imagem Sagrada Família Foundation |
Moacir
Pimentel
Antoni Gaudí desenvolveu uma linguagem
arquitetônica que o tornou mundialmente famoso e os seus métodos continuam revolucionários,
um século depois dele os ter concebido. Em 1905 o arquiteto
desenhou um projeto urbanístico que visava inserir a Sagrada Família no plano
traçado pelo governo municipal para a expansão dos limites de Barcelona. Ele
idealizou a Basílica da Sagrada Família no centro de uma grande área ajardinada
com a forma de uma estrela octogonal, capaz de proporcionar uma excelente visão
do templo a partir de todas as oito zonas circundantes.
Devido aos elevados preços dos terrenos o arquiteto foi forçado a se
conformar com uma estrela de quatro pontas. Mesmo assim, a reduzida estrela de
Gaudi não convenceu a Prefeitura da cidade que, para honrá-la, teria que
indenizar mais proprietários de mais prédios demolidos do que podia.
Como se pode ver na foto que abre o post, atualmente só sobreviveram
duas das pontas da estrela original. O espaço verde situado defronte da Fachada
da Natividade, a primeira das entradas do templo a ser finalizada, foi batizado
de Praça Gaudí e nela se destaca um lago artificial, em cujas águas a Sagrada
Família é refletida. Do alto das torres se percebe o quanto o concreto avançou
na direção do templo.
Mais do que dar a Barcelona lugares para se viver e
orar, ele buscou valentemente reformar a cidade e influenciar a vida da
comunidade.
O único lugar no vasto mundo que oferece mais
visões modernistas que Barcelona é Nova York, mas lá não se pode chamar os
maiores arquitetos americanos de designers urbanos. Veja Frank Lloyd Wright,
por exemplo, que fez do seu Museu Solomon R. Guggenheim um ícone de curvas
dramáticas e tornou-o familiar tanto para os amantes da arte quanto para os
visitantes do Museu e os pedestres mas não foi capaz de fazer a sua belíssima
construção mudar a cidade.
O que torna os edifícios de Gaudí obra-primas de
urbanidade é o seu inabalável senso de entrega ao povo de Barcelona. É por isso
que uma odisseia em busca das obras de Gaudí pelas esquinas de Barcelona tem de
terminar entre os lagartos de bronze e de mosaico nos jardins do Parque Güell,
entre as suas colunas dóricas enviesadas, aquelas passagens intestinais, as
pedras esticadas e os largos terraços em forma de rim. Esse espaço mágico foi criado
em uma colina acima da cidade, como um jardim privado para os moradores de um
condominio elegante, mas é impossível detectar um metro quadrado metido a besta
nos muitos hectares de admirável espaço público compartilhado por nativos e
turistas.
Milhares de pessoas, neste exato momento, estão
orando e glorificando a Deus tanto na igreja quanto no parque, andando sob as
abóbadas de uma ou sobre os terraços do outro, encantando-se nas arcadas
perpendiculares e nas grutas iluminadas ou nas escadas sinuosas, curtindo as
vistas longas do grande mirante ou das torres, olhando a cidade que se estende
até o mar azul.
A Sagrada Família, no terceiro milênio, continua
sendo a mais ambiciosa construção da humanidade e é simplesmente impossível
comparar essa bela e estranha coleção de torres feitas de pedra com qualquer
outro edifício conhecido. Isso tem confundido arquitetos, críticos e
historiadores de arte desde que sua forma sem precedentes se tornou aparente,
após a Primeira Guerra Mundial.
A Basílica logo conquistou o povo da sua cidade mas
jamais foi uma unanimidade. George Orwell, um dos meus escritores prediletos,
que de dia fingia ser um turista e de noite dormia na igreja durante a
clandestinidade dos seus anos de voluntário na Guerra Civil Espanhola, jurava
de pés juntos que ela era era “um dos edifícios
mais horrendos do mundo”.
Salvador Dalí falou da “sua beleza terrível e comestível que deveria ser mantida sob uma cúpula
de vidro”. Walter Gropius, o mestre da arquitetura em ângulo reto e o
fundador da Bauhaus - a primeira escola de design do mundo! -
elogiou sua “perfeição
técnica”. Louis Sullivan, o grande arquiteto americano apelidado de pai dos
arranha-céus, descreveu-a como "o
espírito simbolizado em pedra".
Há quem elogie e quem critique a arquitetura
radical do inacabado sonho de um gênio enlouquecido por devaneios místicos.
Como se dizia antigamente “falem mal mas
falem de mim”. A Basílica é um sucesso de bilheteria.
A construção da inacabada Sagrada Família custa
mais de vinte e cinco milhões de euros por ano oriundos de doações privadas e
das taxas pagas pelos mais de três milhões turistas que a visitam todos os
anos. O templo, desde os seus primórdios, foi bancado por doações do povo de
Barcelona.
Pode parecer piegas, mas eu gosto de pensar – ou viajar! – que mesmo de
modo modestíssimo, faço parte dessa história. Pois os visitantes não apenas
observam a obra em andamento, como também contribuem para que ela siga adiante
ao pagar a entrada. Na verdade dinheiro jamais foi a maior dificuldade da Sagrada Família.
Em julho de 1936, anarquistas anticlericais
saquearam a igreja em construção, que teve de ser refeita e
restaurada atrasando ainda mais o avanço de sua complexa estrutura. Os vândalos invadiram o antigo escritório de Gaudí destruindo
seus esboços e croquis originais e danificando gravemente os seus modelos de
gesso para as esculturas e a única maquete completa que ele fizera da Sagrada
Família. Tal perda deixou as próximas gerações de arquitetos, construtores,
escultores e demais artistas envolvidos no projeto, com um imenso quebra-cabeça
nas mãos.
Foram necessários dezesseis longos anos apenas para
reunir os fragmentos da maquete principal e a controvérsia se instala periodicamente sempre que
novos elementos da Basílica são revelados. O fato é que a polêmica tem perseguido essa construção
cujo design é, em grande parte, baseado em conjecturas e intuição.
No pequeno Museu abrigado pela cripta da Sagrada
Família pode-se constatar como e o quanto até mesmo a visão de Gaudí para o
templo evoluiu ao longo das décadas que passou trabalhando no edifício. Então
quem pode realmente saber o que Gaudí imaginaria e realizaria com a capacidade
tecnológica de hoje?
Parte da graça de uma visita à Sagrada Família vem
da agitação da própria construção. Pedras são esculpidas, guindastes amarelos
se balançam enquanto são levados de um local para outro, blocos são içados e os
trabalhadores se movem por todos os lados. Trata-se de um monumento, de uma
realização histórica, de uma das maravilhas do mundo moderno sendo construída
ali e agora, bem na nossa frente e não admirada séculos mais tarde.
É como se estar em Atenas no século IV AC, quando o
Partenon estava prestes a ser concluído ou em Istambul no século VI enquanto a
Hagia Sophia era erguida, ou em Paris em 1889, assistindo à construção da Torre
Eiffel.
Mas
principalmente e mais exatamente, é como se estivéssemos em uma das grandes e
enigmáticas catedrais da Europa dos séculos XIII e XIV, como as de Notre-Dame,
Colônia e Milão. O fato da Sagrada Família ser um trabalho inconcluso, uma
construção em andamento a faz, se possível, ainda mais interessante porque nos
dá uma idéia de de como era na Idade Média visitar uma monumental catedral
gótica em construção.
É um privilégio poder
acompanhar de perto a metamorfose de uma das obras arquitetônicas mais
singulares da atualidade em andamento e constatar que hoje as pedras são
cortadas precisamente por máquinas computadorizadas, acelerando muito o
processo de construção, e não mais esculpidas artesanalmente por martelo e cinzel. Não
adianta suspirar e desejar infantilmente, como muitos fazem, que a construção
fingisse não morar no século XXI.
Apesar dos guindastes amarelos e dos computadores o templo continua
representando a fé católica, através dos apóstolos, evangelistas, mártires e
santos, e está vivo e é transformado a cada dia com uma miríade de estátuas, esculturas e
inscrições.
O Templo Expiatório da Sagrada Família foi projetado para ter três
grandes fachadas: a Fachada da Natividade – que foi totalmente
finalizada por Gaudí - a Fachada da Paixão e a Fachada da Glória,
essa última ainda em construção.
A vida e os ensinamentos de Jesus estão
representados nos portais dessas três Fachadas. Cada uma delas representa um
dos eventos cruciais da existência do Cristo: seus nascimento, paixão e morte e
ressurreição, e glória.
A maior e a mais importante entrada da Sagrada
Família, aquela que dará acesso direto à nave principal, será a Fachada da
Glória cujas obras foram iniciadas apenas em 2002 no lado sul do edifício. Dedicada à Glória de Jesus, representará o Juízo Final e o Inferno.
No Museu da Sagrada Família mora uma maquete da futura fachada da Glória
e, pelo menos na miniatura, ela tem sete portas, sete grandes colunas
esculpidas com os sete dons do Espírito Santo e os sete pecados capitais e, nos
capitéis, as sete virtudes.
Grupos de esculturas estão sendo talhados nessa entrada com temas como as
bem-aventuranças, as obras de misericórdia corporais e espirituais, Adão e Eva,
as Arcas da Aliança, Noé e last but not least a Santíssima Trindade em meio às
figuras delirantes de um Juízo Final.
Para a fachada gloriosa que terá nuvens nas torres dedicadas a São
Pedro, São Paulo, Santo André e Santiago estão previstos efeitos especiais como
um complexo sistema de iluminação.
Além de tudo isso – dizem! - a última das fachadas terá escadarias majestosas como
queria Gaudí e para tanto prédios do outro lado da rua serão demolidos para
permitir um melhor acesso ao templo e dele uma visão mais abrangente. As escadarias serão erguidas acima de uma passagem subterrânea na Rua
Maiorca, que abrigará um Inferno. A ver!
As Fachadas já concluídas, que representam a vida humana de Jesus do
nascimento até à sua Ascenção, possuem cada uma delas três pórticos: da Fé, da
Caridade e da Esperança, as três mais importantes virtudes teológicas.
O claustro que rodeia todo o perímetro
do templo e que terá, quando finalizado, um comprimento total de duzentos e
quarenta metros é um dos destaques da construção. Nas interseções desse
claustro com as fachadas Gaudí projetou na Fachada da Natividade portais
dedicados às Virgens do Rosário e de Montserrat e, na Fachada da Paixão, às Virgens
da Mercê e das Dores.
Fugindo das linhas e ângulos retos como o diabo da
cruz, na Fachada da Natividade, Gaudí encarnou e seguiu as curvas da natureza,
pois as colunas e os arcos derretem-se em um cenário viscoso que espuma, goteja
e procria folhagens, animais e pessoas.
Em seguida a pedra torna-se uma erupção, como se
fosse a lava congelada do próprio edifício ou um tapete de algas cobrindo toda a superfície dessa entrada da Basílica.
Nenhum outro arquiteto fez pedra parecer tão
fluida, tão dissolvida, tão etérea. Se é bonito ou não é bonito não vem ao
caso, e não é esse o ponto. É impressionante e, como disse Salvador Dalí, um
dos primeiros fãs de Gaudí:
"Aqueles que não aprovaram o seu mau gosto criativo são
traidores".
O significado da Sagrada Família é comunicado
através da forma e expressividade das suas esculturas externas. Gaudí concebeu uma complexa iconografia que, confesso, não consigo
traduzir minimamente sem a ajuda dos folhetos e livros que compramos por lá.
Aliás as esculturas da Sagrada Família são um capítulo à parte. O
arquiteto desenhou-as seguindo um curioso método de trabalho. Primeiro fazia um
estudo anatômico da figura pretendida para em seguida confeccionar bonecos de
arame com os quais experimentava a postura mais adequada a esculpir.
Então fotografava tais modelos usando um sistema de espelhos que
proporcionava-lhe múltiplas perspectivas e, a partir das imagens, fazia moldes
em gesso das figuras, adequando-lhes as proporções de acordo com o destino de
cada uma delas no templo: seriam mais altas quanto mais elevadas fossem ficar.
Por fim ele talhava a pedra.
E, quando apesar de todos esses cuidados o arquiteto não se dava por
satisfeito diz Dona Lenda que Gaudí costumava amarrar e alçar pessoas e animais
para conferir de que forma ficariam mais fotogênicos nas suas versões de pedra
lá no alto (rsrs)
As torres da Fachada da Natividade, concluída em 1905, são coroadas com
formas geométricas reminiscentes do cubismo enquanto que a sua intrincada
decoração mais abaixo é Gaudí na veia.
Os visitantes que antes só tinham acesso ao templo
pelas portas da Natividade hoje podem entrar também pelas da Paixão. Mas as
multidões continuam dando uma atenção especial às alegorias do nascimento do
Cristo, por terem sido totalmente concluídas durante a vida de Gaudí e darem
testemunho da sua visão original, do seu estilo inconfundível.
Gaudí jogou todas as suas idéias fantásticas nessa
fachada da Natividade. Pode-se ver nela a mistura arrojada de reminiscências
mouriscas, curvas Art Nouveau, simbolismos cristãos e, muito principalmente das
tramas e dramas da natureza. Ele usou e abusou das formas de rochas
arredondadas que lembram as rochas de Montserrat.
Trata-se de uma decoração exultante onde todos os elementos são
evocadores da vida, focando no lado mais humano do Cristo com uma série de elementos
populares, como ferramentas e animais domésticos. Lá estão o cordeiro - o
símbolo da inocência - o cão - o símbolo de fidelidade - uma serpente e a maça
– o símbolo do conhecimento - e anjos erguem uma faixa onde se lê:
“Jesus est natus. Venite, adoremus.”
Dizem que os pássaros que voam ao redor do berço do menino Jesus fugiram
de uma antiga canção de Natal catalã de nome El cant dels ocells – O
Canto dos Pássaros.
As esculturas parecem brotar da pedra do fundo da
fachada até onde as torre começam a subir, presididas por
uma Madona e o Menino. Entre as imagens e
com alguma tradução se reconhecem as cenas da Anunciação, da Imaculada Conceição,
da Natividade, da Estrela de Belém, das Adorações dos Três Reis Magos e dos
Pastores, todas perfeitamente incorporadas no design gótico da fachada.
Os pórticos da Fachada da Natividade são separados por duas grandes
colunas: a de José, entre o pórtico da Esperança e o da Caridade, e a de Maria,
entre o pórtico da Caridade e o da Fé. Bem no centro e ao alto, sombreando a
Porta de Jesus, se destaca uma escultura: a Árvore da Vida.
Essa Árvore é uma viagem que passa pelo anagrama do Cristo com as letras
JHS misturadas com as letras gregas alfa e ômega numa cruz vermelha
simbolizando o princípio e o fim, anjos incensários, o pão e o vinho e o
primitivo símbolo cristão do pelicano, tudo isto em um cipreste povoado por
pombas.
Na base da colunas desse lado do templo nos surpreendemos com simpáticas
tartarugas e camaleões que as escalam a caminho dos capitéis que foram
transformados em palmas carregadas de tâmaras. A fachada culmina com as
torres-campanário já nossas conhecidas dedicadas a São Matias, São Judas Tadeu,
São Simão e São Barnabé.
Eu pessoalmente avalio que há uma certa demasia de elementos e alguma
poluição visual na Fachada da Natividade. É complicado focar em todas as cenas
esculpidas no Pórtico da Caridade, dedicado ao Menino Deus e abstrair o que
elas representam. Como diria a juventude:
“É muita informação”!
Já o Pórtico da Esperança, dedicado a São José, é menos fértil de
imagens mas nele encontramos, entre muitas outras, as cenas do casamento do
santo casal, a Fuga para o Egito e uma famosa Barca de São José, na qual o
ilustre timoneiro tem o rosto de Gaudí, uma homenagem feita pelos trabalhadores
do templo após a sua morte.
No Pórtico da Fé, dedicado à Virgem Maria, moram as cenas da Imaculada Conceição e da Visitação.
Lá está São João Batista e Jesus ora criança, ora trabalhando de carpinteiro, ora nos braços
de Simeão ora sendo encontrado no Templo. A flora é diversa das anteriores e
abundam as uvas e as espigas.
Há grupos escultóricos dedicados aos reis e profetas bíblicos misturados
com últimas palavras da Ave Maria e uma estranha escultura representando a Tentação da Mulher – um saco de
dinheiro! - e a Tentação do Homem
– a tal bomba do revolucionário Orsini!
Gaudí planejou essa fachada em policromia e, como tinha consciência de
que não poderia terminar todo o exterior da igreja no decurso da sua vida,
preferiu construir uma só fachada completa.
O objetivo foi fazer dessa Fachada concluída uma amostra de como seria o
resto do templo e o arquiteto escolheu a da Natividade por ser, na sua opinião,
a que poderia ser mais atraente para o público, incentivando assim a
continuação da obra após a sua morte:
“Se em vez de fazer esta fachada decorada, ornamentada, turgente,
começasse pela da Paixão, dura, pelada, como que feita de ossos, as pessoas
ter-se-iam retraído".
Sobre a Fachada da Paixão conversaremos depois.
É mesmo muita informação, Moacir. Nunca ouvi falar de nuvens, tartarugas, camaleões e pelicanos enfeitando uma igreja! Mas você descreve as fachadas tão bem que a igreja já não parece tão feia. Acho que estou me acostumando com as loucuras de Gaudi kkk Onde estão as palmeiras e os animais? Obrigada!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirNo vídeo da Fachada a Natividade – foi o melhor que encontrei, desculpe - você poderá ver as “loucuras” mais de perto:
https://www.youtube.com/watch?v=-9KToq16NBY
Note que a Fachada é dividida em três pórticos separados justamente pelas tais colunas-palmeiras que brotam dos cascos de duas tartarugas – uma com patas e a outra com nadadeiras – que os especialistas dizem simbolizar a terra e o mar ou “a permanência”. Nessa narrativa talvez os camaleões entrem como contraponto simbolizando as transformações (rsrs)
Uma terceira coluna-palmeira surge bem no centro da cena principal dando guarida à velha serpente com a clássica maçã na boca e aos nomes de todos os ascendentes paternos do Cristo desde Abraão. Quanto ao pelicano que aparece alimentando duas crias à beira da Árvore da Vida bem no topo do topo, trata-se de uma alegoria da eucaristia, muito antiga,baseada na crença de que, na falta de alimento, as “mamães pelicanas” alimentam os filhotes com seu próprio sangue, fato associado pelos primeiros cristãos com o sacrifício do Cristo. O reino animal ainda se faz representar no templo por caracóis, galinhas e galos, sapos e lagartos, lagartixas e besouros e joaninhas etc (rsrs)
Como já lhe disse se tudo isso é bonito ou não é uma questão de opinião. O fato é que essa overdose de formas é totalmente filha da mente de Gaudí.
Obrigado e abração
Inegavelmente um dos termômetros da modernidade ou revolução do pré-estabelecido reside na arquitetura.
ResponderExcluirGaudi tentou fugir da tradicional forma de se construir catedrais, a gótica, e acho que exagerou, pois a célebre Sagrada Família parece um daqueles castelos que se faz na praia, da areia do mar molhada, onde se deixa cair das mãos fechadas bocados de barro, que depois secam e permanecem como bolinhas colocadas uma em cima das outras.
Gostei?
Sim, inegavelmente inovador, mas o arquiteto saberia como terminaria a sua infindável obra e como seria a sua fachada final?
Os mais otimistas dão conta que somente em 2026(!) a catedral estará finalizada, enquanto que Gaudí deixou este mundo em 1.926, portanto, UM SÉCULO após a sua morte que a Sagrada Família estará concluída, possivelmente!
Independente do tempo que se está levando para a sua construção, a Sagrada Família não deixa de ser uma obra magnífica, de grandeza ímpar, de esplendor único, de suntuosa majestade!
Além de representar fidedignamente a genialidade do arquiteto, que não se dedicou somente a esta catedral, mas a outros prédios que também se tornaram famosos, Gaudí foi o responsável pelo Modernismo catalão, colocando Barcelona na vanguarda mundial na arquitetura arrojada, quebrando paradigmas justamente onde a tradição arquitetônica alemã preponderou nas construções de igrejas ao longo deste mundo.
Mais uma vez os meus parabéns ao Pimentel, cujo artigo é muito bem escrito e de alta qualidade, invariavelmente o estilo do nosso expert em artes, razão pela qual a minha admiração e reconhecimento pelo seu talento inquestionável.
Um forte abraço.
Saúde e paz.
Bendl,
ExcluirObrigado pelo interessante comentário. A resposta é sim: Gaudí sabia, nos mínimos detalhes, como seria a sua catedral quando finalizada e como proceder nesse sentido e que seriam necessários séculos para concluir um trabalho de tal envergadura. Ele planejou e desenhou cada torre, cada arco, todas as fachadas e abóbadas, os jardins, as esculturas e vitrais e, inclusive, os lustres e lâmpadas, os círios e tenebrários do templo.
Apesar das estranhezas todos os elementos arquitetônicos da Sagrada Família são tradicionais embora o arquiteto tenha driblado pioneiramente os contrafortes góticos e inventado uma amálgama surpreendente misturando a verticalidade gótica, as curvas modernistas e a iconografia cristã com a sua arquitetura pessoal inspirada pela natureza.
À medida que se vai conhecendo essa assombrosa construção - principalmente o seu interior - passamos a enxergar além do inusitado, da mera decoração de sua superfície, e entendemos que Gaudí realizou um milagre arquitetônico de engenharia estrutural avançadíssima. Mas essa será outra conversa.
Gostei da sua imagem mental de “castelos que se faz na praia com a areia do mar”. Tudo a ver. Mas Gaudí era um catalão da gema, um patriota de carteirinha e, portanto, começou a delirar a sua obra prima representando o seu habitat – a Catalunha! - nas torres da Basílica e na Fachada da Natividade multiplicando as rochas arredondadas do maciço de Montserrat, notadamente o pico do Cavall Bernat.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/65/El_Cavall_Bernat.jpg/1200px-El_Cavall_Bernat.jpg
Em seguida e absolutamente em casa ele compôs uma ode à natureza: água e terra, mar e montanha, folhas e flores, pedras e espumas, palmeiras e ciprestes, pássaros e besouros. Last but not least desse cenário de pedra viva Gaudí fez brotar a galera santíssima nos contando sua história.
Abração
Poder testemunhar essa construção histórica é mesmo um privilégio. Entretanto penso que a destruição dos esboços originais do arquiteto terminou sendo uma coisa boa pois durante quase um século muitos outros arquitetos e artistas tiveram que correr atrás e se superar para realizar uma Sagrada Família coerente com a mente genial que a concebeu usando tecnologias cada vez mais modernas. Fizeram um ótimo trabalho até agora, embora o que a imaginação de Gaudi teria sido capaz de criar e edificar no século 21 continue sendo uma pergunta sem resposta.
ResponderExcluirMárcio,
ExcluirConcordo com você. Jamais saberemos. Dizem que Gaudí mudava de ideia e de design dependendo do formato e da textura das pedras que lhe traziam de Montjüic (rsrs) Mas eu acredito que as gerações de profissionais que assumiram a construção da Sagrada Família após a morte do gênio, realizaram uma excelente “interpretação” de todos os detalhes sobreviventes dos croquis, esboços e maquete do seu trabalho, preenchendo as lacuna nessa arquitetura grandiosa com grande competência. A modernidade e o visionário Gaudí, tão à frente de seu tempo, combinam perfeitamente. Ele muito teria apreciado os guindastes amarelos, os efeitos especiais e a construção computadorizada(rsrs).
Obrigado pela sua participação.
ResponderExcluirMoacir,
Adorei mais este lindo artigo sobre um Templo maravilhoso com ótimas informações sobre a futura Fachada da Glória que eu desconhecia. Eu gosto mais da Fachada da Natividade do que da outra, a da Paixão de Cristo. Não acho que a iconografia da Natividade seja complexa. As esculturas mostram de uma maneira muito simples o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo começando pela Anunciação, a Estrela de Belém, a Natividade, Os Reis Magos etc. A única cena que não se encaixa nesse tempo da vida da Sagrada Família é a Coroação da Virgem Maria e os anjos tocando as trombetas do Juízo Final.
Um abraço para você
Flávia,
ExcluirOs significados da riquíssima iconografia dessa fachada são mais evidentes para os católicos praticantes. É claro que algumas das cenas esculpidas são claras como o sol do meio dia mas apesar de eu ter reconhecido os reis magos de um lado tiveram que me soletrar a adoração dos pastores - um dos quais é uma criança - do outro. Veja, por exemplo, o Pórtico da Esperança dedicado a São José.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/10/Nativity_Fa%C3%A7ade%2C_Sagrada_Familia%2C_Barcelona_%281805425610%29.jpg
À direita e à primeira vista vi apenas um legionário romano atacando uma mulher pois são tantas as flores e folhas que rodeiam as figuras que o bebê que o soldado segura no ar e , bem assim, os corpinhos largados no chão me passaram batidos e simplesmente não abstraí de pronto que se tratava do Massacre dos Inocentes. Da mesma forma, aí no centro, é complicado entender que esse menino com um pássaro na mão é Jesus conversando com o pai e vigiado pelos vovôs São Joaquim e Santana. No grupo de esculturas à esquerda a figura dominante é a de um homem que caminha mais à frente.Como nem todos sabem que, em sonho, esse anjo esculpido alertara José de que Herodes ordenara a matança dos meninos judeus, muita gente se perde nessa fuga a caminho do Egito.
A grande quantidade de esculturas e a verticalidade dos pórticos nos fazem contemplar o todo e olhar para o alto muito mais do que para as partes. Prefiro me encantar pelo conjunto da obra pulando o serviço de áudio e deixando para entender os detalhes vendo as fotos e lendo os livrinhos depois da visita.
Outro abraço para você.
Estimado amigo Moacir
ResponderExcluirEstou encantado com sua descrição da "Sagrada Família".
Na minha vida de marinheiro, estive algumas vezes em Barcelona e ,sempre, visitei essa maravilha, que mexe demais com nossas cabeças.
Por coincidência, tenho um filho arquiteto que também é apaixonado por Gaudi. Há algum tempo, ele fez uma viagem de "desburrificação" à Europa, incluindo Itália, França,Espanha e Portugal. Barcelona ganhou de baciada.
Vou mandar seu artigo para ele que ora trabalha nos EUA.
Sinceros PARABÉNS!
Abraço fraterno.
Domingos
Prezado Domingos,
ExcluirSou-lhe imensamente grato por suas leitura e boas palavras e muito me honra que você compartilhe o artigo com o seu filho arquiteto. Fico muito feliz que você, um amante do vasto mundo, tenha apreciado o artigo, o terceiro de uma “franquia” de seis textos sobre o templo catalão. Espero que o experiente e sábio timoneiro continue nos acompanhando nessa viagem até o epílogo da minissérie (rsrs)
Abração
A igreja é um espetáculo e o post dispensa comentários. Parabéns!
ResponderExcluirCarlos,
ExcluirObrigadíssimo pelos "Parabéns!" se bem que eu prefira os comentários (rsrs)
Abração
Pimentel,
ResponderExcluirLer seus artigos é como viajar na poltrona da sala. Se não for abusar do seu tempo eu gostaria de saber quais são os temas das esculturas fotografadas por você na bela foto do artigo. Muito obrigado.
Olá Moacir,
ExcluirMais um capítulo fantástico!
"Sonho inacabado de um gênio enlouquecido por devaneios místicos". Isso que você disse resume o que eu penso dessa maravilha estranha. O interessante é que, estranha ou não, ela arrebata a gente. Tem mais, não tem? Então até lá.
Pimentel,
ExcluirMuito obrigado pelas informações.
Bom final de semana
Caríssima Donana,
ResponderExcluirMuito obrigado pelas suas pretinhas sempre tão simpáticas. Sim, essa maravilha nos arrebata talvez porque raramente nos deparamos com um sonho de pedra. E sim, “tem mais” (rsrs) E, diferentemente do costume de alguns povos orientais, por aqui come-se a sobremesa – o melhor da festa! - depois da refeição.
“Até mais”
1)A tecnologia me vence facilmente, às vezes penso que envio um comentário, mas sem perceber teclo outra coisa e lá se vai ele pelo espaço. Foi o que aconteceu hoje pela manhã...
ResponderExcluir2)Agora vou prestar atenção e vamos ver se não o perco... no anterior falei que o texto do Moacir me parecia um belo capítulo de um livro e eu como sempre, aprendendo.
3) Não se trata de elogio, é um trabalho muito bom que merece... parabéns...
Antonioji,
ExcluirVocê já se perguntou por que escrevemos? Mistério. Mas não é um trabalho. Para mim escrever é divertido. Ponto. Eu gosto de pensar, de digitar, do feroz clique dos meus dedos contra as teclas do teclado, de ver o post bem editado e ilustrado, de ler meus pensamentos tomando forma pretos no branco assim como um desenho vai se materializando magicamente na ponta de um lápis. Gosto de encontrar a palavra exata para deixar certa uma frase e frase certa para concluir um parágrafo, de colocar coisas em itálico ou em negrito, de poder mudar a aparência das palavras (rsrs) Mas jamais penso em livro. Nada disso. Dia desses muito apreciei o jeito como a Donana se referiu às suas poesias inteiras e aos pedaços: folhas soltas. É por aí ou, como você nos contou, como aquelas orações rabiscadas nas bandeiras coloridas que simplesmente esvanecem no vento.
“Gratidão”