moacir. É como quando eu mostrava para o meu filho as fotos antigas de família dizendo que aquela de noiva era a tia fulana e que a de verde era a prima beltrana mãe do sicraninho kkk Brincadeirinha. Acho muito legal ver como as mulheres artistas de Montmarte pintaram e como você gosta de pintura. É por isso que escreve tão bem do assunto. Obrigada!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirPara começo de conversa parabéns pelo seu dia. Em seguida - e aqui entre nós e baixinho - os pintores são, sim, meus amigos de infância. Lembro que menino, belo dia com uma gilete eu fiz uma talha na tampa de madeira da banca da escola. É claro que levei um sermão , fiquei de castigo e tal, mas minha saudosa mãe comprou-me umas tábuas de cedro e uma caixa com as ferramentas certas para o meu novo “ofício”.
Na casa da minha infância eram muitos os livros de arte e foi deles que retirei a “inspiração” para as talhas que fiz em seguida. Na primeira copiei um carpinteiro de El Greco, aquele que faz a cruz de Jesus no canto direito inferior da tela O Desnudamento. Na segunda plagiei e cravei um moleque vendendo pirulitos da lavra de Portinari (rsrs)
Outra nítida recordação que tenho dos meus anos de primário/ginásio, na década de 60, é a de ir com o meu velho comprar os fascículos de enciclopédias que eram vendidos nas bancas de jornal. Meus pais colecionaram a da Música – com os “elepês” - e a dos Gênios da Pintura, essa tenho certeza que era da Abril. As reproduções dos quadros me encantavam e, a cada tantos capítulos, se comprava uma capa dura e então os fascículos eram encadernados e mais um belo volume ia morar na estante. Bons tempos!
"Obrigado!" e abração
Não me canso de repetir que os textos de Pimentel sobre arte e, principalmente, a pintura, pelo conteúdo primoroso e informações preciosas contidas nesses artigos, enaltecem sobremaneira o Conversas do Mano.
ResponderExcluirLogo, a postagem de hoje apenas corrobora o que venho divulgando, que eu os arquivo em uma pasta especial, e cujo acervo está excelente, tanto pela quantidade como qualidade!
Interessante, inclusive, a origem de palavras definindo certos estilos, que depois seriam identificados pelos seus traços e quando surgiram, caracterizando uma época de criatividade e o surgimento de personalidades ligadas à arte de suma importância neste contexto.
Minha reverência, portanto, Pimentel, por mais esta obra que nos apresentas, pois relevante e com a excelência costumeira.
Um forte abraço.
Saúde e paz.
Chicão,
ExcluirVou fingir que acredito no comentário exagerado (rsrs) Quanto às palavras que nomearam os pintares modernos, elas são inteligentes e exatas mas são só palavras. Se as pretinhas fossem suficientes para comunicar as “mensagens” dessa galera ninguém teria usado um pincel nem mexida com as tintas, certo? Então... que tal tentar manter no arquivo vivo da memória uma única tela que resuma cada movimento? Por exemplo, a Liberdade Conduzindo o Povo, de Delacroix, rima com o romantismo, assim como Os Quebradores, de Courbet, é a cara do realismo, enquanto que a Impressão, Nascer do Sol, de Monet, batiza o impressionismo e a Noite Estrelada de van Gogh define o pós-impressionismo. Já a Janela de Matisse tem as cores fauvistas, As Senhoritas d’Avingnon de Picasso possuem as formas proto-cubistas e O Grito, de Munch, esbanja a angústia expressionista.
E por aí vamos e olha que tais ismos foram se reinventando em mais ismos sucessivos como o surrealismo e o dadaísmo cujos membros diziam, inclusive, que ser "dada" era ser "antidada"(rsrs) Mas relaxe! Por enquanto basta abrir espaço no “arquivo” para as estranhezas cubistas que não quero antecipar.
Muito obrigado!
Abração
Aproveito a ocasião para desejar às mulheres os meus parabéns pelo Dia Internacional da Mulher, comemorado hoje, apesar de a data verdadeira seria 6 de março, e não 8.
ResponderExcluirExplico:
Quando a data foi instituída, verificou-se que elas levaram dois dias se arrumando e pintando para sair na foto, logo, o adiamento!
Brincadeiras à parte, o meu abraço reconhecido que a mulher é o ser humano mais importante da Humanidade que, sem ela, já teríamos sido extintos há mais tempo.
Meus desejos que a mulher consiga ser melhor tratada pelos homens, com bem menos agressividade, com mais consideração e respeito.
E, que a sociedade a enalteça, não só valorizando o seu trabalho como remunerando-a melhor em face da sua importância e competência.
Saúde e paz, mulheres deste mundo um tanto quanto insano, instável, de difícil convivência.
Obrigado pelo que fazem por nós, homens, pelos filhos, pelo ser humano, haja vista terem sido simplesmente a MÃE DE DEUS!
Um beijo muito carinhoso, com afeto e admiração.
E, à minha esposa, pois temos 47 anos de casamento, só posso dizer que a minha vida é tua.
No rastro largo e grande do amigão aproveito para também falar do dia da mulher.
ExcluirHoje é esse dia.
Não sei de onde a invenção.
Não importa. Também não me importam os lugares comuns , tipo as mulheres têm um dias, os homens os demais.
Nem outros pensamentos empobrecidos pelo feminismo dilacerante e imprescindível dos anos setenta. Temos sim que travar batalhas mas por causas nobres como a discriminação dos salários. Como a vantagem da beleza e o assédio concorrente. Nem falo do assédio sexual, mas primeiro do abuso no trabalho, no sentimento de inferioridade imposto às mulheres. E tem a nossa longa e extenuante jornada dupla com as crianças que não fizemos sòzinhas.
Não importa o resto, ou o começo, porque quero mesmo é celebrar!
Porque gosto de ser mulher, o que não trocaria por nada nesse grande mundão.
Gosto do meu corpo e da minha cabeça. Gosto de ter seios mesmo que sem a juventude de antes e acharia horrível carregar entre as pernas aquele adornos masculinos. Gosto de cuidar de mim, usar os meus perfumes, de pintar bastante os olhos, cada dia mais, clarear a boca com batom, vestir jeans com sapatos confortåveis. E sair pelo sol ou pela chuva feliz pelo simples fato de viver.
Gosto de ser múltipla, desenhar e ver tv, dançar e arrumar a casa ao som do Elvis ou do Freddy, tomar whiskey com a Nina diante de uma folha branca de papel ou uma cerveja na frente de um almoço a ser feito. Cerveja numa conversa a cinco também é bom para se ouvir melhor.
Gosto de ser fraca e forte ao mesmo tempo. Porque posso rir e chorar das mesmas coisas. E ser ajudada por essa aparente incoerência de fraqueza e força que me ajudam nas horas certas mesmo que duvide delas. Minha intuição também fala alto no meio dessa bagunça para me fazer mais perceptível e generosa.
Me encontro confortável nesse mundo feminino. Mas de nascença e de vivência, sem saber e sem cultivar, trago forte uma semente feminista. É um feminismo modificado, evoluído, e fico fortemente incomodada quando vejo mulheres que não fazem suas escolhas. Mesmo que essas sejam as do lar. Ou quando nossas escolhas batem em muros de castelos antigos.
Fico feliz de ter nascido nesta época e ter vivenciado tantas mudanças na sociedade. E saber que, neste assunto mulher, ainda temos muito que fazer.
Só sinto falta de uma netinha para acompanhar ( não só...) seu crescimento feminino.
Mas cuido de acompanhar os netos. Que não me saiam uns machistinhas da peste!
E viva a liberdade!
Aninha, minha colega dissidente,
ExcluirEste teu comentário deveria ser uma postagem.
Assim como no meu entendimento que falar sobre obesidade ninguém melhor do que um gordo, da mesma forma não haveria quem pudesse definir a mulher melhor que ela própria, e foste simplesmente brilhante.
Também, com esta tua inteligência, sensibilidade, talento reconhecido por todos nós como excelente escritora, afora a admiração que temos por ti, naturalmente este teu texto seria muitíssimo apreciado.
Um forte abraço.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.
Caríssima Donana,
ExcluirEm primeiro lugar, a senhora me desculpe por chegar um dia depois da festa para lhe dizer que concordo com o Bendl e que ontem a Homepage deveria ter sido sua, de fato e de direito, abrigando esse seu belo texto feminino/feminista. E sossegue! Os seus netinhos não serão "machistas da peste" nem as minhas futuras netinhas pensarão, furiosas, que “homem bom é homem morto”. Não seriam nossos se o fizessem (rsrs)
"Até mais"
Queridos meninos Francisco e Moacir,
ExcluirVocêsme me encantam a alma e me fazem melhor.
Abraço carinhoso para os dois.
Moacir,
ResponderExcluirNo Dia Internacional da Mulher me considero homenageada por seu interessante artigo sobre as artistas cubistas da colina. Foi de propósito? Estou adorando ver as obras delas e saber de seus amores. Vou esperar que você conte mais sobre Marie Laurencin para dar pitaco mas por enquanto prefiro os amigos de Marevna do que os de Apollinaire.
Um abraço para você.
Flávia,
ExcluirParabéns pelo dia de hoje. Confesso que se foi de "propósito", mas se foi, a decisão não foi minha e sim do nosso Editor, para quem enviei o texto faz tempo. Mas alegra-me que você tenha gostado dessa homenagem às senhoras pintoras tão pouco conhecidas e valorizadas que, em vez de apenas inspirarem e/ou modelarem para os grandes pintores também erraram e acertaram as suas tintas. Nas nossas praias, pouco se sabe das nossas próprias Tarsilas e Anitas e Adrianas , imagine das artistas do vasto mundo! No entanto, através dos séculos, elas sempre disseram presente! E nos legaram obras de arte fantásticas, como foi o caso da sofrida Artemisia Gentileschi, uma filha de pintor e caravaggista da gema que preferiu se auto retratar como uma "Alegoria à Pintura".
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/05/Self-portrait_as_the_Allegory_of_Painting_%28La_Pittura%29_-_Artemisia_Gentileschi.jpg
Com relação aos amigos da Marie versus os da Marevna, concordo com você: o trabalho da russa é mais maduro. Conto com a sua leitura e comentário no próximo post, quando conversaremos mais sobre a controversa obra da Laurencin.
Muito obrigado e um abraço especial para você
Muito bom. Gostei da definição de pintura moderna e do poema representando a imagem do cavalo de Apollinaire. A tela de Sonia Delaunay é interessante mas o trabalho de Juan Gris roubou o post das pintoras, rs. Fica a sugestão para um artigo sobre Frida Kahlo e Diego Rivera. E viva as mulheres!
ResponderExcluirMárcio,
ExcluirNessa conversa cubista tem lugar para todas as tintas mas, sim, Juan Gris é um dos gigantes! E Apollinaire sabia das coisas. Pudera! Morou no Bateau Lavoir, foi amante de Marie Laurencin, fazia parte da tribo vanguardista de Montmartre.
Só que, como jornalista e crítico de arte respeitado e bem relacionado que era, foi o porta voz e tradutor perfeito de Picasso a partir da sua fase rosa e, em seguida, o grande defensor dos cubistas.
Obrigado pela sugestão de um post sobre o Rivera e a Frida e por participar.
Olá Moacir,
ResponderExcluirBom demais!
Copio minhas colegas comentaristas e vejo você "escrevendo sobre seus colegas do primário" e digo que estou "adorando ver as obras delas e saber de seus amores".
Desconhecia essa vertente artística do poeta Apollinaire e sua influência nas artes.
A pintura Apollinaire e ses amis, de Marie Laurencin tem qualquer coisa de naïve no desenho e clássica na ocupação do espaço. Acho que, na verdade, estou pensando mesmo é numa Santa Ceia profana.
Sonia Delaunay não me encanta muito, vejo muito compasso. Mas é fantástico o Homage aux amis de Montparnasse, da russa Marevna, concebido nesse cubismo calmo e organizado.
Obrigada por tanta novidade!
Esperando você e Marie Laurencin e quem mais vier.
E viva o Sr. Editor que acertou o dia!!!
Caríssima Donana,
ExcluirQuem disse que Apollinaire não continuava poeta quando virava crítico de arte? Mas seu livro sobre os cubistas é definitivo pelas reflexões que fez, com rara sensibilidade e de camarote, sobre o trabalho de Picasso, Braque, Metzinger, Gleizes, Laurencin, Gris, Léger, Picabia e Marcel Duchamp. Foi o poeta quem falou pela primeira vez em quatro tipos diferentes de cubismo : “científico, físico, orfista e instintivo”.
Note que tais classificações foram ofuscadas pela interpretação posterior do movimento em termos de "cubismo analítico" e "cubismo sintético". Uma visão que, de certa forma, foi feita de encomenda para explicar as cubices dos founding fathers - Braque e Picasso e Gris - e que submeteu as estranhezas dos demais pintores vanguardistas aos limites de uma régua limitada, questionando, inclusive, seu direito de serem chamadas de cubistas. Hoje, no entanto,se dá razão ao profeta Apollinaire que entendia, diferentemente, que o movimento seria mais amplo, a obra conjunta de artistas diversos, por caminhos diferentes, em variadas paisagens sociais e culturais.
Quanto às amigas da colina, das três a Sonia é a cubista que nos é mais familiar. Sim ela usou e abusou do compasso (rsrs) ou, como dizia Apollinaire , dos “círculos órficos” fazendo artes até os noventa e quatro anos, dois dos quais - de 1915 a 1917- em Vila do Conde, a apenas alguns quilômetros de distância da nossa aldeia lusitana. Muitos pintores portugueses foram influenciados “orfisticamente” pelas cores dela e os museus portugueses - notadamente a Fundação Gulbenkian - têm várias de suas obras retratando as festas e mercados do Minho, suas casas brancas e mulheres antigas com xales floridos.
Creio que a obra prima do orfismo tenha saído da sua paleta. Trata-se de um tango de nome Le Bal Bullier...
https://www.flickr.com/photos/28509969@N04/5594839696
Pena que a imensa tela não tenha cabido na montagem do post (rsrs) Essa senhora foi uma artista, das tintas e da vida, uma designer antes que inventassem o design. Pintou tecidos, desenhou figurinos teatrais, transformou peças de artesanato em objetos modernos, fez até mesmo da colcha de retalhos que costurou para o berço do filho e da caixa de brinquedos que pintou para o moleque, belas obras de arte.
E que venha a Marie Laurencin sobre cujas telas espero ler seu comentário.
“Até mais”
Pimentel,
ResponderExcluirParabéns atrasados para todas as mulheres do blog Conversas pelo dia de ontem. E para você pelas informações sempre interessantes contidas nos seus artigos. É com surpresa que leio sobre pintoras cubistas. Na verdade nem saber que tinha outro grupo de cubistas além do de Picasso eu sabia.
Sampaio,
ExcluirPois é , tinha. E é justamente por isso, pela abrangência do movimento - e da minha falta de talento vocação para a síntese! (rsrs) - que receio que possa ser cansativo "conversar" sobre o vírus cubista que atacou tantos artistas e atravessou muitas etapas. Vou focar no trio maravilha - Picasso, Braque e Juan Gris - mas achei necessário mostrar de relance o cubismo feminino e o trabalho personalíssimo de Diego Rivera, o da galera mais light liderada por Jean Metzinger e Gleizes, o colorido orfismo dos Delaunay e as experimentações mais radicais de Marcel Duchamp. Me desculpando, é claro, pelo muito que volto ao tema e lhe agradecendo pela leitura e comentários.
1)Agradecendo ao Moacir por edificante texto, continuo aprendendo.
ResponderExcluir2) parabéns a todos e todas. E por falar em Dia Internacional das Mulheres, repito aqui o que disse em outro blog.
3)Reverencio as mulheres encarnadas (vivas), as desencarnadas (falecidas) e, budisticamente falando, as que ainda vão nascer.
Antonioji,
Excluir"Gratidão" pelo comentário sobre o meu "edificante" post. O adjetivo me pareceu apropriado porque estou, humilde mas ambiciosamente tentando "edificar" uma visão geral do cubismo. Os nossos leitores, a essa altura da "franquia", já devem estar entediados (rsrs)
Agora...quanto às senhoras devo confessar que jamais pensei nelas em termos de "encarnadas e desencarnadas" (rsrs) E aliás nessa homenagem às nossas benditas mulheres está faltando poesia e vai ser uma do pernambucano João Cabral de Melo Neto: A Mulher e a Casa.
Tua sedução é menos
de mulher do que de casa:
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.
Mesmo quando ela possui
tua plácida elegância,
esse teu reboco claro,
riso franco de varandas,
uma casa não é nunca
só para ser contemplada;
melhor: somente por dentro
é possível contemplá-la.
Seduz pelo que é dentro,
ou será, quando se abra:
pelo que pode ser dentro
de suas paredes fechadas;
pelo que dentro fizeram
com seus vazios, com o nada;
pelos espaços de dentro,
não pelo que dentro guarda;
pelos espaços de dentro:
seus recintos, suas áreas,
organizando-se dentro
em corredores e salas,
os quais sugerindo ao homem
estâncias aconchegadas,
paredes bem revestidas
ou recessos bons de cavas,
exercem sobre esse homem
efeito igual ao que causas:
e vontade de corrê-la
por dentro, de visitá-la.
Boa semana de trabalho e abração