Katsushika Hokusai - O demônio do tufão |
Antonio Rocha
Geralmente se escreve em sânscrito Karma, ou em português Carma, o termo
já está dicionarizado. Também já vi e li, em textos budistas de línguas
asiáticas Qarma. Significa “ação e reação”, considerando uma Lei da Física:
“toda ação corresponde a uma reação”. E o nosso editor, por ser engenheiro, tem
condições para explicar melhor a parte científica da citada Lei. Uns chamam de
Lei do Retorno, alguns exemplificam como um bumerangue dos indígenas
australianos que vai e volta. Enfim, são vários sinônimos.
Por que vai e volta? Budisticamente costumo explicar que é uma variante
da Lei da Gravidade, que rege o Cosmo. Nós temos em nosso interior, partículas
do elemento Terra e assim, tudo que sai desta Terra, volta a esta Terra por
força da Lei da Gravidade.
Alguns ponderam:
“Não sou budista, portanto não estou
sujeito a esta Lei.”
Ou então:
“Minha religião é outra e eu tenho o
perdão do meu Deus”.
Teologicamente, você será sempre perdoado, mas precisará,
matematicamente, pagar o que deve. Claro, existem possibilidades de ir aos
poucos sanando esta dívida, uma delas é a generosidade, caridade desinteressada
e afins.
Respeito todas as religiões, filosofias e ausência delas. A Lei em
questão é parte da Ciência e como tal deve ser abordada. Tipo, se estou aqui neste
mundo, preciso seguir, respeitar e mesmo que discorde, aceitar algumas Leis,
caso contrário vou me prejudicar.
A história que se segue é verdadeira. Estou resumindo a partir do ótimo
livro que citei aqui outro dia: “A Arte da Empatia – A Consideração ao
Próximo”, do escritor budista japonês Koichi Kimura.
Ao estudarmos Geografia ficamos sabendo que o Mar do Japão é sujeito a
frequentes maremotos, tufões, ciclones, tsunamis e assemelhados.
Em 16 de setembro de 1890 uma fragata turca naufragou sob um “tufão
próximo à Ilha de Oshima, ondas colossais” lançaram ao mar “cerca de seiscentos
tripulantes”. Apenas sessenta e nove conseguiram chegar à praia, onde havia um
Farol. O humilde faroleiro não falava língua estrangeira, nem os sobreviventes,
mas o japonês tratou de avisar na pequenina aldeia e os moradores abrigaram os
turcos em suas casas, deram-lhes roupas, comida e aquecimento para salvar os
corpos gelados.
Oshima era um lugarejo muito pequeno, uma ilha isolada no arquipélago
japonês, pouco mais de cem casas, cem famílias. E todos fizeram o que podiam
para salvar os turcos, um não falava a língua do outro, mas o instinto de
amizade, compaixão e humanidade ajudou muito.
Os aldeões avisaram à cidade mais próxima, Kobe, que tinha um bom
hospital. Quatro dias depois chegou um navio que levou os sobreviventes para o
Hospital de Kobe, deram-lhes toda assistência necessária, não cobraram um
centavo. E quando todos estavam já com saúde e completamente recuperados do
trauma, foram devolvidos à Turquia.
Essa história marcou profundamente a sociedade turca. Nos livros de
História e Geografia daquele país, até hoje, as crianças aprendem sobre a
atitude generosa dos japoneses, a compaixão desinteressada etc.
O tempo corre...
Em 17 de março de 1985, durante a Guerra Irã-Iraque, o ditador Saddam
Hussein (1937-2006) do Iraque resolveu bombardear a capital iraniana Teerã. O
conflito teve início em 1980, quando Saddam invadiu o país vizinho e terminou
em 1988.
Hussein decretou, na data acima, que todos os estrangeiros deixassem o
Irâ em quarenta e oito horas, pois a partir daí seriam considerados inimigos e
o espaço aéreo de Teerã seria fechado, qualquer avião que tentasse levantar voo
ou sobrevoasse a cidade seria derrubado.
Na ocasião, quinhentos japoneses trabalhavam no Irã ou estavam
passeando, visitando, fazendo turismo. A metade conseguiu urgente vagas em voos
internacionais. A outra metade ficou encurralada no Aeroporto de Teerã.
Nenhum avião estrangeiro podia chegar ao Irã, só sair, só levantar vôo.
O governo japonês não tinha como ajudar os seus compatriotas.
Então, algo inexplicável aconteceu. Faltando poucas horas para encerrar
o prazo “uma aeronave turca cortou os céus do Irã e resgatou os perplexos
japoneses”.
O governo turco entrou em contato com as autoridades do Iraque e
conseguiu libertar os desesperados nipônicos, todos chegaram são e salvos a
Tóquio.
Isso é um exemplo de bom Qarma. Isso é Empatia.
Quase um século depois, mais precisamente noventa e cinco anos após o
naufrágio do Ertugrul, o nome do navio turco; o Japão recebeu de volta, feliz,
os seus filhos que muitos já haviam dado como possíveis mortos na citada
guerra.
Caríssimo Rocha,
ResponderExcluirQue belo relato!
De fato, colhe o bem quem planta o bem, e este exemplo que postaste é apropriado.
Agora, uma dúvida me assalta a mente, pois limitada, sabes disso:
De que forma, ao morrermos, nossas partículas voltarão a este planeta para dar uma nova vida àquela que se foi?!
O espírito ao que me consta não deixa resíduo algum, logo, nossos restos mortais deixados neste planeta nele permanecerão.
A menos que viemos de outras plagas, salientado na célebre oração Salve Rainha, ao exclamar lá pelas tantas, ... A vós bradamos degredados filhos de Eva ...”
Onde estávamos, de modo que fôssemos degredados para este planeta?!
Por que assim se manifestou o autor desta poderosa oração, um monge beneditino alemão, no ano de 1050?
O que ele teria imaginado a respeito?
Bom, a caridade ou a empatia ainda conseguem manter a besta humana dentro da jaula. Às vexes ela escapa, e causa os grandes males à humanidade, tais como recentemente, Hitler, Stálin, Pol Pot, Mao ...
Aliás, meu caro Rocha, se o nosso amigo Mano me permitir, eu gostaria de te fazer um pedido:
Escreve algo a respeito dessas tragédias que abalaram em demasia a humanidade, as duas Guerras Mundiais, por exemplo, pois os próprios humanos foram seus responsáveis.
E, se puderes, faz uma analogia sobre as tragédias que ceifaram milhões de vidas, a Peste Negra e a Gripe Espanhola, ocasionadas se não pela mão do homem por quem e por quê?!
Mais:
Nesse apanhado, que estou vivamente interessado nesta tua publicação, os porquês dos dois grandes tsunamis, que mataram milhares de pessoas em 2004, na Indonésia, onde foi o centro do terremoto e, no Japão, em 2011, matando ambos 300.000 seres humanos, aproximadamente.
Interesso-me em demasia pela interpretação budista com relação a essas mortes por atacado, que estarian obedecendo a quem e por quê, se lá pelas tantas ainda temos algo a pagar pelo simples fato de termos nascido!!!!
Um grande abraço.
Saúde e paz, meu caro.
1) Chicão, obrigado pelas sugestões, vou anotar e aos poucos responder.
Excluir2)Obrigadíssimo pela citação da Oração Salve Rainha, sou um estudioso, pesquisador das orações escritas, pois constituem-se em textos Literários. Excelente percepção a sua !
3)Nós viemos de um planeta chamado Capela, ele existe, é fato. É uma teoria Espírita e eu concordo com ela. Fomos expulsos de Capela porque boa coisa não éramos, isto é, a grande maioria dos terráqueos. Muitos bilhares agora correm o risco de serem expulsos da Terra, quando daqui a algum tempo ela melhorar na Evolução.
4) Somos Energia, somos luzes, como se fôssemos, e realmente somos, Energia Elétrica. Partículas de pó voltam ao pó, viram adubo, nós acabamos...
5)O Espírito que é Energia continua, continua porque é Luz e a Luz não se acaba, a Energia transforma-se mas não se acaba.
6) No mais, abraços infinitos, nós não morremos, nosso corpo decompõe-se, a Luz fica eternamente sempre em Evolução.
7) Mas temos de ter muito cuidado para não ficarmos reprovados nessa Evolução, se não continuamos reencarnando e sofrendo, aqui neste planeta passageiro. Podemos ir para outros...
Mestre Antonio, seu relato nos mostra que é universal a aplicação daquele corolário da Regra de Ouro, que reza: "Assim como fizeres aos outros, assim te será feito".
ResponderExcluirSe todos seguissem aquela regra tão simples, "Não faças aos outros o que não queres que te façam", o mundo seria tão melhor e tão mais descomplicado...
Um abraço do Mano
1)Obrigado Mano, de fato, a Regra de Ouro é universal, eu até arrisco, é cósmica, serve para outros planetas. E isso é válido tanto no campo pessoal, familiar, profissional, coletivo em termos de Nação.
ResponderExcluir2)Abraços de boa semana !
Antonioji,
ResponderExcluirUm belo post e uma lição de vida. Todos os jornais e blogs deveriam ser obrigados por lei - e multa! – a publicar, em manchete, todos os dias, apenas uma notícia real inspiradora em meio aos rios de sangue e os anúncios do Apocalipse. Fariam muito bem ao mundo. O jeito é pedir ajuda à Netflix, onde acabo de verificar se já estava disponível o seu ótimo relato transformado em filme, cujo título em inglês é Ertugrul 1890 -125 Years Memory. Mas não dei sorte e vou ter que continuar procurando. Obrigado!
Um abraço e uma boa semana de trabalho
1) Oi Moacir, excelente proposta da possível Lei. E a ideia do filme muito interessante.
Excluir2)O secular jornal dos EUA "The Christian Science Monitor", ligado à Igreja Ciência Cristã, que faz uma interpretação original da Bíblia, a partir do Pensamento Positivo certa feita disse parecido com vc. Iriam sempre destacar uma bela notícia em que pese a barra pesada das notícias diárias.
3) Hoje, o citado jornal só existe on line ...
4)Gratidão pelo comentário.
Olá Antonio,
ResponderExcluirDevemos ser sempre gratos ao outro e à natureza, por um sorriso, uma fruta, uma chuva ou o que seja de bom. Às vezes até de ruim. Muitas coisas que achamos ruins agora no futuro podem se mostrar construtivas. Já aconteceu comigo.
Mas a "gratidão" é necessária porque com ela aprendemos a ser generosos.
Como dizia minha avó Frau Maria aqui se faz e aqui se paga. Não tenho visto muitos pagamentos. Mais não posso dizer para não ser censurada.
"Gratidão".
1) Obrigadíssimo Ana, grato pelo comentário.
Excluir2) Concordo, mas só um porém: às vezes, os pagamentos demoram porque vão para próximas vidas.
3) Abraços de boa semana.