Pixie Dust - imagem Walt Disney Studios |
Ana Nunes
Dia desses fui ao
aniversário de quatro anos de uma Fadinha.
Esguia no seu
vestidinho, pezinhos descalços de tanto brincar, cachinhos louros e macios se
espalhando pelo rosto, olhos atentos e sorriso desafiador. Assim era essa
Fadinha, toda, toda desembrulhando presentes e comandando a festa. Só que essa
Fadinha ilumina sem palavras porque vive num mundo silencioso do qual não
participamos. Ela já ouviu e acho que ainda tem memória de algum som, mas aos
poucos foi perdendo o ouvir e as palavras foram se desvanecendo como picolé no
céu da boca.
Na sua festa, durante
o parabéns, a Fadinha batia palmas distraídas e olhava com sorriso encantado as
pessoas à sua volta, o bolo todo seu e a vela colorida. Porque não é o som que
a cativa mas o gesto e o movimento.
Do alto dos seus
quatro anos estreados nesse dia e do alto de uma cadeira onde ficou de pé,
mostrando que apesar do seu pouco tamanho ela era dona da festa, distribuía os
pedaços de bolo cor de rosa que a avó partia, indicando para quem deveriam ir.
Assim, nessa tremenda euforia silenciosa, também organizou a divisão de
lembrancinhas. Feliz, sorrindo, como se tudo ouvisse e tudo falasse. Linda como
uma Fadinha que nada precisasse ouvir ou falar.
Ela e seu pequeno
mundo não mais me deixaram em paz. Pensei por dias e dias como saber um pouco
desse mundo desconhecido. Fiz mil perguntas e fiquei sem mil respostas.
Perguntei ao google e
ele me deu só respostas didáticas. E falou do aprendizado mais difícil por não
caber palavras.
Perguntei ao
mergulhador se esse era o mundo do azul profundo. E ele me respondeu que
deveria ser parecido mas que no mundo dos peixes dá para ouvir as bolhas. Mas
que o silêncio era grande e maravilhoso. E solitário.
Continuei perguntando
aos livros médicos e me falaram de próteses. Mas não era disso que perguntava.
Queria saber era do
mundo que a cerca por dentro de sua cabecinha cacheada. Como rola seu
pensamento entre esses muros silenciosos.
Perguntei então às
estrelas do céu distante. E só com elas fiquei sabendo um pouco. E tive certeza
que ela é uma Fadinha. Rodeada de estrelinhas numa bruma brilhante e agitando a
varinha mágica. E com ela desmanchando diferenças e fazendo alegrias. E dizendo
com gestos e olhares quase tudo que precisa ser dito.
Vi no vídeo feito na
escolinha, ela experimentando um aparelho que ainda precisa de acertos e sem a
garantia de funcionar.
Mas a Fadinha, naquele
momento, ouviu sons, não palavras. E ficou quietinha, o rosto inclinado e
longe, meio sorriso no vislumbre de algo estranho e desconhecido. Meio
incomodada e meio curiosa.
O pai se emocionou
junto com a emoção dos coleguinhas. E o vídeo emocionou quem o viu. Esse pai
tão jovem e tão preocupado por não poder negociar com ela a hora do banho, a
hora de ir para a cama, a hora de parar de brincar, como faz com a filha mais
velha. Mas ele vai descobrir, sei disso. E essa mãe jovem que confia no
temperamento alegre e resolvido da filha.
Também sei que os
queridos avós músicos saberão fazer a Fadinha conhecer o ritmo e a companhia
maravilhosa da música. Eles saberão!
Caríssima Donana,
ResponderExcluirDizer-lhe o quê? Não vou poetar que ser pai, mãe, avô, avó é sempre querer saber sobre os pequenos mundos que moram dentro de cabecinhas lisas e cacheadas pois percebo o quanto essa criança a emociona. Então prefiro contar-lhe sobre um casal de amigos nossos, pais de uma garota especial. Quando ela chegou o pai era um colega meu de trabalho. Ficamos amigos porque, durante uns três meses, ele não foi capaz nem de pensar imagine trabalhar e o jeito foi me virar e dar conta do meu e do dele. A mãe é uma leoa indômita dessas que jamais fraquejam na defesa das crias, mas o pai atravessou todas as fases de praxe: a da negação, das promessas, da revolta e da depressão até que aceitou e amou a filha incondicionalmente. Os nossos amigos tiveram seus altos e baixos, caminharam confusos com opiniões conflitantes, frustrados com a enorme quantidade de desafios diários e muitas vezes,assaltados por uma estranha culpa. Mas se precisaram também encontraram apoio e nunca permitiram que a deficiência da pequena assumisse o comando de suas vidas. Não sei como fizeram o milagre da felicidade , nem qual foi o bem sucedido caminho das pedras, mas o certo é nós fomos a muitos aniversários, à festa de quinze anos, às formaturas de segundo e terceiro graus e em breve iremos ao casamento da moça, hoje com 25 anos. Ela não só achou mais escolheu seu caminho na vida. E o respeito que tem por si mesma, torna-se o modelo para o respeito que recebe os outros. Sim, Donana, "eles saberão".
"Até mais"
Ana, a nossa Fadinha vai conseguir transmitir ao mundo o se mundo interior, tenho fé. E todos ficaremos felizes.
ResponderExcluirAninha,
ResponderExcluirTraziam-lhes crianças para que as tocasse, mas os discípulos as repreendiam. Vendo isso, Jesus ficou indignado e disse: "Deixai as crianças virem a mim. Não as impeçais, pois delas é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele". Então, abraçando-as, abençoou-as, impondo as mãos sobre elas.
Marcos 10,13-16
Um grande abraço, forte, caloroso.
Muita saúde e paz, extensivo aos teus amados.
Querida Ana,
ResponderExcluirComo suas palavras descrevem com tanta poesia esse mundo desconhecido e assustador que nós entramos,atônitos. Avô, duas avós, bisavó, pai, mãe, irmãzinha e todos que cercam essa Fadinha.Essa menininha, que nos surpreende todo dia com sua astúcia,sua alegria e sua personalidade forte.Pegos de surpresa,de repente aconteceu com a gente "aquilo que só acontece com os outros".E fomos forçados, como tantos outros, a nos tornar mais humanos,a aceitar o sofrimento como ensinamento, a entender profundamente o significado da palavra "compaixão".Vamos nos esforçar ao máximo pra ensinar a essa Fadinha o significado real dessa palavra e de tantas outras.Ensiná-la que palavras não só palavras,não são só signos ou sons, mas são também varinhas mágicas,capazes de transformar o mundo.Capazes de transformar o silêncio em música.
Muito obrigada Ana, por suas palavras e principalmente pelo seu amor.
Que delicadeza encontrar estes textos, que completaram o da Ana
ResponderExcluirQue beleza ver este mundo com pessoas tão sensíveis
Só tenho a agradecer
1)Parabéns Ana, texto encantador para uma menina idem.
ResponderExcluir2)Claro que lembrei da minha netinha de 2 anos e meio.
3)No último dia 19/09 foi meu aniversário... por skipe cantamos os parabéns, às 13 horas. Assoprei a velinha e, lá de Madrid eles tb cantaram e bateram palmas ...
4) Coisas da tecnologia ...
Moacir, Tita, Francisco Bendl,Titi, Léa e Antonio,
ResponderExcluirAgradeço em conjunto porque o conjunto dos seus comentários vale mais do que o texto, forma um outro belo bexto de delicadeza, de carinhos e exemplos. Parece uma oração.
Como disse a Léa " que beleza ver este mundo de pessoas tão sensíveis!"
Só posso agradecer. Muito. Muito!
Até sempre.
Moacir, Tita, Francisco Bendl,Titi, Léa e Antonio,
ResponderExcluirAgradeço em conjunto porque o conjunto dos seus comentários vale mais do que o texto, forma um outro belo bexto de delicadeza, de carinhos e exemplos. Parece uma oração.
Como disse a Léa " que beleza ver este mundo de pessoas tão sensíveis!"
Só posso agradecer. Muito. Muito!
Até sempre.
Ana,
ResponderExcluirEu era um reles menino buchudo quando saí do interior para morar na capital. Lá, conheci um parente distante que parecia diferente de mim, era Down. Estou falando de 1967 e dá para imaginar o que a ignorância a respeito produzia. Dedé virou unha e carne comigo em todas as ocasiões em que nos visitava. Dividíamos os meus brinquedos e conversas sem nenhuma dificuldade. Passávamos o dia felizes, amigos, iguais, irmãos.
Ao saber de sua Fadinha me emocionei, lembrei do meu Dedé. Inocente, querido, puro, bondoso. E sua Fadinha me resgatou na memória uma música linda, Arco-íris, de Fátima Guedes - que ouço sentindo que nunca perdeu o frescor. Passa a ser a musificação de Fadinha para mim, o arco-íris que certamente é. Já que ela não pode, eu ouço a música por ela para que ela ouça, e nos abençoe com sua inocência divina:
Fadas e gnomos
Todos os duendes de todas as matas
Todas as pedreiras, fios d'água, cachoeiras
As outras cores do íris
São segredo nosso
Quisera falar das coisas que não posso
Do que faz do ar, a brisa, e a brisa de vento
E o vento de ventania
Essa magia
Essa força que comanda cada elemento
É a poesia
De se recriar e escolher o momento
De ser uma rosa
E de ser o elfo que mora na rosa
Ter um brilho intenso
Como o sol e como o ouro no final do arco-íris
Muito em breve haverá páginas para ler, e aponto a de número 7, chamada "Dedicado a quem está no céu". Quase no final, estarão Raimundo Souza e Zé Carneiro. Você compreenderá. Até mais.
Em breve, você vai poder ler
Olá Heraldo,
ResponderExcluirObrigada pelo seu lindo comentário que se junta aos outros na ode à Fadinha.
Aos 6 anos, você nem era nascido, fui alfabetizada em Leopoldina, interior de Minas onde meu pai era supervisor da antiga ACAR, e tive uma colega que deveria ser Down. Éramos amigas e tenho até hoje um álbum de retrato que ganhei de presente com sua assinatura garranchuda de aprendiz das escritas. E até hoje me lembro do seu balançar do rabo de cavalo quando andava,para lá e para cá, como o pêndulo de um relógio.
Saberei sim, tenho certeza disso!
Obrigada de novo.
Até mais.
ei Aninha, o que dizer de seu texto ! não caberia em nenhum lugar, com tanto sentimento e leveza de suas palavras. Pensamentos e questionamentos sempre irão existir em todos que rodeiam a pequena e brilhante Fadinha! Não se preocupe , ela é cercada de muito amor, por isso, ela é feliz!!!!!
ResponderExcluirAnna Paula