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Antonio Rocha
Hoje é até fácil, consulte-se o Google e rapidamente vai-se ter a
resposta, mas naquele tempo, quando não existia essa coisa de “politicamente
correto” podia-se usar a expressão.
Era um amigo meu, já falecido, que a usava com frequência. Geralmente
ele falava quando alguém estava fazendo hora, embromando o serviço, alguém que
faz tudo muito devagar para passar o tempo.
Mas tinha, às vezes, o lado maroto, quem não conhecia a frase, levava
para o duplo sentido que já vimos aqui:
Certa feita, brincalhão como sempre, meu amigo dirigiu-se a uma mulher:
- A senhora já lavou a poldra hoje?
- Que história é essa rapaz? Eu sou casada, se eu falar para o meu
marido ele pode te fazer em picadinho.
- Madame, calma. Eu não estou falando nada demais, só fiz uma pergunta.
- E isso é pergunta que se faça a uma mãe de família?
- Então a senhora não conhece a Língua Portuguesa, “inculta e bela”.
- Olha só, eu sei onde você mora, vou falar com a sua mãe esse desaforo
que você está me fazendo...
- Mas madame ...
- Posso não conhecer muito bem a Língua Portuguesa, mas estou conhecendo
agora a sua língua suja, porca, posso até ser inculta, mas sou uma pessoa
decente...
- Dona, a expressão “Inculta e Bela” não tem nada a ver com a senhora.
Foi assim que o poeta Olavo Bilac definiu nosso idioma.
- Então você não me chamou de Bela, me cantando... ?
- Ainda não madame, e nem tão cedo fá-lo-ei, pois entendi que seu marido
é muito brabo.
- Então para por aí...
- Tudo bem, deixa eu explicar para a senhora o termo “Lavar a Poldra”...
- Olha lá o que você vai me dizer, eu te quebro a cara...
- Madame, “lavar a poldra”, significa lavar uma eguinha, uma filhota de
égua...
- Você está me chamando de égua?
- Não senhora, procure no dicionário, até porque existe outra expressão
parecida “Lavei a égua” no sentido de se dar bem...
- E como é que você sabe isso tudo?
- Aprendi na escola, senhora.
- Então quer dizer que “Lavar a Poldra” é simplesmente dar banho em uma
égua criança?
- Isso mesmo.
- E “lavar a égua” é se dar bem?
- Exatamente...
- Pois eu acho que, com essa conversa fiada você está querendo alguma
indecência comigo... suma da minha vista antes que o meu marido apareça e te dê
uns coices.
Mas essa conversa foi bem antigamente, lá no Gama, DF.
Caro Rocha,
ResponderExcluirNão acredito que exista alguém cujas palavras não tenham sido entendidas e a casa lhe caiu por cima!
Ainda mais quando as palavras não são conhecidas, gerando confusão ou até mesmo o interlocutor(a) se sentindo ofendido(a).
Lembro-me que aconteceu comigo quando eu era taxista, ao avisar o motorista de um carro que andava ao lado do meu que a sua porta estava aberta, com ele imaginando que eu lhe chamara de boca aberta,
passando a me xingar como se fosse um doido de brabo!
Algumas expressões regionais precisam mesmo de um certo cuidado antes de ser pronunciadas, em razão de seus desconhecimentos, ocasionado até mesmo sérias discussões a respeito.
Legal, Rocha, esta tua postagem, alegrando este domingo cinza e com muita chuva, que despenca há quatro dias ininterruptamente, enchendo os rios da localidade e preocupando o povo!
Um forte abraço.
Saúde e paz.
1)Rapaz, se está chovendo desse jeito aí, vamos torcer que não prejudique a população...Aproveite aí, converse com as nuvens, com as chuvas e elas vão embora (acreditem funciona, vez por outra faço isso)...
Excluir2)Bendl vc está certo, estes termos com duplo sentido são arriscados.
3) Abraços de boa semana.
2)
O Moacir me citou uma vez um velho tradutor americano, talvez o melhor deles, que dizia que "Todo ato de comunicação é um ato de tradução" (Gregory Rabassa). E eu acho que é mesmo. Seja a conversa falada, escrita, filmada, desenhada. Quando se conversa com alguém, cada um dos interlocutores, mesmo que não o perceba, está traduzindo o tempo todo o que o outro está dizendo de acordo com suas experiências, suas recordações, a disposição com que acordou naquele dia, o que lhe aconteceu até aquele momento, às vezes até o que ele comeu no almoço. Tudo o que se pode esperar é que ao final eles consigam fazer do que estão escutando algum sentido parecido com o que o outro está querendo dizer.
ResponderExcluirMas quando se coloca deliberadamente o duplo sentido no que se diz na conversa, aí a tradução fica mais complicada ainda. E o resultado pode ser imprevisível, variando desde uma risada até, como diz a senhora da história, alguém fazer picadinho do outro...
Por isso, não faz mal tomar cuidado :)
1) Tem toda razão Wilson, em certas ocasiões é um perigo determinadas expressões.
Excluir2) E nessa conversa acima eu estava do lado, era adolescente e a mulher sabia onde eu tb morava. Digamos, eu estava sendo cúmplice na conversa dúbia...
Antonio,
ResponderExcluirConfesso que desconhecia o significado da palavra "poldra". Tentei googar-lhe a etimologia mas dei com os burros n'água. O fato é que ninguém é fluente até que entenda a cultura e isso quer dizer que não basta saber os significados das palavras mas as emoções por trás delas. E sucede que o nosso é um país continental e então algumas expressões regionais - do linguajar gaúcho influenciado pela tríplice fronteira, do palavreado nortista eivado pelo português castiço, do jeito nordestino de se expressar, da negritude baiana, da gíria carioca, dos trens mineiros e dos saberes pantaneiros e das típicas expressões paulistas - ainda nos soam estranhas.
Porém seu post tem um sub-texto sobre outro fato da vida: os aborrecentes de todo vasto mundo só pensam "naquilo" seja com as "novinhas", com as mais velhas, com as professoras, com as mães alheias, desde que atraentes. Seus cérebros inacabados e em revolução hormonal não avaliam adequadamente nem os objetos do seu desejo nem o risco de virar picadinho. Lembrei de um colega da nossa tchurma de praia que, quando aconselhado a parar de disparar cantadas toscas e desrespeitosas em todas as boazudas do pedaço, respondia que ia continuar insistindo porque "uma delas podia ser tarada"(rsrs) E concluí que talvez o seu amigo do Gama, nessa conversa fiada, estivesse tentando, além de fazer graça, descolar um "se colasse colava".
Abração
1) Oi Pimentel, vc foi sábio neste comentário, desde a questão gramatical, linguística até os temas hormonais.
ResponderExcluir2)Aproveito e parabenizo nosso editor pela ilustração-foto, muito boa !
3) Eu, baixinho (continuo baixinho)e tímido presenciava a audácia do mais alto e mais velho...
Olá Antonio,
ResponderExcluirMuito atrasada, desculpe. Estava cuidando de filho de perna quebrada e com a mulher em viagem a trabalho. Estou ainda acabando de chegar.
Há tempos, um senhor beirando os oitenta, pai de uma amiga,( a dos lençóis, lembra?)me ensinou que quando a gente vai beber muito é "lavar a pichorra". E o disse com uma carinha muito matreira...Bem, como sou dada a bobeiras, nunca esqueci. Não procurei o significado mas uso com parcimônia.
Até mais.
1)Obrigado Ana, melhoras aí para o filho que quebrou a perna.
ResponderExcluir2)Curiosamente, esse amigo do diálogo, tinha o apelido de Perna, pois ele era alto....
3)Tudo de bom aos longo dos próximos dias.