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Moacir Pimentel
Alguns dias depois de Philomena ter aberto o coração e revelado o seu
segredo à família, rolou um encontro casual, em uma festa de Réveillon, entre
Jane, a filha e confidente da velha senhora, com o jornalista Martin Sixsmith a
quem ela contou a história da mãe e perguntou se estaria interessado em
ajudá-las a descobrir o que acontecera com Anthony, o seu irmão desaparecido. E
então começa a ação.
Sim, porque é a parceria entre esses dois seres humanos tão diferentes,
Philomena e Martin, aquilo que o filme nos oferece de melhor. Aliás a história
nos é narrada exatamente através das diferenças do estranho casal enquanto
viajam juntos pelo interior da Irlanda e através dos Estados Unidos rastreando
o filho dela, sempre se desconcertando e se surpreendendo, mas construindo um
improvável laço de amizade ao perseguir implacavelmente a verdade.
Pensando bem, essa amizade entre dois contrários não é um jeito novo de
se contar uma boa história, tanto que Dom Quixote e Sancho Pança não me deixam
mentir. Não tem como não rir alto das bem-vindas arestas e arengas dos
personagens de Cervantes nem das do casal nesse filme. Elas se transformam em
nosso GPS pela estrada afora e deixam a foto da jornada imprevisível. O fato é
que, não fora o mal humorado Martin - com quem, diga-se de passagem, a gente se
identifica de cara - não enxergaríamos Philomena nas suas paradoxais
simplicidade e grandeza.
A convivência atribulada de Philomena e Martin - e a química entre os
dois! - é um golpe de gênio, pois o estranho par fornece não só a faísca cômica
necessária, mas cria a atmosfera e as bases para as explorações religiosas,
filosóficas e morais da história.
Em primeiro lugar, Martin e Philomena estão presos em estações diversas
do tempo. Ele se preocupa com seu futuro depois de perder o emprego enquanto
ela, já aposentada, se senta na igrejinha mais próxima, reza à luz de velas e
pensa no passado.
No entanto, “Philomena” é um filme tão lindamente executado que vai
muito além dos estereótipos e, como Martin descobre rapidamente - e o prezado
público idem! - no caso da criança desaparecida há tanta conspiração, drama e
complexidade como em qualquer uma das “grandes” histórias políticas que o
jornalista costumava escrever.
Esse filme, que a verdadeira Philomena assistiu ao lado do Papa Francisco
no Vaticano e que pode assistir sem constrangimentos com os paroquianos seus
companheiros de fé, é sim sobre como a Igreja comercializava vidas humanas mas
também é sobre muitos outros temas, inclusive uma espécie de redenção pessoal
de Martin Sixsmith, um ex-católico e ex-correspondente da BBC que dera uma
guinada na bem sucedida carreira jornalística ao abandonar o território da
mídia para ocupar uma elevada posição no Partido e no governo Trabalhista e
tornar-se assessor político de Tony Blair. Para em seguida, do mundo sujo e
amoral da política, sair chutado e chamuscado ao ser demitido injustamente sob
vagas alegações de “vazamento de informações” devido a uma indiscrição verbal
politicamente incorreta.
Mesmo desempregado e deprimido e realmente em busca de algo para
preencher seus dias, no começo da trama é evidente que Martin se acredita muito
acima da pequena história humana de Philomena, uma mulher simplória e sem muito
senso de humor que não ri, por exemplo, das piadas eruditas do “sabichão”. Já
na primeira troca de amenidades entre os dois fica evidente o abismo social que
os separa.
Quando ela fala entusiamada do seu novo quadril de titânio que “não enferruja” Martin faz um chiste
felicitando-a por não precisar passar óleo como o “Homem de Lata”. E ela simplesmente nada sabe sobre Os Livros de
Oz, jamais assistira o filme do Mágico de Oz e, portanto desconhecia o citado
personagem, aquele que queria porque queria ter um coração de verdade para
chamar de seu, sem saber “o quão sortudo
era por não ter um”. Sim, Philomena não entendeu a piada mas nós captamos a
mensagem: a Martin faltava coração e a ela faltou coragem.
Philomena e Martin são opostos em praticamente todos os sentidos.
Pessoalmente ela é gentil e compreensiva enquanto ele é lúcido e duro.
Socialmente ela é filha legítima de uma classe média baixa trabalhadora
enquanto ele pertence à mais alta, àquela dos carros de luxo, educação e
acomodações de primeira classe.
A Martin desagrada a idéia de empregar suas sofisticadas habilidades
jornalísticas para narrar algo tão humilde quanto a vidinha suburbana de
Philomena e só aceita a missão e sobe a bordo primeiro porque não é idiota e
percebe que a história promete, segundo porque um grande veículo se interessara
pela matéria, oferecendo-lhe, além de uma boa grana, uma chance de redenção
profissional.
Uma das primeiras falas de Martin no filme, quando Jane lhe pede ajuda,
é curta e grossa:
“Eu não escrevo histórias de interesse
humano”
Mas é claro que não. Ele torce o nariz aristocrata para tais histórias,
que pertencem aos chorosos semanários femininos. A história de dor, perda e
saudade de Philomena nada tinha a ver com a abordagem objetiva e factual que,
segundo Martin, o jornalismo deveria fazer.
O cínico jornalista ao dizer rudemente à moça que “as histórias de interesse humano são sobre pessoas vulneráveis, de
mente fraca e ignorantes e escritas para pessoas fracas, vulneráveis e
ignorantes”, deixa claro que estava acima do comum dos mortais, era um
especialista em pesos pesados, tinha sido o cara da BBC e não teria se
rebaixado a uma tarefa tão medíocre e trivial, apesar do seu potencial, se não
estivesse desempregado e, o que é pior, vendo a própria carreira descendo
ladeira abaixo.
E a gente agradece pelas dificuldades financeiras que o fizeram assinar
o tal contrato para escrever a triste história de Philomena que resultou no
filme em pauta, que nada tem de hollywoodiano apesar das suas ondas em um
tsunami de emoções intencionalmente planejadas.
Nele o ator dá show de bola representando o suprassumo do jornalista
investigativo britânico esnobe e ateísta, oxfordiano e polêmico, desagradável e
entediado, cansado do mundo cruel e da imbecilidade humana e forçado pela vida
a rascunhar bobagens menores em vez de escrever um belo livro sobre “a história
russa” pelo qual ninguém se interessava.
O jornalista não consegue esconder uma pontinha do desprezo dos metidos
a besta pelas maneiras pouco sofisticadas da senhora que, por exemplo, em vez
de colocar alguns croutons na sua salada, come seus croutons com salada. (rsrs)
Ele não perde a chance de alfinetá-la sem que ela perceba, zombando
principalmente da profunda fé que Philomena manteve intocada, apesar de sua
terrível provação.
Pudera!
Martin é um agnóstico de carteirinha que considera a religião o “ópio de
povo”, uma grandessíssima farsa, especialmente aquela da pérfida Igreja
Católica que explorava adolescentes e roubava seus bebês. Mas, apesar do que a
Igreja fizera com ela, Philomena continua a ser uma católica devotada e até se
permite pendurar uma medalhinha cafona de São Cristóvão no espelho retrovisor
do BMW de Martin para “protegê-lo” (rsrs)
Entretanto apesar dos dois personagens baterem algumas vezes de frente -
ela tão literal, calorosa e aberta, ele tão presunçoso, sarcástico e
condescendente - a relação entre Martin e Philomena permanece estável e segura
do começo ao fim desse filme que é um pouco engraçado e um pouco triste porque
não depende de nenhum efeito especial mas simplesmente se concentra com carinho
em seus personagens e nas suas emoções.
Embora o jornalista seja, muitas vezes, cortante quando se trata de
suportar as crenças e superstições populares de Philomena, as suas homílias
intermináveis, as cansativas sinopses que faz de romances bobóides recheados de
finais felizes, ele usa apenas expressões faciais para registrar seu
aborrecimento nesse memorável jogo de opostos psicológicos e, na verdade, é
discretamente sarcástico e bem educado demais para revirar os olhos (rsrs)
Martin é o que é: arrogante, abrupto e frio, um homem habituado a esconder suas emoções por trás de um véu de ironia e de piadas inteligentes as quais,
em se tratando de Philomena, são completamente inúteis, porque ela não tem a
menor noção do que ele está falando e ele é, invariavelmente, o único que fica
com cara de tolo.
Mas nada é capaz de suavizar as palavras ferinas de Martin nem as bordas
ácidas da sua sagacidade cínica que Philomena ignora alegremente. Há tensão,
frustração e lacunas geracionais nos seus pensamentos conflitantes sobre o
mundo, mas também há diversão e momentos de conexão real.
Tudo isso apenas faz a gradual transformação de Martin em bravo
cavaleiro e escudeiro da velha senhora mais credível. Pois é ele, e só ele que,
por outro lado, consegue expressar as frustração e indignação e impotência que
sentimos em face da história dolorosa dela.
“Philomena” simplesmente não seria a história que é sem os fortes
sentimentos de raiva e revolta que Martin sente por três instituições que
considera malignas: a Igreja, a Imprensa e o Governo (rsrs) E sobra para a doce
Philomena que ele descreve para a esposa como:
“O resultado das leituras diárias do Daily
Mail, da Seleções e de romances açucarados”.
Mas não se deixe enganar. Philomena é bem mais do que uma enfermeira
aposentada e ingênua. Para ela a moral da sua história é clara: o que a Igreja
fez com ela fora errado, mas ela não quer vingança, apenas a verdade. É uma
mulher de fibra incomum, mesmo sendo a mais mediana e comum das irlandesas, do
penteado matronal à ponta dos sapatos muito rodados, dos gostos modestos ao
guarda-roupa utilitário, do alegre apetite para aqueles chocolates de brinde
deixados nos travesseiros de hotel às suas inesgotáveis reservas de força e
caráter.
Mas ao dar igual peso ao ceticismo de Martin e à fé de Philomena o filme
acerta em cheio, mesmo quando, ocasionalmente, os sentimentos de Martin
esquentam e fervem. Seu pessimismo e raiva - mais do que justificáveis! - são
coisas com as quais sabemos nos relacionar, embora aprendamos, assim como ele,
que essa atitude tem seu preço.
Tudo bem que os bate bocas do casal nos quais cada observação crítica é
compensada com outra empática suavizam o impacto da crueldade filmada. Martin e
Philomena articulam este equilíbrio literalmente: ele questiona a religião, ela
a defende. Ele exige indignação, ela expressa perdão. E só essa maneira como as
duas forças da natureza se conectam seria suficiente para amolecer o coração
mais cínico e fazer valer a pena assistir o filme.
Mas, verdade seja dita, quem não se espanta com a passividade da boa
senhorinha se agarrando desesperadamente a sua fé cega, apesar de todas as
canalhices e sujeiras que as Irmãs sem caridade lhe aprontam? Será que ela não
percebe que nada fez para merecer o inferno na terra?
Não é só Martin que se ressente dessa fé tão profundamente enraizada que
se torna anestesiante e paralisante. Na verdade, a situação perversa na qual
vimos a adolescente Philomena é quase tão extenuante quanto as daquelas
personagens trágicas de Dickens e há aqui a mesma agonia, um aperto na garganta
ao ver as pobrezinhas das mães adolescentes perderem seus filhos em nome de
Maria Madalena, quem, no entanto, recebeu do Cristo uma compaixão e um respeito
inexistentes no século XX.
Decerto que a história muitas vezes ameaça se render ao melodrama mas a
direção do filme se recusa morder a isca, desafiando os clichês e ganhando
honestamente cada risada e cada lágrima que provoca. Nós compartilhamos o
carinho crescente e evidente de Martin por Philomena e, como ele, queremos
tirá-la desse enredo cruel e levá-la para casa e oferecer-lhe uma xícara de
chá, e, por um tempo, isso é mais do suficiente para segurar o filme.
Mas à medida que a história avança e compreendemos a extensão das
injustiças cometidas contra todas as “meninas das Madalenas”, a raiva de Martin
torna-se contagiosa e compartilhamos a santa ira do repórter que lentamente
percebe que ainda não vira tudo depois de tudo.
Como o jornalista a gente não entende qual é a de Philomena, que até nos
parece ter uma capacidade de perdão semelhante à do Cristo, e então seguimos o
furioso Martin pelo filme afora permitindo que ele atue como uma vávula de
escape, como uma porta de saída para a justa indignação que nos toma de assalto
frente a tantos inequívocos e inflexíveis abusos cometidos em série e em nome
de Deus.
Não é necessário se ter o cinismo e a desconfiança que Martin tem da
Igreja - e que ele dispara à queima roupa - para sacar que as freiras estão
escondendo segredos cabeludos relacionados ao filho da tolinha da Philomena que
– pasme! - apesar de toda a sua “simplicidade” e de se vestir como a nossa vovó
favorita, acaba por ser o personagem mais intrigante e complicado do filme, uma
mulher de pouca educação e mundanismo que, no entanto, tem brilho e força e
resiliência e é capaz de façanhas emocionais e espirituais que deixam Martin,
com sua visão secular do mundo e sua insistente sede de justiça, confundido.
É quase como se eles formassem aquela clássica e manjada fórmula dos
dois investigadores policiais, um mauzinho e o outro bonzinho, para descobrir os
fatos que cercam o misterioso paradeiro do pequeno Anthony. Primeiro eles
visitam a Abadia no interior irlandês, onde lhes é dito que todas as
informações sobre a adoção do garoto tinham sido perdidas em um “incêndio” -
que depois Martin descobre ter sido uma fogueira providenciada pelas boas irmãs
no quintal.
Na Abadia Philomena quase fraqueja. Fora ali que os seus a abandonaram,
que dera à luz o filho vendido pelas freiras por mil libras, que lavara roupas
como escrava por vários anos infelizes convivendo com seu bebê em horas
roubadas. Nós a seguimos através dos sombrios corredores da sua antiga prisão e
podemos ver em seu rosto todas as memórias dolorosas que o lugar lhe traz. Por
isso é tão difícil de engolir o cinismo da representante de Deus de plantão,
que completamente indiferente ao desespero daquela mãe, tem o topete de
segurar-lhe as mãos e declarar:
“Não podemos acabar com a sua dor,
Philomena, mas podemos acompanhá-la através dela...”
Fala sério! Em seguida, claramente incomodada pelas perguntas
pertinentes do jornalista prestes a descobrir toda a sujeira que as velhas
freiras haviam varrido para debaixo do tapete, a nova mentirosa pede a Martin
que se retire pois prefere conversar com Philomena “em particular”. Na ausência do repórter a irmã entrega a Philomena
uma cópia do documento que ela fora forçada a assinar quando garota renunciando
a todos os seus direitos sobre o filho.
Após a visita ela não se permite acreditar na má fé das freiras e Martin
perde a paciência com tamanha e santa ingenuidade e, veementemente, argumenta o
quanto fora conveniente para a galera santíssima a preservação no incêndio
daquele único documento. Indignado o jornalista a questiona por quais cargas
d’água todos os documentos que poderiam auxiliá-la em sua busca haviam virado
cinzas enquanto que o único papel que poderia impedi-la de continuar fora
miraculosamente salvo pela providência divina?
É muito bom apreciar como a protagonista sai inteiraça dessas batalhas
nas quais esgrime como armas os saberes celtas, a empatia e a intuição. É
divertido ver como, apesar de tudo, ela consegue derrubar as defesas e se
conectar com o “cara de Oxbridge” – como Philomena zombeteiramente o chama
misturando as universidades inglesas de Oxford e de Cambridge.
Por que esse filme funciona tão bem? Talvez pelas felicidade e
facilidade com as quais Martin ocupa o banco do passageiro e se deixa guiar
pelo carisma da atriz principal que nos faz rir e nos deixa de olhos mareados
em um piscar de olhos. É simplesmente uma maravilha ver Philomena, essa mulher
gentil de fé profunda que sofreu silenciosamente pelos pecados dos outros,
aniquilando Martin verbalmente a cada dez segundos. (rsrs)
Philomena é a dona do filme. Ponto! E nele, Dona Direção não nos permite
esquecer disso com inúmeras e longas tomadas de seu rosto, cada linha e ruga
sublinhando sua beleza eterna e a capacidade ilimitada de nos emocionar
profundamente, mesmo sem botox (rsrs) Enquanto isso Martin é sempre o cara
contrariado, frustrado e prejudicado traduzindo para Philomena o mundo cruel
que lhe escapa enquanto ela, distraída, declama feliz da vida os seus clichês
universais.
A piada maior, é claro, e de muito mau gosto é que, nesse filme, é
Philomena a pecadora, a acusada de “incontinência carnal”, a perdida a quem a
Madre Superiora que recusara a dar qualquer alívio médico para a dor
excruciante do parto...
“A dor é a sua penitência”
Por incrível que nos possa parecer e após cinquenta anos é Philomena
quem ainda almeja perdão por sua vergonha enquanto Martin grita exasperado:
“É a Igreja que precisa se confessar, não
você”
O que complica mais ainda o enredo é descobrir que a postura de
Philomena em relação ao sexo é surpreendentemente relaxada. Ela se recorda, por
exemplo, do encontro sexual do qual saiu grávida como uma experiência
totalmente prazerosa (rsrs) É uma delícia ouvir na conversa de Philomena e
Martin na cena aí abaixo - nesse belo descampado, manchado de sol, que dá o ar
da graça dele na telona, sem nenhuma razão discernível além da beleza pictórica
que oferece - a vovozinha contando ao jornalista o seu único encontro sexual
fortuito com o pai do seu filho quando não possuía – digamos! – a menor
compreensão da biologia de tais brincadeirinhas.
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Ela explica detalhadamente ao repórter que a coisa pecaminosa começara
na feira do condado, mais precisamente no Salão dos Espelhos, passara por uma
maçã caramelada e um primeiro e doce beijo e terminara atrás das barraquinhas,
ao lado de um bucólico jumento comendo feno. E confessa que se sentira
“flutuando no ar” nos braços do rapazola para concluir que estavam cobertas de
razão as Irmãs, pois uma coisa tão gostosa daquelas só podia mesmo ser muito errada.
(rsrs)
Martin ao saber que nem a família nem as freiras que a educaram jamais
se deram ao trabalho de explicar à moça de onde vinham os bebês, fica
indignado, amaldiçoa todos os católicos sexualmente mal resolvidos e pergunta à
senhorinha por quais cargas d’água Deus teria dotado os humanos com o instinto
e o prazer sexual se não quisesse que fossem gozados? Seria Ele sádico? Mas é
inútil pois, como nós do sofá, Philomena não consegue esquecer o humilhante
interrogatório ao qual fora submetida pelas curiosas irmãs de tão pouca
caridade:
“Você abaixou a calcinha? Responda!”
Ela se sente culpada. E não tem como a gente deixar de pensar no Millôr
Fernandes, que tinha toda a razão ao afirmar que:
“De todas as taras sexuais, não existe
nenhuma mais estranha do que a abstinência”.
Talvez a essa altura do filme o jornalista que tanto menospreza as
contradições e hipocrisias da religião já esteja desconfiado de que a
capacidade de perdão de Philomena não é fé cega, mas um pragmatismo de olhos
azuis muitos claros. E essa é a confusão que torna o filme tão atraente e
imprevisível, brilhante e limpo na ética da narrativa, um daqueles filmes
incomuns que não prega nem patrulha.
O diretor Stephen Frears equilibra bem a parte contemporânea da jornada
de Philomena e Martin interrompendo-a pelos flashes pretéritos dos crimes
cometidos contra ela e só depois de estabelecer as circunstâncias em torno do
nascimento de Anthony é que o filme passa a resolver seus enigmas de sabor
britânico quando o casal viaja para a América, onde a história cuidadosamente
tece uma solução para o mistério de Anthony: outra retumbante tragédia pois
qualquer outra coisa, digamos, mais intermediária, não seria suficiente.
Mas isso
será outra conversa...
Amei, Moacir! O filme é maravilhoso! Seus artigos estão perfeitos e vão direto para minha gaveta dos eternos. Philomena é uma fofa e eu também levava o Martin pra casa. Ri demais da medalha de São Cristóvão no BMW, concordo com o Millôr e gostei de saber do Homem de Lata porque também não entendi quando ouvi a piada no filme kkk Sendo mãe eu sei que ela se culpou a vida toda antes e depois de achar o filho. Mãe se culpa por tudo, sabe? Primeiro porque as freiras fizeram a cabeça dela que era uma pecadora, depois por ter demorado a tentar localizar o menino. Só não concordo que Philomena não teve coragem e Martin coração. Se ele não tivesse não teria sido cativado pela velhinha. Faz tanto tempo que nem me lembro como eu era quando adolescente kkk Mas quando a gente não tem experiência de vida, estudo, independência financeira e família não tem como ter coragem. Deve ter sido horrível perder assim o filhinho. Só de pensar fico com o coração apertado. Mas ela não se entregou, refez a vida e correu atrás.Tomara que esteja em paz. A coisa mais linda do filme é ver que ela não terminou com o coração endurecido. Obrigada!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirQue bom que você gostou do filme e “obrigado!” pelo ótimo comentário. Sim, Philomena não perdeu a doçura, nem a capacidade de se surpreender e maravilhar. Quanto à coragem seria mesmo pedir muito à uma garota tão jovem. Concordo com você que essa mulher ainda carrega nos ombros pesadas culpas. A primeira delas, aquela pelo pecado da carne, é antiga e vem sendo um dos instrumentos de dominação e repressão da mulher há milênios, desde que ela foi transformada em cidadã de segunda nas primeiras sociedades patriarcais. A outra, mais dolorosa, por não ter procurado antes pelo seu miúdo, penso que ela vai terminar superando. Basta jamais esquecer que, órfã de mãe, foi criada e educada no convento por essa mesmas irmãs, para ela mães, e que chegou a ser ameaçada de excomunhão pela madre superiora, caso revelasse o que se passava dentro da abadia. Concordo plenamente com o Martin : quem precisa se confessar é a Igreja.
Quanto ao coração acho que o Martin, no começo do filme, ainda não sabia “o quão sortudo era por ter um” (rsrs) A boa notícia é que a tal da química funcionou: eles se fizeram muito bem e nós demos boas risadas.
Abração
Pimentel,
ResponderExcluirNão me lembro de alguém que tenha te elogiado tanto ao longo do tempo que o nosso amigo Mano nos apresentou este blog, pois afirmo que igual aceito, mais, recuso.
No entanto, pela primeira vez, nossos pontos de vista estão em conflito, não se coadunam, não se dão bem.
A meu ver, tu pintas um filme que considerei ruim – minha opinião! – com cores muito berrantes, tentando não sei porque cargas d’água, transformá-lo em grandiosidade.
Que a atuação dos atores é excelente, concordo, afinal das contas estamos diante de dois artistas na arte de representar maravilhosos, mas o roteiro é fraco, o filme não teve profundidade, a ponto que enumerei várias situações onde poderia ter desenvolvido tais questões muito melhor e com mais seriedade, como a criança foi deixada de lado, o pai que nunca se ouviu falar, muito menos a devida homenagem ao casal que adotou o filho de Philomena e deu-lhe uma existência que ela não teria tido condições!
Escrevi anteriormente que não existe vida.
O quer existe é VIVER!
Ora, sabe-se lá como teria sobrevivido a Philomena com o filho sem qualquer estofo material, sem qualquer auxílio paterno – outro aspecto que o filme deixou de lado, a crueldade dos pais quando percebiam suas filhas grávidas, expulsando-as de casa -, de certa forma obrigando-as que, para poder sobreviver, que se prostituíssem.
Mas, Philomena permaneceu na Abadia até onde não se sabe, haja vista que o filme a mostra numa festa, com a filha de um casamento que deu certo, que a deixou feliz, a ponto de se lembrar cinco décadas depois que deixara um filho para trás e confessado à sua filha o acontecimento.
O resto é um filme superficial, bem abotoado, mas sem qualquer essência, destituído de profundidade na análise das verdadeiras vítimas, que não são produzidas pela Igreja (volto a repetir que não sou católico), reitero, mas pelos passos em falsos dados por um casal ansioso por sexo, que não se dá conta das consequências, um filho!
Interessante que, depois de os filho terem nascido e morar com as mães em um convento, logo, teto, alimento, proteção, porém com a abadia sem condições de manter as mulheres com seus filhos e os entrega a doações, a responsabilidade muda de lado, e passa a ser da Igreja!
Ué, mas quem trouxe a criança para este mundo foi um casal, que deveria tê-la assumido, sustentado, criado, educado ...
Não, a culpa é das cruéis freiras, desalmadas, seres demoníacos!
Não me leves a mal, Pimentel, eu ser sincero contigo – aliás, na condição de teu amigo tenho por obrigação dizer o que sinto, e não dourar a pílula, penso -, quanto ao filme que analisas com tantas minúcias, que, de acordo com a minha interpretação do fato, trata-se de um roteiro que deixa a desejar, e um dos piores filmes que assisti.
Um grande abraço.
Saúde e paz.
Prezado Bendl,
ExcluirNão me aborrece nem um pouco o fato de você não gostar do que gosto ou vice versa. Fique à vontade para antipatizar com a Philomena. Afinal estamos conversando sobre um filme cujo maior mérito é permitir aos seus próprios dissidentes ser e pensar de formas diferentes.
Mas devo confessar - e usando da mesma sinceridade que caracteriza o amigo – que um detalhe do “debate” tem sim me incomodado, e muito. Permita que lhe diga que eu já lhe respondi nos posts, nos comentários, nas réplicas e tréplicas e nos links postados no post anterior, que a Igreja não fazia nenhuma “caridade” às garotas escravizadas ao ministrar-lhes uma dieta “cristã” de culpa, comida, cama e roupa lavada, pois para tanto era muito bem paga pelo Estado Irlandês, que tinha a obrigação de proteger e prover seus cidadãos desvalidos. Tratava-se pois para Igreja de um negócio muito lucrativo, de uma prestação de serviços ao governo, de dinheiro, de isenção de impostos para as lavanderias, da polícia capturando as jovens que fugiam e devolvendo-as ao cativeiro, tudo isso turbinado por um balcão de vendas de bebês e não de “doações” de paroquianos americanos ricos que atravessavam o oceano só para poder fazer na Irlanda uma “caridadezinha” que era proibida no seu e em qualquer outro país civilizado: comprar um bebê. Da mesma forma, baseado na lógica, já argumentei que se a Igreja pagasse às suas lavadeiras salários decentes, não haveria mães desempregadas e/ou prostituídas e aquelas garotas teriam tido a oportunidade de sustentar e criar os filhos decentemente.
Ou seja, enquanto eu tenho tentado responder, com o maior respeito, uma a uma, as suas questões com fatos porque esse filme é uma história real, você simplesmente os ignora e as minhas respostas e vai em frente, em piloto automático, repetindo as suas pretéritas opiniões, como se não tivesse lido as minhas colocações, como se meus argumentos não lhe merecessem consideração nem resposta, como se acreditasse que eu estou aqui teclando ficção ou lorotas.
Continuo...
Então é o seguinte e das duas uma : nesse “debate” ou você demonstra que o Governo irlandês reconheceu de público sua participação e culpa em crimes inexistentes e por eles pediu desculpas por amadorismo, ou disponibiliza argumentos que expliquem as centenas de esqueletos de mães e crianças sepultados clandestinamente pelas freiras inclusive em fossas, ou você implode as milhares de provas coletadas pelo Departamento de Justiça irlandês – disponíveis no Google sob o apelido de McAleese Report - ou você prova que os crimes de trabalho escravo e venda de crianças cometidos pela Igreja acumpliciada ao Estado da Irlanda são fruto da minha desvairada imaginação, OU EM VEZ reconhece que todas essas garotas, inclusive Philomena, foram usadas por membros perversos de uma fé institucionalizada como ESCRAVAS, mas que você acha que tudo bem e, em seguida, passa a defender abertamente sem papas no teclado as vantagens do trabalho escravo e da venda de crianças.
ExcluirAgora afirmar de boa fé que toda essa brutalidade foi “caridade”, que os autores de tais barbaridades não foram cruéis não dá mais para engolir a essa altura do filme pelo menos no planeta Terra, onde, como dizia o Cazuza: “as suas palavras não correspondem aos fatos”. Um “debate”, na minha modesta opinião, só é válido sem falsificação da História, sem bater de frente com a realidade factual, sem abrir mão jamais de honestidade e coerência intelectual nos argumentos. Senão não vale e se transforma em um diálogo de surdos cansativo e sem sentido.
Continuo....
Quanto às suas novas questões sobre o filme respondo abaixo como o maior prazer, mas “vamos por partes” como fazia o Jack:
Excluir1) “Como seria a vida desta criança, se não fosse adotada?" Não sei. Mas uma coisa lhe garanto : os fins não justificam os meios. O bem estar futuro de uma criança vendida a um casal rico por mil libras não justifica o sofrimento de uma mãe escravizada e afastada à força do seu bebê nem aqui nem na Irlanda. Provavelmente a criança teria vivido uma vida decente com a mãe e o padrasto, enfermeiros ambos, e os dois irmãos. Seria da classe media como os seus e os meus filhos.
2) Quanto à sua afirmação, no post anterior, de que a adoção foi positiva para o miúdo porque era gay e os Estados Unidos, nos republicanos e homofóbicos anos 80, eram um paraíso gayfriendly , de onde você tirou isso? Você não prestou atenção às cenas que deixam claro que o advogado Michael Hess, uma pessoa notória, ao contrário, vivia uma vida dupla, escondia sua opção sexual e fingia ter uma namorada de nome Marcia que exibia nas festas para não perder o emprego?
3) "Como a criança viveu depois que foi separada da mãe? ” Essa é fácil porque o filme desenha: ele teve um educação de primeira e foi muito bem sucedido profissionalmente mas... Durante toda a vida disseram-lhe que fora abandonado pela mãe biológica. O enredo e a biografia de Anthony Lee/Michael Hess, nos soletram que ele sofreu por conta dessa suposta rejeição, que se angustiava por não conhecer as suas origens. Tanto que viajou para a Irlanda em três diferentes ocasiões para tentar obter junto às freiras informações sobre a mãe. Em vão. Elas f mentiram durante décadas tanto para a mãe quanto para o filho.
E agora quem pergunta sou eu : por quais cargas d'água, na sua opinião, esse cidadão americano, tão realizado e resolvido financeira e profissionalmente, ao morrer de Aids aos quarenta e poucos anos, em vez de ser enterrado no jazigo da rica e amorosa família que o adotara, como seria de se esperar, preferiu ser sepultado em solo irlandês, no pequeno cemitério do convento onde nascera lá naquele pobre fim de mundo ?
Obrigado pelo comentário.
Outro grande abraço
Pimentel,
ExcluirDecididamente tu não vais malhar o Judas me usando como se eu fosse este personagem, não tem graça.
Diz uma frase o seguinte (lamento, mas não me lembro o autor):
“É difícil enfrentarmos os nossos inimigos, mas é muito mais difícil enfrentarmos nossos amigos!”
Eu e tu estamos no piloto automático, no entanto, a rota de colisão que nos encontramos é pelo fato de não teres ligado o teu transponder, então a colisão é inevitável!
Se não estou compreendendo as tuas colocações, tu fazes o mesmo comigo, logo, escreveremos compêndios a respeito de Philomena sem encontrarmos denominadores comuns.
Não nego as atuações condenáveis da Igreja e o do governo irlandeses como me acusas, uma injustiça.
Apenas não aceito as cores berrantes que adicionas a um filme corriqueiro, comum, superficial, que não se aprofundou nesses itens relevantes mencionados por ti nos teus artigos, eles são por tua conta;
Se as questões eram sobre comportamento da Igreja e do governo, então o filme deveria ser outro, e é esta a minha opinião;
E tu me puxas as orelhas porque discordo das tuas dissecações sobre a faceira Philomena, que depois de ter saído do convento – não se aborda como e os porquês – de que forma encontrou o seu novo namorado e com ele se casou, teve dois filhos, e após 50 anos decidiu ir atrás do filho que deixara para trás, encontrando-o já morto.
Igualmente não é feito qualquer manifestação a respeito;
Muito menos comentas quem foi originariamente o mais cruel nessa história, que não foram quem acusas, a instituição e o Estado irlandês, mas o pai da Philomena!
O pai a expulsou de casa, que se não tivesse tomado esta atitude ignóbil, a filha teria ficado com o seu neto, e sabe-se lá qual seria o futuro dos dois, mãe e filho, mas certamente teriam ficado juntos;
E me atiras algumas pedras quando escrevi que a vida de homossexual do filho da Philomena nos Estados Unidos era boa, alegando o governo republicano de Reagan como contrário a uniões desse tipo;
Bom, a título de lembrança, resgato o grandioso filme – este, sim! – O Jogo da Imitação, onde o cientista responsável pela decifração da máquina Enigma nazista, contendo os códigos secretos de mensagens dos alemães nos submarinos, Alan Turing, ele era homossexual, e foi condenado por “indecência”, então a castração química pelo fato de ter salvo milhões de vidas com o seu projeto, caso contrário a pena seria CAPITAL, exatamente na mesma época que iniciou o caso da Philomena, e no Reino Unido!
Pois bem, e se o pimpolho tivesse sido flagrado como homossexual na sua terra, Irlanda?
A pena de morte o aguardava!
(Continuo)
Enfim, as nossas diferenças são irreconciliáveis, mas reitero que não estou analisando os teus textos, invariavelmente excelentes, não, mas o teu ponto de vista sobre um filme superficial, a meu ver.
ExcluirMais a mais, sofismas em demasia com a vida da Philomena, que viveu e vive muito bem, obrigado, assim como seu filho que, se morreu de AIDS, a Igreja e a Irlanda não foram os culpados, pois o “esposo” ou a “esposa” do moço se manteve equilibrado ou monogâmico, pois não apresentava as célebres manchas do Sarcoma de Kaposi como o jovem irlandês.
Enfim, a tua abordagem é uma, a minha é outra, logo, creio que será praticamente impossível tu me fazeres pensar como escreveste, assim de mim prá ti, simples.
Finalizo:
Se o filme quisesse abordar o que adicionas nos teus artigos a respeito, deveria ser muito mais profundo, e não superficial como foi apresentado.
Do jeito como está seria algo mais ou menos como eu querer apresentar um roteiro sobre os nascimentos de filhos advindos de mães solteiras – refiro-me sem a presença do pai -, e a absurda influência da extinção dos gorilas na Nigéria!
Igreja e Irlanda não podem ser acusados pelo nascimento de crianças que não foram sequer pensadas no momento do rala e rola, por favor!
Por mais jovem que fosse a Philomena, ela confessou de forma sincera e até divertida para o jornalista, que gostara e muito do sexo feito com o furtivo namorado, e que tivera saudades daquele encontro tão prazeroso. Ora, desconhecia tanto a forma como as crianças nasciam mesmo assistindo os partos em sua casa e as mulheres grávidas?!
Culpados a Philomena porque inconsequente e, principalmente, o seu pai, que a mandou embora de casa.
Igreja e Estado nesta questão o filme deveria ser outro, muito mais abrangente e profundo, pois tomando como exemplo um caso que houve e não a vasta quantidade de situações idênticas, e que não se sabe como terminaram as mães e seus filhos levados à força, foi tão raso nesta questão que perdeu completamente o sentido, contando simplesmente uma história corriqueira, banal, sem maiores consequências, a menos que a vida boa de Philomena e de seu filho não valem prá ti, o que me surpreenderia.
Quanto à decisão do rapaz querer ser enterrado na Irlanda e não nos Estados Unidos, por favor, o mancebo nascera naquele país e sabia que tinha sido separado de sua mãe biológica.
Aliás, se buscas com tanto ardor os responsáveis por esta história, o grande erro e imperdoável das freiras da Abadia foi quando o filho foi em busca da sua mãe, e elas ocultaram o seu paradeiro, onde se encontrava a Philomena, e logo antes da sua morte, pois já se encontrava doente.
Um forte abraço.
Saúde e paz.
Bendl
ExcluirRepito que você tem direito à sua opinião, de pensar como bem quiser. Porém, convenhamos, a recíproca também é verdadeira. Eu não tenho o hábito de espancar com as palavras e, portanto, se ao ler as réplicas que lhe mando daqui, de um país chamado Berlinda, você se sentir atingido, terá sido por suas próprias "pedras" em um "debate" as sua autoria. Quem não abe brincar não deveria descer para o play.
Não posso concordar, por exemplo, com o coitadismo contido em uma de suas afirmações mais recentes, a saber:
"Não nego as atuações condenáveis da Igreja e o do governo irlandeses como me acusas, uma injustiça."
Traduzindo-me: não acusei você de nada, não sou seu juiz mas seu leitor e, so sorry, não fui "injusto" na leitura que fiz.
Como verba volant, scripta manent, por favor, permita-me demonstrar usando AS SUAS PRÓPRIAS PALAVRAS, que não pequei na interpretação dos variados textos/comentários da sua lavra. Não sei se tem lembrança, mas o amigo escreveu:
- "Definitivamente não existem razões para a instituição ser acusada disto ou daquilo, e isentar os verdadeiros responsáveis pelo fato ocorrido! "
- "Bem ou mal, trabalhando como escrava, lá pelas tantas não lhe faltou uma cama e comida, pois para aquelas mulheres que também eram mães solteiras e expulsas de suas casas havia somente um destino, a prostituição."
- "Interessante que, depois de os filhos terem nascido e morar com as mães em um convento, logo, teto, alimento, proteção, porém com a abadia sem condições de manter as mulheres com seus filhos e os entrega a doações, a responsabilidade muda de lado, e passa a ser da Igreja! NÃO INTERESSA , o negócio é cair de pau na Igreja!"
- "E encerro, se depois surgirem críticas à Igreja não me leves a mal, mas elas são injustas!"
Leu? Pois é, eu também, indubitavelmente, e, infelizmente, sem as legendas que você só disponibilizou agora. Então...como não tenho culpa de ser alfabetizado e não tenho poderes advinhatórios, não considero que seja o caso de lhe apresentar um pedido de desculpas pela minha "injusta" tradução.
Desejo-lhe um bom domingo junto aos seus
Outro forte abraço
Moacir,
ResponderExcluirQuanta sensibilidade você demonstra neste artigo:
'Queremos tirá-la desse enredo cruel e levá-la para casa e oferecer-lhe uma xícara de chá'.
Foi exatamente como eu me senti diante desta mulher notável capaz de emocionar até mesmo um coração tão cristão mas tão desiludido e cansado como o de Martin. Destaco :
"Martin e Philomena articulam este equilíbrio literalmente: ele questiona a religião, ela a defende. Ele exige indignação, ela expressa perdão."
A verdade sempre nasce da caridade entre os contrários. Todos os católicos deveriam assistir este belo filme de mente e peito abertos como fez o Papa Francisco para que este coquetel de ignorância, ganância e maldade jamais volte a acontecer. Nosso Senhor Jesus Cristo em nenhum momento do seu ministério perdeu o foco do seu objetivo:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo
Mateus 22:39
Um abraço para você
Flávia,
ExcluirSim, Philomena é uma benção, um bem vindo refresco nesses tempos abafados, assim como esse seu belo e arejado comentário. Obrigado. O que choca nesse enredo é justamente o fato de que o Martin, sendo ateu, tem uma mentalidade cristã e um coração onde moram o respeito pelo próximo, a sede de justiça e a compaixão que parecem inexistentes nos conventos irlandeses do século XX.
Sabemos que nem todas as irmãs eram aleijões morais, que o que aconteceu naquelas lavanderias é passado, que foi o produto de uma era hipócrita, mesquinha, reprimida e repressiva. Mas não dá para encontrar justificativas para quem trata adolescentes como se fossem criaturas sub-humanas pelo crime de terem feito sexo sem ter nem ideia das consequências, por falha de suas próprias educadores. Nem fingir que jamais ouvimos falar recentemente dos crimes de pedofilia.
ISSO é a negação do Cristo e do seu "ministério" é a perversão do cristianismo morando no seio da sua Igreja. Terêncio disse muito bem em outro drama cômico: "Nada do que é humano me é estranho!" É mais do que chegada a hora da Igreja parar de titubear, de se repensar, dos seus prezados padres e freiras começarem a ter uma vida sexual saudável e o direito de viver plenamente essa parte tão importante da nossa humanidade.
Outro abraço para você
1) Excelente filme, atores, atrizes, equipe impar !
ResponderExcluir2) Uma história emocionante porque é real !
3) Texto do Moacir é impecável, parabéns !
4) Revejo o filme lendo e relendo as linhas do Pímentel.
5) Só agradecer, pela aula de humanismo que o filme e o ensaio cinematográfico do Moacir nos proporciona.
Antonioji,
ExcluirO filme é mesmo uma maravilha. E vindo de um grande humanista o seu comentário muito me sensibiliza e honra.
"Gratidão!" e namastê e bom final de semana
Os dois posts fazem justiça a um filme brilhante que tem dona mas não donos da verdade. E Philomena encanta porque num mundo de doentes mentais e nanicos morais ela é sã e gentil. O perdão oferecido por ela de graça a quem não teve a dignidade de pedir, tem muito menos a ver com a religião do que com sua lucidez e pragmatismo 'de olhos azuis’, rs. Apesar da simplicidade de tola ela não tem nada. É uma sobrevivente. Como você só serviu a pipoca e a entrada, vou deixar para falar mais depois do prato principal.
ResponderExcluirMárcio,
ExcluirQue bom que você encontrou tempo de ver o filme. Valeu! Pois é, Dona Philomena arrasa corações mesmo sem botox (rsrs) Também desconfio que a distração, os clichês, os romances açucarados são beeeem mais profundos do que imaginamos porque pelo menos verbalmente ela aniquila o sabichão "em seguidinho". Acho que a Philomena , assim como as nossas saudosas mães, é de um tempo no qual as mulheres fortes e inteligentes se fingiam de fracas e nós as paparicávamos (rsrs) O comportamento da Philomena na telona, diante de sua própria tragédia, é idêntico ao da senhorinha real nas entrevistas que deu quando do lançamento do filme, nas quais descreve os detalhes dos crimes dos quais foi vítima durante o período em que passou na abadia, com a maior clareza e naturalidade e sem ponta de ressentimento e/ou sentimentalismo. Além de valente, generosa e bem humorada essa senhora é muito divertida.
Obrigado por participar e bom apetite.
Olá Moacir,
ResponderExcluirVoce descreveu tão bem a gradual interação dos dois personagens que foi uma delícia de ler. E que é o fundamental do filme, acho. Revi o filme com seu texto. Revi talvez pela 4a. Vez.
Como diz seu amigo, esperando pelo prato principal.
Até mais, então.
Caríssima Donana,
ExcluirSaber que a senhora, uma fã confessa da Philomena, reviu o filme nas minhas pretinhas transformou o meu dia em uma Bright Friday!! Talvez o filme nos emocione tanto porque nos reconhecemos ora no cinismo ora na fé dos personagens. A vida também é assim: uma sequência agridoce de momentos de dúvida e de certeza, de horas trágicas e cômicas e portanto Philomena convence. E concordo com a senhora que essa amizade construída pelos protagonistas - pontuada pelas nossas risadas e olhos discretamente mareados (rsrs) - é um golpe de gênio que nos conduz feito um GPS a todos os questionamentos morais e filosóficos que moram sob a superfície dessa maravilhosa história e lição de fé na vida.
Mas discordo sobre o prato principal. Gostaria de lê-la aqui e com apetite até a sobremesa (rsrs)
“Até mais”
Pimentel,
ResponderExcluirDa mesma forma que sem o Sancho ninguém ia entender Dom Quixote, a interação de Philomena com o jornalista a revela e é a base de todas as reflexões que o ótimo filme provoca. Não acho que a comicidade do roteiro torna o filme raso. A própria amizade entre os diversos é uma questão antiga e mesmo depois de toda a filosofia que já se gastou tentando resolvê-la ainda não sabemos porque os opostos humanos se atraem. Por fim, a sua excelente resenha demonstra uma grande capacidade de observação da alma humana. Nota dez!
Sampaio,
ExcluirMuito obrigado pelo comentário que me fez lembrar de outra dupla de contrários na Literatura: Sherlock e Watson! (rsrs) Acho que os opostos se desafiam e se completam. Tendemos a buscar no outro o que não somos, as qualidades e defeitos que nos faltam. De certa forma queremos também confirmar o que a gente é. Precisamos lidar com pessoas completamente diferentes de nós, para grifar nossa individualidade, para nos convencer que somos únicos e que moramos em um outro continente, só nosso. Por outro lado, e na terceira idade, as semelhanças são muito mais repousantes e aconchegantes (rsrs) e nos fazem acreditar que trilhamos o caminho certo. No filme acho que “a terra seca se rendeu à chuva”
Abração