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| imagem Jody Lee Smith - U.S. Marine Corps |
Antonio Rocha
Esta crônica veio à minha mente após ler o belo texto do Heraldo
Palmeira, aqui neste importante blog, que registrou um cidadão europeu,
chegando ao Brasil sem tomar banho e o odor da transpiração... vocês sabem...
O Brasil, estávamos vivendo os primeiros meses da Redemocratização.
Vivíamos em uma Democracia inicial, os primeiros passos de um Paraíso. Os
partidos comunistas estavam legalizados e o nosso personagem de hoje era membro
do PCB e da Juventude Comunista.
Fulano era universitário (não sou eu, esclareço) membro da citada
organização. Um dos dirigentes da JC e ganhou um presentão ideológico.
Iria representar o Brasil em Moscou, na Conferência Internacional de
Juventudes Comunistas. Ainda existia a União Soviética.
Todo animado, fez as malas, pediu que, na Faculdade, os colegas,
anotassem tudo para ele quando voltasse, daqui a quinze dias, e partiu.
A sensação que tinha era a do religioso que finalmente chega ao Céu, à
Terra Prometida.
Do Rio foi para a França e lá se juntou com outros jovens, com o apoio
do PCF. Uma vez ele me disse:
- Quando você faz parte de um Partido
Comunista, automaticamente, você é membro de todos os Partidos Comunistas do
mundo inteiro. É o chamado Internacionalismo, a Camaradagem que não conhece
fronteiras.
Assim que o avião de fabricação soviética, um Tupolev (acho que era esse
o nome) adentrou o Espaço Aéreo da antiga URSS e o piloto avisou Fulano começou
a tremer e chorar de emoção. O camarada português que estava ao seu lado viu,
estranhou e perguntou:
- O que é isso pá? O companheiro está
passando bem?
- Estou camarada lusitano, é que, desde
que me entendo por gente, almejei a vida inteira chegar aqui.
- Ô pá, então relaxas homem, que vem muita
emoção pela frente !
- Você já esteve em Moscou?
- Sim, esta é a terceira vez.
O brasileiro, mesmo sendo ateu, materialista, olhou para o colega ao
lado como se estivesse contemplando um ser abençoado.
Resumindo: E, como não podia deixar de ser, Fulano arranjou uma namorada
soviética. Era um carinho só, mas a camarada russa não aceitou ir logo para a
cama. Então nosso herói ficou sonhando com o momento sublime, imaginações
juvenis a mil...
Finalmente chegou o dia combinado. A vida era só alegria e não estavam
nem aí para a Guerra Fria Internacional que ameaçava o mundo com uma hecatombe
nuclear.
Bem, a sós, felizes e contentes, diante dos preliminares nosso bom amigo
não funcionou... A jovem camarada ficou surpresa, mas ele descobriu a solução.
- Fulana, é que eu moro em um país
tropical e todo dia nós tomamos banho, sabe... me desculpe... mas eu tenho
notado estes dias que você não toma banho e aí é difícil para mim...
- Mas isso é coisa de capitalista
perdulário que gasta água todo dia.
- Não se trata de gastar água, toma-se um
banho rápido, mas com higiene e aí tudo vai dar certo.
- Tudo bem, mas vocês não sentem o cheiro
do outro?
- Nós gostamos de sentir o cheiro de
perfumes e sabonetes.
- Isso é Sociedade de Consumo, do Ocidente
decadente...
- Está bem, mas faz esse favor por nós
dois...
A menina se levantou, um belíssimo corpo! Foi lá tomou banho, usou
sabonete da classe operária, passou perfume socialista da Europa, voltou
sorrindo e foi tudo às mil maravilhas!
- Com sabonete e perfume eu funciono
sempre – disse o rapaz sorrindo, após o acontecido...
- Vocês comunistas latinos tem cada uma...
- Pois é querida, até no Paraíso
precisamos de alguns itens do mundo capitalista...
Ficaram
rindo…
Antonio, muito divertida a história. Só queria acrescentar que a fobia ao banho provavelmente tem mais a ver com a origem geográfica do que com a inclinação ideológica, principalmente naqueles nascidos mais para cima do hemisfério norte.
ResponderExcluirE em certos casos nem a relocalização geográfica para lugares mais ensolarados cura esta fobia.
Uma ocasião, já lá vão uns quarenta anos, trabalhei no Brasil com um consultor francês de turismo que já morava aqui há mais de quinze anos, e o indigitado cheirava tão mal que quando ele entrava na biblioteca da empresa de consultoria, numa sala no subsolo, as bibliotecárias saíam para "tomar um ar" e deixavam-no sozinho para procurar o livro, e ele não tinha a menor idéia do por quê :)
Claro que o moço não era representativo da maioria de seus conterrâneos, era, digamos assim, um caso mais extremo...
Um abraço do
Mano
1) Oi Wilson, vc tem toda razão ...
ResponderExcluir2) As vezes que estive na Europa, no inverno era um sufoco, os segundos entre tirar a roupa e entrar no chuveiro quente era um ato de heroísmo... quando nos banheiros não tinham aquecimento...
3) Obrigado pela significativa ilustração. Boa semana.
3)
A questão da higiene pessoal é problemática, indiscutivelmente.
ResponderExcluirDa mesma forma insuportável é o mau hálito.
Trabalhei com DUAS pessoas ao longo da minha vida desse jeito, que não sabíamos como fugir do bafo de onça, ainda mais quando se fazia necessário um diálogo referente ao trabalho, um inferno e, mal cheiroso!
E como alertar a pessoa que não se pode conversar com ela em face da sua halitose?
Igualmente o sujeito que fede, cuja “asa” compete com os maiores aviões do mundo!
Os franceses têm essa característica, então a invenção do perfume, pois Paris séculos atrás era uma cloaca a céu aberto, assim como Londres e suas regiões ao longo de seus intermináveis cais.
Predominava o fedor, a imundície, a falta total de banho, e o uso das mesmas roupas por semanas a fio!
De fato, o clima era o fator preponderante dessa ausência de higiene, que contribuía para o aumento de doenças, infecções, limitando a idade média do ser humano entre 28 e 32 anos!
Dizem que o banho entre nós, sul-americanos, e diariamente, advém do índio, pois é uma de suas características estar limpo, que o ajuda na caça, sem que os animais percebam a sua presença pelo cheiro que exala do seu corpo.
Um banho é muito bom, relaxante, além de nos deixar bem com a gente mesmo. Indiscutivelmente, carinhos mais íntimos com uma das partes cheirando mal não dá, é como repelente de mosquito, e cuja consequência desse repúdio será uma relação terminada antes de acontecer.
(...)
Rocha, meu caro, o meu aplauso pelo artigo (...)
1) De fato, Bendl, esses hábitos culturais são muito curiosos...obrigado pelo seu comentário...
ResponderExcluir2) Por exemplo, lembrei que já vi em filme, um sinal tibetano de que a refeição está muito boa é arrotar na mesa, bem alto e todos podem rir...indicando que a conversa está boa...
3) Vi tb um programa de auditório dos EUA, que era um concurso para ver quem arrotava mais, alto e longo. E participavam homens e mulheres...
4)Se em alguns lugares é falta de educação, no outro pode até ganhar prêmios e dinheiro...
5) Uma palavra mais chic para o popular arrotar é "eructar"...
6)Abraços Dicionarísticos !
Vizinho Antonio,
ResponderExcluirGostei do post. Porém...Convém não menosprezar o cheiro (rsrs)
A bela e simpática camarada comunista do seu post tocou em um assunto sério: "o cheiro de cada um", ou seja, os feromônios , uns hormônios misteriosos que, segundo os doutos, determinam nos seres vivos a atração ou a sua falta. Tudo bem que a dupla água e sabão, a perfumaria, as emoções, a dieta mais ou menos ácida podem intensificar ou suavizar esse odor corporal mas ele é para sempre. O cheiro natural de alguém tanto pode nos parecer um perfume delicioso que nos faz chegar mais, quanto um odor azedo que nos faz encolher. Então, em poucas palavras, a conexão surreal e inexplicável chamada de paixão, pode ser, literalmente, causada pelo cheiro. Decerto não vai surgir aquele grande amor - @#$%&@! - nem aqui nem na Rússia se não rolar uma compatibilidade de hálitos, respirações, cheiros, paladares, gostos e suores. Tudo isso tem muito a ver, sim, com a higiene – muito melhor seguir pelo caminho do meio limpinhos e cheirosos - mas vai além. Até mesmo a forma como o sabonete, o shampoo, o perfume e o desodorante misturam-se nas peles com o odor corporal fazem os humanos se sentirem fisicamente atraídos ou acabam com o desejo. É a tal da “química”. ISSO independe do nosso querer, da razão, da ideologia, da geografia, da cultura, da etnia, da inteligência e de outras conversas. É da natureza do bicho homem.
Fazer o quê?
Abração
1) Amigão Pimentel, obrigadíssimo !
Excluir2) Vc explicou pelo lado técnico, científico, químico, concordo plenamente.
3) Eu quis apenas registrar o fato, com a linguagem daquele tempo juvenil.
4)Aliás, licença no seu comentário, e agradecer ao Wilson e seu importante blog, hoje em Moscou teve festa e desfile pelos 100 anos da Revolução Russa ! Este "Conversas do Mano" tb é Histórico, concordemos ou não.
5)Voltando ao Moacir que sabe das coisas, um comentarista imprescindível. Gratidão !
Antonio,
ResponderExcluirO lugar mais frio em que estive até hoje - pelo menos no julgamento da minha sensação térmica - foi a Serra da Estrela, em Portugal, em pleno inverno de lá. E não houve dúvida: banho de verdade todos os dias, sem redução de tempo e lavando cabeça com xampu. Não tenho o direito de sair espalhando mau cheiro pelas narinas alheias e nem atraindo nuvem de mosquitos.
Um sujeito como o inglês da minha história, que passa quinze dias dentro de uma calça e dribla boxe no verão carioca, só fica bem como cobaia de perfumaria francesa. Você podia apresentar sua russa a ele, só pra gente ter a chance de bater palma pra louco dançar. Certamente a coisa ficaria ruça. Abraço.
1)É mesmo, Heraldo, a Serra da Estrela é muito fria...
Excluir2)Quando andei por lá, confesso que sofria para tomar banho no inverno, mas sobrevivi...
3)Abração e obrigado pelo comentário.
Olá Antonio,
ResponderExcluirEstória real, divertida e frequente.
Cheiro é bom, mas o banho, como o Moacir, é imprescindível! Para comunistas, capitalistas, democratas ou monarquistas. Recompõe o corpo e a alma. Perfume na dose certa também é ótimo.
Obrigada pelas conversas. Até mais.
1) Oi Ana, vc está certa...
Excluir2) O banho é tão importante que, nós budistas, todos os anos, fazemos uma "Cerimônia de Banhar o Menino Buda"...
3)Saúdes e prosperidades para todos (as) da família.
Estimado amigo Antonio
ResponderExcluirEste assunto é muito importante,em todas as circunstâncias.
Minha colaboração é de marinheiro tarimbado nas diferentes latitudes e profundidades, com mais de trinta anos envolvido com submarinos. Neste caso, os cozinheiros cortam cebolas dento de uma panela d'água. Senão, em pouco tempo, toda a tripulação está chorando...Imaginem os banheiros...
Este exemplo é um perfume em relação ao que acontecia, desde sempre,nas naus e caravelas. Simplesmente não havia banheiro. A água potável era extremamente preciosa e armazenada em barriletes chamados quartolas. Mesmo assim, para beber, era misturada com vinho que impedia (até certo ponto)sua contaminação com micróbios os mais diversos.
Isso pela entrada, pois pela saída era muito mais complicado. As "necessidades" era aliviadas em baldes, nos conveses, por sua vez esvaziados diretamente no mar. E como ficavam os autores?
A higiene individual era feita com os "pincéis", isto é, cordas penduradas pelos costados laterais dos navios, com as pontas desfiadas arrastando-se no mar para se "limparem", com o movimento das embarcações. Não esquecer que era água salgada...
Os homens de Cabral já fediam naquela época. E muito. As índias faziam fila para "dar" para eles, por acreditarem que eram semideuses que lhes dariam filhos superdotados. Mas, antes dos fatos finais, os levavam aos riachos para um banho selvagem que tirava a sujeira e o budum. E assim o povo brasileiro aconteceu...Nada contra...
Um grande abraço
1) Obrigado Domingos...
ResponderExcluir2) Talvez por estes motivos, a indústria de cosméticos é uma das que mais cresce no mundo.
3)Ainda bem pois é sempre agradável curtir um sabonete, desodorantes e perfumes equilibrados...
4) Mas sei de naturalistas/vegetarianos/veganos/afins que não usam os produtos acima, mas sim limão... e faz também uma boa higienização.
5)Abraços !