imagem - what.buddha.said.net |
Antonio Rocha
No tempo em que o Senhor Buddha andava pelo mundo, havia uma menina
chamada Saya, aos dez anos ficou órfã de pai e mãe, só no mundo, sem parentes.
Tinha um bom carma de outras vidas e logo conseguiu trabalho na casa de
um milionário local. Ela se tornou a lavadora de pratos e ajudava em outros
serviços domésticos.
Mas um belo final de tarde, ao terminar o expediente ela estava muito
tristonha pela sua condição e caminhou um pouco pela estrada, sentou-se em uma
esquina e começou a chorar copiosamente. Nisso apareceu um monge budista:
- Ô menina? Que cara triste é essa? Para
que tanto choro?
- Ah! Monge, o senhor nem sabe da minha
terrível sina. Queria tanto encontrar meus pais, vê-los, conversar com eles...
A jovem fez então um relato de sua difícil vida, por fim o religioso
disse:
- O meu Mestre tem condições de te ensinar
técnicas para sair dessa tristeza. Você vai voltar a sorrir e descobrir as belezas
do mundo.
- E qual é o nome do seu professor?
- É o Senhor Buddha, chama-se Sidarta
Gautama, uns chamam de Buddha Sakyamuni, ou seja, o Sábio dos Sakyas, da etnia
dos Sákyas.
- E como eu faço?
- Assim que amanhã você terminar de lavar
a louça e fazer os serviços de casa, apareça lá na curva da floresta e converse
com o mestre.
- Mas eu sou apenas uma menina de dez anos
?
- Não se preocupe, ele atende pessoas de
todas as idades e de todas as classes sociais. O Ensinamento é para todos.
Dito e feito.
A menina Saya começou a frequentar as pregações do Senhor Buddha e cada
vez mais foi ficando alegre, feliz e com muito contentamento.
Então um dia após lavar a louça ela pegou a água suja dos pratos com
restos de comida e foi jogar nas plantas. Nisso o patrão apareceu e perguntou:
- Ô Saya, o que você está fazendo com essa
água?
- Oi Senhor Anathapindika (alguns escrevem Anathapindada) estou
ofertando presentes a estas plantas e insetos.
- Mas ofertar presentes é uma coisa muito
nobre, requer dinheiro e você não tem?
- Ah, Senhor Anathapindika, o meu
professor e Mestre me ensinou que existem diversas formas de darmos presentes,
fazermos caridade, praticarmos generosidade, que segundo ele é uma das
atividades mais importantes da vida, servir aos outros, ao próximo.
- Eu tenho observado também Saya que você
anda cada vez mais alegre, feliz e já não tem aquela tristeza de quando chegou
aqui.
- Tudo eu devo ao Senhor Buddha, Senhor
Anathapindika...
- Gostei do que você me falou Saya, vamos
fazer o seguinte. Nos dias de Ensinamento do seu Mestre, você pode sair mais
cedo, só faça a metade do serviço.
- Gratidão imensa.
Dias depois, a menina ensinou ao patrão as “Sete formas de se fazer
Caridade sem um tostão” que o Buddha tinha transmitido a ela:
1 - Olhar afetuoso, sincero, desinteressado, sem segundas
intenções;
2 - Um sorriso da mesma forma; alegre, meigo, desapegado;
3 - Falar a verdade, palavras honestas, éticas, morais;
4 - Trabalhar para o bem das pessoas, e sempre que possível,
trabalho voluntário na sociedade;
5 - Afirmar palavras de gratidão, ter educação e bons modos no
falar; por favor, muito obrigado etc.
6 - Oferecer o lugar, colocar-se no lugar daquele que sofre,
ajudar;
7 - Boa hospitalidade, receber bem parentes e amigos.
Mais adiante, Saya conseguiu converter o Senhor Anathapindika, que muito
ajudou financeiramente a divulgação do Budismo, construindo um templo e um
mosteiro.
Prezado Rocha,
ResponderExcluirMais um artigo muito bom de tua autoria.
Aprecio os ensinamentos budistas, apesar de haver um abismo entre os conselhos e a prática.
Mesmo assim é útil e salutar que tenhamos em mente esse maneira de ser, que é a ideal, indiscutivelmente, mas somos jogados de um lado para outro conforme as circunstâncias.
Aliás, um célebre filósofo abordou essa questão, Ortega Y Gasset, O Homem e a sua Circunstância, onde dizia que estamos sempre aprendendo, pois as coisas estão em permanente processo de mudança.
Um forte abraço.
Saúde e paz.
1)Oi Bendl, obrigado pelo comentário;
ResponderExcluir2)Teve uma época que eu pensava assim "abismo entre os conselhos e a prática".
3)Então foi maravilhoso... inspirado no apóstolo de Jesus, São Paulo que disse: "Já não sou eu quem vivo, mas o Cristo que vive em mim" resolvi fazer o mesmo com o Buddha...
4)Morri para mim mesmo, morri para os conceitos, preconceitos, apegos, egos e renasci, continuo renascendo, é um constante renascer 24 horas por dia, aprendo bastante e é muito divertido...continuo aprendendo...
5) E, esclareço, não sou melhor do que ninguém, apenas resolvi viver e vivenciar a "radicalidade" da experiência espiritual.
6)Filosoficamente "ser radical" não é extremismo, mas vivenciar as coisas pela raiz, pela origem... então chegamos ao Caminho do Meio.
7)Abraços de boa semana !
Antonioji,
ResponderExcluirAinda bem que o Senhor Buda educou a menina orfã. Porque educação começa em casa e com as mágicas palavrinhas: bom dia /tarde/noite/, por favor, muito obrigado, com licença, me desculpe, eu sinto muito e por aí vai. Vivemos em uma era na qual os fortes são cultuados, mas não há qualquer fortaleza em quem perde as maneiras e o controle de suas emoções e recorre à intolerância e à agressão verbal, quando não chega às vias de fato. Isso é tudo menos força. É , de fato, uma exibição de profunda fraqueza. Forte é quem para e pensa antes de espancar com palavras e atos, é quem é capaz de sorrir e de aprender com seus erros, é quem tem consciência das necessidades e sentimentos das pessoas ao seu redor, é quem escuta, agrega, pacifica e tenta ajudar. Aliás, começo a achar que nesses tempos escuros a "gentileza que gera gentileza" é um ato de heroísmo e rebelião contra as expectativas de uma cultura rápida e egocêntrica e esquizóide na qual se entende que as frustrações são resolvidas no braço, culpando os outros, evitando responsabilidades e temendo e lutando contra qualquer pessoa que pense e viva e seja diferente de nós. Me ensinaram que conversar é respeitar mas acontece que " a minha fantasia de Madre Teresa de Calcutá já está meio esgarçada" e justamente porque não fui criado entre tapas e gritos e palavrões, nem interrompendo as pessoas, nem mirando abaixo da linha da cintura delas, quando a baixaria e o ódio se instalam no pedaço eu simplesmente me levanto, peço licença, e me retiro.
Mas muito admiro os que, como você, tran-qui-la-men-te continuam acreditando.
Um bom dia radical!
1) Oi Moacir, vc escreveu importante reflexão sobre viver através das boas maneiras.
Excluir2)Me fez lembrar o Gandhi: "O perdão é para os fortes, o fraco não consegue perdoar".
3) Abração e obrigadão !
Antonio,
ResponderExcluirSe pudesse resumir seu artigo diria simplesmente que a generosidade está no coração...
1)Oi Wllson, concordo plenamente.
ResponderExcluir2) Nota 10 por este blog maravilhoso que nos permite refletir sobre a vida.
Olá Antonio querido budista,
ResponderExcluirVai me ensinando e vou aprendendo. Quero ser cada vez mais feliz!
Obrigada.
Até mais. E mais.
1) Oi Ana, obrigado pelo comentário.
Excluir2) Buda certa feita disse que um das formas de sermos felizes é ajudar o próximo de alguma forma...
3) Generosidade = Felicidade