Exercício - o soldado Francisco Bendl é o primeiro da fila da esquerda (fotografia Francisco Bendl) |
Francisco Bendl
Indiscutivelmente
o casamento é a maior experiência e compromisso assumido pelo ser humano, homem
e mulher.
A
constituição de uma família implica em uma série de questões que, se não forem
bem estabelecidas, o fracasso é inevitável.
No entanto –
e me refiro à minha época, pois hoje está muito diferente -, a melhor escola
que havia para o homem e na sua tenra idade, que o ajudava definir o caráter e
a personalidade do mancebo era o Exército.
Austero,
disciplinador, tendo como base a hierarquia solidamente obedecida, quem vestiu
uma farda na década de sessenta sabe muito bem o que quero dizer, pois sou do
período que havia até o castigo físico, e por nada!
- Paga dez apoios -, dizia o mal humorado sargento para o
soldado.
Por ter sido
tão exageradamente usado este tipo de punição absolutamente injusta foi abolida
em 71, pois a pior dessas ordens era o rolamento, ou seja, o recruta cair de
lado e rolar no asfalto ou paralelepípedo ou chão de terra.
Afora o
polichinelo, canguru – difícil, pois havia o salto para cima, a descida com uma
das pernas dobradas, enquanto os braços e mãos ficavam atrás da cabeça, na
nuca, e assim durante a quantidade que o tarado do superior hierárquico
decidisse!
A educação
física era outro tormento, pois além dos exercícios físicos havia depois a
corrida de dez a doze quilômetros, que nos fazia chegar no quartel exaustos,
literalmente com a língua de fora.
Em
compensação, o soldado que servia na Polícia do Exército, que foi o meu caso, e
dei baixa como Cabo, a sua farda era diferenciada das demais guarnições do
Exército.
A túnica de
passeio tinha a sua cor mais clara do que a calça, além de ser trespassada pelo
cinto de guarnição, um alamar branco no lado esquerdo, na manga do mesmo lado o
dístico do III Exército e do outro da PE.
No bolso, um
apito (lembro que a PE também fazia o controle de trânsito) e, no outro, em metal,
o distintivo da guarnição – eu ainda pertenci à 6ª Cia de Pol Ex, e depois como
III Batalhão de Pol Ex!
Coturnos
brilhantes, e vários tipos de se amarrar os cadarços.
O Cabo Bendl (foto Francisco Bendl) |
Logo, quando
saímos às ruas era inevitável obtermos os olhares das gurias, e uma certa
inveja da rapaziada, em face de que nos julgávamos super homens, superiores ao
tempo, ao frio, à chuva, ao calor, ao cansaço!
Menos quando
estávamos nos braços das namoradas, então o “Sansão” ronronava como um gato e
se enroscava na guria como se fosse um cachorro em um cobertor velho!
O soldado
tinha duas obsessões consigo durante o tempo que servisse, fosse ele anos a fio
quando saísse do quartel após o expediente, invariavelmente às cinco da tarde:
Alimentar-se
bem, e conhecer (biblicamente) as namoradas!
A comida
servida na cantina não que fosse ruim, não, simplesmente era intragável!
Ora, ficar
em jejum da noite anterior após o jantar até o final da tarde do dia seguinte e
com a movimentação física que tínhamos, a fome era tanta que, em casa, se comia
o que havia, para a felicidade das mães, que sempre reclamavam do filho que não
comia nada!
E, após o
lauto jantar, mesmo que fosse o trivial feijão com arroz, a pesquisa e experiências
anatômicas com relação ao namoro, em face de jovens com dezoito a dezenove
anos, com muita vontade de conhecer aquelas que o acompanhavam.
Alguns
voltavam para o quartel no dia seguinte mais cansados do que quando saíam no
dia anterior, mas a satisfação e a calma sobrepujavam outra jornada de física,
aprendizado sobre armas, ordem unida, stand de tiros e instruções variadas.
Claro,
tínhamos também as datas comemorativas quando usávamos a farda de gala, e
controlávamos o trânsito e o balizamento do público no dia 7 de setembro, data
onde ampliávamos significativamente o número de admiradoras!
Invariavelmente
após esta festividade, no dia seguinte o quartel recebia centenas de ligações
das gurias querendo falar com o Capitão fulano de tal!
Não havia no
mundo uma guarnição com tantos capitães e nenhum soldado, cabo ou sargento,
somente oficial e, capitão!
A função de
telefonista era compartilhada entre os três pelotões de serviço, denominados de
Infantaria/Polícia.
Cada
grupamento escolhia o telefonista, que dividia esta tarefa com a Patrulha, isto
é, quando precisávamos sair de viatura para atendermos uma ocorrência onde
havia um militar envolvido, o telefonista ia junto, aumentando o efetivo de um
sargento, cabo e dois soldados.
Pois este
telefonista era também muito esperto.
Precisava
ter uma boa voz, atender com educação, haja vista esposas de oficiais ligarem
volta e meia – aviso que sequer se imaginava o que seria um celular -, e ser
rápido em encontrar a pessoa solicitada pela ligação.
Na razão
direta que as namoradas eventuais pediam pelo “capitão”, o sagaz telefonista se
intitulava superior ao dito cujo, apresentando-se como major(!), e roubava a
namorada do oficial subalterno como são denominados o Aspirante a Oficial,
Segundo e Primeiro Tenente e o Capitão.
Major,
Tenente-Coronel e Coronel são Oficiais Superiores.
A encrenca
acontecia quando o “capitão” era passado para trás pelo telefonista, então
havia o desforço pessoal em pleno pátio do quartel, cada um dos contendores com
luvas de boxe, três rounds e, quem vencesse, o troféu era a namorada
conquistada sorrateiramente.
E o pau
pegava prá valer.
Logo, desde
o início se aprendia que para se conquistar alguém era necessário muita luta,
literalmente, mas valia a pena para o vitorioso, e uma via crucis para o
derrotado, que era alvo de chacotas pela surra levada e ter perdido a sua
amada!
Uma das
maiores alegrias do milico era quando o sargenteante (Primeiro Sargento) o
escalava para a Patrulha, enquanto a maior tristeza e decepção era estar no
quadro de informações designado para ser plantão do banheiro!
A patrulha
significava sair do quartel quando havia ocorrências, liberdade, o soldado era
uma autoridade, pois usava uma pistola Colt .45 e um cassetete de borracha,
mais tarde abolido.
A presença
de um soldado da PE impressionava pela altura e envergadura, pois volta e meia
era obrigado a usar da força para conter ânimos mais exaltados.
No banheiro,
enquanto isso, as latrinas eram turcas, ou seja, não havia o vaso sanitário,
apenas a colocação dos pés!
Pois o
meliante – isso mesmo, meliante -, que almoçara algo que não tinha sido
compatível com seu estômago de avestruz, demonstrava este litígio borrando o
local que usava, e lá ia o plantão do banheiro limpar a sujeira feita pelo
delinquente!
O mais
divertido – fedorento, mas caíamos na gargalhada – era quando o soldado com
pressa para se aliviar, saía depois com os calcanhares do coturno ... isso
mesmo, ambos impregnados com o efeito de uma péssima refeição!
Automaticamente
o seu nome de guerra era alterado na hora para... “***ão”.
Na verdade,
o plantão dos banheiros era uma punição para os “manqueiras”, uma turma que
detestava o serviço militar - lembro que na minha época servir as FFAA era
obrigatório -, que não se esforçava, não demonstrava vibração por estar
servindo.
Outra função
muito disputada era ser Dia-sala, em outras palavras, estafeta.
Capa pelotão
tinha designado então, o seu telefonista e dia-sala, cuja função era pagar as
contas do pessoal de serviço, que ficaria no quartel 24 horas, sem sair para
nada!
Mas, nessas
andanças, corria solto a paquera, uma matiné (cinema à tarde) na sessão das
duas, e chegar no quartel antes do fim do expediente.
Eu sempre
fui designado para duas delas:
Patrulha e
telefonista.
Certa feita,
me mandaram ser plantão do banheiro.
Havia um
local onde o pessoal encontrava as latrinas uma ao lado da outra, em um total
de oito.
Enquanto a
PE era companhia, o seu efetivo era de cem homens, logo, oito latrinas para
cabos e soldados comportava um que outro apressado.
Pois bem,
sem divisórias, quando se “encontravam” dois ou três na hora “H”, as
gargalhadas eram naturais, em razão do risco
de se sair borrado ou, então, o mais grave e insuportável, deixar o
plantão em maus lençóis, com as paredes respingadas de...!!!
Sabendo eu
dessas “brincadeiras”, usei de um artifício que me ocasionou OITO DIAS DE
DETENÇÃO, isto é, sem sair do quartel, mesmo quando na minha folga!
Um martírio,
uma tortura!
Mas,
querendo dar uma de sabido, de esperto, rasguei um lençol e entupi as latrinas.
Quem as
usasse e puxasse a descarga, o buraco enviava para cima os dejetos e respingava
até as pernas do necessitado!
Tal
“providência” não só inverteria a brincadeira com o plantão, como impediria de
ser usadas, logo, uma bela folga!
No entanto,
no Exército, aquilo que pensamos é o contrário.
As latrinas
não ficariam um dia sem uso, impossível! E se um pelotão (trinta soldados)
comesse a vaca atolada (carne com mandioca) da cantina no almoço e tivesse um
revertério??!!
Foi
designado o grupo especializado nesse tipo de problema, permanentemente à
disposição para resolver entupimentos, questões hidráulicas e elétricas.
Sem muitos
esforços e sem quebrar o piso e a louça das latrinas, os trapos foram sendo
sugados.
A cada um
deles tirado, eu ia sendo olhado com deboche e maneios de cabeças de um lado
para outro.
No dia
seguinte, na parada da saída do quartel à tarde, o boletim era lido.
Primeira
parte, segunda, terceira, a quarta parte
era Justiça e Disciplina.
- Soldado 108, Bendl, punido com oito dias de detenção por entupir
as latrinas. Também terá de pagar um lençol que usou para suas artimanhas - a voz do
sargenteante vibrava no alto falante da guarnição para quem quisesse ouvir!
Enfim, gosto
de escrever sobre os quase quatro anos que fiquei na PE, pois uma escola para
homens, que contribuía poderosamente para a formação desta pessoa, que entrara
criança, praticamente, e saía adulto!
Nesse meio
tempo, de trabalho duro, havia sempre as brincadeiras, os acontecimentos muito
divertidos, que deixavam o alvo das chacotas com problemas, se flagrado por
qualquer superior, principalmente o Cabo!
Havia o Cabo
da Guarda, o Cabo de Dia, o Cabo da Patrulha.
Aquele que
ficava na Guarda era o que recebia as pessoas, colocava os soldados que estavam
de serviço e designados àquela função em forma quando chegasse qualquer
superior, a entrada e saída da Unidade. Quando se tratava do comandante chegar,
até o corneteiro era chamado para avisar que o comandante estava presente, pois
as ordens são dadas por corneta.
O comandante
descia do carro antes do portão, entrava caminhando no quartel com a guarda
perfilada e batendo continência, e o corneteiro entoando as notas respectivas.
Incansável
nas brincadeiras, o soldado que mais se divertia era também o mais corajoso, em
razão de que, descoberto nesta sua ousadia, a punição seria dura.
Eu e mais
dois colegas, tão absurdamente insensatos, decidimos que dois de nós entrariam
correndo pelo Corpo da Guarda, berrando:
- O comandante chegou, o comandante chegou!
Nesse meio
tempo, o sargento colocaria em forma a guarda, o corneteiro já entoando as
primeiras notas, e eu entraria com toda a pompa e circunstância quartel
adentro!
Eu não
imaginava - inexperiente, ainda -, como poderia ser a reação do Sargento da
Guarda, e do próprio comandante da Unidade, se ele estivesse no quartel!
Ora, ouvir o
som da corneta avisando da sua chegada com o comandante já presente, pularia da
cadeira para ver quem estaria lhe tomando o comando!!
Pois bem:
O Nestor e o
Zeno entraram no quartel conforme combinado e, em seguida, eu apareço com cara
de brabo, sério, olhando de cima abaixo os soldados em forma, e o sargento com os
olhos esbugalhados de terror e ódio!
Logo após o
Corpo da Guarda, no quartel da Praça do Portão que foi depois demolido, ficava
a cadeia da Unidade.
Ali eram
presos os que eram flagrados em crimes, pois os militares também cometem seus
delitos, permanecendo até o julgamento pelo Tribunal Militar, quando eram
escoltados até o local.
Pois na
medida que eu ia entrando, percebi que o Sargento indicara que quatro soldados
da guarda me acompanhassem... até a cadeia!
A risada foi
geral, pois o “comandante” havia transferido o Posto de Comando para a...
prisão!
Fiquei um
dia preso, incluindo a noite, claro.
Pela manhã,
em tom de deboche, e antes de a Guarda ser rendida, ou seja, trocada por novos
soldados, o Sargento que me prendera, pergunta:
- Bendl, queres sair ao toque de corneta e guarda formada ou em
silêncio!?
Pois peguei
a fama de rebelde, haja vista que um das minhas maiores proezas foi espraiada
para fora dos limites da PE!
Como citei
acima, a farda nossa era diferente, mais bonita, mais vistosa, com mais
distintivos, digamos assim.
Pois eu
achava que pela importância de ser PE havia poucas “condecorações” na farda. Então
tratei de adquirir os emblemas em metal prateado de paraquedista, artilharia
antiaérea (?!) e batedor, aqueles que tripulavam as motos Harley Davidson,
acompanhando autoridades.
Coloquei-as
no peito da gandola de passeio, e enfrentei os olhares de admiração e
reverência das gurias, e inveja e raiva do homaredo!
Pelo fato de
eu não poder usá-las, pois nunca havia feito os cursos para ostentá-las,
inverno ou verão e eu saía do quartel de jaqueta!
Era entrar
no ônibus ou bonde – eles saíram de circulação em 74, em Porto Alegre – e
tirava o agasalho, mostrando um Cabo extraordinariamente condecorado, reluzindo
de metais e distintivos na farda!
E como eu
gostava de desfilar pela Rua da Praia, a mais famosa da capital gaúcha, e ser
olhado pelo pessoal!
Algumas
pessoas me paravam para perguntar como que eu havia ganho tantas medalhas, no
que eu respondia que fora em combate, quando fui assistente militar no
Vietnã!!!!
Eu cheguei a
ter uma agenda pequena, de bolso, com os endereços das moças que haviam se
interessado pelo belo e valente militar!!!
Mas, certa
feita sou descoberto em pleno desfile por um tenente da... PE!
Paralisado,
gelado, pensando no que eu ia inventar para justificar o uso indevido dos
galardões, ele fulmina em plena rua:
- Cabo Bendl, eu fiz a AMAN, tenho vários cursos, e não tenho esta
quantidade de emblemas que tens na tua farda. Amanhã, pela manhã, quero que tu
entres em forma na frente da tropa, e explique cada uma delas como as
mereceste!
Durante à
noite, pensei em como fugir dessa suprema humilhação:
Desde
adoecer, ser atropelado, doar três litros de sangue e baixar hospital por
fraqueza, a morte do irmão, um ataque do coração do pai, a casa que pegou fogo,
a mãe que cortou a mão cozinhando...
As horas
passavam e nada.
Morto por
ter cão, morto por não tê-lo.
Pela manhã,
tomei banho, fiz a barba e passei algodão no rosto, pois se ficasse um fiapo o
soldado era punido, passei “Brasso” nas fivelas dos cintos, coturnos brilhando,
empertigado, fui para o quartel.
A cada passo
que eu dava entrando na Unidade, eu ouvia os mais diversos comentários, sendo
que um deles era comum:
- O Cabo Bendl ficou louco!
A tropa em
forma, e eu ao lado do Staff do comandante!
Termina a
apresentação dos tenentes apresentando seus pelotões para o comandante, este se
vira para mim e pergunta:
- Bendl, agora quero que tu nos relates como conquistaste tantos
galardões, que nem eu, que sou comandante, os tenho!
Olhei para o
de paraquedista, e disse:
- Este eu o tenho porque caí da cama enrolado no lençol. Pensei, e
decidi ser paraquedista, porém comprei o emblema antes do tempo.
A risada foi
uníssona.
- O segundo, Bendl, de artilharia antiaérea, que droga é esta se
somos uma tropa terrena??!!
Na razão
direta que eu já estava mesmo desterrado, preso, quiçá fuzilado, segui no mesmo
rumo:
- O símbolo de artilharia antiaérea se deve à flatulência no
alojamento, onde dormem quarenta soldados! O bombardeio é geral, inclusive com
disputas quanto ao petardo com mais barulho!
Nessas
alturas, até o comandante ria das minhas explicações e justificativas.
- Muito bem, Bendl, antes que eu decida o teu destino – imaginei
que eu seria transferido para a prisão de Macapá -, me diz agora o motivo do emblema de batedor?
Engoli em
seco, e disparei:
- Comandante, no dia que eu fosse flagrado ostentando esses
distintivos, eu pegaria uma de nossas motos e sairia correndo do quartel – e imitei
uma moto saindo em desabalada carreira!
Jamais a
tropa tinha tido uma formatura como aquela, de pura diversão, e protagonizada
por um palhaço, corajoso, vá lá, mas um insensato.
Resumo da
ópera:
Fui “condenado” naquele dia a lavar as cem
bandejas de metal onde servem as refeições, de cada militar da PE!
Saliento que
não havia máquina para isso, pois cada um era responsável pela sua bandeja, de
lavá-la e guardá-la limpa!
Meu apelido
ficou até hoje como Cabo-General, e quando me encontro com meus camaradas que
serviram comigo é inevitável eu rememorar este episódio.
Por falar
nisso, entenderam agora por que jamais lavei uma louça depois de casado?
Já escrevi a
respeito nesse extraordinário blog e oásis cultural!
Prezado Autor Sr. FRANCISCO BENDL,
ResponderExcluirRealmente nas tuas "brincadeiras" no Exército, fostes "da pesada".
Fizestes jus ao Codinome Cabo-General.
Mas o que sua modéstia impede de contar, é que também, além das "brincadeiras", fostes um excelente Militar, resolvedor de problemas.
Quando incorporastes na PE Quartel do Portão, altos da Av. João Pessoa, centro de Porto Alegre, já tinhas uma experiência de vida muito grande, tendo participado com sua Família, por muitos anos, da epopeia que foi a construção de Brasília-DF, onde depois da Escola, muitas vezes pela tarde, ajudavas a Família dirigindo caminhão, e caminhões "caixa seca" e "queixo duro", daquelas épocas,
te familiarizastes com a Mecânica Automóvel básica, etc, etc.
Como Militar tenho certeza de que fostes um bom Atirador, bom lançador de granadas, etc, deves ter pertencido ao Pelopes (Pelotão de Operações Especiais" do teu Batalhão. etc.
Nas encrencas entre Soldados do Exército e da Brigada Militar, Marinheiros, etc, nunca recusaste uma "Patrulha". e isso facilmente poderia resultar num "nariz rachado".
Enfim quero dizer que o Serviço Militar, mesmo o seu, nunca foi principalmente "brincadeiras".
Mas que tivestes uma criatividade enorme nas "brincadeiras", isso é inegável, Sr. CABO-GENERAL FRANCISCO BENDL.
Abração.
Mestre Bortolotto,
ExcluirMuito obrigado pelo comentário.
Sinto-me honrado com as tuas palavras, ainda mais que conheceste a PE no local onde citaste, em Porto Alegre.
De fato fui um ótimo soldado e cabo ou, então, diante da rígida disciplina e hierarquia no Exército à época, eu teria sido expulso.
Não foi o que aconteceu. De livre e espontânea vontade, dei baixa.
Mas, inegavelmente que o serviço militar á a mais notável experiência para um homem.
Pelas circunstâncias, pela obediência, pelos momentos onde somos testados fisicamente de forma tão intensa, que depois de terminá-los não acreditamos que tenhamos conseguido ir até o fim!
Pois é no Exército que aprendemos a duras penas o "espírito de corpo" e a camaradagem!
Olha, mestre, naquela esquina da João Pessoa com a Riachuelo, onde era o quartel antigo, no inverno o vento e o frio eram tão severos, que permanecer duas horas de sentinela e de patrulha - o sentinela ficava fixo e, o patrulheiro, o auxiliava caso alguém quisesse entrar no quartel, que somente muito jovem para aguentar temperaturas NEGATIVAS!!!
O frio era cortante, sobre-humano, mas havia a necessidade precípua de se provar a si mesmo que o soldado era superior ao tempo, à chuva, ao calor, ao vento, ao frio de renguear cusco!
No verão era o contrário.
Coturnos, capacete, camiseta, gandola, peso da pistola mais da carabina ... um tormento.
Que continuava pela manhã, mesmo a gente saindo de 24 horas de serviço!!!
Física, corrida, instruções ...
Ciclo que voltava a cada 48 horas.
Não fosse mesmo eu ter passado muito trabalho em Brasília, sabendo o que é sede, fome e cansaço, ao fim do período obrigatório de servir, 10 meses, e eu teria dado o fora.
No entanto, eu era bom no que fazia, a ponto de ter grandes amigos que seguiram a carreira militar até hoje!
Agora, meu caro mestre, jamais consegui me desvencilhar deste espírito humorístico que carrego comigo.
Se havia hora para a seriedade, as tarefas, as funções, as responsabilidades, também tinha de haver os momentos hilários, divertidos.
Um grande abraço.
Muita saúde, paz, e vida longa, mestre Bortolotto.
FELIZ PÁSCOA.
Meu amigo e professor Antônio,
ExcluirObrigado pelo comentário.
Alegro-me que tenhas gostado dessas minhas reminiscências militares.
Não sou do tempo que o serviço militar admitia mulheres como hoje.
Aliás, sequer se sonhava com esta possibilidade!
Quartel era para homem, sendo que as mulheres em caso de guerra, das duas uma:
Ou enfermeira ou irmã de caridade!
Pensando bem, se, mesmo entre homens, as brincadeiras eram rotineiras e fundamentais, imagino com mulheres no meio, nossa!!!
De fato perdi um período fantástico, pois não existe nada pior do que um prédio lotado de homens, obedecendo homens, competindo com homens, trabalhando diuturnamente com homens, almoçando e jantando com homens, e d ... DIVIDINDO o mesmo alojamento com homens!!!
Um abraço.
Saúde e paz.
FELIZ PÁSCOA!
1)Oi Bendl, bom artigo, boas memórias, bons tempos da juventude ...
ResponderExcluir2) Uma coisa que sempre achei, desde adolescente, é que o Brasil devia ter serviço militar feminino obrigatório como em outros países. Antigamente até era possível, mas hoje sei que falta verba.
3)Tínhamos uma amiga (já falecida) que serviu o Exército em Israel e sempre nos contava suas aventuras.
4) Ótima Páscoa para todos (as).
Chicão, um post divertidíssimo, escrito com tua verve de sempre, mas que traz em si um paradoxo: dizes que o exército era a melhor instituição para formar o caráter dos rapazes porque "Austero, disciplinador, tendo como base a hierarquia solidamente obedecida"... E por tua hilariante descrição eras tu o primeiro a jogar para o alto a hierarquia e a disciplina (que, cá entre nós, em certas instituições são mesmo às vezes bem difíceis de suportar).
ResponderExcluirO post vem nos comprovar que desde garoto já trazias em ti essa impenitente alma de dissidente que, embora seja uma de tuas grandes qualidades, dá às vezes um certo trabalho ao editor deste blog (embora também o divirta :)
Continua a nos brindar com tuas aventuras, dentro e fora do exército, que tenho certeza agradam a todos os nossos leitores!
Um abraço do Mano
Amigo Dissidente,
ResponderExcluirBem diz o Mano que essa alma de dissidente é antiga.
Com certeza você foi da pá virada! Talvez ainda seja até hoje. Se antes as aprontações eram palpáveis, agora são com palavras. O sr. editor que se cuide!
Prega peça nos netos?
A Marli deve ter padecido horrores. E, os pratos de hoje não têm nada a ver com os pratos de ontem.
Você escreve muito bem, deveria ser, pelo menos, um post por semana.
Obrigada pela risadas e pelo divertimento.
Até, espero, muito mais.
Minha querida amiga dissidente, Aninha,
ExcluirDevo ter nascido já rebelde!
Aliás - e já escrevi a respeito -, deixei um pedido para meus filhos.
Quando eu morrer, quero um epitáfio no meu jazigo, dizendo o seguinte:
AQUI JAZ UM REBELDE!
Olha, Ana, se Deus nos deu a inteligência, certamente não foi para que aquiescêssemos sob o manto de leis, ordens, normas, balizas ...
A meu ver, devemos é questionar tudo, desde que com respeito, claro, e com as indefectíveis pitadas de humor!
Se a vida é tão trágica durante o tempo que permanecemos neste planeta, então que tratemos de amenizar as tristezas, rindo de nós mesmos e testando-nos até onde vai a nossa coragem e criatividade!
Já contei nesse oásis cultural inúmeras artimanhas:
O fiozinho, sobre o serviço militar, enquanto viajante, a vida de casado, e eu sempre me tomando como protagonista, pelo fato de não magoar quem quer que seja, mas eu mesmo sendo o brincalhão, o cara divertido.
Alegro-me, Aninha, que até hoje faço a Marli dar barrigadas de riso, mesmo ela sendo magra. A ponto que ela diz que somente eu consigo fazê-la dar gargalhadas!
Agora, evidentemente que tenho meus momentos sérios, de encrenca - e não arredo pé!
Sabe, sou o tipo escancarado, que acorda pela manhã sem lua, sem uma cara braba, amarrotada.
Levanto da minha poltrona rindo de mim mesmo, do banho que vou tomar, da bermuda que vou vestir, do chinelo de dedo deformado, do mesmo relógio de 20 anos, do carro relativamente novo na garagem, abastecido, e que ficarei em casa!
Em consequência, me vem à mente os 68 anos de vida - Deus meu! -, as andanças Brasil afora, Uruguai, Argentina, pelo meu RS, os anos que residi em Brasília, o serviço militar, o casamento, os filhos, depois os netos, os amigos, os parentes, meu irmão - Deus me abençoou, me deu graças, logo, devo também fazê-lo rir!
E como foi importante eu conhecer o Wilson na Tribuna da Internet!
De lá, o seu convite para que eu também viesse para cá, e o quanto esse espaço e os amigos conquistados me deixam feliz!
Vejo-me obrigado em escrever textos hilários, divertidos, que os façam rir, por mais que eu seja considerado uma espécie de bobo da corte, aliás, função importantíssima!
Tens que ver o quanto sou considerado nesta cidade!
O meu tamanho e a minha voz de caminhão contando piadas no supermercado é uma festa!
Dia desses, atendendo ao teu pedido, escreverei sobre os quase 10 anos que moro no interior do RS, e as minhas peripécias pelas lojas, posto de saúde, bancos, e como que conduzo amigos meus à capital, pois conhecem muito pouco Porto Alegre, e como residi muitos anos naquela cidade, além de ter sido taxista, sou escalado para levar as pessoas que precisam viajar.
Um forte abraço.
Muita saúde e muita paz, extensivo aos teus amados.
FELIZ PÁSCOA!
Meu caro Wilson,
ResponderExcluirGraças a Deus que temos índoles diferentes, temperamentos diferentes.
Já imaginaste que mundo enfadonho não seria se todos fossem austeros, sérios, introvertidos?
A PE proporcionava autoridade para guris de 18 anos, em contrapartida,responsabilidade, compromisso, mas para aqueles com espírito aventureiro, rebelde, também era um prato cheio.
Claro, a coragem de brincar e depois suportar as punições era fundamental.
No entanto, ao mesmo tempo que era um desafio prá ti mesmo extrapolar esta seriedade, esta instituição rígida, mostrava para os demais que a criatividade humana, a diversão, o hilário, jamais poderiam ser desfeitos por normas ou códigos de comportamentos.
Evidente que eu obedecia os superiores hierárquicos, mas muitas vezes eu fazia as minhas estrepolias e aguentava no peito, como se diz.
Principalmente quando eu era o comandante de um grupo de soldados.
Explico:
Certa feita eu era comandante da Residência do Comandante do III Exército, - olha só de quem era -, General Emílio Garrastazú Médici!!!
Eu comandava seis soldados.
Pois quando o almoço chegou do quartel a bordo de um jipe, os vasilhames que iam dentro de um grande viraram pelo caminho, e a comida ficou totalmente misturada.
O aspecto era pavoroso.
Pois coloquei no Livre de Partes, que a comida estava intragável, que eu exigia outra para os soldados.
A viatura voltou, e depois de duas horas nos trouxe bife, ovos, arroz, batatas fritas ... foi uma festa!
No dia seguinte, quando o outro pelotão veio nos render, eu me apresentei para o comandante da minha Companhia.
Fui avisado que o Major do provisionamento queria falar comigo.
Curioso sobre o que poderia ser esta conversa, imediatamente fui ao seu encontro.
Pois quando ele me viu, espumava pela boca!!!
- Bendl, aonde estava o teu juízo??!!
- ????????????
- Não sabes que diariamente na frente da tropa eu experimento a refeição que será servida para todos?!
- Sim, Major.
- Então que raio foi este de que a comida estava intragável??!!
- Major ...
- Cala a boca, Bendl. Tu estás detido por três dias. Dá o fora!
Também tinha isso.
Queres comer bem?
Cadeia, meu.
Obrigado pelo comentário, Wilson.
Um forte abraço.
Saúde e paz.
FELIZ PÁSCOA!
Bendl,
ResponderExcluirDepois de muuuuitas risadas agradeço-lhe de forma especial por esse seu brilhante post. É ISSO que se quer: "conhecer as suas estradas". Obrigado!! Porque dessa militar - graçasadeus depois do que acabo de ler! - jamais cheguei nem perto (rsrs)
Quanto ao paradoxo mencionado pelo Senhor Editor, entre a sua admiração pela disciplina e a sua irresistível vocação para a dissidência, é da sua natureza: você não pode evitar. Só que ainda que tivesse coragem para aguentar as consequências, aqui entre nós e baixinho, só cometeu as suas "brincadeiras" para levantar o moral das "tropas" pela vida afora, primeiro, porque teve a sorte de se deparar , muito novo, para ajudá-lo a segurar as pontas, com a Dona Marli. Segundo, porque você é carismático. Carisma, eis a questão. Suas narrativas me lembram das presepadas de uma das minhas filhas que , como você, é dona de uma imensa simpatia, a qual a faz se safar ilesa das situações complicadas que provoca só para se divertir. Costumo dizer que a minha garota tem pós-doc em "enrolation"(rsrs)
Certa vez a tribo se reuniu para almoçar em uma churrascaria rodízio. E os caras nos traziam de tudo, menos aquilo que preferimos: picanha. Depois de eu ter pedido em vão pelo corte umas dez vezes, ela de repente se levantou - sentada ninguém ia reparar no seu metro e meio! - e gritou para o rapaz com a carne certa: " DA PICANHA!!". Mas o pior ainda estava para vir. Mortos de vergonha, escutamos ela pedir ao garçom à nossa beira depois de sorrir-lhe um sorriso deslumbrante: "Queremos que nos traga muuuitas picanhas parecidas com você: assim gordinhas, cor de rosa, redondinhas". Meu pai me ensinou a NUNCA ofender um garçom, "senão ele cospe no seu prato" mas ali a coisa funcionou e rolou o contrário: o cara gamou e obedeceu feliz da vida e nunca comemos tanta picanha nem antes nem depois! Pois é , carisma tem quem tem. Ninguém ensina.
Parabéns e mande mais e abração e Feliz Páscoa ao lado dos seus.
Caro Pimentel,
ResponderExcluirEnquanto as tuas postagens nos fazem concentrar sobre os temas, as minhas desconcentram, pois de fácil compreensão e entendimento.
E gosto muito quando me dizem que meus escritos foram apreciados, que divertiram, pois esta é a intenção.
Não que eu seja um humorista nato, mas o meu espírito é o oposto do físico;
enquanto o primeiro é livre, leve e solto, o segundo, preso ao corpo, pesado, e trancafiado pelas garras da realidade!
Olha, o meu humor, na verdade, trata-se de uma luta interna.
Eu comigo mesmo!
A discrepância - eu ia escrever um neologismo, discrepança! - entre o que quero e o que consigo é tamanha, que percebi o humor ajudar sobremaneira eu conciliar o corpo com a mente.
E nada melhor do que o humor, a brincadeira, o sorriso.
Mais:
A gente sendo o agente dessa alegria, desses momentos amenos e deliciosos, então eu sendo sempre o protagonista porque verdadeiro, pois não sou ficção, porém grandalhão e gordão!
A tua filha certamente me entende e, por favor, mando-lhe um grande abraço.
Enfim, Pimentel, a minha mente de certa forma deletou as tristezas da minha vida, as tragédias, deixando apenas o lado agradável, matreiro, que me impulsionam para seguir em frente, brincar com os netos - eles me adoram em aniversários, pois canto o "parabéns" onde eles dão sonoras gargalhadas!
Muito obrigado pelo comentário.
Um forte abraço.
Saúde e paz.
FELIZ PÁSCOA!
Dei boas risadas Bendl. Você é um mestre do Humor! Antigamente, o serviço militar era obrigatório. O primeiro filho era dispensando, mas o segundo, não. Tinha que servir mesmo e nada que é obrigado é
ResponderExcluirbom. Ele meu filho, sabe bem. Acredito que um recruta como você, dava trabalho, não devia ser fácil para os sargentos. Lavar cem bandeijas - not mole. Penso eu, que você não deixava para amanhã, o que podia fazer depois de amanhã; o tempo passou e as recordações merecem ser contadas para a gente gargalhar.
Minha querida Carmen Lins,
ResponderExcluirMuito obrigado pelo comentário e participação.
De fato, o serviço militar era obrigatório, e somente era dispensado por questões de saúde:
pé chato e miopia.
Aprontei algumas no quartel, mas nada de indisciplina, apenas brincadeiras, ousadias, nada referente eu ser um sujeito que vivesse ameaçado de expulsão.
E como disseste, Carmen, em razão de se ser jovem, o tempo não era questionado ou levado em conta quanto ao futuro.
Se tínhamos um compromisso com a Pátria, e este era muito sério, tratávamos de mesclar essa formalidade militar com momentos onde nos divertíamos muito, tanto para suportar a tremenda responsabilidade prá cima de uma gurizada de 18 anos, quanto demonstrar que a rígida disciplina poderia ser quebrada eventualmente.
No entanto, os requisitos eram a coragem e aguentar depois a punição, caso ela viesse.
Um forte abraço.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.