Heraldo Palmeira
Ana,
Eu menino, meu pai (já doente da última doença) ficava ao lado da minha
rede – prazer especial depois da volta da escola – lendo para mim as notícias
da Apollo 11. Sim, da lua do homem, aquela deserta, de crateras, poeira lunar,
pedras e terra estranhas, bandeira americana sem vento, marcas de bota no solo,
gente duvidando da viagem...
“É um pequeno passo para um homem, um
grande salto para a Humanidade”! O primeiro homem a
pisar na lua, comandante da missão, que disse a frase poderosa, hoje não está
mais aqui e flutua para o esquecimento, como é comum acontecer aos humanos que
saem das suas épocas naturais. Ainda tem gente como eu que lembra da face e do
nome: Neil Armstrong. E dos outros dois, Edwin Aldrin e Michael Collins - esse,
um azarado que, como piloto do módulo de comando, esteve lá mas não pôde descer
ao solo lunar. Juro que se eu estivesse na missão, teria desobedecido as ordens
e faria o parceiro sujar as botas também. E resolveria tudo quando voltasse à
Terra.
A Lua, a nossa, dos nossos, a dos mistérios, a de São Jorge, a dos
poetas, dos sonhadores, dos lunáticos, ora dourada ora prateada, segue lá
firme, todos os dias, eterna, ora exibida ora escondida, nova, crescente, meia,
cheia, minguante. Ciclo perfeito regulando as marés, mostrando que o céu é
real, nos fazendo crer que nem tudo está perdido.
Claro que eu adorava as histórias e notícias do meu pai querido, mas
duvido que aquela lua dos astronautas seja a mesma que se esparrama como luar
do sertão, a que nos serve de portal que guarda um acesso imaginário aos nossos
queridos e às nossas saudades, aos nossos sonhos, que nos faz múltiplos como
você tão bem (d)escreveu.
No caso da lua, não jogo no timaço da Nasa, prefiro a camisa surrada do
time de várzea cujo hino diz “Mente quem
diz que a lua é velha!”.
Como você, tenho cá meus escritos lunáticos, de noites de observação,
como uma que fiz aqui mesmo na minha vila natal - onde estou agora para mais
uma festa da minha Mãe padroeira. Quem sabe publico qualquer dia, depois de
limpar a poeira lunar?
Que todas as luas de todas as noites, exibidas ou escondidas, sigam nos
protegendo e nos permitindo sair por aí, flutuando à cata de quem amamos ou
pretendemos amar. Inclusive do amor que nos acende a alma, já que a lua também
é dos namorados. Até mais.
Mestre Heraldo,
ResponderExcluirGostei muuuito dessa conversa lunática. Coisa boa lê-lo poetando lindamente daí da sua Acari de quando era menino correndo atrás de pipa, de circo e das luas da nossa tchurma, tão diferentes e tão parecidas com os luares das Donanas. Luas que nasciam por detrás da verde mata ou subiam das águas do mar, prateando os areias que, de repente, na brincadeira, viravam nossos mundos da lua.
Nem preciso dizer-lhe o quanto curti , aos 14 anos, quando os terráqueos do “Império” pisaram na Lua, embora a nossa segunda mãe Tonha tenha ficado injuriada com a credulidade da família e não parasse de balançar a cabeça de um um lado para o outro repetindo:
'Cês tão tudo variando, num tão vendo quisso né pussive , qué filme da televisão?”
De quais outras luas depois de tantas suas lhe teclar? Saudade da minha Lua do Crepúsculo Vermelho, a yorkshire de pelo dourado que eu amava tanto e - @#$%&@! – do namoro ouvindo o álbum The Dark Side Of the Moon e nele, um milhão de vezes, a canção Eclipse que é "tudo de bom" até porque se houver uma palavra capaz de descrevê-la teria que ser “tudo” cantada pra aí umas vinte vezes para narrar a experiência humana onde sempre haverá sol e um lado sombrio de lua.
https://www.youtube.com/watch?v=e5ovikJpxDs
Abração
Caríssimo,
ExcluirPois é, Acari tem suas luas de tirar o fôlego e tenho algumas lembranças de diversas delas. Só mesmo a lua para merecer um álbum como aquele do Pink Floyd. E todas as outras cantorias mais que mereceu em muitos idiomas. Abraço.
Olá Heraldo,
ResponderExcluirEscritor que se preze é assim, bom de bic, vai fazer um comentário e sai lhe um belo post.
Já dizia a propaganda do FNM, acho que você é jovem para lembrar, "quem é bom já nasce pronto". Grande você, viu?
E, por favor, não limpe toda a poeira lunar, deixe que sobre uns pózinhos para muitos outros escritos lunares para encantar nossas noites de lua nova.
De muitas músicas lindas me lembraram vocês, músicas que nem pensei quando escrevi, Sôfregamente. "Que noite, que lua, pois é, pra quê?"
Até mais.
Ana,
ExcluirApenas atravessei seu luar e gastei tinta porque estava debaixo da luz dourada aqui no meu sertão.
Sim, até andei nos velhos Fenemês! Eles eram grandes, eu cabia dentro. Com folga.
Pois, guardarei poeira lunar para gastar depois. Até mais.
1)Quando os astronautas pisaram na Lua, eu era adolescente no Gamam DF e uma vizinha declarou:
ResponderExcluir2) "Olhe meu filho, não acredite nestas coisas. Eles estão ali, nas margens do rio Tocantins,(na época ainda era Goiás)que tem uma areias branquinhas".
3)Por outro lado, astrólogos afirmam que eu tenho a Lua em Libra, mas como sou analfabeto nos Astros, ficou sem saber o que significa.
4) Parabéns Heraldo, bom texto.
Obrigado, Antonio.
ExcluirNa minha época, que se vai ao longe, a lua era dos namorados!
ResponderExcluirDepois tivemos um período, na década de setenta, que era legal viver no mundo da lua;
Mais adiante, chegou-se a vender terrenos na lua;
Hoje, percebo que temos grandes talentos que abordam luas particulares, que nos encantam pela dissertação, fruto de seus talentos e vocações à escrita.
Na razão direta que volta e meia levanto de lua, ao ler textos cuja essência é o satélite deste planeta, e com a qualidade que Palmeira caracteriza os seus artigos, penso em viajar um dia para qualquer lua de Júpiter, ou a Europa ou Ganímedes ou ... uma qualquer.
Parabéns pelo registro, muito bem feito e de extremo bom gosto.
Um forte abraço.
Saúde e paz.
Bendl,
ExcluirGrato pelo seu comentário delicado. Sim, vá visitar todas as luas que quiser. Afinal, de que vale viver sem, de vez em quando, dar uma passadinha no mundo da lua? Abraço.
Letra de meu amigo Pituco Freitas, musicada por mim aos 20 anos, uma bossa-nova que um dia hei de gravar:
ResponderExcluirLua cheia, que vagueia, dá uma volta e se solta / Não está morta em meu olhar / Mesmo a nuvem que te cobre é tua súdita, luz tão nobre / Pois é dita nos poemas / Como sendo de amor / Os teus olhos, como açoite, nos devoram de amor / Ah, que dor! É um prazer ser escravo de você / E assim vai... E no horizonte cai / Me conforma esperar em lua nova você voltar...
Beijo do seu fá número zero!
WA,
ExcluirA lua sempre tomando conta de tudo, inclusive da inspiração dos da arte. Beijo.
Heraldo, as palavras da sua lua fazem um belo complemento para as tamtas luas da Ana.
ResponderExcluirMano,
ExcluirAinda bem que existem as luas tantas sem tempo para findar. Abraço.
Lindo o luar de seu sertão...e a forma, inteligente, mas também lírica que brincas com ele!
ResponderExcluirAbraço querido!
Samara,
ExcluirNão há luar como esse do sertão. Somos mesmo de todas as luas. Abraço.
Heraldo, sou leitora deste magnifico blog. Nem sempre comento! Mas a lua eternamente romântica de todos os enamorados me traz Chiquinha Gonzaga com sua Lua Branca e Catulo da Paixão Cearense como luar do sertão mais lindo do mundo. Sou uma enluada, em plena maturidade.
ResponderExcluirLua Branca
Chiquinha Gonzaga
Oh, lua branca de fulgores e de encanto
Se é verdade que ao amor tu dás abrigo
Vem tirar dos olhos meus o pranto
Ai, vem matar essa paixão que anda comigo
Oh, por quem és desce do céu, oh lua branca
Essa amargura do meu peito, oh, vem, arranca
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão"
Até Cely Campelo tomou banho de lua!
Lua é Amor, os poetas sabem disso!