Os Cegos e o Elefante - miniatura esculpida em madeira (3 x 3cm)- Minkoku II |
Antonio Rocha
Estive refletindo que neste importante blog já cometi, algumas vezes,
interpretações equivocadas. Às vezes fruto da pressa em publicar o texto,
alguma ansiedade que a leitura me provocou e, quem sabe, ingenuidade em outros
aspectos.
Lembrei então de uma parábola que é muito conhecida por aí, publicada e
republicadas várias vezes, mas poucos sabem que é um texto canônico do Budismo.
Certa feita alguém perguntou ao Buda o que era a Verdade? Que tantos
falam, definem, interpretam etc...
E o Buda sabiamente respondeu:
- A Verdade é como um elefante sendo
explicado por alguns cegos.
- O Senhor pode explicar melhor?
- Perfeitamente amigo: se um cego tocar,
sentir, apalpar, investigar as patas do animal este cego vai definir o elefante
como algo tipo uma grande pedra, uma rocha talvez.
- Bem respondido Mestre. E o outro cego?
- Imagine que um outro cego vai analisar
as pernas do grande animal. Ele vai dizer que são as quatro grandes colunas de
um Templo. São firmes, poderosas, consistentes...
- Enquanto discípulo e aprendiz da
Verdade, estou gostando e entendendo, por favor Bem-Aventurado Buda, continue.
-Veja amigo, se outro cego estudar bem o
pequenino rabo do elefante, a cauda, ele vai dizer que é algo inexpressivo, tão
pequeno que nem merece ser estudado, pequeníssimo, uma brincadeira de criança.
- Genial mestre, prossiga.
- Se outro cego investigar as grandes
orelhas ele vai dizer que são verdadeiras ventarolas, leques imensos (aqueles leques que a Ana escreveu e descreveu belamente em sua postagem
– mas este adendo não está no texto canônico)... para se abanar no verão, espantar os mosquitos etc.
- É mesmo Senhor Buda, eu não tinha
pensado nisso.
- Agora medite nas longas presas de
marfim. Um cego vai pensar que são espadas roliças e bem afiadas na ponta, com
elas eles se defendem do agressor, são armas de guerra.
- Exato mestre, as presas de marfim,
respeitando-se as devidas proporções fazem o papel dos chifres em um touro.
- Continuando, se um cego tocar e sentir a
tromba ele vai dizer que é um encanamento que pode receber água, serve também
de chuveiro para o banho, serve para remover obstáculos que estão à frente etc.
- Isso mesmo Senhor, a tromba ela tem
várias funções, aliás a Mãe Natureza é mesmo sábia.
- Isso amigo, e se outro cego, através de
uma escada subir no topo de um grande elefante vai dizer que ele tem a altura
de uma pequena casa.
- Incrível este seu ensinamento !
- E se um cego perceber a força de um
elefante adulto na lavoura, ou quando é aproveitado como veículo, como
transporte.
- Várias funções senhor.
- Pois é amigo, tudo isso é a Verdade, ela
é multifacetada, tem vários ângulos, interpretações, definições, vivências. Mas
em geral, a grande maioria quando descobre um pequenino detalhe da Verdade,
como citei no caso do rabo, da cauda, fica saltitante de entusiasmo e pensa que
descobriu o Todo, quando foi só uma partezinha da Infinita Verdade.
Por conseguinte, amigos leitores, este escriba Antonio que vos escreve é
um destes “cegos” que vez por outra mistura as estações, é um aprendiz das
Verdades Infinitas... não o levem a mal, fica entusiasmado com os textos e, às
vezes, escorrega na maionese (que bem temperada é excelente prato, acho que o
Moacir entende dessas receitas melhor do que o citado aprendiz).
Se uma Verdade só já é complexa, imaginem mais de uma. Pensem uma Rede
de Verdades interagindo on line... eis a Vida.
Bom dia Antonioji,
ResponderExcluirGostei da parábola. É genial como os prezados cegos descrevem corretamente cada parte que lhes cabe do elefante, mas fracassam argumentando que a sua realidade é a única verdade e continuam desconhecendo a questão principal: o bicho!
Não, não tenho a receita da maionese, embora por longas décadas eu tenha participado da sua feitura. É que, como toda legítima filha do Minho, minha senhora acredita nas coisas feitas em casa e entre elas mora a maionese que geralmente acompanha na nossa mesa as coisas do mar.
Na criação da iguaria amarelinha – hummm! - o meu modesto papel é segurar a garrafa do azeite a uma determinada altura e cuidar para que dela escorra um finíssimo e constante e lento fio de azeite que cai na tigela onde são batidas as gemas e outros ingredientes que desconheço. Porém apesar dessa ignorância sem as minhas longa prática, pegada firme, enorme paciência e noção do bem comum as maioneses desandam na minha tribo (rsrs)
Enquanto estivermos certos de estar certos – de que a maionese é azeite ou gema ou de que o elefante é leque ou espada – jamais perceberemos um elefante nem nos lambuzaremos de maionese. Tudo bem que nunca teremos todas as respostas certas, mas nem por isso devemos desistir de continuar fazendo as perguntas certas.
Conversemos!
1)Moacir vc tem toda razão.O importante é ver a "questão principal" em geral nos ficamos nos detalhes.
Excluir2)Convenhamos: uma saborosa maionese dá um toque de elegância em qualquer salada.
3)Abraços !
Rocha,
ResponderExcluirAprecio os textos de tua autoria quando postas os ensinamentos de Buda.
Parabéns, portanto, pelos artigos neste sentido, pois contribuem à reflexão e até mesmo uma análise sobre nossos procedimentos em situações análogas.
Um forte abraço.
Saúde e paz.
1)Salve Chicão, obrigado sempre por suas palavras.
Excluir2)Abraço grande, tudo de bom !
Bela parábola, Antonio, e muito verdadeira. A verdade de cada um nunca é a verdade inteira, a imperfeição do nosso conhecimento e nossas limitações não deixam que ela,seja. Por isso temos sempre que considerar as idéias alheias para procurarmos nos aproximarmos do todo.
ResponderExcluir1) Concordo Wilson. É por isso que eu gosto tanto da Filosofia Budista.
Excluir2)Outro dia estava pensando: Verdades no plural ... verdades gramaticais, verdades matemáticas, verdades históricas, verdades religiosas, verdades econômicas, verdades filosóficas, verdades políticas etc...e tudo isso é impermanente.
3) É um poliedro multifacetado... para se andar nesse labirinto tem que se ter humildade, simplicidade, vontade de aprender... apreender ... empreender ...
4) Abraços de muito obrigado pelo espaço que cedeu em seu importante blog.
Olá Antonio,
ResponderExcluirMuito bom o seu post. Mesmo quando a gente tem a imagem inteira ainda temos que considerar que cada um vê com a sua bagagem. Nem a cor podemos ter certeza que vemos a mesma. O que me deixa com a triste sensação que a comunicação é impossível. Enquanto isso, ou apesar disso, a gente vai "conversando" e ás vezes cometendo imprudências...
Então, até mais.
1) Oi Ana, vc está certíssima !
ResponderExcluir2) Vejo nesta parábola uma lição de Democracia: temos dificuldade de aceitar o diferente. Muitos confundem "aceitar" com "concordar". São coisas diferentes.
3) Abraços de bom fim de semana !