Antonio Rocha
Muitos falam e escrevem em ódio, demonstram raiva disso ou daquilo e
assim, grande parte da população repete o vocábulo. Em meio à atual crise,
direitas, esquerdas e centros referem-se a este fato que está ocorrendo no
Brasil de forma grave. Pode-se argumentar que isso acontece em todos os países,
mas como vivo aqui, vou me ater ao nosso país.
Teólogos explicam, esotéricos justificam: desde as mais priscas eras,
antigos hindus, em suas multimilenares literaturas védicas, já falavam no Kali
Yuga, uma época de ignorância espiritual. O termo em sânscrito significa “Idade
do Ferro”, também indica tempo de discórdias múltiplas, egoísmos vários.
RESOLUÇÕES – É interessante que as grandes mídias falam nesse ódio
generalizado, políticos deitam suas falações votáveis, mas, concretamente,
objetivamente, poucos falam das possíveis soluções, até prova em contrário. Se
o ódio é um problema sério, certamente deve ter suas soluções, o ódio deve
apresentar seus caminhos a serem resolvidos… pois todo problema, toda questão traz
em si a resolução.
Vou apresentar as minhas possíveis soluções, que, claro, não são minhas,
mas as que sigo. Como sou um estudioso e pesquisador das Religiões e suas
Filosofias Comparadas, vou fazer a sugestão do Ocidente e do Oriente, que
considero belíssimas, não apenas para lermos como peças literárias, mas como
normas de vida.
A primeira é a conhecida Prece de São Francisco de Assis, um poema
anônimo que surgiu na Idade Média e depois foi atribuído ao famoso santo. É uma
oração que faço e vivencio desde criança. Aprendi na antiga Rádio Mundial, que
ficava na Av. Venezuela, no Rio de Janeiro, através do radialista Alziro Zarur,
um espiritualista que nos anos 1950 criou a Legião da Boa Vontade. Criança eu
ia lá com minha mãe no programa de auditório e ele recitava a poesia oração,
que tem várias versões. Alguns afirmam que a autoria é de um anônimo do início
do século XX. Penso que neste caso, o que importa mesmo é o belo conteúdo que
nos faz refletir sobre a cordialidade, a educação, a fraternidade:
Senhor,
fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde
houver ódio, que eu leve o amor;
Onde
houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde
houver discórdia, que eu leve a união;
Onde
houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde
houver erro, que eu leve a verdade;
Onde
houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde
houver tristeza, que eu leve alegria;
Onde
houver trevas, que eu leve a luz.
Ó mestre,
fazei que eu procure
Mais
consolar que ser consolado;
Compreender,
que ser compreendido;
Amar, que
ser amado.
Pois é
dando que se recebe,
É
perdoando que se é perdoado,
E é
morrendo que se vive
Para a Vida Eterna.
Vejo-a como uma poesia oração universal, ecumênica, serve para qualquer
caminho ético. E se a pessoa é ateu/atéia, pode identificar o Ecossistema como
Senhor e a Natureza como Senhora.
LITERATURA – Note-se que toda oração escrita é fruto de Literatura e
como tal podemos estudá-la, pesquisá-la, via leituras.
Aos que não gostam de religião ou filosofias similares, peço perdão pela
transcrição do acima colocado, mas vejo que é uma possível saída para o ódio em
que nos encontramos. Requer esforço, determinação para ultrapassarmos nossos
grosseiros egoísmos, vaidades, apegos. Não é fácil, mas não custa tentar.
Buda Sentado - Museu Britânico |
Resumo a solução Oriental, nas propostas do Buda:
“O ódio
não é pelo ódio vencido
Somente
pelo amor é sufocado
Esta é
uma verdade antiga
Até hoje
ainda inigualada.
O erro
não cometas
Somente
boas ações produzas
Que o teu
coração seja puro.
Esta é a
verdadeira Doutrina
Ensinada
por todos os Budas
Que para sempre perdura!”
O novo caminho é por aí, defender, abraçar e pôr em prática propostas
concretas, que implicam em soluções perenes e palpáveis, sem ódios nem rancores
Santa Clara - afresco na igreja de Assis |
Quem sabe aí teremos tempos mais claros, como pede a bela prece de
Manoel Bandeira para Santa Clara (Oração dos Aviadores):
"Santa
Clara, clareai
Estes
ares.
Dai-nos ventos regulares,
de
feição.
Estes
mares, estes ares
Clareai.
Santa
Clara, dai-nos sol.
Se baixar
a cerração,
Alumiai
Meus
olhos na cerração.
Estes
montes e horizontes
Clareai.
Santa
Clara, no mau tempo
Sustentai
Nossas
asas.
A salvo
de árvores, casas,
E
penedos, nossas asas
Governai.
Santa
Clara, clareai.
Afastai
Todo
risco.
Por amor
de S. Francisco,
Vosso
mestre, nosso pai,
Santa
Clara, todo risco
Dissipai.
Santa Clara, clareai."
Admiro profundamente esta tolerância e compreensão que o meu amigo e professor Rocha tem com os políticos corruptos e desonestos que tanto mal nos fazem e, com o governo, que tanto nos despreza e negligencia, explora e rouba!
ResponderExcluirA bem da verdade, este modo de ser é para pessoas superiores, espíritos elevados, que se encontram em estágios muito avançados de desenvolvimento mental humano, além de acreditarem piamente que as orações, as palavras bem colocadas e escolhidas, os pensamentos bem conduzidos poderão auxiliar na conduta daqueles que tanto nos prejudicam.
No entanto, pessoas como eu, que pertencem à plebe ignara, cujo sangue ferve nas veias, muitas vezes tomado por uma raiva quase que incontrolável, um ódio visceral contra as injustiças que temos sido alvos, que protesta e reclama veementemente, a ponto de eu já ter escrito comentários e ao final dos mesmos clamo, Às Armas!, não me vejo em sintonia com o Rocha, lamentavelmente!
Evidente que posso estar errado mas, a meu ver, o momento exige uma tomada de posição radical, decisiva, contundente, pois essa imensa compreensão que o meu amigo tem pelas pessoas responsáveis pelo nosso padecimento não tenho!
O meu modo de resolver as graves questões que atualmente arrasam com o Brasil e aniquilam o povo, decididamente passa ao largo das rezas e desejos de que os criminosos voltem a entrar nos eixos, pelo contrário: acho que somente no enfrentamento, agora, existe a possibilidade de retomarmos o desenvolvimento do país, determinando que o precioso tempo que se perderia em orar e clamar aos deuses que iluminassem nossos governantes e parlamentares, fosse gasto na expulsão dos mesmos nos palácios e assembleias, respectivamente.
Por outro lado, em respeito à decisão do Wilson, não quero me aprofundar neste comentário, QUE NÃO É EM DESACORDO AO TEXTO DO Rocha, QUE ELOGIEI E CONFESSEI NÃO TER ESTA SUA CAPACIDADE PRODIGIOSA DE TOLERÂNCIA, que se soma a desejos e esperanças que pessoas tão maldosas se recuperem através de desígnios divinos, não. O meu registro se dá para apresentar o contraponto, a diferença de nossos pensamentos:
De Rocha, o que se esperar de uma pessoa educada, civilizada, pacienciosa, e, do outro lado, do Chicão, a luta, a guerra, a vontade combater aqueles que nos obrigam a padecer enquanto se comprazem nas delícias do extremos, situação que não admito e não aceito, mesmo contrariando os mais elementares princípios religiosos e até mesmo humanos, impulsos absolutamente de acordo com as minhas condições social e cultural, mental e intelectual!
Meus parabéns ao artigo tão piedoso, indulgente e benevolente, Rocha.
Não acredito que eu mude o meu ânimo neste particular, a minha disposição e raiva contra esta crise sem precedentes, ocasionada pela irresponsabilidade de parlamentares e governantes, repito, em face da minha índole ainda atrelada a instintos primitivos, conforme declaração de um parlamentar que esteve preso, inclusive, com relação a outro indivíduo nocivo e nefasto, pernicioso e abjeto, em um célebre debate que tiveram sobre ... propina!
Os meus limites excederam, e não percebo outra forma que não seja recorrer às velhas soluções do passado:
ÀS ARMAS!
Um forte abraço, Rocha.
Saúde e paz, enquanto esta for possível!
1)Salve Chicão, acredito no carma e na reencarnação. A vida é infinita, em várias dimensões...
Excluir2)Digamos, a batata dos políticos e autoridades está assando para as novas reencarnaçãoes. Relatos dos Espíritos afirmam isso e eu acredito. Como a vida é infinita, ela não tem pressa, tudo tem o seu tempo.
3)Aprendi a não ter ódio nem raiva nem rancor porque isso faz mail à minha saúde e não ao outro a quem não gosto.
3) Abraços.
Antonio, nos graves momentos que estamos vivendo, o que mais nos falta é justamente o que seu belo texto propõe, a compreensão para que, em vez de polarizar discordâncias e inimizades, possamos um ouvir ao outro e procurar soluções verdadeiras para o que nos aflige. Ainda tenho esperanças de que as pessoas inteligentes se libertem, ao menos um pouco, de seus prejulgamentos e sua intolerância e encontremos o caminho. Um abraço do Mano.
ResponderExcluir1)Obrigadíssimo Mano. Gratidão pelo espaço onde escrevo estas linhas.
ResponderExcluir2)Concordo plenamente com você.
Vizinho Antonio,
ResponderExcluirExcelente post. Eis o cérebro humano trabalhando no seu melhor estilo: a sabedoria das suas crenças e filosofias somadas à beleza das ilustrações artísticas feitas pelo Editor. Tomás de Aquino dizia que “rezar é conversar” e eu concordo com ele e com você quando diz que não existe problema sem solução e sim solução que ainda não foi pensada. Em tempos escuros há que controlar as emoções, administrar a santa ira e investir na racionalidade. Decerto que os males que nos afligem são gravíssimos mas não serão superados se involuirmos por caminhos outros que não o tolerante e democrático “caminho do meio” largo o bastante para albergar, inclusive, o direito de expressão até mesmo das vozes que defendem o seu fim.
Entendo que o Irmão Sol foi muuuito budista porque desapegou geral, se desnudou de todas as vaidades, cultivou a verdadeira humildade e uma imensa perspectiva. A vida de Francisco, bem mais alto do que suas palavras, nos diz que ele acreditava ser apenas mais um entre os bilhões de humanos e zilhões de seres vivos interdependentes que habitam a terra que é apenas um planeta circulando em volta de um sol que é um apenas mais um entre um bilhão de estrelas no universo atualmente conhecido.
Diante deste cenário infinito como não perceber a a transitoriedade de tudo e nela a nossa desimportância, e não fazer a modesta parte que nos cabe o melhor possível sem ódio no coração e sem fazer do nosso, um cálice cheio até aqui de mágoa?
Quanto à prece da Irmã Lua do Bandeira, me lembrou de quando chovia nos tempos de eu “minino” de férias aqui por essas paragens e as primas cantavam:
“Santa Clara clareou
São Domingos alumiou
Vai chuva, vem sol
Vai chuva, vem sol”
A cantoria nem sempre sensibilizava a galera santíssima mas bem que nos ajudava a “passar a chuva”.
Oremos!
1)E tb tinha aquele versinho: "Chuva e sol, casamento de espanhol"; "sol e chuva, casamento de viúva". Cantigas que hoje a meninada nem quer saber.
ResponderExcluir2) No mais, eu concordo com vc Moacir.
3)Nosso editor anda inspiradíssimo com estas ilustrações !
Olá Antonio,
ResponderExcluirNão sei o que dizer, ando nos dois lados. Caminho do meio, será? Tem hora de briga e tem hora de perdão.
Mas, não sei porque, o que me veio ao coração e à voz quando li o texto e os comentários, foi a bela canção de Gilberto Gil, Louvação.
Vou fazer a louvação
Louvação, louvação
Do que deve ser louvado
Ser louvado, ser louvado
........
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado.
Até mais.
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ResponderExcluir') Oi Ana, gostei da música do Gil.
ResponderExcluir2)Não resta dúvida, o Caminho do Meio é o melhor, a meu ver, evitando-se os extremos.
3)Hora de perdão sim; hora de briga sim também, mas briga democrática, civilizada, via votos...
Rocha,
ResponderExcluirSe reparares acima, consta o meu nome sem o comentário, com a explicação que fora removido pelo administrador do blog.
Portanto, quando escrevi ter sido "podado", eu me referia ao Wilson, conforme expliquei no artigo da Ana, após a tua reprimenda contra mim.
Um forte abraço.
Saúde e paz.